O Garoto da Última Casa escrita por Bruna Ribeiro


Capítulo 50
Capítulo 49


Notas iniciais do capítulo

Erros ortográficos são dispensáveis, uma vez que estou morrendo de cansaço. Me desculpem qualquer coisa, depois reviso com calma.
OBRIGADA NICOLE, POR SUAS PALAVRAS MARAVILHOSAS, POR SUA RECOMENDAÇÃO MARAVILHOSA, POR SER MARAVILHOSA.
É o maior capítulo de todos e...
A MALDIÇÃO ACABARÁ HOJE.



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CAPÍTULO 49 - FECHE OS OLHOS.

Eu deveria estar louca.

Talvez fosse a fome ou a sede, mas eu realmente estava fazendo aquilo? Eu realmente estava correndo em direção a um monte de Bruxas poderosas, como se algo estivesse me perseguindo? Talvez aquilo fosse coragem, talvez o fato de você não ter medo de tomar uma decisão estupida, fosse a verdadeira coragem. Porque era isso que eu estava fazendo, tomando um decisão estúpida. Mesmo sendo a decisão certa.

Por reflexo, eu desviei de uma faca que vinha em minha direção, de um Bruxa que eu nunca tinha visto na minha vida. Com mais calma, eu recomecei a correr, deixando ela para trás. Antes de virar-me novamente para a frente, eu pude perceber um sombra em torno da mulher que havia tentado me matar, fazendo-a cair no chão, sem vida, segundos depois. Nossa, isso foi bom.

Ao meu lado, Olívia corria como se flutuasse, bem, talvez realmente estivesse flutuando.

Minha mãe, pelo menos seu fantasma, sempre deixava seus sentimentos dominarem suas expressões, como quando alguém não consegue mentir e começa a rir ou quando você está tão feliz que não consegue tirar um sorriso do rosto. Mas, naquela hora, ela estava sem expressão alguma; enquanto seus olhos se focavam em Calliope, que lutava com uma sombra facilmente – minha tia levantava a mão em direção a figura escura e então rapidamente a sombra desaparecia. Ei, usar magia deveria ser contra as regras!

–Se concentre, Alexis! – mandou Olívia – Esqueceu que me conectei a você? Posso ouvir seus pensamentos. Parece uma criança que esta prestes a jogar algum jogo.

–Me desculpe, se não sei encarar um luta mortal com mais seriedade.

–Só pare de pensar e corra.

Eu corri, mas meus pensamentos continuavam ali. Perturbando, provocando, atiçando, enlouquecendo...

Eu olhei mais uma vez para trás, enquanto diminuía o passo.

Jessica estava caída com a mão na cabeça, mas Ashley se mantinha ao seu lado. Gabriel e Brad tinham acabado de mandar uma Bruxa para o mais longe o suficiente e William, droga, eu não conseguia ver onde diabos ele estava.

–Esquerda, Alexis! – Olívia gritou, a tempo de eu ver uma Bruxa vindo em minha direção. Ela mandou eu ir para a esquerda, mas, no meio do desespero, eu fui para a direita, me jogando no chão no momento certo. Olívia me olhou torto como se eu tivesse feito de propósito. Desculpe, querida, mas eu lá sei qual é direita ou esquerda quando uma Bruxa horripilante está correndo em minha direção.

–Vem – ela me estendeu a sua mão, para eu levantar, mas minha a mão atravessou a dela e eu cai no chão novamente.

–Isso foi um tipo de piada para tirar a tensão do momento? Porque não funcionou.

–Me desculpe, eu esqueci.

Acenei para que ela esquecesse e me levantei sozinha.

–Alexis, uma Bruxa na sua frente! – mas dessa vez eu não fui rápida o suficiente. Com força, eu fui empurrada para o chão mais uma vez.

A Bruxa me encarava divertida como se toda aquela situação fosse uma piada interna, enquanto eu tentava não chorar pelo grande arranhão que tinha em meu joelho. Droga, isso ardia mais do que deveria!

–Olá, Alexandra – ela cumprimentou, com desdém – É um prazer conhecer você, sempre ouvi falar muito de Alexandra Lancaster.

–Se se sente tão honrada em me conhecer, espera só até eu matar você. – e fui em sua direção com a adaga esticada e com um olhar confiante. Sem dificuldade, ela desviou do meu ataque e me jogou no chão novamente. Talvez, só talvez, eu precisasse de um treinamento antes.

–Ora, isso fez cócegas – ela riu – Isso...

–Experimente se isso faz cócegas – Olívia murmurou, atrás dela. Antes que tivesse tempo de fazer qualquer coisa, Olívia passou a sua mão por dentro do peito da Bruxa e ela se afogou no próprio sangue. Fiquei paralisada por alguns segundos, enquanto a Bruxa se debatia no chão, até finalmente morrer.

–Não fique tão chocada, por favor – Olivia falou, para mim.

–Eu estou bem... Eu... Estou bem – me levantei, limpando minha calça logo em seguida.

–Irmãzinha – A voz de Calliope me assustou e eu pulei para trás – Realmente, que surpresa vê-la aqui.

–Eu percebi perfeitamente bem sua surpresa, irmãzinha, minutos atrás – Olívia rebateu. O tom de voz que as duas falaram ‘’irmãzinha’’ me fez ter certeza que ambas queriam se matar (bem, Olívia já estava morta).

–Claro que fiquei surpresa. Imagine, você, em um minuto, está muito bem e prestes a matar sua sobrinha e no outro está sendo arremessada pela irmã que você fez questão de matar. Isso é surpreendente, sem duvida, mas eu superei. Eu vou matar Alexis hoje e ninguém poderá impedir.

–Não iremos deixar que Sarah volte.

–Então, irmãzinha, tenta me impedir – Calliope chamou e minha mãe foi em sua direção.

Olívia corria, com o rosto numa mistura de ódio e confiança, mas, por incrível que pareça, Calliope a segurou pelo pescoço, fazendo-a se engasgar.

–Como...? – Olívia tossiu sem acabar sua frase.

–Como eu consegui tocar em você? – Calliope, caçoou – Simples, isso se chamar poder.

–Ou feitiço – resmunguei, fazendo Calliope gargalhar.

–Adoro o senso de humor da sua filha – ela comentou, ainda rindo – Mesmo prestes a morrer, ainda mantém as boas energias.

Era o momento, antes que pensasse em outra coisa para provocar Olívia, eu pulei em cima de Calliope. Isso realmente não foi inteligente, mas foi tudo que eu consegui pensar no desespero. Olívia conseguiu se soltar, e sua irmã e eu rolamos, entre tapas, pela grama verde.

–Garota estúpida!- vociferou, Calliope.

–Mulher estúpida! – devolvi.

Ela, em um ato rápido e forte, conseguiu me manter por baixo, enquanto sentava em cima da minha barriga, segurando, ao mesmo tempo, meus braços ao lado da minha cabeça.

Eu rezei por Olívia, mas minhas esperanças acabaram quando eu a vi ocupada, entre duas Bruxas – que lançavam algum tipo de feitiço em sua direção.

–Não se preocupe – Calliope murmurou, ofegante – Eu não vou mata-la, embora seja tentador. Eu preciso trazer Sarah de volta e para isso preciso de você viva, por algum tempo. Mas, agora estou lembrando, o feitiço não fala nada sobre machucar....

Ela riu bem perto de mim, me fazendo virar o rosto automaticamente.

Eu não deveria ter feito isso.

Bem perto de nós duas, William e Felipe estavam se encarando cheios de raiva. Felipe estava com cortes muito feios na perna, nos braços e no rosto, mas era William que me preocupava. A única parte do corpo do Hãnsel que parecia machucada, era seu braço. Não demorou muito para eu perceber, em meio as expressões de dor dele, que seu braço estava, na verdade, quebrado. Isso sim, era horrível.

Felipe pulou em cima de William e em meio a confusão, ele conseguiu prender o Hãnsel ao chão. Calliope seguiu meu olhar e sorriu com a situação. Como se estivesse percebendo a atenção, Felipe se virou para a Lancaster e pediu uma permissão a ela, apenas sibilando. Ele pediu para matar o Hãnsel.

Eu me debati, impedindo que Calliope respondesse imediatamente, mas ela respondeu. Com um caloroso aceno, Calliope concedeu a permissão de que Felipe precisava e de que eu temia.

William tentou chutá-lo, mas assim como eu, ele estava imobilizado e ainda tinha, também, aquele braço quebrado para dificultar.

–Isso é covardia, Cromwell – escutei William, protestar – Aquela bruxa quebrou meu braço e você ganhou vantagem.

–Não reclame, Hãnsel – Felipe mandou – A morte será sua paz.

–Vou acabar com...

–Você é que está acabado, idiota.

Felipe retirou a mão que segurava o braço quebrado do Hãnsel e levantou sua adaga, risonho. Mas antes que pudesse concluir o que tanto queria, ele foi impedido, caindo de lado. Henry, ofegante, segurava uma adaga ensanguentada atrás do corpo de Felipe.

–Só eu posso chamar William Hãnsel de idiota – ele falou, mas o menino já estava morto ou, pelo menos, perto disso.

Eu ri, enquanto Georgia chegava perto dos garotos, para ajudar William.

–Que droga – resmungou Calliope, mas ela não parecia triste ou transtornada, ela falava como se tivesse perdido um jogo de damas – Eu até gostava daquele garoto, ele era fiel.

–Só se para você.

Tentei empurrar Calliope mais uma vez, mas, como das outras vezes, não funcionou. Ela se preparou para dizer mais alguma coisa, mas, antes, Henry levantou a mão em sua direção e ela foi arremessada com brutalidade em direção a uma árvore mais distante.

Georgia segurava William e Henry me ajudou a levantar.

–Nem sei como agradecer – falei para o ruivo.

–Eu acabei de pensar em várias maneiras – ele disse, com um sorriso.

–Cala a boca, vermelhinho – William mandou – Ei, droga, a tia do mal está vindo! Cuidado!

E era mesmo.

Calliope parecia furiosa, mas não tinha nenhum arranhão visível. Ela corria em nossa direção como se sua vitória dependesse disso, no entanto, ela não conseguiu chegar perto de nós. Ashley a empurrou de lado, fazendo-a cair com força no chão. Minha amiga, então, se colocou rapidamente ao meu lado.

Foi então que eu olhei ao redor.

Havia ainda algumas Bruxas da Maldição, mas a maioria jazia, sem vida, no chão da colina. As sombras se acumulavam, cada vez mais, atrás de Olívia- que tinha acabado de matar uma mulher com cabelos loiros acinzentados. Olaf e Jade se juntaram a ela e, para o desespero de Calliope – que já havia se colocado de pé – todos nós nos reunimos ao seu redor.

–Você cairá! – Olívia gritou, já perto o bastante.

–Você cairá! – Ashley repetiu.

–Você cairá! – eu disse também.

–Não há mais o que possa ser feito, Calliope – Olívia avisou, com satisfação – Você não cairá, você já caiu.

Calliope olhou ao redor, só para ter certeza de sua real situação. E, depois de analisar a colina detalhadamente, sorriu em nossa direção.

–Eu posso cair, maninha – disse, por fim – Mas eu levarei sua filha comigo!

Antes que eu pudesse fazer qualquer movimento, antes que qualquer pessoa pudesse fazer qualquer movimento, Calliope se lançou, com sua faca apontada, em minha direção.

Eu já conseguia sentir o sangue pingando de mim, a dor que eu sentiria pela facada, o choro que derramaria por causa da dor, mas isso realmente não aconteceu. Ashley, em um rápido reflexo, se meteu em minha frente e levou o golpe que era direcionado a mim. Surpresa, Calliope se afastou e deixou a faca no copo de Ashley, que se mantinha caída no chão, respirando com dificuldade.

–Ashley, olhe para mim! Ashley, olhe para mim! – ela então olhou – Você vai ficar bem, okay? Bem. Nada menos que isso. – coloquei sua cabeça em cima da minha perna – Alguém chama uma ambulância, por favor?

–Alexis – ela chamou, franca, enquanto mais sangue jorrava de sua barriga, molhando a minha e a sua roupa – Não podemos chamar uma ambulância, porque chamaria atenção para a colina e isso poderia piorar nossa situação, já que tem muitas pessoas mortas aqui. Além do mais, eu sinto, Alexis, é muito forte.

–O que você sente?

–A morte.

–Você não vai morrer, eu não vou deixar!

–Você é a Rainha dos Mortos, Alexis, não Deus.

–Por favor, fique.

–Você é tão teimosa – ela deu um leve sorriso – E eu realmente gosto de você por isso. Você é um boa amiga, obrigada por nos dar trabalho.

Ela tossiu e sangue saiu pela sua boca.

–Ashley... – minha voz quase desapareceu.

–Foi uma honra morrer por você, Alexandra Miller – e então mais nada. Ela tossiu mais algumas vezes, é verdade, mas o fim não demorou a chegar. O fim do sofrimento. O fim de uma história. O fim de Ashley.

Eu agarrei seu corpo e pedi para que ela voltasse, mas ela não voltou. Por um breve segundo, eu vi - eu vi meus pais, eu vi meus avôs, eu vi todas as pessoas que eu havia perdido para a morte. Ashley havia me salvado e, que droga, eu deveria estar morta!

Mas eu não estava e eu ia fazer isso valer a pena.

Com delicadeza, eu tirei a cabeça de Ashley de cima de minhas pernas e a coloquei com calma na grama irregular. Me levantei e antes que pudesse ser parada, caminhei em direção a Calliope.

Ela não parecia assustada, embora, eu tenha certeza, minha expressão fosse ameaçadora.

Eu não sei dizer ao certo, se era o ódio ou a raiva ou os dois, mas algo gritou em minha cabeça ‘’Eu quero sua alma’’.

Em um primeiro momento, eu ignorei, pensando ter ouvido errado, mas a voz gritou mais uma vez. ‘’Eu quero sua alma’’.

E, sem perceber, eu gritei também.

–Eu quero sua alma! Eu quero sua alma, Calliope!

Nada aconteceu por breves segundos, mas, então, para a minha surpresa, Calliope começou a se engasgar. Segurando o peito, ela caiu no chão, tossindo e resmungando.

–O que é isso? – ela conseguiu dizer e depois tossiu novamente – Como...?

–Você, irmã – Olívia falou para ela, meio surpresa, meio admirada – Mexeu com a Rainha dos Mortos e ela, agora, quer sua alma.

–Isso é impossível! – Calliope gritou.

–Não há o que fazer – Olívia deu de ombros e eu continuei paralisada – Se a Rainha quer, a Rainha terá.

Minhas mãos começaram a tremer e as sombras, que antes estavam ao redor de Olívia, ficaram ao meu redor.

–Sua alma foi convocada, Calliope Lancaster! – as sombras disseram juntas – Sua alma irá conosco!

Eu realmente ainda não sei o que aconteceu, mas Calliope parou de respirar e, no mesmo instante, as sombras sumiram da colina.

–Que diabos...? – sussurrei, olhando ao meu redor.

–Você conseguiu controlar um pouco seu poder – Olívia explicou – Isso levaria tempo, mas sua raiva ajudou-a. Você é poderosa, Alex, você é poderosa. Mais do que eu achei possível.

Mesmo com sorrisos nos rostos, ainda estávamos com lágrimas nos olhos, porque embora a batalha estivesse ganha, nos havíamos perdido uma pessoa maravilhosa e isso doía. Não havia comemorações, porque tinhas, de certa forma, perdido.

Todos encararam, tristemente, o corpo de uma amiga.

–Levarei Ashley lá para baixo, colocarei seus corpo no carro – avisou Jessica, enquanto soluçava. Todos concordaram, porque ninguém mais queria ver Ashley assim, sem vida – Venha, Gabriel, me ajude. – e ele foi, rapidamente.

Antes que eu pudesse me oferecer para ir junto, William se jogou no chão, enquanto se contorcia de dor.

Fiquei onde estava.

–Está queimando! – ele gritou, se encolhendo mais e mais – Está queimando!

–O que está acontecendo? – tentei me colocar ao seu lado, mas ele se rebatia muito e acabou me chutando, sem querer.

–Eu vejo fogo! – ele ainda gritava – Eu vejo morte, eu vejo dor, eu não sei o que está acontecendo!

–Bem na hora – murmurou Olívia, satisfeita, enquanto William agonizava – Agora Georgia.

Com um aceno, Georgia tocou na testa de William. Ele gritou mais uma vez, a plenos pulmãos, e então começou a se acalmar, até não se mover mais. Me direcionei a Olívia e disse:

–O que você fez? – ela se manteve quieta – O que William têm? O que fez, Olívia?

–Você quem fez – ela respondeu – Você acabou com a Maldição.

–O quê?

–A Maldição foi tirada de dentro da alma de William Hãnsel.

–Isso é impossível – rebati, descrente – Era eu que deveria morrer para que William se liberta-se.

–Não, quem deveria morrer para que William se liberta-se, era a mais jovem pura da família de Sarah Lancaster.

–Ei, eu sou pura – protestei.

–Não, esse tipo de pureza – Olívia entortou os lábios, impaciente – Georgia, no dia que leu sobre a quebra da Maldição, contou que não conseguiu traduzir uma palavra, não foi? Embora a palavra não parecesse importante, era crucial.

–A palavra era ‘’pura’’?

–Sim.

–E o que isso quer dizer?

–Quer dizer uma descende jovem, com pais, ambos, bruxos. Uma bruxa pura.

–Eu...

–Você é filha de uma Bruxa e um mundano, querida. Você não é pura.

–Então, a descendente pura mais jovem, era Calliope?

–Exatamente.

–E Georgia sabia?

–Contei antes de entrarmos na batalha, quando chamei todos os seus amigos.

–E por que não contou antes?

–E mudar o futuro inteiro? Talvez, esse momento aqui, Alexis, não acontecesse.

–Então...

–Isso mesmo, filha, a Maldição foi quebrada e William Hãnsel está livre. A Híbrida cumpriu seu Destino.


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