O Garoto da Última Casa escrita por Bruna Ribeiro


Capítulo 33
Capítulo 32


Notas iniciais do capítulo

Postando cedo, porque ainda estou com uns probleminhas com meu computador e essa foi a hora que deu para atualizar, amigos.
Espero que gostem.



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CAPÍTULO 32 - PRIMEIRA JOGADA.

Alexis Miller

Talvez eu estivesse um pouco mais mudada, desde que cheguei em Owens.

Parecia que Alexis Miiler, não era a mesma Alexis Miller. Eu estava diferente e minhas escolhas também.

Quando eu sofri o acidente, acordei no meio da mesma rua. Me sentia bem e forte o suficiente para levantar sem problema. Foi ai que notei que algo estava errado. A rua estava escura, fria e eu me vi desmaiada. Talvez eu tenha gritado, mas ninguém me ouviu.

Andar pela rua, sozinha, numa escuridão sem fim, era tudo que eu não precisava. Eu vi algumas pessoas de vez em quando, mas elas não falavam coisa com coisa e depois percebi que elas talvez nem mesmo respirassem. Do nada, fui levada a outro lugar. Eu tinha chegado á um hospital.

Era tanta gente, vagando sem rumo, que me senti um pouco aliviada. Mas eles estavam mortos e meu alívio foi embora, dando lugar á uma angústia sem fim.

Eu não via, digamos, pessoas vivas. Eu não via o que realmente estava acontecendo, na realidade, apenas fleches. Eu vi Olaf, eu vi Ashley, vi Henry e Jessica e também vi... William.

Eu fiquei os rondando, mas eles não me enxergavam e suas imagens desapareciam o tempo todo. Eu voltei para o quarto onde meu corpo estava.

Fiquei olhando para meu corpo e me perguntando se aquele realmente seria meu fim.

Lá, o tempo parecia passar muito devagar.

Eu escutei, com certa dificuldade, Olaf lembrar de momentos comigo, de chorar um pouco, de me dar um beijo na testa. Vi, também, Ashley me encorajar a me recuperar e falar coisas que não entendia, provavelmente um feitiço. E, depois disso tudo, vi William.

Eu estivera sempre sentada, ao lado do meu corpo, vendo e ouvindo Olaf e Ashley falar com o meu outro eu, mas quando William entrou foi como se algo despertasse e eu me levantei.

Ele parecia meio paralisado com minha situação e, por um momento, achei que ficaria assim. Mas seu ar vulnerável foi embora, tão rápido quanto chegou.

Eu me aproximei.

–William Hãnsel, me escute - ele não me escutava, eu sentia e via isso - Eu estou aqui, bem aqui.

–Sabe, eu juro, que não ia mandar você calar a boca por um bom tempo, se você levantasse dessa cama agora. - ele disse, olhando fixamente para meu corpo na cama. Nada aconteceu. - Você não sabe o que está perdendo, garota.

–Eu estou tentando, ouviu?

–Achei que você é que me veria assim - ele disse, colocando uma mecha de meus cabelos atrás da orelha. E, eu podia jurar, que senti seu toque.

–William, assim como? Me escute, estou aqui.

–Digo, achei que me veria morrer. Eu sou o amaldiçoado, minha família morre desde muito tempo e ás vezes acho que comigo vai acontecer a mesma coisa, mas ai eu me lembro de você. Me lembro que consegue ler o Livro, me lembro que você encarou tanta coisa na sua vida que é impossível descrever, me lembro que é mais forte que qualquer um aqui. Então, eu fecho meus olhos e acredito de novo.

''Você é a pior garota que conheci em toda a minha vida e também é a única que acredito que pode acabar com essa maldição. Vamos lá, Miller, eu queria fazer alguma coisa por você, mas tudo que consigo perceber é que você é quem faz muito por mim.

Não é que me importe com você, não confunda as coisas. Eu apenas me importo comigo. Quero que fique viva, para me libertar. Viu? Sou egoísta, mesquinho e mereço um soco. Então, por favor, acorde e me dê um.''

–Era tudo o que eu mais queria, William. Te dar um soco por ser tão idiota, era o que eu mais queria.

A imagem dele tremeluziu, mas eu ainda podia vê-lo.

–Você tem que mostrar que ainda está de pé - falou decidido e eu queria corresponder - Mostre para aquelas bruxas que aqui não é o País das Maravilhas ou qualquer outro lugar que tenha esse tipo de criatura. Estamos em Owens, aqui é a minha cidade e agora a sua também. Mostre que mandamos nesse lugar, mostre quem manda.

–Eu quero tanto quanto você, mas sou fraca. Não posso e não consigo. Por favor, me escute.

–Sabia que nenhuma garota me ignorou assim antes? - ele deu um risinho e foi até a janela, observando a rua logo depois - Estou ficando ofendido.

–Me desculpe, senhor Hãnsel, por deixá-lo falando sozinho. Eu sou uma grande idiota e mal educada, não é mesmo?

Ele então se virou e eu vi a angústia em seu olhos.

–Isso é besteira - ele não falou para mim - Isso não adianta.

–Adianta sim, fale comigo.

Ele passou reto por mim e caminhou até a porta.

Eu não poderia deixá-lo ir, não poderia.

Corri até ele e o abracei por trás.

–Fique, por favor, William Hãnsel, fique. - disse, mas ele não pareceu ouvir.

Mas, pelo menos, ele pareceu perceber que algo estava errado e isso já era alguma coisa.

–É você, Miller? - perguntou - Eu sei que é. Me ajude a ter certeza.

–Como farei isso, gênio?

Foi quando olhei para o vaso que estava em cima de uma mesa, perto da janela.

–Vai servir - disse para mim.

Quando tentei empurrar o vaso, minha mão o atravessou e meu desespero aumentou.

–Vamos lá, eu sempre derrubo as coisas com facilidade, não pode ser muito diferente como espírito.

Me concentrei mais e com cuidado, consegui jogar o vaso no chão. Catei algumas pedrinhas que tinham caído do objeto e escrevi meu pedido de socorro.

William olhou, curioso, para meu feito e se aproximou. Quando leu as minhas palavras, parecia surpreso demais até mesmo para falar. Apenas correu da sala.

Ah, Deus, ele entendeu?

Eu não sabia.

Então, como sempre faço, comecei a chorar.

Sai do quarto em prantos, tentando localizar William Hãnsel, mas ele já havia sumido. Corri, corri e corri mais, só que parecia que quando tentava sair do hospital, reaparecia em outro corredor.

–Seu primeiro dia? - uma menina de no máximo 8 anos, falou para mim. Ela tinha pequenos cachinhos e sorria docemente, mesmo cheia de sangue. - É sempre difícil.

–Eu quero ir embora.

–Ah, eu também. Mas não podemos.

–Estou começando a perceber.

–Qual seu nome? - ela perguntou.

–Alexis Miller. E o seu?

–Sou Annabeth Hãnsel, mas pode me chamar de Annie, eu gosto.

–Hãnsel?

–Sim, meu sobrenome é Hãnsel.

–Annabeth?

–Você tem problema auditivo, Alexis? Porque posso falar mais devagar, se quiser.

–Não, eu só estou tentando entender - expliquei.

Como assim eu estava falando com a irmã de William? Ela estava morta, deveria, sei lá, está morta. Eu já tinha percebido que as pessoas que encontrava na rua e no hospital não estavam vivas, mas não achei que encontraria a irmã de William entre elas.

–Então, você tem problemas em entender as coisas? Posso ser menos complicada.

–Não tenho problemas, quer dizer, até tenho, mas não desse tipo.

–Você é confusa, mas tudo bem. Mamãe diz que as melhores pessoas são as mais estranhas e complexas, porque ai você pode conhecê-las melhor. Acho que quero conhecê-la melhor, Alexis.

–Obrigada, eu acho.

–Quer conhecer minha mãe? Ela gosta de conhecer pessoas também.

Então eu conheci os pais de William, mas não me arrisquei a falar muito. Eles pareciam perturbados com tudo a sua volta e mal falavam coisa com coisa. Me chamaram de Samantha, Miranda, Jill, Jennifer e Martha, sendo que eu havia dito ''Não, é Alexis'' cerca de cinco ou seis vezes.

–Você gostou dos meus pais? Eles são bem legais - ela me disse, assim que sai do quarto deles.

–Seu pais são muito legais - menti.

–Está faltando meu irmãozinho. O nome dele é William. Você iria adorar conhecê-lo. Ele é um bebezinho bem fofo.

–Eu, sem duvida, iria adorar conhecê-lo de verdade.

–Mas cuidado, ele morde.

–Ah, como sei disso.

–O que disse?

–Ah, bem que pensei isso. - me corrigi rapidamente e Annie sorriu. Uma parte de mim desejou que Annabeth estivesse viva, que Annabeth voltasse a ser o que era antes e que quando eu saísse daquele lugar, porque eu sairia, ela estivesse me esperando lá fora, com seu sorriso alegre.

–Quer brincar? Você iria adorar brincar aqui. Mas não fale com os que machucaram a cabeça, eles são loucos.

–Eu adoraria, mas não agora, Annie. Preciso ficar um pouco sozinha.

–Você precisa ficar sozinha? Tudo o que sei é ficar sozinha. Você não vai gostar.

–Brinco com você depois, Annabeth.

–Tudo bem. Acho outra pessoa. Até mais.

–Ei, conhece algum lugar para eu ficar sozinha aqui? - perguntei, antes que ela fosse embora.

–Refeitório - ela respondeu - Siga direto no próximo corredor.

–Obrigada.

...

Eu não sei por quanto tempo fiquei ali, mas não foi pouco.

Eu pensei em tantas coisas e minhas esperanças estavam acabando.

Sorri ao pensar na garota curiosa que fui quando cheguei em Owens, chorei ao me lembrar de Olaf com as Aberrações e desejei passar por tudo isso novamente.

Eu me sentia tão incapaz.

O tic-tac do relógio era minha trilha sonora, naquele lugar. Abaixei minha cabeça desejando esquecer de tudo.

Então, um grito ecoou pelo silêncio, me chamando de forma insistente.

Quando procurei pelo som, percebi que vinha dos lábios de nada mais, nada menos que William Hãnsel.

Como ele conseguiu chegar ali era um mistério, mas que mal fazia mais um?

–Meu Deus, William. Ah, graças. Como saio daqui? Há uma porta? Me tire daqui. Calma ai, como chegou aqui? Na verdade, o que é isso aqui? Ei, vi sua irmã... - disse, antes mesmo dele chegar até mim.

–Miller, cala a boca, só um pouquinho - ele falou, enquanto sorria ofegante. Que garoto estranho, me manda calar a boca e ainda sorri com isso - Você está presa.

Uou, o quê?

Isso era impossível.

Alguma coisa, dentro de mim, gritava o contrário.

Eu sentia que estava dormindo e não presa.

–Presa? Como? Não me sinto presa.

–Não discuti, só acredita.

–O quê?

–Precisa acreditar que está presa e que pode sair daqui.

Ele parecia nervoso e assustado, enquanto vacilava o olhar.

–Garoto, eu não estou entendendo nada.

–Eu tenho apenas 1 minuto. Por favor, acredite.

–Em quê?

–Acredite que está presa e que pode sair daqui.

Ele estava maluco. Isso mesmo. O lugar enlouqueceu William Hãnsel, mais do que ele já era enlouquecido.

Antes que eu pudesse retrucar mais alguma coisa, ele se aproximou de mim. Achei que o Hãnsel poderia fazer qualquer coisa, menos me beijar. E foi exatamente isso que ele fez. Seu lábios estavam gelados, sua boca parecia convidativa demais e tudo parecia importar menos naquele momento. E daí que eu fosse ficar ali para sempre? E daí que não voltasse mais? E daí que uma cidade poderia depender de mim? E daí não estar preocupada com mais ninguém, quando William Hãnsel está beijando você?

Mas, infelizmente, aquilo chegou ao seu fim.

–Volte para mim - ele disse, antes de sumir.

Eu fiquei sem entender nada. Ele me beijou e sumiu? Por quê?

Olhei ao meu redor, mas nada vi. Estava sozinha de novo.

–Está brincando, né? - gritei para ninguém em particular - Estou sonhando dentro da droga de outro sonho? Isso é meio idiota.

Foi quando as palavras de William me atingiram. ''Acredite que está presa e que pode sair daqui''

Será que eu poderia estar mesmo presa?

Algo me dizia que não, mas algo ainda mais forte queria que William voltasse e continuasse o que começou, algo que eu não tinha controle, algo que me fez acreditar.

Eu estava presa, afinal.

Tudo ficou escuro de uma hora para outra e eu fechei meus olhos sem querer tal coisa.

E, quando acordei novamente, estava em outro lugar, em um quarto muito bem iluminado, no hospital, com quatro pessoas me observando atentamente.

–Acho que chegou a hora de acordar - disse, enquanto Ashley sorria abertamente. Jessica e Henry também pareciam igualmente felizes, mas me prendi em William.

Aquilo havia sido um sonho?

Ele tinha se esquecido do beijo? Tinha acontecido um beijo?

Sorri em sua direção e ele retribuiu meu sorriso, só que de uma forma mais maliciosa, mais William Hãnsel.

Então ele não havia sido um sonho, afinal.

...

–Esse foi o coma mais rápido e mais estranho que já presenciei, senhores - o médico, Sr White falava - Ainda estou sem entender nada.

–É melhor assim - William retrucou baixo, mas eu o ouvi perfeitamente.

–Vou chamar seu tio, acho que ele gostaria de saber, sem dúvida, Alexandra - e então, o doutor saiu do quarto.

–Ele disse que não pode ir para a escola amanhã - Henry falou, mesmo que eu nem se quer estivesse pensando nisso - Disse que tem que se recuperar, poderá ir depois de amanhã.

–Isso é bom - sorri, sem desviar os olhos de William, que também me encarava.

–Ashley e Henry, a Horda acabou de me ligar. Aconteceu uma coisa. - Avery anunciou. Jessica parecia estranha demais naquele dia, parecia... Agradável.

–O quê? - Henry parecia temeroso.

–Me acompanhem - Jessica falou simplesmente e foi embora. Ashley e Henry a seguiram.

–Sabe, eles podem perceber esses sorrisinhos bobos que você manda em minha direção, Miller. Não que isso fosse alguma novidade, é claro. - William se sentou na cadeira ao meu lado.

–Digo o mesmo, senhor Hãnsel.

–Me lembre de nunca mais querer saber o que anda pensando. Sua cabeça é estranha.

–Do que está falando?

–Do lugar onde estávamos presos.

–O que tem?

–Era a sua cabeça - ele respondeu, confuso com minha pergunta. Talvez esperasse que eu soubesse que aquele lugar assustador fosse parte de mim, mas eu não sabia. Droga, é claro que deveria ser parte de mim.

–Aquilo horrível, macabro, era eu?

–Alexis Miller, vamos lá, não faça isso - William parecia arrependido e meio hesitante - Era...

–Na minha cabeça há mortes e tristeza?

–Miller...

–William, eu vi gente morta o tempo inteiro. Eu vi sua família, eu vi outras pessoas, e está me dizendo que tudo era parte de mim? Eu sou como um ceifador? Eu vejo gente morta.

–Ah, minha nossa, é claro. Talvez seja seu poder, Alexis - ele falou mais para si mesmo, do que para mim. Como assim meu poder? - Faz sentido. Você viu Olívia, ela está morta; você viu a Horda dos Sete, eles estão mortos. Por isso sua cabeça estava cheia de gente que não está mais entre nós. Seu poder é ver gente morta, Alexis? Ah, nossa, só pode ser isso.

–Está me dizendo que algumas pessoas podem voar, outras levitar a droga de uma cadeira e eu vejo gente morta?

–Miller, você é genial. Henry tinha razão, você tem um poder muito forte, nunca vi algo assim - William beijou minha testa, animado - Eu sabia que iria descobrir.

–William, isso é impossível. Eu não posso ter um poder legal?

–Você... - o Hãnsel ia tentar me deixar animada, eu sabia, mas foi interrompido.

–William - era Ashley. Ela parecia assustada e nervosa também - As Bruxas capturaram Miranda e Sophie e algo me diz que não foi apenas para conversar.


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Notas finais do capítulo

Se tiver alguns errinhos me avisem e eu conserto.
Alguém sabe como é ter um irmão reclamando que sua hora acabou do seu lado? Pois é, mal consegui revisar.



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