Sherlock estava pronto para embarcar. Mycroft havia providenciado tudo: passagem, estadia, bagagem, documentos ilegítimos e até um segurança pessoal. Tudo para seu querido irmãozinho poder rodar o mundo e destruir cada pedaço da rede terrorista de Moriarty. Mas Sherlock tinha outros planos. Depois que embarcasse na Itália, seu primeiro destino, nem iria passar na porta do hotel que o irmão reservou e daria um jeito de dispensar o segurança. Odiava a mania que Mycroft tinha de estar sempre vigiando seus passos.

O combinado era encontrar o segurança pessoal, junto com suas malas e passagens na escadaria do avião, e lá estava o homem, “não tão grande para um segurança de Mycroft”, Sherlock pensou.

Aproximou-se do sujeito e quase tomou um susto quando ele se virou.

– Eu vi você morrendo... - Sherlock não sabia por que estava surpreso. Era ninguém mais ninguém menos do que James Moriarty.

– E eu também vi você morrendo - ele riu – mas o meu show foi mais convincente, apesar de que você teve mais público.

Subiram no avião e colocaram a bagagem de mão no compartimento correspondente. Moriarty correu para sentar na janelinha.

– O que aconteceu com o segurança de Mycroft?

– Tranquei no banheiro e roubei as roupas.

– Jura? Eu pensei que você fosse ameaçar a família dele e dar um dinheiro pra ele fugir no mundo.

– Não, seria fácil demais. É mais emocionante saber que ele vai se destrancar à qualquer momento. – sorriu – Sem falar que eu estou quebrado. Preciso ir pra Vegas, conseguir algum dinheiro honesto num cassino, comprar um cachorro, quem sabe.

– Esse avião vai para a Itália.

– Ah, é, me dê um minuto. – foi até a cabine de controle e voltou saltitando. – Eles vão dar o aviso. Seu irmão contrata pessoas tão manipuláveis.

Nisso, ouve-se um chamado do co-piloto, avisando que o voo havia sido cancelado, devido à problemas no motor. Todos os demais passageiros retiraram-se de lá, junto com suas bagagens de mão, a protestos.

– Agora nós vamos ter mais privacidade. – sorriu

– Você vai tentar me matar de novo? – Sherlock zombou. – Vai me fazer pular do avião ou o quê?

– Não, longe disso. Eu gostei de você, quero levar você comigo.

Moriarty pediu que ligassem a TV. O suicídio de Sherlock estava em todos os canais.

– Eu realmente queria ter tido público, vou reclamar sobre isso com o Seb.

– Seb?

– Sebastian Moran. Ele é tipo meu John Watson. A propósito, John está tão triste. Por um segundo eu pensei que você tinha um coração, mas não, você realmente é como eu.

– Eu nunca vou ser como você. – Sherlock implicou. Não queria ficar falando sobre John, o que importava é que ele estava à salvo e Moriarty não precisava se lembrar disso.

– Ah, o estágio da negação. – Moriarty suspirou - Essas roupas de segurança da Família Real caíram muito bem em mim, olha só pra essas credenciais – ele mostrou a carteirinha, que tinha a foto do outro homem – Que sorte, o nome dele também é James. Odeio adotar nomes falsos, você sabe, tem tanta falsidade nesse mundo hoje em dia.

– Nem me fale.

Chegaram aos Estados Unidos na noite seguinte e logo se instalaram em um hotel de luxo. As credenciais do segurança da Família Real abriam portas. O primeiro ato de Moriarty ao entrar no quarto foi pular na cama.

– Vem também, Sherlock!

– Não, obrigado. – sentou-se enquanto mandava uma mensagem para Mycroft, avisando que tinha sido sequestrado.

– Sabe, você não precisava ter feito isso, deixa de ser chato. Eles vão achar a gente de qualquer maneira.

– Eu duvido muito. Aposto que a essa hora, eles estão nos procurando na Itália. – Sherlock revirou os olhos.

– Imagino que sim. – riu – Vou pedir alguma coisa pra gente beber. O que vai querer?

– Nada.

– Ok, então são duas taças de champagne. Vamos brindar! – desceu da cama e ligou pedindo serviço de quarto.

Enquanto isso, Sherlock resolveu ir tomar banho. O banheiro do hotel era enorme e dourado. Esperou um tempo para a banheira encher de espuma e se enfiou dentro dela.

Menos de dois minutos depois, Moriarty apareceu com duas taças no banheiro.

– O que você pensa que está fazendo aqui?

– Epa, epa, calma. Você acha que é o único que sabe arrombar fechaduras? Segura aqui. – deu uma taça pra Sherlock – Vamos fazer um brinde a esse nosso reencontro!

Sherlock deu um sorriso de desdém e brindou. Ouviu seu celular tocar no bolso de sua camisa e Jim foi correndo pegar para ler a mensagem. Era de Mycroft, dizendo que não podia fazer muito quanto ao sequestro. “Você está morto, irmãozinho, lembra? Eu não posso pedir um resgate assim” Sherlock não podia acreditar naquilo. Como Mycroft ia virar as costas pra ele numa hora daquelas? Decidiu então que ia fazer as coisas do seu jeito agora. Dane-se Mycroft e o plano dele. Bebeu a champagne em um só gole.

– Agora que todos te deixaram para trás, você está livre para se juntar a mim – Jim largou a taça no chão e segurou a mão de Sherlock – Vamos nos divertir, só por essa noite.

Sherlock respirou fundo, apertou a mão de Jim e o puxou para junto de si, dentro da banheira.

***

Depois de secos e devidamente arrumados, foram em direção ao salão de jogos do hotel. Jim sentou-se em uma mesa de pôquer enquanto Sherlock comprava fichas. As cartas de Moriarty não eram muito boas, mas por sorte, seus adversários estavam fazendo jogadas horríveis. Acabou por ganhar todo o dinheiro deles.

– Só ganhei porque todos me deviam favores. – sussurrou para Sherlock – Você deveria considerar a consultoria criminal a partir de agora.

– Ainda estou do lado dos anjos.

– Foi o que pensei. – puxou Sherlock pela gola e beijou seus lábios – É por isso que eu te amo tanto, meu docinho. Nós completamos um ao outro.

– Hm, você gosta de dançar?

– Se eu gosto de dançar, querido...? Rá. Se você nunca dançou com Jim Moriarty, você nunca viveu.

Entraram em um clube de dança bem escuro e repleto de gelo seco. Foram para o meio da pista de dança e se acabaram ao som de Dancing with Myself.

Saíram de lá e foram direto para a cabine de fotos. Esperaram as tirinhas de fotos saírem, dividiram-nas entre si e seguiram em direção à piscina do hotel. Ficaram sentados com os pés balançando na água.

– Dr. Watson tem razão – Jim começou – Não se fica entediado quando se está com Sherlock Holmes.

– Viu só – Sherlock respondeu – continuar vivo não é tão chato assim.

– Obrigado por me mostrar isso, Sherly.

Nisso, ouve-se uma movimentação ao redor e eis que surge Mycroft com cinco tiras apontando armas em direção à Moriarty, que se levanta da beirada da piscina com as mãos ao alto.

– Nunca ia dar certo isso entre a gente – Sherlock disse – Eu nunca confiei em você.

– Tudo bem – Jim respondeu – Eu nunca confiei em você também.

A água da piscina começou a se agitar devido à ventania causada por um helicóptero que voava cada vez mais perto. Dele, foi jogada uma escada, na qual Moriarty se segurou.

– Até a próxima, Holmes! – gritou, enquanto o helicóptero, pilotado por Seb, fugia e era perseguido pelos tiras, que iam à pé.

Mycroft se aproximou do irmão.

– Eu sabia que aquela coisa toda de não poder fazer nada quanto ao sequestro era uma mensagem falsa. – disse Sherlock – Mamãe nunca iria te perdoar.

– Mesmo assim, sua mensagem me pegou desprevenido. Eu estava no meio de uma reunião importante, mas fico feliz que tenha conseguido distraí-lo até o resgate.

– Você chama isso de resgate? Ele escapou!

– Não por muito tempo. Eu confio nos meus guardas.

– Jim Moriarty trancou um de seus guardas num banheiro de aeroporto.

– Você nunca agradece, né? – levantaram-se – Vamos embora daqui.

O irmão de Sherlock chamou um jatinho que os deixaria na Itália já na manhã seguinte. O plano de destruir a rede terrorista ainda estava de pé.

Sherlock pegou a tira de fotos que haviam tirado lá e ficou olhando-a por um momento. Mycroft ficou curioso.

– O que você tem nas mãos?

– Nada. – Sherlock sorriu e a guardou de volta no bolso – O que acontece em Vegas, permanece em Vegas.