Um Diário Nem Tão Querido escrita por The Reaper


Capítulo 50
O Passado de um Vampiro


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!



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Não havia muito para fazer naquela jaula então eu só sentei no chão e esperei temerosa a hora que eu começasse a transformação. Eu não sabia se queria que acontecesse logo para que a angústia e o medo fossem logo embora ou se eu queria que aquilo acontecesse o mais tarde possível. Seja como for, o tempo não era o meu melhor aliado no momento.

O silêncio era inquietante, mas parecia que Vincent não tinha nenhuma intenção de falar. Ele havia sentado também, com a cabeça descansando contra a parede e as pernas esticadas. Sem nada para ocupar o tempo, passei a observá-lo. Ele estava com os olhos fechados então eu pude pegar cada detalhe do seu rosto, com suas maças pronunciadas e as grossas pestanas. Era muito bonito, e sem sombra de dúvidas não tinha nenhuma dificuldade de encontrar comida.

Como seria quando eu fosse me alimentar? Agora, diante a iminência da minha transformação em vampira, eu tinha um monte de perguntas. Minha vida jamais seria a mesma e eu tinha muito medo de não conseguir me adaptar.

—Vincent? — eu o chamei. Preferia conversar a ficar pensando nessas coisas.

—Hum? — ele parecia cansado.

—Como foi quando você se transformou em vampiro?

Senti que minha pergunta o pegou de surpresa. Ele abriu os olhos fitando-me intensamente.

—Porque está perguntando isso?

Dei de ombros.

—Sei lá. Da primeira vez que eu perguntei você disse que contaria numa outra hora. Bom, nós não estamos fazendo nada mesmo, então eu achei que seria melhor me entreter com alguma coisa.

Ele ficou em silencio por alguns instantes e eu já tinha quase me convencido de que ele iria me ignorar completamente quando ele respondeu.

—Não é uma história bonita, se você quer saber.

—Mas é uma história — insisti.

Vincent revirou os olhos, mas não pareceu particularmente aborrecido com minha curiosidade.

—Bom, eu nasci no dia 01 de setembro de 1852 em New Lanark. Escócia.

Eu não pude evitar um arregalar de olhos diante daquela informação.

—O que? Você tem 163 anos? Eu pensei que você fosse inglês e não escocês.

Ele deu de ombros.

—Eu nasci lá, mas nunca me senti um escocês realmente. Logo depois do meu nascimento minha meus pais se mudaram para Londres então eu sou muito mais inglês do que qualquer outra coisa. Agora você vai querer ouvir o resto ou vai me interromper o tempo todo?

—Claro, continue — eu não podia prometer que não voltaria a interrompê-lo, mas podia tentar.

—Meu pai trabalhava no ramo têxtil. Nós não éramos exatamente ricos, mas vivíamos bem. Até os dez anos de idade, eu tinha uma vida muito feliz.

Eu não pude deixar de notar o tinha, então me prearei para o que viria a seguir.

—Mudar para Londres fez muitas coisas com o meu pai. A renda de nossa família aumentou e foi nessa época que ele se entregou aos vícios. Bebidas, drogas, mulheres...minha mãe sofria muito, mas não dizia nada. Ela o amava, apesar de tudo. Tudo que eu podia fazer era tentar ser um bom filho, cuidar dela e orgulhá-la.

Um nó se formou na minha garganta enquanto eu tentava imaginar Vincent, aos dez anos tentando cuidar da mãe. Eu lembrei de mim mesma quando era menor e via minha mãe chorando em silêncio depois que eu ia dormir, com saudades do meu pai.

—Foi quando ele adoeceu e morreu — os olhos dele ficaram mais escuros — sífilis. Eu tinha doze anos. Ficamos sozinhos e sem um homem adulto para cuidar das finanças o dinheiro foi embora rapidamente. Perdemos nossa casa e fomos parar numa pensão de quinta categoria.

Levei minhas mãos a boca espantada, arrependendo-me de ter perguntado.

—Vincent —pedi — se você não quiser contar mais nada...

Os olhos dele me encontraram e ele deu um meio sorriso.

—Não, eu...eu quero contar para você — ele parecia um pouco perdido e aquela história provavelmente era um peso que ele não dividia com ninguém.

—Obrigada — assenti.

—Naquela época, não haviam muitas opções de trabalho para uma mulher como a minha mãe. Ela não tinha sangue nobre nem sabia fazer muita coisa além de costurar alguns vestidos, que era a única coisa que ela podia fazer para não se tornar uma mulher da vida. Foi aí que eu comecei a roubar. Ela não sabia, é claro. Eu dizia que fazia bicos nas docas.

Ele se mexeu no lugar onde estava parecendo desconfortável.

—Eu tinha dezesseis quando Bill Murray apareceu em nossas vidas — desprezo pingava da sua voz — um banqueiro muito rico, se dizendo completamente apaixonado por minha mãe. Eu sabia que ela não gostava dele, mas para me dar uma vida melhor ela aceitou sua proposta de casamento. Seria tudo perfeito se aquele homem não fosse trinta vezes pior que o meu pai. E num dia quando ele chegou em casa bêbado e tentou bater na minha mãe... eu o matei sem pensar duas vezes— ele riu — É claro, eu fui preso e teria sido enforcado se um cara muito influente não tivesse falado com juiz e resolvido mudar minha sentença.

—Um cara? — indaguei curiosa.

—Sim, um sujeito metido que eu havia conhecido num jogo de pôquer e que eu havia tentado roubar. Sem sucesso é claro, já que ele não era humano.

—Ciprian?

Ele sorriu ao falar do amigo.

—Sim. Ele ia me matar, mas o tio dele não permitiu. Disse que tinha gostado de mim e esperava me ver em breve. Ciprian ficou furioso com isso, ele achava que eu era indigno. Se referia a mim como câine.

Como?

—Cão, em romeno — ele respondeu — foi o tio dele que o mandou convencer o juiz também. Então ao invés de morrer eu iria trabalhar nas colônias como escravo. Fiquei lá por quase um ano, até Ciprian aparecer para me buscar. Ele me disse o que era e quando ele me ofereceu a mesma vida, eu aceitei sem pestanejar. A essa altura minha mãe já tinha morrido também, de tuberculose e eu não tinha mais nada a perder. Então eu virei vampiro e não olhei mais para trás.

Eu não conseguia pensar em nada para dizer depois de ouvir tudo aquilo. Mexi minhas mãos sentindo-me feliz e triste ao mesmo tempo. Feliz, por ele ter confiado em mim sua vida desse jeito; triste por saber que ele passou por tantas coisas.

—Eu sinto muito — eu disse por fim.

—Por quê? Isso foi há muito tempo — ele se aproximou da jaula, encostando seu ombro nela — além disso, eu me sinto melhor agora. Nunca havia contado isso para ninguém.

—Porque? — não pude evitar perguntar.

—Não sei. Gosto de você — ele disse sem rodeios — existe uma coisa diferente entre nós.

O fitei perplexa. Achando que tinha entendido errado e indaguei.

—Por causa da ligação criador/vampiro?

Ele esticou a mão segurando meu queixo gentilmente.

—Não.


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Notas finais do capítulo

Ahh se quiserem boas opções de fics para ler, que tal essa? A nina-chan é uma nova escritora que está postando uma fic sobre o senhor dos anéis. Eu já favoritei e super recomendo! Quem quiser, aí o link:
https://fanfiction.com.br/historia/606604/O_Senhor_dos_Aneis_-_O_Abismo_dos_Magos
Beijos e até!!!



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