Vício M(eu) escrita por Menina Sem Tabu


Capítulo 18
Capítulo 17 - Isso aqui não é um poeminha.


Notas iniciais do capítulo

(Notas iniciais no capítulo)



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/475592/chapter/18

Notas iniciais: Desculpa, mas não aguento mais ficar resumindo minhas notas por causa do Nyah. u.u VOLTEI! Bom, primeiro eu queria agradecer a compreensão de todos vocês! Cada dia amo muito mais vocês, sério! ♥ Um muito obrigada a Mel oliveira e a Livia Maciel! E muito, muito obrigada do fundo da minha alma para a Ms Lee Barbosa, obrigada pela honra e confiança de uma recomendação! ♥ Acho que terá uma rebelião por causa desse cap, mentira isso não é tão importante a ponta de causar uma rebelião. Mas, não sei se vocês vão gostar. Boa leitura e até lá em baixo!

Capítulo 17 – Isso aqui não é um poeminha.

Zack me encarava, do outro lado da mesa, com um travesso e oculto sorriso. Eu estava sentada na sua frente e ao lado de minha mãe.

–– Crianças, acho que eu e Sheron não vamos chegar no horário hoje, ultimamente temos tido muito trabalho. – Dilan nos avisava da cabeceira da mesa.

Estávamos num típico café da manhã de família comercial de margarina. A mesa farta, feita por uma empregada doméstica de confiança que há anos trabalha na casa, o Sr. e Sra. Granfinos com seus filinhos perfeitos. No entanto, éramos certamente algo bem distante disso.

–– Ah, mas é claro. –– o sorriso do leitor se transforma em sarcasmo –– Sabemos muito bem o tipo de trabalho que vocês dois têm pra fazer. –– Zack fala, chegando bem perto da grosseria. Eu, particularmente, não havia gostado do seu tom, principalmente porque falava diretamente para minha mãe.

–– Peça desculpas agora. –– o publicitário ordena.

O menino o encara com uma incredulidade debochada.

–– Vá para o inferno. –– Zack fala lentamente, como se deliciasse cada sílaba.

Observo o leitor se levantar brutalmente da mesa relativamente longa, retangular e branca. Ele vai até a porta da sala de estar e se vira.

–– Você vem, Emily? –– Zack diz, quase voltando a ser Zack, mas sem ainda o ser por completo.

Olho para minha mãe, como se pedisse autorização para ir com o menino que acabara de lhe faltar com respeito. Ela está de olhos baixos com a mão na testa, sei que essa é uma de suas mais desesperadas posturas. Quando está tão fula que não diz nada, apenas respira.

–– Vá. –– ela cochicha, e mesmo querendo gritar com o rapaz, eu a obedeço.

Levanto e vou em direção a Zack que também começa a se mover em direção à porta da casa. Já estava decidida a não falar nada, não me impor, como sempre faço, mas só estava suportando toda aquela situação por causa de Sheron. Você sofre mais quando uma pessoa que você ama é machucada, do que quando te machucam.

–– Não se preocupem com o horário. Fiquem o quanto for preciso para conseguirem terminar o trabalho. Seja ele qual for. –– digo, numa tentativa de consolação. Minha mãe levanta a cabeça e me lança um sorriso. Zack me encara da porta sem nenhuma expressão.

Pego minha mochila que estava jogada no sofá da sala e vou até o leitor, que agora já está na rua.

–– Vou tirar o carro, espere aqui. –– ele diz, se encaminhando a garagem. Apenas confirmo com cabeça.

Vejo Emi sair correndo porta a fora enquanto Zack tira o carro.

–– Você podia começar a me acordar. –– Ela resmunga. Hoje até que está bem simples, com uma regata preta decotada e uma minissaia de couro também preta. Nos pés, um par de botas igualmente pretas, de cano baixo e salto alto fino.

–– Você podia começar a ser responsável. –– eu retruco.

–– Jamais. –– Emi cospe a palavra como se desse o seu golpe final.

O percurso até a escola é estranho e constrangedor. Fico passando um milhão de vezes a cena de meu quase beijo com Zack, mas ainda estou incomodada com ele. O rapaz, por sua vez, havia voltado a cultivar o seu risinho oculto. Me pergunto se ele também não estava lembrando do acontecido. Quando paramos no semáforo, Zack não aguenta e solta uma breve gargalhada.

–– Posso saber o que é tão engraçado? –– não tenho a intenção, mas acabo parecendo irritada, o que não era de toda mentira. Ele não diz nada, apenas ri mais, dessa vez abaixa a cabeça e ri a balançando negativamente.

–– Zack! –– o advirto, mas estou sorrindo. É impossível ficar brava por muito tempo com ele.

Zack respira, procurando por fôlego.

–– Na hora certa você saberá. –– ele assume um ar de mistério barato e volta a rir.

Estacionamos numa vaga aleatória e seguimos para o prédio principal. Logo encontramos todo o time de futebol reunido em volta do armário de Jake.

–– Ah, não acredito! Loirinha! –– Call diz ao me ver e todos fazem sons, que na minha tradução informal são “ois” no idioma dos jogadores de futebol.

–– O nome dela é Emily, Call. E-M-I-L-Y. –– Zack soletra.

–– Relaxa cara, a Emily –– Call frisa o meu nome –– sabe que eu só estou brincando. –– Não é, Emily? –– ele frisa novamente.

–– Claro. –– eu respondo, sem saber o que responder.

–– Então, loirinha –– Luke desenrola lentamente o “loirinha” olhando para Zack e todo o time ri –– qual a sua primeira matéria?

–– Biologia. –– faço uma careta automática e o time volta a rir.

–– Nossa, estamos na mesma na turma! –– Luke fala arregalando os olhos –– Se isso não é o destino, eu não sei mais o que é. –– ele continua dramaticamente. Apenas dou um sorriso amarelo.

–– Pare de ser chata, entra na brincadeira, Emily! –– Emi me xinga e eu a encaro, não com raiva, mas pedindo ajuda. Definitivamente não sabia socializar.

Minha outra eu abre um sorriso, eu sabia que ela iria adorar se meter diretamente na minha vida. Vejo Emi sumir e sinto que estou diferente.

–– Então talvez você queira me acompanhar até a sala. –– digo com um tom forçado e os garotos voltam a fazer sons típicos de jogadores de futebol.

–– Então talvez eu também possa te acompanhar, já que eu também tenho biologia. –– Call fala passando o braço por cima do meu ombro, me abraçando, enquanto repete a careta que eu havia feito antes.

Seguimos eu, Call, Luke e Emi para a nossa sala. Eu e minha outra eu trocamos olhares e um breve risinho.

Me sinto estranha por estar andando entre dois garotos populares, mas ao mesmo tempo consigo avistar meu Ego saltitante e alegre, correndo pelos corredores do colégio. Enquanto caminhamos, vejo as pessoas me olhando de rabo de olho, escuto alguns cochichos, questionando se sou nova no colégio.

Pela terceira vez sinto que sou o foco das atenções.

Quando entro na sala vou em direção ao meu lugar de sempre, primeira classe da primeira fileira, a que é colada na parede, mas antes de me sentar ouço Call me chamar.

–– Hei, Loirinha! Você acha mesmo que vamos deixar você sentar longe da gente? Tem um lugar especial aqui do meu lado. –– ele fala fazendo menção à classe a sua direita.

Eu estava sendo convidada a me sentar no território dos populares. Oi?

–– Tá esperando o que? –– Emi me questiona.

Mentalmente eu lhe respondo “Nada”, ela me lança outro sorriso e nós duas vamos em direção aos jogadores.

Luke se senta atrás de mim, eu sento ao lado de Call e Emi ao meu lado.

Uma das trigêmeas, não sei qual, entra na sala, e só de vê-la sinto vontade de vomitar. Como uma popular oficial, vem na nossa direção.

–– Puts, Linda, desculpa, esqueci que esse era o seu lugar. –– Call fala, mas não se refere ao seu lugar e sim ao meu. Me desespero. Meu coração acelera de supetão. Como se já não bastasse eu estar sentada na zona dos populares, fui me sentar bem no lugar de uma das princesinhas do colégio. Ela ri, e eu praticamente consigo ver aquele riso se triplicando. Era praticamente impossível ver ela e as suas irmãs separadas, é como se todas formassem um único ser.

As trigêmeas eram perfeitamente idênticas: olhos verdes claros, cabelo fino, como se fosse se desmanchar a qualquer momento, loiro e pelo ombro. Eram baixinhas, mas tinham curvas, não exageradas, mas na medida certa. Mesma voz, sorriso, riso, expressões gerais e se duvidar até o pelinho do nariz delas são iguais.

–– Meu lugar? Até onde eu sei, nós não fazemos espelho de classe e eu não estou vendo o meu nome nessa mesa. Além do que, tem um lugar vago bem aqui na sua frente. –– Linda diz para Call e eu me surpreendo com a sua naturalidade.

–– Porra Lin, você ainda não entendeu que você tem que ser arrogante e nojentinha? –– Call fala como se fosse um absurdo e Luke ri. A líder de torcida simpática dá um soco no ombro do jogador com olhos de esmeralda, um soco que me soou mais como um flerte do que como qualquer outra coisa.

–– Deixa só a Sofie ouvir as conversinhas de vocês. –– o outro jogador diz. Não entendo a colocação dele, mas os três riem da piada.

–– E você... –– Linda estreita os olhos para mim –– Eu não te conheço, é nova?

–– Sou Emily, e na verdade, não sou nova. –– digo simpaticamente, sorrindo. Ela me sorri de volta.

O professor chega e a aula começa. Os outros períodos são perfeitamente normais, onde só converso com Emi e tenho vontade de sair correndo a todo momento. Quando tudo acaba, eu minha outra eu, vamos para a biblioteca, que sem dúvida nenhuma sempre será o meu lugar favorito.

–– Nós bem que podíamos ensaiar, né Emi? –– Emi pergunta esperançosa.

–– Você promete que não vai mais me chamar de Emi até mês que vem? –– proponho.

–– Prometo que não vou te chamar de Emi até amanhã. –– ela me dá um sorriso, tentando me convencer.

–– Bem, já é alguma coisa. –– digo e ela começa a dar pulinhos de felicidade.

Nós duas arredamos algumas mesas de estudo e colocamos todas elas num só canto para dar espaço. Emi agradece ao universo por eu ter baixado a música no meu celular, enquanto eu agradeço por a biblioteca ser um lugar não habitado.

Estou animada com o ensaio e já começo dando os primeiros passos, que não sei como, os sei perfeitamente, no entanto Emi me chama a atenção, dizendo que não podemos esquecer os alongamentos. Acho estranho ela se lembrar de fazer o certo, mas enquanto nos alongamos consigo entender perfeitamente. Não havia maneira melhor dela exibir o seu corpo.

Começamos a passar a coreografia, tento incorporar Bruno enquanto danço, mas não consigo nem chegar perto do único macho. Minha outra resolve que vai dirigir o ensaio. Então, segundo ela, primeiro nós duas iríamos dançar, depois eu iria dançar sozinha, para em seguida ela fazer o solo dela.

Terminamos o período em que dançávamos juntas comigo sabendo toda a coreografia do início ao fim. Saber a ordem dos passos já era uma grande coisa.

Emi puxa uma cadeira e se senta de frente para mim, eu me preparo e começo a dançar. Na primeira passada estou totalmente insegura, me acostumei a dançar vedo minha outra eu de rabo de olho. Conforme vou passando e repassando os passos vou ganhando mais força e mais vontade de passar no teste, de ser uma cheerleader e de finalmente mudar a minha vida.

É quando estou rebolando lentamente que percebo a presença de mais alguém na biblioteca. Devagar, viro o rosto e dou de cara com dos olhos espantados.

–– Eu não sabia que você ia fazer o teste para equipe de líder de torcida. –– Zack, meio embabacado, constata.

Estou envergonhada, não sei como reagir. Não é todo dia que se é flagrada dando piruetas na biblioteca. Não é todo dia que se faz algo para ser flagrado. Penas nisso me traz uma certa adrenalina e estranhamente, gosto de senti-la. No entanto, lembro que meu meio-irmão ainda estava lá parado. Bem. Na. Minha. Frente.

O olho com cara de “Pois é”. E escuto Emi soltar um honesto “Fodeu.” Zack continuava em silêncio, com os olhos arregalados.

–– Isso foi –– ele começa, como se estivesse em choque –– incrível! –– o leitor conclui com os olhos mais arregalados e um sorriso pregado nos lábios.

–– Você dança muito! –– seu tom de surpresa é visível –– Emily, você já tá dentro desse timezinho. –– ele gesticula com as mãos, para frisar mais a diminuição da equipe. E eu rio.

–– Sério? –– eu realmente duvido que eu dance bem. Eu realmente duvido que eu faça algo bem.

–– Como assim, “sério?” –– Zack gesticula novamente, mas dessa vez mostrando indignação –– Você nunca se viu dançando?

Não respondo a questão, apenas sorrio. Um sorriso sincero, de uma menina está muito feliz por ver o garoto por quem é apaixonada, reconhecer algo de bom nela.

–– É-er... –– ele gagueja um pouco ao voltar a falar –– O meu treino já acabou, então eu pensei em vir aqui te convidar para tomar um café, um sorvete, sei lá.

–– Sorvete. Obrigada. –– Emi vota.

Concordo com ela, porque realmente não me importava com o que eu iria fazer. Mas sim que iria fazer com Zack e que principalmente, o convite havia partido dele.

Me estapeio mentalmente. Na verdade, essa nossa aproximação era terrível. Sei que ele só estava a fazendo para tornar o ambiente mais suportável, mas eu não consegui não criar expectativas sobre nós dois.

Entramos no carro de Zack e rapidamente o automóvel começa a se movimentar, saímos do colégio, dobramos em algumas ruas até chegarmos na rua principal. Por ela, atravessamos a cidade, o que não é muita coisa, até chegarmos ao centro, que é menos coisa ainda.

Estacionamos na frente da sorveteria de dois andares e de fachada completamente vermelha.

No interior do local, vermelho e branco são as cores que predominam toda a decoração. Mesas brancas com cadeiras vermelhas estão espalhadas por todo o lado. Com exceção do cantos, onde havia os chamados “cantos alemães”, com as mesmas cores. No andar de cima, mais mesas e algumas máquinas de jogos. A sorveteria “Yummy” era com certeza um dos lugares mais movimentados da cidade, só perdia para o cinema, que ficava logo a sua frente.

Vou em direção às mesas mais reservadas, no andar de baixo, no canto e no fundo. Zack me segue, e por incrível que pareça, Emi faz o mesmo sem reclamar.

Eu escolho um simples sorvete de morango, com calda de caramelo e mais algumas coisinhas que achei bonitas e resolvi colocar, o leitor faz uma arriscada mistura de banana com flocos, chocolate e creme, enquanto Emi pega tudo relacionado a chocolate.

Nos sentamos e começamos a comer em silêncio e em silêncio persistimos.

–– Por favor, diz alguma coisa. –– Emi implora, quase caindo da cadeira de tanto tédio.

Eu queria falar algo, saber como iniciar uma conversa social, mas simplesmente não consegui, não fazia a mínima ideia de como fazer. Ainda mais com o rapaz me lançando olhares e sorrisos contidos a todo momento.

Zack me provocava coisas assim. Me fazia estremecer com o mais leve e inocente olhar. Por mais comum que fossem os olhos do leitor, eram lindos. Eu morria de vontade de cutucá-lo e lhe cochichar: “Teus olhos são um sol castanho.”. Oh, meu Deus, como eu adorava me por neles. Sim, sei que é errado sentir isso por ele, e mesmo que não fosse, sei também que ter algo além da amizade com Zack é basicamente impossível.

Ainda não compreendia o nosso quase beijo, apesar de ter ocorrido, –– e sim, isso era um fato ––, não fazia sentido, coerência ou lógica. Chego até a pensar que o leitor estivesse envolvido em coisas que não são a cara dele, como apostas internas. O que acho muito improvável, mas depois que tive a honra de presenciar a mudança de comportamento de Zack quando estava junto a seus amigos, passei a não me sentir exatamente segura em confiar nele.

Mesmo não tendo muito contato social, sei graças aos livros e filmes, que as pessoas, na sua maioria não são confiáveis. Aliás, todos vão acabar, por um motivo ou outro, lhe magoando até que se prove o contrário.

Ainda não estava totalmente convencida de que uma primeira paixão teria a capacidade de se transformar nessa tal prova.

Zack sustenta o nosso olhar mútuo enquanto eu me trancafiava nos meus pensamentos.

Ele é lindo e fingia não saber, mas no fundo, tinha plena consciência e usava descaradamente isso contra mim.

*************************************************************************************************

A semana passa, comigo e Zack nos aproximando cada dia mais, o que faz não que eu me aproxime, mas que troque algumas palavras com alguns de seus amigos. A cada dia, estou me sintonizando e me entendo mais e melhor com Emi, acho que só agora estou percebendo realmente o quão maravilhosa ela é de fato. Cada hora vaga que temos, ensaiamos, ensaiamos e ensaiamos.

Na quinta-feira minha outra eu me obrigou a gravar um vídeo da coreografia e mandar para minha irmã. Ela, todas as outras meninas e o único macho me mandaram mensagens me parabenizando, dizendo que eu estava me saindo muito melhor do que o esperado. Fiquei feliz por acharem isso, mas sei que o mérito da dança estar razoável é todo da Emi.

Na sexta-feira, na aula de sociologia, Call me chama para sentar perto dele e do leitor, preciso admitir que isso alegrou um pouco mais o meu dia. Estou começando a conhecer o gostinho de ser lembrada assim, por coisas bobas e pequenas da rotina. Não posso deixar de dizer que o sabor é maravilhoso.

No sábado, Sofie deu uma festa na sua casa, Zack me convidou para ir junto, obviamente eu recusei, não apenas porque não fazia sentido eu ir numa festa dada pela Deusa do colégio, mas também porque se tratava de uma festa. Contudo, só pelo meu irmãozinho ter me convidado, por mais que seja só por educação, eu fiquei feliz.

A semana me deu várias pequenas felicidades, que pessoas normais devem ter e nem notam, mas ao mesmo tempo, cada café da manhã em família me deixava com vontade de esgoelar Zack. Entendia perfeitamente que ele não morria de amores pela minha mãe, Dilan não era exatamente o homem perfeito para mim, mas eu o respeitava. Por mais que não concordasse com essa mudança repentina, eu também respeitava a escolha de Sheron. Será que era tão difícil para ele fazer o mesmo?

Hoje é domingo. Amanhã é segunda-feira. Amanhã é o teste. Estou nervosa, ansiosa e com vontade de vomitar, mas mesmo assim estou passando a coreografia mais uma vez, enquanto Emi me assiste sentada na cama. Segundo ela, estou cada vez melhor e apesar de não querer admitir, acho o mesmo. Zack interrompe o meu ensaio para me convidar para tomarmos um café, penso em recusar, porque não conseguia parar de pensar no seu comportamento com a minha mãe, acabo aceitando o convite por insistência de minha outra eu.

O café não é muito agradável, apesar de não querer acabo sendo estúpida com o leitor algumas vezes. Ele sabe o motivo de eu estar assim e não me retruca ou questiona nenhuma vez sequer. Depois do café, Zack me convida para caminhar, honestamente eu apenas queria voltar para casa e continuar ensaiando, mas dessa vez por insistência dele, aceito.

Caminhamos em silêncio por uma boa parte do percurso, mas Zack acaba o quebrando com uma risada.

–– O que foi? ––pergunto.

–– Nada. –– ele diz em tom casual –– Só tava pensando em como a gente se conheceu e em como estamos agora. –– dá de ombros.

Rio também. Foi tudo muito bizarro.

–– É meio louco, né? –– tento não deixar a conversa acabar.

–– Meio? –– Zack ironiza e nós dois rimos.

–– Posso te fazer uma pergunta? –– ele assente com a cabeça.

–– Sobre a sua relação com a poesia... –– percebo que é uma pergunta idiota e peço para poder voltar no tempo e não ter começado a falar.

–– O que tem? –– o leitor pede para que eu continue.

–– Os teus amigos sabem? –– termino a questão com uma insegurança na voz.

Ele dá algo parecido com uma risada.

–– Por que tá me perguntando isso? Futebol e poesia são coisa incompatíveis?

–– É...

Ele ri.

–– Não sei se você tem razão. Mas o time todo concorda com você. –– ele diz e sinto um pesar na sua voz.

–– Eles não sabem. –– Zack termina.

O rapaz e eu continuamos conversando por muito tempo, até perdermos a noção da hora. Chegamos relativamente tarde em casa.

–– Tem um presente para você no seu quarto. –– minha mãe fala assim que ponho o pé para dentro de casa.

Arregalo os olhos, e subo a escada correndo. Abro a porta do meu quarto e encontro Emi sacudindo um pacote, tentando adivinhar o que é.

–– Você chegou! –– ela grita ao me ver –– Abre, abre, abre! –– Emi bate palmas enquanto fala.

Rasgo o embrulho branco e encontro uma caixa retangular rosa com detalhes dourados. Com cuidado, levanto a tampa e encontro um uniforme rosa claro de cheerleader, composto por um top e uma minissaia rodada, eram perfeitos para estilo da minha outra eu.

No fundo da caixa, acho um papel.

“Para dar sorte! Acabe com todas as adversárias e mostre para aquelas liderzinhas quem é a cheer!

P.S: Que minha Senhora do Queixo Caído te guie!

Bjs,

Meninas, Madame Marie e único macho.”

Rio com o bilhete e resolvo que vou agradecer o presente passando no teste.

Sheron me chama para jantar logo em seguida, me fazendo esconder tudo em baixo da cama. Eu finalmente poderia dar o orgulho a ela de ter as duas filhas cheers, mas isso seria uma surpresa.

Emi se senta ao meu lado, mas fica emburrada com o fato de não terem colocado prato para ela. Discretamente, ela vai até a cozinha e volta com um pote de sorvete de chocolate na mão.

Minha mãe e o pai de Zack conversam animadamente, enquanto o leitor fica de cara amarrada. Eu não participo da conversa apenas porque não é do meu feitio falar.

Na sobremesa Sheron acaricia a mão de Dilan e isso é o suficiente para o menino estourar. Outra vez.

–– Será que você não cansa? –– Zack grita com minha mãe. Ela se assusta e larga a mão do publicitário.

–– Desculpe, mas eu não entendi a pergunta. –– Sheron diz, educadamente,

–– Não tem problema, eu repito. –– o leitor cospe as palavras.

–– Você não se cansa? –– Zack repete. –– Não cansa de ser falsa?

Não acredito no que escuto, no momento estou com muita raiva dele.

Minha mãe não diz nada, sei que se ela abrir a boca, vai acabar voando no pescoço do menino.

–– Já chega Zack! –– Dilan se impõe.

–– Realmente, já chega. –– o leitor diz, se levantando e seguindo para o seu quarto.

Na mesma hora me levanto e vou atrás dele.

–– Zack! –– grito enquanto subo a escada atrás dele.

Ele para no meio do corredor dos quartos.

–– Qual é o seu problema, garoto? –– falo de maneira grossa.

–– Por que você está agindo assim? –– meus olhos lacrimejam de raiva.

–– Por que você não pode ser o Zack que eu conheço com a minha mãe? –– é por pouco que não digo “meu Zack”.

–– Qual o meu problema? –– o leitor grita.

–– O meu problema é que Sheron não ama o meu pai! Qualquer um vê isso! –– ele continua gritando.

–– Me desculpe, Emily. –– o rapaz abaixa a voz e fala calmamente –– Mas a sua mãe é uma vadia querendo dar o golpe do baú.

Meu sangue ferve de raiva.

Tento me conter, mas Raiva toma dimensões enormes no meu corpo, a ponto de manipulá-lo plenamente. Dou um tapa na cara de Zack. Sinto meus dedos grudando no seu rosto, um por um. Cada um deixando a sua marca, que eu torcia para não sair tão cedo.

–– O que é que você sabe sobre amor, Zack? –– o encaro, brava. Ele fica em silêncio.

–– Isso aqui não é um poeminha que você lê nos teus livros. –– grito –– É a vida da minha mãe e a minha. –– digo com calma e me dirijo para o meu quarto sem olhar para trás.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Alguém ainda acompanha a fic? E então, o que acharam? Por favor, não me odeiem! :)