Quando são aproximadamente meio dia chego à cidade, está um calor do inferno aqui. Vou caminhando silenciosamente em direção ao outro lado da cidade, matando alguns zumbis, fugindo de outros. E quando atinjo meu destino já são umas duas da tarde. Sim, é realmente longe, e estou praticamente derretendo.

Observo a rua a minha frente: dois walkers vagando no jardim de uma casa, como é um bairro residencial de classe média as casas são simples e simpáticas, opto pela casa à minha esquerda. Avançando com cuidado para não fazer barulho entro na casa. Uma leve brisa entra pelas janelas, as paredes do local — que outrora foram azuis— agora não possuía mais vida, deixando um tom de morte por todo o local, o que causa um efeito nostálgico sobre mim, porque minha cor preferida sempre fora azul... Ignoro esses pensamentos e subo as escadas. No quarto de casal havia um zumbi gordo que logo tratei de exterminar, e o resto estava limpo. Desci novamente indo em direção à cozinha, encontrei somente um pacote de bolachas.

E assim foram pelas próximas vinte casas que visitei, gastei quase duas horas fazendo isso. Encontrei algumas roupas e enlatados que não são o suficiente, então decido arriscar ir a um mercado pequeno que tem no fim da rua.

Ele está vazio, aparentemente já foi saqueado algumas vezes, mas ainda há alguns enlatados e coisas uteis. Decido começar pela sessão de refrigerantes, em seguida enlatados, e por fim doces. Estou tão distraída pegando os preciosos doces que não ouvi os passos se aproximando, só quando já estavam muito próximos. E não são zumbis, e sim de humanos. Escondo-me rapidamente atrás da prateleira, o que foi em vão, porque o garoto já está com a arma apontada na minha direção. Uma sensação de déjà vu me atinge.

Devo admitir que ele é realmente lindo. Mesmo sentada e no escuro consigo perceber que seus olhos são azuis de um jeito diferente dos do Willian, são claros. Ele tem cabelos castanhos que caem em seu rosto perfeito, e usa uma espécie de chapéu de xerife. Esta me encarando com uma expressão dura, que o deixa mais lindo ainda. Como será ele sorrindo?

–Quem é você? –Pergunta ainda apontando a arma na minha direção. A voz dele é divina. – Está com alguém?

–Ka- Katherine Smith, não. - Gaguejo em um fio de voz ainda olhando nas profundezas daqueles lindos olhos azuis. Eu devo estar parecendo uma retardada encarando ele assim, só falta babar. Ele abaixa a arma e me oferece uma mão, a qual fico encarando sem entender.

– Venha, levante-se. -Ele esclarece com um sorriso sem dentes. Ai meu Deus.

–Ah, certo- Aceito a mão dele que é firme e macia levantando-me, ele é uns centímetros mais alto que eu.

– E o seu?

–O meu o que? – Ele me encara confuso.

– Seu nome- Falo pegando minha mochila que está realmente pesada e colocando nos ombros.

– Carl, Carl Grimes- Responde indo em direção à porta, onde há dois homens, um com uma besta, e outro com uma pistola. Fico tensa na mesma hora e dirijo minha mão em direção ao machado, não é como se eu fosse usa-lo contra eles, mas me conforta.

–Está tudo bem, eu estou com eles- Fala Carl percebendo minha hesitação. Estranhamente eu confio nele.

– Quem é essa filho?- Pergunta o homem que estava com a pistola. Ele é bonito, mas seu filho é bem mais, também parece ser um bom homem.

–Katherine. Encontrei-a encolhida contra uma prateleira – Informa Carl.

–Sou Rick, e aquele ali é Daryl- Fala oferecendo a mão em forma de cumprimento, que aperto rapidamente. Daryl apenas balança a cabeça. Daryl... Esse nome não me é estranho.

–Você está sozinha?- Pergunta ele.

–Aqui sim, meu grupo ficou no nosso esconderijo. – Respondo.

–Rick, temos um probleminha- Informa Daryl antes que Rick possa responder, apontando pros zumbis que estavam em frente ao mercado.

–Tem uma porta nos fundos, podemos usa-la. -Sugiro. Eles concordam e nos dirigimos para lá. Daryl e Rick indo primeiro, eu logo atrás, e Carl por ultimo, acho que ele está me vigiando pra garantir que não vou fazer nada que os prejudique.

Daryl abre a porta rapidamente matando os três zumbis com sua besta, uma arma realmente útil. Os zumbis já perceberam nossa presença, então estamos correndo o máximo possível pela rua. Acabo ficando para trás, com respiração ofegante, eu realmente estou fora de forma. Sinto gotas de água caindo e mim e percebo que esta chovendo. Perfeito. Olho por cima do ombro vendo que os zumbis estão a uns 18 metros de distância, e acabo esbarrando em Carl, que tinha parado para observar a área.

–Desculpe- Murmuro corando.

Ele não responde e volta a correr. Grosso, agora mesmo ele estava até sorrindo pra mim. “Só foi um sorriso, não é como se ele te amasse” minha consciência “fala”.

– Aquela casa ali- Anuncia Rick apontando para a segunda casa que visitei, tem dois andares e é rosa.

Entramos rapidamente e Daryl empurra um armário na porta. Corro para fechar as cortinas, impedindo que os zumbis nos vissem quando passassem. Estou totalmente encharcada, igual a todos aqui. A chuva cai forte lá fora, e percebo que já está escurecendo, não sei se é devido à chuva ou que está tarde.
No momento estamos sentados no chão perdidos em nossos próprios pensamentos, ouvindo os passos arrastados dos zumbis passando na rua.

–Acho que vamos ter que passar a noite aqui. -Anuncia Rick.

–Merda- Praguejo. Eles olham pra mim interrogativos- É que meus amigos vão ficar preocupados comigo. Eu falei que iria voltar hoje.

–Quantos vocês são?- Questiona Rick me olhando.

–Comigo somos quatro. – Respondo - Três homens e eu, semana passada perdemos Melanie.

–Sinto muito- Fala Rick. Assinto com a cabeça.

–Você é a única mulher?!– Exclama Carl que até então estava quieto, acho que ele não é muito de falar, igual ao Daryl, que está encostado na parede do outro lado da sala limpando sua besta.

–Sim, eles são irritantes, mas são boas pessoas. – Comento sorrindo fracamente. -São só vocês?

–Não, temos um grupo maior, com crianças, idosos. Moramos em um lugar seguro. –Responde Rick. É tão irreal um lugar seguro, parece legal.

–Lugar seguro? Parece meio difícil hoje em dia. – Comento.

–É, tivemos essa sorte. Se vocês quiserem se juntar a nós. – Fala Rick. Carl olha pra ele como se desaprovasse.

–Sério? – Questiono sorrindo. Um lugar seguro!

–Bem, sim. Mas temos que conhecer seus companheiros, e fazer algumas perguntas. – Acrescenta ele. Concordo com a cabeça.

Depois disso comemos e nos ajeitamos para dormir, Daryl irá ficar de vigia. Deito em um canto da sala usando a mochila como travesseiro, está realmente frio agora. Dou uma ultima olhada em Carl que está no canto oposto. Ele é um mistério pra mim. Adormeço pensando em o que Willian e os outros estarão pensando sobre eu não voltar.

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Sou a ultima a acordar, o que me incomoda. Eles já estão se preparando para partir, e Daryl está na cozinha procurando alguma coisa. Arrumo minhas coisas e corro para porta, onde Rick e Carl estão nos esperando.

–Vem Dixon- Chama Rick- Antes que apareça mais walkers.

–Dixon?- Questiono. Não pode ser, seria muita coincidência.

–Sim, por quê? – Pergunta Daryl chegando à porta, notando minha expressão assustada. – Parece que viu um fantasma garota. -Definitivamente é ele.

–Não acredito!- Exclamo. Agora todos estão olhando pra mim como se eu fosse louca. - Eu conheço outro Dixon! O Merle, ele está no meu grupo.

–Você só pode ta de brincadeira com a minha cara. – Diz ele me olhando com desconfiança. Nego com a cabeça ainda assustada. Acho que ele acredita, já que sua expressão muda pra uma mistura de felicidade e descrença.

–O que está esperando, me leve até onde ele está!- Ordena ele andando pela rua. Ainda atordoada os sigo. Ai meu Deus! Eu encontrei o irmão do Merle! Paramos em frente a um carro, e eles começam a guardar as coisas. Estanco no mesmo momento, minhas mãos começando a tremer. Lembro-me daquele dia.

–Por favor, mamãe! – Imploro com voz infantil olhando para minha mãe, que está sentada no banco da frente ao lado de meu pai que está dirigindo.

–Não filha, é surpresa! Eu já disse! – Estávamos indo pra um lugar surpresa, papai disse que eu ia gostar. Tenho quase certeza que é o zoológico, mas não vou sossegar enquanto eles não admitirem.

–Papai!- Peço com voz manhosa, sempre funciona.

–Assim eu não resisto. – Diz ele olhando para trás sorrindo.

Então tudo acontece rápido demais, o grito da minha mãe, tudo girando, girando e girando. Então o silencio.

Sou tirada das minhas lembranças com Rick me mandando entrar no carro. Percebo que todos já estão lá dentro me esperando.

–Vem garota, o que ta fazendo parada aí que nem um poste?- Interfere Daryl impaciente. “Seja macho” ordeno para mim mesma entrando no carro, mesmo contra minha vontade.

–Você está pálida, ta tudo bem?- Pergunta Carl me encarando. Apenas concordo com a cabeça não confiando na minha voz para responder.

Durante a viagem inteira flashes de meus pais sorrindo, ou o grito de minha mãe vêm a minha cabeça. Eu me sinto culpada, talvez se eu não tivesse insistido tanto meu pai não teria se distraído. De vez em quando Rick pede informações sobre o caminho, que respondo com menos palavras possíveis. Quando me dou conta já estamos parados em frente à cabana, e um Willian preocupado e raivoso sai pela porta.

–Quem são vocês? Cadê a Katherine? – Pergunta ele me procurando.

–Calma Will, estou aqui – Murmuro saindo do carro, sentindo minhas pernas meio bambas.

–Porra Kath, você me deixou preocupado! Já estava indo atrás de você- Diz ele me tirando do chão em um abraço. Sinto-me corar quando percebo que todos estão nos observando.

–Certo Willi-Will, já entendi. Agora me solta! – Ordeno. Ele me solta conferindo se estou inteira. Exagerado.

–Cadê o Tonny? Merle?- Minha pergunta é respondida com Tonny e Merle saindo pela porta com sorrisos no rosto.

–Garota, já estava pensando que você tinha... - Merle para de falar quando percebe que temos companhia. - Daryl? É você seu filho da puta?- Carinhoso como sempre. E assim eles dão um abraço desajeitado, murmurando coisas. Realmente emocionante esse encontro e tal.

–Kath! Estava preocupado. –fala Tonny me abraçando. –Conseguiu os suprimentos?

–Ahan, aqui está. – falo entregando a mochila pra ele.

–Eu os encontrei na cidade- Explico para meu grupo- Então a gente fugiu de uns zumbis juntos e resolvemos passar a noite no mesmo lugar, aí Daryl quis vir ver seu irmão.

–Ah, entrem- Convida Tonny já adentrando na cabana. Todos entraram e agora estamos olhando um para cara do outro, o que me da vontade de rir, mas me controlo, não quero parecer uma retardada na frente de todos.

–Temos um lugar seguro. Queria perguntar se querem vir conosco- Fala Rick olhando para Tonny- É uma prisão ao sul.

Olho para Tonny com expectativa que parece pensativo. Sim, sim, sim! Fico torcendo em minha mente. Será que ele vai aceitar?