Se eu não estava sentindo medo até um segundo atrás, agora eu estava. Não que eu não nunca estivesse visto Vincent sorrindo outras vezes, aliás, ela fazia muito isso quando nos víamos. A diferenças era que haviam duas enormes presas decorando aquele sorriso. Como se isso não bastasse, seus olhos estavam diferentes, um azul elétrico e assustador que lhe dava uma expressão totalmente predatória.

Ele não olhou para os três jovens que estavam de pé parados. Seu olhar estava fixo em mim e, quando ele falou sua voz era um mistura de firme e suave.

–Realmente Sue,você não se cansa de sair trombando nas pessoas?

–Ouça Noturno – disse Amanda com desprezo – isso não é assunto seu então vá embora! Não é uma boa ideia se meter com o coven.

Vincent permaneceu olhando para mim por alguns segundos. Quando olhou para ela o sorriso havia sumido de seu rosto e, substituído por uma expressão aborrecida.

–Sabe o que não é uma boa ideia? – perguntou ele caminhando calmamente na direção do trio – tentar me dar ordens, ou pior, me ameaçar.

Danny parecia que ia vomitar a qualquer momento. Amanda riu, e retrucou.

–Você não é um antigo criatura, podemos sobrepujá-lo facilmente.

–Se não for embora vai morrer, animal imund...

Roger não teve tempo de concluir a frase. Vincent já a erguia pelo pescoço com um único braço

–Vai morrer por isso garoto – disse ele, fúria emanando do seu corpo – mas não antes que eu o faça gritar feito uma garotinha.

Danny saiu correndo desesperado enquanto Amanda arregalou os olhos em puro espanto. Roger tentava falar algo, mas, tudo que saíam eram ruídos indescritíveis.

Mas, de repente uma coisa chamou a minha atenção. Amanda estava com os olhos fechados, como se tentasse se concentrar. Depois de alguns segundos vários fios luminosos emanaram do corpo dela em direção a Vincent criando uma teia que prendia o seu corpo. Ao que parece eu não fui a única a notar porque o loiro arremessou Roger alguns metros, onde caiu desmaiado, e voltou sua atenção para a garota.

–Só isso? – disse ele divertido – sinceramente, eu matei bruxas bem melhores que isso.

Ele continuou andando na direção da garota que, assustada tentou correr mas tropeçou e caiu.

Vincent se agachou e a segurou gentilmente, afastando o cabelo da menina e deixando seu pescoço nu.

Eu arfei, quando vi o que ele estava prestes a fazer. Vincent simplesmente mordeu o pescoço da garota que se debatia em seus braços, sangue escorrendo num leve filete.

–Oh meu deus – balbuciei aterrorizada.

Tentando reorganizar meus pensamentos fiz a coisa mais esperta que consegui pensar.

Saí o correndo dali o mais rápido que pude.

*************************

Acho que nunca corri tão rápido em toda minha vida. Ao chegar à minha casa bati a porta tão rápido que por um momento pensei que ela fosse cair. Minha respiração estava pesada e eu mal conseguir organizar pensamentos coerentes na minha cabeça.

Não era possível. Eu não tinha visto o me novo vizinho mordendo uma pessoa como um ...não era possível.

–Acalme-se Susan – repetia para mim mesma – coragem!

Andei por todos os cômodos da casa me certificando que tudo estivesse trancado e seguro. Pelo menos tão seguro quanto fosse possível.

Momentos depois, para o meu alívio, minha mãe chegou em casa.

–Susan está tudo bem? – perguntou ela.

–Err... tudo ótimo eu só tranquei tudo porque eu já ia dormir e sabe, segurança nunca é demais – respondi, tentando parar de tremer.

–Ahh – disse ela me olhando com uma expressão esquisita no rosto – bom, então boa noite.

–Boa Noite – disse subindo as escadas e me trancando no quarto.

Vesti o meu pijama e corri para cama onde fiquei encolhida pensando nas coisas terríveis que tinha visto a pouco. Azarado saltou para cama e eu nem o expulsei. Até mesmo a companhia dele era melhor do que ficar sozinha.

–Talvez eu devesse ter dito para a minha mãe o que eu vi – disse, para meu odiado companheiro.

Azarado apenas me olhou e fechou os olhos.

–Foi o que eu pensei – disse – Ela nunca acreditaria em algo assim para falar a verdade nem eu estava acreditando.

Passei o resto da noite imaginando que a qualquer momento Vincent entraria na minha casa para terminar o serviço. Mesmo depois que eu adormeci já de madrugada ele continuava me assombrando em terríveis pesadelos.

***************************

Quando eu acordei levei o maior susto. Eu havia dormido abraçada ao Azarado! Aquilo sim era definitivamente dormir com o inimigo. Levantei-me xingando a mim mesma e me dirigi ao banheiro aos tropeções.

–Você está péssima – foi a primeira coisa que minha mãe me disse quando eu apareci na cozinha.

Ela tinha toda razão. Eu estava com enormes olheiras ao redor dos olhos, meu cabelo estava todo desgrenhado e eu parecia um zumbi.

–Eu não dormi direito – confessei.

–É melhor se apressar ou vai acabar se atrasando – disse ela – beba um pouco de café, vai se sentir melhor.

Sentei-me e me servi de um pouco de café. Já me sentia um pouco melhor quando a campainha tocou.

–Deve ser o seu amigo – ela levantou-se para abrir a porta.

–Meu amigo?! – levantei espantada correndo atrás da minha dela– espera mãe!

Ela não me deu ouvidos e abriu a porta saudando o visitante alegremente.

–Olá Vincent? Veio buscar a Sue não é?

Parado no batente da porta com um uma expressão quase que angelical, estava Vincent Darin.

–Bom dia, senhora Donovan. Espero não estar incomodando.

–Por favor, me chame de Grace – disse minha mãe contente – e você não incomoda nunca Vincent. Quer entrar? A Susan não terminou o café ainda.

–Não! – gritei desesperada puxando a minha mãe para longe dele – não convida ele para a nossa casa!

–Mas o que é isso Susan! – repreendeu ela me olhando feio – isso é jeito de tratar uma visita? Vincent me perdoe, eu não sei o que ela tem.

Vincent me olhava como um cachorrinho que acabou de ser chutado. Se eu não tivesse visto ele ontem a noite aquela carinha partiria o meu coração.

–Susan, eu sei que está chateada... – começou ele tristemente.

–Vá embora! – eu gritei antes que ele dissesse mais alguma mentira.

–Susan! – bradou minha mãe – o que está havendo!

Vendo que ela não me ouviria a menos que eu falasse a verdade eu gritei.

–Ele é um vampiro!

Minha mãe arregalou os olhos em puro espanto e depois olhou para Vincent que parecia tão espantado quanto ela. Definitivamente aquele cara era um bom ator.

–Francamente Susan! – disse minha mãe – você está se ouvindo!

–É verdade! Eu juro! – disse exasperada.

–Olha Susan – interferiu Vincent parecendo magoado – tudo bem que você estava com raiva de mim por eu querer contar a verdade para sua mãe, mas também não precisava inventar um história dessas.

–O que?! – eu disse confusa.

–Que verdade? – indagou a minha mãe.

–Bom, -disse ele – a Susan não entregou o trabalho de história e por isso o professor a deixou com nota zero.

– O que?! – disse minha mãe me olhando furiosa.

–Eu disse a ela que ela não deveria esconder algo assim da senhora – continuou ele com aquele teatro maldito – mas ela não me ouviu e disse que se eu contasse ela iria me odiar para sempre.

Quando terminou de falar ele baixou os olhos como se estivesse envergonhado.

–Então é isso? – gritou ela – você inventou isso tudo para se vingar do Vincent por ele querer ser decente?

Eu estava sem palavras. Ele tinha enganado a minha mãe direitinho e virado o jogo a favor dele.

–Mas.. – foi tudo que pude balbuciar.

Minha mãe ergueu a mão pedindo silêncio. Depois se virou para Vincent.

–Me desculpe por tudo isso Vincent. Você pode ir para a escola, eu preciso conversar com a Sue.

–Eu entendo senho... quer dizer Grace – disse ele sorrindo timidamente.

–Obrigado por tudo – disse ela encerrando a conversa.

Quando a minha mãe se virou para mim me fuzilando com o olhar eu ainda pude ver Vincent exibindo um sorriso vitorioso antes de ir embora.

–Temos que conversar – disse minha mãe séria.

Maldito. Pensei furiosa. Vampiro ou não ele ia me pagar caro por aquilo. Muito caro.