Problem Temptation escrita por Boow, Brus


Capítulo 3
The Barn




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— Erin? – A voz rompeu pela porta aberta do meu mais novo quarto. Eu já estava lá algumas horas deitada admirando o teto sem saber o que fazer exatamente, já tinha desfeito as malas e ajeitado as coisas, porém não me sentia a vontade o suficiente para me sentar no mesmo sofá que Ashley e assistir televisão. Olhei em direção a quem havia me chamado para só então me dar conta da visita dos gêmeos.

Me levantei rápido da cama e os puxei para dentro encostando a porta do quarto atrás deles.

— O que vocês tinham na cabeça? – Gritei em um sussurro. – Por que não me contaram que Ashley era um cara? E aliás o que diabos vocês acham que Gabriel vai fazer se descobrir que eu estou morando com garoto?

— Eu disse que ela ia ficar louca. – Danny sussurrou para a irmã. – Me deve dez dólares. – Eu olhei para os dois incrédula a espera de uma explicação. Megan me lançou um sorrisinho nervoso como se estivesse ensaiando cada palavra a ser dita antes de me dar uma explicação plausível. Era óbvio que qualquer deslize seria motivo de homicídio no recinto.

— Erin, o Ashley é um cara bacana... – Ela disse não tão baixo quanto eu, como se tivesse certeza que ele não poderia nos ouvir mesmo estando no cômodo ao lado. – Você vai gostar dele e logo tenho certeza que serão grandes amigos... vocês são um pouquinho diferentes um do outro, mas vai por mim, você vai amá-lo.

— Sem dúvidas vou amá-lo – disse irônica. – Principalmente depois que meu namorado descobrir que passaremos três meses sob o mesmo teto.

— O Gabriel vai entender. – Ela disse. – Aliás ele não está em posição de criticar nada.— A loira usou um tom frio para dizer que ele realmente não tinha o direito de palpitar sobre nada em minha vida, pelo menos não sobre esse assunto. – E ele nem precisa saber sobre o Ashley. Aliás a menos que você conte ele não irá saber.

— Ele vai vir no 4 de julho. – Eu disse. – O que você espera que eu faça? Tranque Ashley no armário? – Danny riu.

— Ele fazia isso com a Megan quando éramos mais novos. – O gêmeo comentou com um sorriso divertido para a irmã. – Se eu fosse você Erin, não daria muitas ideias. – Megan lançou um olhar para o irmão que fez ele fechar o sorriso no mesmo momento. Bom, creio que qualquer um teria parado de respirar se recebesse um daqueles olhares mortíferos de Megan Fell.

— Você tem certeza que ele vem? – Megan me perguntou um pouco hesitante.

— Ele tem que vir. É meu aniversário e é feriado também. Ele não pode simplesmente decidir não vir. – Tudo bem, Gabriel havia furado algumas vezes com os nossos encontros. A maior parte deles, pra ser mais exata. No entanto eu queria acreditar que ele não poderia dar nenhuma desculpa dessa vez, se é que ainda restasse algum tipo de desculpa para ele usar. – Você acha que ele não vem? – Perguntei para Megan e ela continuou em silêncio se preocupando em apenas desviar o olhar. É, ela tinha certeza de que não viria.

Daniel limpou a garganta como se tentasse recordar a mim e a irmã de que ele ainda estava no quarto, e que ainda restava algo a dizer. Levando em conta o significativo silêncio da minha melhor amiga, Danny quem falou.

— Tia Rose quer que todos nós jantemos juntos hoje. – Ele disse. – Ela está organizando a mesa de jantar e nos quer lá em vinte minutos. Acho que ela irá explicar algo sobre os nossos serviços e criará um cronograma de tarefas. – Eu balancei a cabeça positivamente e antes que um de nós pudesse dizer algo, alguém bateu em minha porta.

Caminhei a passos lentos e a abri. Meu cérebro levou dois segundos para me acostumar com a imagem que eu via. Ashley vestia uma camiseta branca com uma gola V que parecia realçar a correntinha pequena que seu pescoço ostentava, suas pernas eram cobertas por um jeans um tanto justo e seus pés cobertos por um tênis simples. Voltei meu olhar para cima, mesmo sabendo do rubor em minha face. Os cabelos dele estavam desarranjados como se tivesse acabado de sair do chuveiro e em vez de penteá-los tivesse optado apenas por bagunçar mais, esfregando sua toalha de banho. O que era bem provável de ter acontecido levando em conta a umidade de seus fios escuros. Ele estava sorrindo. Droga ele estava sendo inutilmente encantador enquanto sorria com a sua covinha única e exageradamente sexy.

— Oi. – Eu disse tentando retribuir o sorriso e ao mesmo tempo impedir que meu rosto enrubescesse ainda mais. Abri mais a porta para que ele pudesse entrar e se juntar aos seus primos, mas antes que ele fizesse qualquer coisa Megan se apressou em falar:

— Erin, eu vou indo. – Megan disse se afastando do irmão. – Preciso ter certeza que Noah conseguiu sair de debaixo do chuveiro antes dele esgotar a água do planeta. – Ela falou em um tom de reclamação, mas ao mesmo tempo divertindo-se ao citar os meros detalhes do noivo. Eu concordei dando espaço para que ela saísse pela porta. – Legal ver você de novo Ashley. – Disse sorridente para o primo como quem diz oi para um antigo colega.

Estava a ponto de perguntar o que Ashley desejava novamente mas Danny teve um sobressalto e sua cara de espanto parecia intimidar até mesmo Ash. Olhei para ele assustada imaginando o que poderia ter acontecido ou se ele estava passando mal.

— Droga. – Ele resmungou se aproximando de mim. – Eu deixei seu irmão sozinho com o Listrado, desculpa ter que sair assim Erin mas uma das últimas vidas do meu gato está em jogo. Eu prometi a Megan que mostraria para você onde fica o celeiro, mas... droga o meu gato! – Ele resmungou saindo do quarto a passos apressados, eu não consegui não gargalhar.

Listrado era um gato preto e branco comum, e só para esclarecer, ele não tinha listra alguma. Oliver tem alergia a gatos, não suporta nenhum animal que ande sobre quatro patas, e o Listrado costuma ser vítima de diversos tentativas de assassinato vindas do meu irmão. Aquele bichano era sem dúvidas a prova viva de que um gato podia ter sete vidas. E Danny temia que as do Listrado estivessem chegando ao fim.

Assim que consegui me controlar das risadas inoportunas, respirei fundo e olhei para Ashley que ainda encarava a porta por onde o primo saiu. Ele ria de forma confusa e tinha uma das sobrancelhas levantadas como se realmente não estivesse entendendo.

— Danny costumava ser menos gay antigamente. – Disse se virando para mim. – Ele é sempre assim? – Perguntou com um sorriso divertido.

— Digamos que o Listrado e o meu irmão têm alguns problemas pessoais. – Ri tentando explicar. – Oliver tem alergia a gatos e o Listrado é o seu pior inimigo hoje em dia. Danny só tem amor a vida do gato. – Ele balançou a cabeça positivamente com aquela sobrancelha direita ainda mais erguida do que a esquerda. Como se apesar de entender continuasse achando aquilo esquisito. Ou talvez ele tivesse consciência do que aquela expressão me provocava... e estivesse brincando comigo.

— Enfim, eu só vim avisar que já estou indo para o jantar no celeiro. – Ele disse descontraído me desviando os pensamentos. – Acho que depois de ter sido dispensada por seu colega que prefere salvar a vida de um gato do que mostrar o caminho a você, eu fiquei com a missão de lhe mostrar onde fica o celeiro, não? – Dei de ombros.

— Cinco minutos para eu tomar um banho? – Ele sorriu revirando os olhos.

— Mulheres. – Resmungou ainda em um tom brincalhão enquanto saía do quarto.

O celeiro ficava distante de todos os chalés. Ashley me guiou em silêncio absoluto para os fundos do terreno da grande pousada, ou pelo menos aonde eu imaginava ser os fundos. Quando chegamos ao que para mim era o limite do espaço, Ash pediu para que eu segurasse sua mão. Eu hesitei.

— Vamos lá. – Ele disse paciente. – Tem uma trilha atrás dessas árvores que vai para o celeiro, tia Rose quis escondê-lo porque não acha que ele combina com a paisagem da pousada. – Eu continuei sem dar a mão a ele. Ashley riu. – Ok, como quiser então. Mas está escuro, cuidado para não cair. Segure em mim se precisar. – Disse seguindo em frente para a trilha.

Eu deveria ser maluca de entrar em um lugar como aquele no meio da noite com um completo estranho. Ele podia me matar, estuprar ou até mesmo os dois e ninguém veria. Provavelmente também não escutariam se eu gritasse, a pousada ainda tinha poucos hóspedes e estávamos há cinquenta metros do último chalé.

Ashley não brincou ao dizer que a trilha era escura, tanto que eu nem sequer via uma trilha, também não via Ashley, mas podia escutar seus passos quebrando galhos e esmagando folhas no chão. Ouvi quando ele deu uma passada mais forte. Na verdade desconfiei que fosse um pulo, diminui a velocidade dos meus passos a procura de algum tronco ou algo do tipo.

— Cuidado, tem uma baixada... – Eu não pude ouvir o que ele disse, meu pé esquerdo pisou em falso no chão que basicamente não existia. Meus joelhos foram pra frente e logo eu estava coberta de folhas. Juro que ouvi uma risada anasalada vinda de Ashley. Não importa o quanto ele fosse um estranho para mim, estava simplesmente agradecendo pela escuridão não me deixar ter certeza da sua cara de deboche. E também por não ter que passar pela humilhação dele poder ver o rubor no me rosto. – Você está bem? – A voz dele parecia próxima como se ele estivesse ajoelhado no chão, mas o pouco de luz que penetrava por entre os galhos das árvores mostrava que ele estava com o peso sobre os calcanhares. Pude ver sua mão estendida para me ajudar a levantar, mas meu orgulho me impediu.

Eu me levantei sozinha. Dessa vez eu pude ter certeza de que ele ria, uma risada que descompassava a sua respiração, era revoltante por eu ter certeza que o motivo do riso era eu, mas era provocante ao mesmo tempo. Ele se levantou segundos depois de eu já estar de pé, e sem dizer absolutamente nada puxou minha mão para junto da dele. Entrelaçou nossos dedos e seguiu em frente. Se tivéssemos intimidade o suficiente, eu tinha certeza que nesse momento ele estaria me falando algo do tipo “eu avisei você”. Por alguns segundos agradeci por ele ser um completo estranho.

As árvores acabaram menos de dois metros depois. Ele soltou minha mão em um gesto automático como se estivesse segurando ela por pura obrigação. Não que eu estivesse reclamando. Aliás, se dependesse de mim, seria totalmente desnecessário. Eu podia me virar muito bem na trilha se estivesse sozinha.

Ok, nem tanto.

Ao contrário da trilha, o celeiro era bem iluminado. Uma construção de madeira com poucas janelas nas quais a luz refletia forte. Pude ouvir um relinchar esquisito e me virei apavorada na direção do barulho. Havia cavalos a menos de cinco metros de nós. Todos grandes e pretos, eu tive que trancar o grito de pavor em minha garganta.

— Esses são o Trovão, o Zeus e a Pégasos. – Ele disse apontando pros cavalos. – Eles costumam ficar na baia dentro do celeiro, junto aos outros. Danny e Megan costumavam montar, talvez tia Rose tenha separado os cavalos para eles. Você monta? – Ele perguntou.

— Não. – Eu respondi rápido. Rápido demais. Ele teria que ser uma verdadeira ameba para não notar o grau de desespero em minha voz.

— Você tem medo? – Ele perguntou um pouco mais hesitante com o lado esquerdo do lábio inclinado minimante para cima. Eu desviei o olhar me sentido corar e dei de ombros. – Ok, não importa, ninguém vai selar a Peg esse verão. Então acho que ela não está aqui para você. – Eu pisquei algumas vezes tentando entender.

— Peg? – Perguntei confusa.

— A égua mais antiga do estábulo. Tia Rose montava ela, mas ela está grávida. – Eu arregalei os olhos.

— A senhora Fell esta grávida? – Perguntei um tanto chocada. Não que fosse impossível, mas até onde Megan havia me contado a senhora Fell era uma mulher separada e de muito respeito. Estar grávida na idade dela era um tanto... inesperado. Ashley começou a gargalhar. – O que houve? – Perguntei confusa.

— A Peg está grávida. – Apontou para a égua contendo os risos. – Está quase ganhando. Mas como eu disse, ela é a égua mais velha por aqui. Os veterinários acham que ela pode não aguentar até o fim da gestação. O que seria uma pena. – Eu ergui as sobrancelhas, ele falava dos cavalos como amigos próximos dele. Cavalos não eram amigos. Eram animais maus.

— Você monta? – Foi a minha vez de perguntar quando já estávamos em segurança nos afastando dos cavalos e entrando no celeiro.

— Montava. – Ele respondeu. – Quer dizer, ainda monto, mas não com tanta frequência como antes. – Disse ao mesmo tempo que dava de ombros, como se tentasse me explicar que montar na vida dele foi como brincar de carrinhos, uma vontade que deixou de existir com o tempo.

Passei a observar o celeiro. Tinha o chão coberto de palha e um cheiro não tão agradável. Para o meu pavor a única coisa que havia lá eram mais cavalos presos em suas baias. Engoli em seco cada vez que algum deles relinchava ou trotava como se estivesse pronto para pular pela cerca. Eu estava começando a suar frio quando senti os mesmos dedos cumpridos de antes puxarem a minha mão e a segurar com firmeza. Ele não disse nada. Não precisava dizer. O suor em minha mão indicava o quanto eu estava apavorada. Ashley me levou para uma escada nos fundos da construção de madeira, falou que era ali que tia Rose faria o jantar. Eu não questionei nem mesmo quando ele me mandou subir primeiro.

Ao contrário do que eu esperava, não havia palha lá em cima. Não existiam cavalos e nem o mau cheiro de estrume e palha molhada. A construção de madeira não era pintada nem por dentro nem por fora. Podia-se ver as telhas que não eram cobertas por um forro, e o cheiro de comida fez a fome despertar em mim. Para a minha surpresa aquele lugar parecia com um dos chalés. Era um ambiente grande com diversas janelas de veneziana, havia uma cama com um criado-mudo, uma cômoda e até um despertador. Do outro lado, uma mesa grande com diversas cadeiras e o fogão onde a senhora Fell parecia se divertir cantando clássicos da década de oitenta ao mesmo tempo em que cozinhava. Em uma outra parede havia dois freezers industriais grandes e uma estante repleta de comidas não perecíveis. Olhei para Ashley de forma indagadora e ele sorriu.

— Não, ela não mora aqui. – Explicou. – Mas sempre teve esse quartinho de emergências. Você teria de ficar aqui se eu tivesse negado o quarto do meu chalé. Acho que você não teria escolhas se não enfrentar seu medo. – Subitamente eu corei.

— Obrigado. – Sussurrei.

— Aqui fica o estoque de comida para repor nas cozinhas dos chalés de luxo. Tia Fell diz que seria trabalhoso demais servir comida pronta então a cada dois dias ela abastece as cozinhas. É muito mais econômico. – Eu ia dizer algo, mas antes que eu pudesse falar a senhora Fell se virou em nossa direção empolgada.

— Ah, Ashley não acredito que você deixou a convidada assistir meu cover de The New York Space Jump! Agora estou envergonhada. – Ela disse divertida colocando as panelas sobre a mesa. – Desculpe o erro do meu sobrinho querida.

— Se me permite dizer tia Rose, acredito que Erin nunca tenha visto uma versão tão melhorada do Space Jump em toda a sua vida. – Ashley brincou com a tia.

— Ashley está certo senhora Fell. Meus pais são fãs do NYSP, e eu tenho certeza que adorariam se juntar à você para fazer um grupo da atualidade. – Ela gargalhou.

— Oh! Seria perfeito. Mas antes de tudo, comece a me chamar de Tia Rose ou serei obrigada a botar você para limpar os estábulos. – Ashley riu descaradamente. Eu não achei tanta graça, mas a educação me forçou a rir junto.

— Tenha certeza tia, Erin nunca mais chamará você de senhora. – Ele disse vagamente, ainda com o sorriso um tanto debochado, eu estava pronta para me defender, mas outras vozes falaram no meu lugar. Olhei para trás e pude ver um Oliver rabugento entrando no cômodo atrás de um Noah no mesmo estado de humor sendo seguidos por dois gêmeos travessos que não paravam de gargalhar.

— Vejam só se os pestinhas Fell já não estão aprontando. – Tia Rose comentou olhando para os sobrinhos. Me virei em direção ao meu irmão e pude ver que tinha uma folha nos cabelos dele.

— Oliver, você está bem? – Perguntei um pouco hesitante.

— Não. – Ele resmungou um tanto ríspido. – O maluco do Danny e essa louca que você chama de melhor amiga esqueceram de seguir o caminho na trilha e enfiaram a gente no meio de um mato sem fim.

— O Noah caiu por cima do Oliver... – Megan disse tentando respirar e rir ao mesmo tempo. – Rolaram... eles... sem parar... – Eu estava tentando entender, mas começava a rir apenas de ver Danny e Megan quase rolando no chão.

— Eles enfiaram a gente no meio do mato e eu tropecei na perna da Megan que caiu no meio do caminho. Daí eu fui pra cima do Oliver e caímos os dois rolando um morro que apareceu magicamente na nossa frente até uma árvore parar a gente na saída daquele projeto de floresta. – Noah explicou ainda parecendo irritado. Essa era uma das poucas vezes em que o víamos nesse estado.

— Ah meu Deus, queridos! – Tia Rose foi até eles. – Vocês estão bem? – Ela virou o rosto do meu irmão para um lado e para o outro do mesmo jeito que nossa mãe fazia conosco quando caíamos de bicicleta. Ela repetiu o mesmo com Noah. – E vocês... – Apontou séria para os gêmeos que no mesmo instante pararam de rir. – Que vergonha. Seus amigos podendo ter quebrado algum osso ou se machucado seriamente e vocês dão gargalhadas? Que feio. – Falou usando em um tom de repreensão. – Andem, vamos comer antes que a comida esfrie.

Um fato não havia como negar. Se eu comesse assim todos os dias, eu provavelmente não me incomodaria com o calor, sabendo que logo seria recompensada com a comida da senhora Fell. E todos ao meu redor pensavam o mesmo, ou pelo menos é isso que parecia com todos os rapazes dando fim ao segundo prato de comida.

— Eu estava com saudades da sua comida, tia Rose. – Megan falou. – Mas parece que o Danny nunca mais comeu desde que estivemos aqui da última vez. – Caçoou do irmão que lhe lançou uma careta. A senhora Fell riu.

— Então queridos. Que tal estabelecermos um cronograma de tarefas para vocês? – Ela disse com um ar profissional. – Sei que aqui ninguém quer trabalhar, mas se queremos continuar a ter um teto, então precisamos batalhar por isso. – Disse com um sorrisinho coquete. – E para deixar mais divertido eu quero que você trabalhem em dupla, tudo bem?

— Eu vou com a Erin! – Megan berrou e Danny fez careta.

— Mas eu queria ir com ela. Erin sempre é perfeitinha demais e acaba fazendo o serviço todo sozinha pra não correr o risco de que faça errado. – Disse o gêmeo.

— Calados, eu sou o irmão dela. Eu vou com ela. – Oliver disse quase com ar mandão.

— Esperem, esperem crianças. – Tia Rose disse e todos ficaram em silêncio. – Cada um trabalhará com o seu parceiro de chalé. A menos que Ash e Erin não se entendam, então mudaremos as ordens. – Eu olhei de canto para Ashley que deu de ombros. – A meu ver eles já estão se dando bem. Pareciam bem amigos quando chegaram aqui a tempo do meu show. – Rimos. – Mas tudo bem, essas são as regras.

— E o que cada um de nós fará? – Danny perguntou.

— Isso é simples... Ashley já tem sua tarefá e Erin ficará encarregada de ajudá-lo, eles cuidarão da organização da pousada. É um serviço um pouco pesado, então Erin, prepara-se para suar. No entanto, apesar dos dois terem o trabalho mais cansativo serão vocês que serão encarregados dos mais desgastantes. Eu quero que Megan e Noah cuidem da limpeza dos chalés de número ímpar e Danny e Oliver os de número par. Vocês começam a limpar as de luxo na segunda feira e terminam na quarta. As simples são as menores então quinta e sexta é tempo o suficiente para a limpeza estar completa, no final de semana então estarão livres e os empregados contratados cuidarão para tudo ficar em ordem. – Ela fez uma pausa para se certificar que todos nós havíamos entendido. – Posso contar com vocês? – Concordamos quase que em couro e pouco a pouco a atenção foi se dispersando.

Minutos depois, todos estavam espalhado pelo segundo andar do celeiro, Oliver e Megan estavam na cama jogados de forma atravessada rindo de alguma coisa. Eu e Noah limpávamos as louças depois de termos insistido o suficiente para que a senhora Fell nos deixasse fazer. Ashley conversava com ela um pouco distante de nós.

— O que você está achando? – Noah me perguntou. Também era a primeira vez dele nesse lugar, mas ao contrário de mim Noah era um adorador de dias quentes. Dei de ombros enxugando um prato.

— Legal. Mesmo que eu tenha que ter tomado um banho gelado para amenizar o calor, quase me suicidado na trilha até aqui e ter me apavorado com os cavalos, achei legal. – Ele riu.

— E o Ashley? – Ele perguntou. – Não falei muito com ele, mas ele pareceu bacana. Pelo menos até agora. – Dei de ombros novamente.

— Ele está sendo gentil. – Noah sorriu de canto e Ashley apareceu próximo a nós junto com sua tia.

— Eu já estou indo, Erin. Os outros vão ficar para conhecer os cavalos, você quer ir agora ou pretende cavalgar? – Por alguns segundos uma nota de ironia brindou sua voz. Eu quase tive vontade de arremessar o prato na cabaça dele. Talvez ele não estivesse sendo tão gentil, afinal.

— Eu posso terminar? – balancei o pano indicando que eu estava secando a louça e ele olhou rapidamente na direção da prima.

— MEGAN! – gritou e ela se levantou vindo em nossa direção. Ele tirou o pano de prato da minha mão e colocou nos ombros da loira. – Mostre para o seu noivo que você também sabe ser uma dona de casa decente... – Ela nos encarou de cenho franzido. – Vamos? – Ele convidou.

— Ok, eu vou chamar o Oliver. Acho que ele vai se sentir mais seguro com alguém que sabe andar pelas trilhas. – Ashley concordou e eu pude ouvir Noah reclamar sobre algo, se lembrando da queda pouco antes.

Eu segurei a mão de Ashley sem pestanejar dessa vez e Oliver segurava a minha. Éramos quase uma corrente humana na escuridão silenciosa da trilha, como antes, ninguém falava nada. Só que dessa vez o caminho pareceu muito mais rápido. Ashley largou minha mão assim que passamos pela última árvore, e não se preocupou em nos esperar, seguia a passos rápidos para a cabine. Eu ia soltar a mão de Oliver quando ele me segurou firme me fazendo parar.

— Ele é estranho – Disse baixo, porém com o olhar fixo em Ashley. – Vocês estão se dando bem? Quer trocar de chalé? – Eu ri de canto. Oliver podeira ter todos os defeitos do mundo, mas sempre se preocupava comigo.

— Está tudo bem. Ele é uma boa pessoa. – Eu disse. – Só pareceu um pouco... incomodado depois do jantar. – Ele balançou a cabeça positivamente e continuamos a caminhar até que cada um fosse para o seu corredor de chalés.

— Qualquer coisa me liga, Erin. Papai me mata se alguma coisa acontecer com você. – Eu ri, sabia que não era pelo que nosso pai faria que ele estava tão preocupado.

Nos despedimos e nos separamos, não demorei mais que cinco minutos para chegar a cabine que tinha a porta aberta. Como se Ashley soubesse que eu chegaria a qualquer momento e não quisesse que eu me sentisse uma invasora em minha própria casa. Não havia sinais dele, nem na sala nem na cozinha. Deduzi que ele já estivesse no quarto e não dei muita atenção. Eram dez horas da noite, talvez ele gostasse de dormir cedo.

Me obriguei a tomar mais um banho antes de dormir e assim o fiz. Seriam infinitas chuveiradas até o fim do verão. Mandei a costumeira mensagem de boa noite para Gabriel e somente uma hora depois ele me respondeu. Talvez fosse a distância, era ela quem fazia a demora parecer infinita. Quando éramos vizinhos, mal precisávamos de dois minutos para trocar mensagens. Eu estava sonolenta demais para poder responder ou até mesmo ler a mensagem. Fechei os olhos novamente e apaguei.

Seis e quarenta e cinco, era o que indicava o relógio do celular que havia acabado de despertar na hora em que eu havia programado. Megan havia me dito que as atividades da pousada começavam as nove e meia, então eu tinha algumas horas para o meu ritual matutino. Troquei o pijama pelas roupas de ginástica e arrumei minha cama, eu ficava no chalé 12A então tudo indicava que meu irmão seria o responsável pela organização dele. O que significava que era melhor eu arrumar tudo sozinha. Sai do quarto sem fazer barulho e fui até o banheiro da forma mais silenciosa que podia, não queria que acordar Ashley se tornasse um hábito em minha vida.

Quando meus cabelos já estavam presos em eu rabo de cavalo alto e eu preparada para uma maratona de uma hora e meia revezadas entre corrida caminhada, fui até a cozinha pegar algo que se pudesse considerar um bom café da manhã. Demorei a achar o interruptor de luz e assim que o encontrei, achei também o que poderia ser considerado o melhor café da manhã de todos os tempos.

— O que você está fazendo aqui? – A voz completamente diferente da qual eu havia me habituado vibrou em meus ouvidos. Talvez Ashley não fosse um café da manhã tão bom afinal.


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