Adorável Estranha escrita por Jacqueline Sampaio


Capítulo 19
Os anjos te seguem


Notas iniciais do capítulo

Música: You are not alone – Michael Jackson (Homenagem ao tio Michael que não está mais estre nós)



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Eu estava tão deprimido que me perguntei se algum dia iria me recuperar de tudo o que estava ocorrendo, essa situação difícil e apavorante. Tudo parecia uma perversa brincadeira de Deus. Eu não poderia estar realmente passando por isso, não é? Não depois de tudo o que sofri com a perda de Ichiru, a rejeição de meus pais, o termino do namoro com Shizuka... Eu estava cansado.

Após Yuuki dizer algumas palavras e beijar-me, ela voltou a adormecer. Os médicos disseram que ela estava cansada devido à alta taxa e medicamentos, mas eu sabia que eles mentiam. Yuuki não estava bem.

Kaien vinha sempre que tinha um horário disponível em sua agenda, forçava-me a ir para casa tomar um banho e descansar ou comer algo. De fato eu só fazia estas coisas pela insistência de Kaien.

Minha Yuuki, minha doce Yuuki. Ela parecia tão frágil que era um grande esforço ficar acordada. Mesmo ficando boa parte do dia ao seu lado, falando coisas doces a ela, segurando sua mão, ela não reagia. Às vezes um súbito desespero me tomava e eu me inclinava sobre Yuuki para verificar se estava respirando, se seu coração batia. Eu estava um caos e não tinha forças para suportar. E então quatro dias se passaram desde a internação de Yuuki. Quatro dias em que eu a assisti dormir.

No quinto dia, após ter passado a noite em casa a contragosto, fui para o hospital. O medico já estava acostumado com minha presença lá e, a pedido de Kaien, deixou que eu sempre passasse o dia no apartamento em que Yuuki estava. Fiquei surpreso quando vi uma pessoa conhecida na sala de espera.

-Shizuka? –Murmurei aproximando-me dela. Fazia muito tempo que não a via. Fiquei preocupado por vê-la em um hospital. Por que estaria ali? Antes de decidir se queria ou não ser visto por ela, Shizuka me avistou e convergiu para mim. Eu fiquei parado, sem saber o que fazer e o que iria dizer a ela.

-Você parece péssimo. –Ela disse com um meio sorriso.

-O que? Veio até aqui para rir de mim? –Perguntei com escárnio.

-Não Zero, claro que não! Eu soube do que aconteceu que você não estava trabalhando por que estava no hospital com sua... Sua mulher... –Shizuka murmurou pouco a vontade.

-E por que veio aqui? –Eu não estava com paciência para Shizuka. Eu odiava me ausentar do hospital por que temia perder um único segundo de lucidez de Yuuki.

-Talvez você já saiba, mas... Fui eu que mandei as fotos para o diretor Kaien da escola em que você estava trabalhando, fotos de você com Yuuki.

As palavras de Shizuka me pegaram de surpresa. Eu nem me lembrava mais desse assunto, tinha preocupações maiores.

-Por que está me dizendo isso só agora, Shizuka?

-Apenas para esclarecer. De fato eu me arrependo do que fiz, devo ter prejudicado você.

-Não, não me prejudicou. Pra dizer a verdade tudo se resolveu após isso. Eu deveria agradecê-la. –Falei não com escárnio, mas com sinceridade.

-Bom. Então ela está internada aqui?

-Sim.

-Desejo saúde para a garota. Eu pensei muito sobre nós e percebo que foi melhor nosso termino. Você não estava feliz e eu logo ficaria infeliz percebendo sua infelicidade. É só por isso que eu vim aqui. –Shizuka sorriu. Eu a olhei com surpresa, não imaginava isso. Não imaginava que Shizuka viria para cá para me mostrar conforto.

-Obrigada Shizuka.

-Preciso ir. Até. Ligue-me se precisar de algo. –E então Shizuka se foi. Apesar da estranha atitude eu me senti bem com isso.

E caminhei na direção do corredor onde poderia ir até o apartamento de Yuuki ainda digerindo meu encontro com Shizuka. Foi quando avistei o medico de Yuuki saindo do apartamento da mesma, uma expressão sombria tomava seu rosto. Desesperei-me. O alcancei antes que entrasse no elevador.

-Doutor... –Murmurei. Ele claramente forçou um sorriso.

-Senhor Kiryuu, fico feliz em vê-lo. Eu já estava indo a minha sala para ligar para o senhor e avisar que Yuuki está acordada e solicitou sua presença.

Eu não fiquei parado avaliando os atos do medico. Após suas palavras eu disparei para o apartamento em que Yuuki estava. Uma enfermeira estava ao seu lado, Yuuki estava de olhos fechados.

-Ela adormeceu novamente? –Perguntei enquanto a tristeza me atingia com uma força incapacitante. Naquele momento Yuuki abriu seus olhos e sorriu para mim. Aquilo foi o suficiente para mandar as nuvens negras acima de minha cabeça embora.

-Qualquer coisa é só me chamarem. –Disse a enfermeira saindo. Eu me aproximei do leito de Yuuki lentamente e sentei-me ao seu lado. Minhas mãos tremiam.

-Nossa, você parece péssimo. –Ela falou levemente divertida.

-Não sou eu que estou preso em uma cama de hospital afinal. –Disse e com muito esforço esbocei um sorriso.

-Ainda sim você parece pior do que eu, Zero. –Yuuki sorria. Estava sempre sorrindo, mesmo em dias caóticos. Aquilo só me deixava mais deprimido. Sua facilidade em sorrir doía. –Meu medico me disse que estou a cinco dias desacordada. É verdade?

-Sim. –Peguei sua mão, estava tão fria, mas ainda sim foi prazeroso segura-la.

-Você esteve aqui comigo esse tempo todo.

-Como soube? Contaram pra você?

-Não Zero. Eu senti você. Mesmo inconsciente eu fiquei ciente de você, sua voz, seu calor... –Yuuki aproximou minha mão de seu rosto mantendo-a lá. –Zero, me perdoe. Eu tenho feito você sofrer tanto! Pergunto-me se foi o melhor eu ter me aproximado de você e...

-Não diga isso Yuuki. –Falei com a voz embargada. –Eu preferiria anos de sofrimento a não ter tudo isso que passei ao seu lado. Não diga que se arrepende, isso machuca. –Disse aos murmúrios. Yuuki segurou minhas mãos.

-Zero, eu tenho algo pra falar. Quero que me escute com atenção. –Yuuki falou com seriedade e alguma coisa em seu tom de voz soava agourento. Senti um aperto no peito.

-Yuuki, fique quietinha, ok? Não é muito bom para você...

-Não Zero! Você tem que me escutar! –Falou com firmeza e sua fala parece tê-la esgotado. Yuuki fechou os olhos e pareceu reunir o pouco de forças que tinha para falar.

-Yuuki, meu amor, você está cansada e... –Yuuki puxou-me para seus braços, parecia usar toda a sua força para me manter ali.

-Eu nunca disse a você a razão para isso tudo. Por que dentre tantas pessoas que me cercava eu escolhi você. Quando descobri que eu tinha o mesmo mal da minha mãe... –Yuuki dizia aos sussurros no meu ouvido. Fiquei imóvel. –Meu coração começou a desacelerar. A cada dia ele diminuía um batimento. E então quando... Quando eu o vi pela primeira vez algo se operou em mim. Meu coração se acelerou rapidamente. Isso nunca tinha acontecido. Então eu quis saber até onde poderíamos chegar, até onde meu coração poderia bater e me apaixonei por você. Eu fui egoísta agindo assim, querendo você sem me preocupar com o que era melhor pra você.

Afastei-me de Yuuki exasperado.

-Não fale isso! Eu já disse que não me importo! –Eu a beijei zeloso enquanto meu tronco estava sobre o seu corpo sem colocar meu peso em cima de seu corpo frágil. Eu o sustentava com os braços. Quando me afastei vi que Yuuki chorava.

-Merda... –Ela falou numa voz tremula. –Eu pedi tanto pra morrer e agora eu quero viver por você! Eu não sei como fazer meu coração ficar batendo. Eu já lutei demais e to tão cansada... –Yuuki falou, sua voz sumindo a cada palavra. Seus olhos pareciam sonolentos e o bip do aparelho que media seus batimentos cardíacos mostrava claramente que seu coração estava mais fraco. O desespero me tomou, me senti incapaz de me mexer, de falar. Olhei para Yuuki com os olhos marejados.

-Yuuki... Não... –Disse e Yuuki puxou-me para que eu depositasse minha cabeça em seu peito. Eu o fiz sentindo suas mãos macias e frias acariciarem meus cabelos.

-Eu amo você. Eu o amei desde o primeiro dia em que o vi. Foi realmente maravilhoso cada momento em que estive com você.

-Yuuki... –Eu mel conseguia enxergar com a quantidade de lágrimas que despejava. A fala de Yuuki indicava o fim e eu não queria isso.

-Obrigada por tudo Zero. Obrigada por aceitar esse meu eu imperfeito. Obrigada...

Tum Tum Tum Tuuummm Tuuummmmm

As batidas cada vez mais espaçadas e então eu pude ouvir, já que minha cabeça estava em seu peito na direção do seu coração os batimentos se espaçarem e, por fim, cessarem. Tudo o que ecoou no cômodo foi um “PI” da maquina que monitorada o batimento cardíaco de Yuuki. O seu coração doente finalmente havia se silenciado.

Eu havia perdido Yuuki.

Eu estava tão fraco, tão vulnerável, que não consegui ter forças para gritar, pedir ajuda, o que fosse. Eu me afastei e a olhei. Sua face estava plácida e aquilo doeu fundo. Um nó se formou em minha garganta e tive a certeza que sufocaria.

-Yuuki... Yuuki? –Consegui murmurar. Não houve resposta. Minhas mãos acariciaram freneticamente seu rosto. –Yuuki? –Ela continuava a não responder ao meu toque. Depositei novamente minha cabeça em seu peito e nada ouvi quando o fiz.

-Yuuki, se você acha que não há nada que faça seu coração bater, ninguém que lhe dê motivos então... Então... Faça-o bater por mim, só por mim! –A envolvi em meus braços apertando-a contra mim. –Eu amo você, eu sempre amei você. Yuuki, sei que estou um pouco atrasado, mas... Você quer casar comigo? –E pateticamente esperei por uma resposta, a resposta que não viria.

Tum

O barulho soou, mas em meu desespero não percebi de imediato.

Tum Tum

Atordoado, afastei-me e vislumbrei o rosto de Yuuki ainda lívido. O que era aquilo? Eu tinha enlouquecido e agora ouvia coisas? Olhei o monitor e vi uma reação mínima do mesmo que ia aumentando e aumentando.

Ela abriu os olhos e após me perceber ali, diante dela, com uma cara chocada, sorriu.

-Hei Zero, a proposta ainda ta de pé? Sobre casar?

Naquele instante, mais do que ser dominado pela alegria por vê-la com os olhos abertos eu soube: eu havia testemunhado um milagre!


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Notas finais do capítulo

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