O Lado Escuro da Lua escrita por MaeveDeep


Capítulo 12
Capítulo Doze




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O Lado Escuro da Lua – Capítulo Doze

Durante todo o caminho até a Academia, Artemis não disse uma palavra. Permaneceu em silêncio enquanto mais Dire Straits tocava e Apolo cantarolava baixinho, não riu das piadas idiotas de Gabriel e nem ao menos revirou os olhos para a impaciência de David com os sinais vermelhos.

Nem quando chegou à Academia recobrou o espírito. Fez questão de se manter bem ao lado de Gabriel enquanto adentravam a escola, evitando manter qualquer contato visual ou físico com Apolo. Ao atingir o ponto em que se separariam, Gabriel chegou a ter que cutucar Artemis para que ela se despedisse.

— Boa noite – ela disse, para ninguém em particular, dando as costas a eles antes mesmo que Apolo entreabrisse os lábios para respondê-la.

Quando deu por si, Gabriel estava a cutucando de novo, andando ao seu lado em passos apressados.

— Artie, está tudo bem? – ele perguntou, soando preocupado, depois de olhar por cima do ombro para David e Apolo se afastando. – Você está estranha desde que saímos de lá. – Seus olhos castanhos estudaram o rosto de Artemis com atenção. – Apolo disse alguma coisa?

— Não – Artemis respondeu, mantendo os olhos na parede.

Para seu desespero, Gabriel continuou falando, quando tudo o que ela queria era chegar o mais rápido possível ao dormitório para poder se trancar no quarto.

— Ele disse alguma coisa para você sobre o que você disse mais cedo? Disse algo horrível? – Gabriel arregalou os olhos dramaticamente. – Ele não falou algo sobre o seu cabelo, falou? Não dê ouvido aos invejosos, Artie, ninguém acha que ele é pintado, só ele, juro.

Artemis queria rir, chorar e bater em Gabriel para que o garoto parasse de falar; o meio-termo que encontrou foi um soluço mal contido. Para sua infelicidade, Gabriel foi rápido em entender, e deu um passo largo para se postar em sua frente, impedindo-a de continuar andando – o garoto até ousou segurar seu queixo, praticamente a forçando a olhá-lo nos olhos.

Em situações normais, Artemis teria se afastado daquele baixinho petulante antes que Gabriel sequer respirasse perto dela; mas, naquela noite, permitiu que Gabriel segurasse seu rosto para examiná-la, a preocupação dele talvez sendo exatamente o que precisava.

— Artemis?

Gabriel usou seu nome por inteiro, e foi só então que Artemis notou que tinha um nó na garganta. Engolindo em seco, abaixou o olhar para o chão, tentando pôr seu cérebro para funcionar e procurar rotas de fuga, mas seus olhos marejaram, e pensar ficou bem mais complicado.

— Foi ele, não foi? – Gabriel continuou insistindo, mesmo que de forma surpreendentemente gentil. Artemis estava até considerando aceitar um lado mais maduro e sutil de Gabriel quando o garoto disparou: – Você sabe que eu vou sempre defender a sua honra, não é, Artie? Posso ir lá agora dar um tapa naquelas mãozinhas bobas, se você quiser.

E Artemis não queria rir, não mesmo, mas não pôde evitar o som que saiu de seus lábios, que podia ser tanto o começo de uma risada fraca quanto um soluço quebrado.

— Artie? – Gabriel acariciou sua bochecha com o polegar, fazendo Artemis morder a parte interna de bochecha, desconfortável.

Quando Artemis ergueu os olhos para Gabriel, se rendendo, a expressão do garoto desmoronou.

— Deus, Artemis.

E então ele a abraçou.

Sem perguntar porquê, sem aviso, sem preâmbulo. Simplesmente abaixou a mão que segurava seu rosto para apoiá-la nas costas de Artemis, e logo o outro braço também descansava ao redor do corpo da garota, a trazendo para perto.

Imóvel, completamente pega de surpresa, Artemis mais sentiu do que viu Gabriel se aninhar em seu ombro, seus cachos castanhos tocando seu pescoço e a linha do seu maxilar. Seu cabelo era macio e fininho, e qualquer instinto primitivo dizia a ela para abraçar o garoto de volta.

Mas apenas respirou fundo, tentando afrouxar o nó na garganta e reestabelecer a calma. Focou-se nas batidas do coração dele, perceptíveis por trás da jaqueta aberta, e lembrou-se de seu pai a pondo no colo e perguntando, com um sorriso, se ela conseguia ouvir direitinho. É lindo, não é? O seu é pequenininho ainda...

Fazia tempo que Artemis não chorava, e a vontade era quase irresistível. Abraçou Gabriel com força, contendo os soluços, lutando para que as lágrimas não caíssem. Jamais admitiria que, naquele momento, era ele quem a mantinha de pé.

Os segundos se passaram, a garota com a respiração presa, o coração acelerado. Aos poucos o choro passou, e Artemis, respirando fundo, conseguiu pensar com mais clareza. Percebeu o absurdo da situação e fez menção de se afastar, mas Gabriel manteve as mãos na base de suas costas (a lembrança de Apolo poderia até trazido a vontade de chorar de volta, mas Artemis já estava bem composta.)

— Tudo bem? – Ele continuava bem perto, alguns centímetros mais baixo do que ela, parecendo genuinamente preocupado. Artemis achou bonitinho. – Eu tenho lenços no quarto, e a gente pode arrumar chocolate, mas vamos ter que chegar ao dormitório primeiro. Posso te carregar? – ele propôs, animado com a ideia. – Você se aninha em mim e tudo, vai ser o momento mais hétero da minha vida.

Artemis sorriu.

— Já estou melhor.

Esperava um sorriso em resposta, mas Gabriel arregalou os olhos, parecendo horrorizado.

— Você não está apaixonada por mim, está?

Artemis revirou os olhos, e então Gabriel abriu um sorriso.

— Você já está revirando os olhinhos, é um progresso. Logo, logo, será a minha Artie de sempre, e não essa garotinha assustada – ele bateu em seu ombro antes de finalmente a soltar, se afastando.

Artemis não respondeu ao comentário sobre ser uma garotinha assustada, se pondo a andar ao lado do garoto de volta para o dormitório. Fazia muito tempo desde a última vez que abraçara alguém, e não podia negar que a sensação era mesmo maravilhosa. Incerta, olhou Gabriel de soslaio. Queria agradecer, mas não seria estranho agradecer um simples abraço? Ainda mais quando Gabriel agarrava as pessoas todo o tempo...

— David ainda vai perceber a sorte que tem – acabou dizendo, e o sorriso de Gabriel quase não coube em seu rosto.

— Sou bom demais, não sou? – Para a infelicidade de Artemis, contudo, ainda havia preocupação em seus olhos. – Você tem certeza que está bem? O Andrew pode dormir no sofá, e você vem para o meu quarto. Ou eu vou para o seu, você chora no meu ombro e então a gente dorme de conchinha.

— Não seja ridículo – Artemis pediu, repreendendo-o com um sorriso.

— E é assim que você responde às minhas boas intenções? – Gabriel pôs a mão sobre o coração, magoado.

— Você deveria fazer teatro, não balé – Artemis o informou, lembrando-se de sua mãe.

— David também acha.

— Quando ele disse isso?

— Lá no restaurante. Você não ouviu? Acho que ele pensa que eu não falo sério quando dou em cima dele.

— E você fala?

Gabriel tentou lhe lançar um olhar do mal, mas até o de Apolo era mais impressionante.

— Estou feliz que David tenha bom-senso, contudo – Artemis continuou dizendo, tentando não rir das sobrancelhas juntas daquele anjinho ao seu lado. – Eu não esperava isso dele. – Ela fez uma pausa, divertida. – Se bem que ele é o seu tipo, eu tenho que admitir.

A expressão de Gabriel se suavizou, e o garoto sorriu.

— É?

— É. Ele... respira.

A risada alta de Gabriel ecoou pelo corredor, e ele passou o braço ao redor dos ombros de Artemis. (Pela primeira vez, a garota permitiu.)

— Artemis, Artemis, Artemis – Gabriel suspirou, ainda sorrindo. – Vejo que a Isabella e sua língua venenosa têm sido uma má influência na sua imagem de mim.

— Então ela é outra com a língua venenosa? Todas nós somos víboras atacando a sua inocência?

— Artie, eu não tenho culpa se vim ao mundo gostoso como torta de limão – ele se defendeu, muito sério, enquanto os dois abriam a porta para o dormitório.

Na sala, podiam ver Andrew, Isabella e duas garotas que Artemis não conhecia jogando cartas no chão. Parecia pôquer, mas Artemis não tinha certeza. Havia tigelas de pipoca nos sofás, e várias xícaras pelo chão, a televisão ligada passando um filme que ninguém assistia.

— Gabriel! – Isabella exclamou, esganiçada, assim que os viu. – Como foi? Você me prometeu contar tudo! – ela lançou suas cartas para o sofá e se sentou, obviamente abandonando o jogo em favor da fofoca.

Andrew revirou os olhos para a reação de Isabella, e então abriu um meio-sorriso para Artemis. Ela torceu o canto dos lábios em resposta, sem vontade alguma de sorrir de volta, e então se virou para Gabriel.

— Preciso avisar que não é para falar nada de mim?

— Fica tranquila, não vou falar nada. – Ele juntou os dedos sobre o coração. – Palavra de escoteiro.

— Você nunca foi um escoteiro – Artemis debochou, mas estava sorrindo, por algum motivo acreditando em Gabriel.

— Deveria ter sido, tem histórias ótimas sobre experiências gays naqueles acampamentos – Gabriel deu de ombros, enquanto Artemis revirava os olhos e subia as escadas. – Sonhe comigo!

Eu queria, Artemis pensou, em seu caminho até o quarto. Mas duvido que eu vá sequer conseguir dormir essa noite. Ainda assim, olhou para baixo enquanto subia as escadas, sentindo-se um pouco ainda tocada por tanta ternura. Obrigada.

{...}


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Notas finais do capítulo

Se você não gosta do Gabriel, man, você está lendo essa história errado. Sério. Eu amo o meu bebê.
E também amo escrever essas cenas fofas de conforto *-* E abraços, amo abraços. (Sabe aqueles bonequinhos de plástico cujas mãozinhas/patinhas estão juntinhas? Chamam-se agarradinhos, nem sei, dá para usar em lápis e tudo mais. Então, eu sou desse jeito. Mas funciono em humanos.)
Oh, e me desculpem pela demora. Estou na Chapada Diamantina, que é um lugar maravilhoso, mas cuja internet, infelizmente, é um horror. Vou postar mais para vocês assim que der :3 (Ah, vai, vocês estavam ficando até mal-acostumados com todas aquelas atualizações rápidas u.u)
Beijos infinitos