Adorável Estranha escrita por Jacqueline Sampaio


Capítulo 17
Réquiem da desgraça: o ceifador espreita


Notas iniciais do capítulo

Música: Kiss from a rose – Seal



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Mesmo com a verdade diante de mim e todas as peças do quebra-cabeça se encaixando, ainda sim eu não acreditava. Eu não queria acreditar, mas a verdade penetrava em mim contra a minha vontade. As lágrimas caíram e cortaram minha face. Eu caí de joelhos segurando fortemente o medicamento, querendo que tudo fosse um terrível pesadelo e que eu acordasse a qualquer momento com Yuuki nos meus braços. Isso não aconteceu, isso não iria acontecer por que tudo o que eu estava vivendo era real.

 

Por que aquilo estava acontecendo comigo? Eu já não tinha tido minha cota de sofrimento? Por que mais uma vez eu iria perder alguém que amava? Tristeza fora lentamente sendo substituída pela fúria. Por que Yuuki não me contou? Por que ela me expôs a um sofrimento como esse? Por que ela teve que aparecer na minha vida sabendo que logo iria partir? Eu fiquei ali sendo tomados por pensamentos incoerentes, insanos.

 

-Zero? –Era ela. Ela olhava sonolenta para mim, um sorriso bobo no rosto. –Por que está de pé? Vem aqui.

 

Eu não me movi. Ela levantou-se cobrindo seu corpo nu com o lençol e caminhou até mim.

 

-O que houve Zero? Está bem? –Suas palavras pararam ali. Eu não a olhei para ver o que ela via, mas certamente ela olhava para o mesmo lugar que eu, o remédio. Ela ficou em pé por poucos minutos, ajoelhou-se diante de mim ignorando o lençol que a pouco cobria seu corpo, tocou na caixa de medicamento ainda em minhas mãos. Eu a olhei, cansado. Ela me olhava desesperada, os olhos já começavam a produzir as primeiras lágrimas.

 

-Diga que é mentira. Diga que não é seu Yuuki. Eu vou acreditar em você. –Falei com a voz embargada. Ela continuou a me olhar assustada. –Por favor, Yuuki, me fala alguma coisa!

 

-Se quiser, eu minto pra você meu amor, digo que não é meu, mas ainda seria uma mentira. –Ela falou e abaixou a cabeça. Eu joguei violentamente a caixa de comprimidos na parede e coloquei minha cabeça entre os joelhos tentando respirar pausadamente. Yuuki tentou erguer meu rosto com suas mãos para me fazer olhar para ela, mas eu retirei suas mãos.

 

-Zero, me olha. Escute-me. –Ela pedia suplicante. Eu me afastei dela evitando olhá-la, evitando seu toque. Meu peito estava apertado, doía tanto que pensei que talvez a doença de Yuuki fosse contagiosa e agora eu sofria do mesmo mal.

 

-Por quê? Por que não me contou? Por que fez isso comigo? Odeia-me, é isso? Queria se vingar de mim por algo que fiz? POR QUE DIABOS NÃO ME FALOU? –Eu levantei e caminhei para um lado e para o outro quase louco. Yuuki chorava, os olhos no chão.

 

-Zero eu... –Foi tudo o que conseguiu murmurar. Eu me ajoelhei diante dela e a olhei fixamente.

 

-ME FALA! POR QUE NÃO DISSE NADA? –Retorqui com a voz alta sacudindo-a levemente pelos ombros. Yuuki apenas chorava baixinho tentando a todo custo não me olhar. Subitamente ela parou, até mesmo seu choro cessou. Ela me olhou com pena o que me surpreendeu.

 

-Parece que o castelo desmoronou para nós dois, não é, meu amado Zero? –Ela afastou-se e sentou-se na cama, nua, olhando para o nada. Eu comecei a me sentir mal, muito mal. Peguei um punhado de roupas na minha mala, as vesti, uma calça jeans, uma camisa e um casaco, e sai levando comigo as chaves do carro. Eu saí da pousada sem destino certo. Não importava muito para onde eu iria, apenas queria desaparecer.

 

...

 

Eu estacionei a poucos metros, estava deitado na areia da praia, meus olhos no céu estrelado. O frio era doloroso, mas dei de ombros. Eu estava a meia hora naquela praia chorando, querendo acabar com tudo e com todos, deixando o desespero se apoderar de mim. Eu não sabia exatamente o que clamar aos céus: de nunca ter conhecido Yuuki, de ter trocado Yuuki por Shizuka, nem sei. Mas um pedido veio em minha cabeça. Eu queria, mais do que tudo, que eu estivesse doente e não ela. Yuuki era boa, tantas qualidades! Ela não merecia morrer, ela merecia ter uma vida longa e feliz. Eu pensei em proporcionar isso para ela e estava radiante por estar com ela, por vê-la sorrir e apreciar meus beijos, minhas caricias. No final tudo iria se perder, meu esforço ia se perder. Yuuki iria morrer e não havia nada que eu pudesse fazer. A desesperança me atingia fazendo-me apenas me lastimar e chorar. Eu estava doente, em meu âmago, uma doença que certamente poderia me levar à morte antes mesmo de Yuuki. A dor no peito não cessava mesmo com o choro descontrolado. Eu não sei a que horas o cansaço me venceu, mas eu já podia ver os primeiros raios de Sol.

 

...

 

-Moço, pode me ouvir? Hei, você está bem? –Ouvi uma voz dizer.

 

-Yuuki? Yuuki... –Murmurei. Abri meus olhos e então vi um rosto estranho fitando-me com preocupação, era um senhor. –O QUE? –Pulei sobressaltado olhando para a praia, o Sol estava alto, devia ser mais de dez horas da manhã.

 

-Senhor, tudo bem? Foi assaltado ou algo assim?

 

Eu não respondi ao questionamento do homem. Levantei-me e corri para o meu carro. Eu não deveria ter dormido ali, não deveria sequer ter saído de casa. O que Yuuki poderia estar pensando agora? Que só por que eu descobri que ela corria risco de morte eu tiraria meu time de campo? Que eu não a amava no final das contas? Eu tinha sido um tolo idiota! Naquele momento de descoberta eu deveria ter ficado ao seu lado, apenas isso.

Corri para o carro e acelerei rapidamente para a pousada. É isso, pediria perdão e que se danasse essa descoberta! Certamente infringi algumas leis de transito e não demoraria até as multas chegarem ao meu endereço, que me importava agora. Agora, tudo o que eu mais queria, era amar Yuuki, pedir perdão pelo meu comportamento e só.

 

As onze e quinze eu cheguei a pousada. Estacionei meu carro em frente a nosso chalé e entrei.

 

-YUUKI! –Comecei a caminhar pelo primeiro andar, nada. –YUUKI! –Subi as escadas chegando ao quarto, eu não a vi. –YUUKI? YUUKI! –Entrei no banheiro, ela não estava lá.

 

Sentei-me na cama pensando onde mais poderia estar. Teria Yuuki ido embora sozinha? Suas malas ainda estavam no quarto, talvez tivesse ido dar um passeio pelas dependências da pousada. Senti a brisa marítima nas minhas costas e virei para olhar para a sacada. Eu vi alguém sentado em uma cadeira. Corri até ela e de prontidão me ajoelhei diante de Yuuki. Coloquei a cabeça em seus joelhos.

 

-Yuuki, me perdoa. Perdoe-me. –Eu murmurei com a voz fraca. –Eu te amo e para o inferno a sua doença! –Falei com a voz um pouco mais composta. Yuuki não respondeu. Eu levantei a cabeça, Yuuki estava com os olhos fechados, a cabeça levemente tombada para frente, uma expressão sofrida. Meu coração congelou naquele momento. Eu senti o tremor e medo me atingirem. Ergui a mão, hesitante, e toquei o rosto de Yuuki. Ela não reagiu ao meu toque, sua pele estava fria. Minha respiração se acelerou, meus batimentos cardíacos também. As lágrimas voltaram a tomar meus olhos e minha expressão facial era de dor.

 

-YUUKI! MERDA YUUKI ACORDA! YUUKI! –Eu a peguei no colo e a coloquei na cama. –YUUKI! YUUKI! NÃO FAZ ISSO COMIGO! –Eu a sacudi, Yuuki não reagia. Senti a visão escurecer. Não, eu não poderia desmaiar. Alguma coisa tinha que ser feita, eu não poderia perdê-la. Coloquei o ouvido no seu peito e ouvi as batidas fracas do seu coração, ela estava viva. Suspirei aliviado. Mas Yuuki corria risco, eu não iria deixá-la ir, não ainda. A peguei nos braços e disparei porta afora para o carro, para o primeiro hospital que encontrasse pelo caminho.


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Notas finais do capítulo

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