Sobrevivendo pela Sorte escrita por Alexyana


Capítulo 3
Capítulo 3 - Mau pressentimento


Notas iniciais do capítulo

Olá, esse capítulo está um pouco mais tenso..



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No momento estou sentada observando o pôr do sol no telhado da nossa nova “casa”. O laranja sendo invadindo pelas profundezas do azul escuro, mesclando as cores, me deixa deslumbrada. Confesso que foi meio difícil subir aqui devido ao meu talento de tropeçar e esbarrar nas coisas, mas valeu a pena.

Estamos indo de casa em casa há aproximadamente 20 dias, o que é exaustivo. Na última fomos surpreendidos por uma pequena horda e tivemos que sair às pressas. Mas essa casa parece mais segura, na medida do possível, sem muitos zumbis no perímetro. Acho que dará para ficarmos pelo menos uns três dias aqui.

E nesses dias venho me apegando cada vez mais aos três. Melanie se tornou uma espécie de irmã mais velha que nunca tive. E quando estamos de vigia ela me conta histórias de amores antigos e burradas de sua adolescência. Não falo muito com Tonny, já que é um homem fechado, porém o pouco tempo que estive com ele percebi que tem um coração enorme e um talento espetacular para caçar, comemos carne quase toda noite agora! E por fim Willian, também passo muito tempo com ele, até cheguei a pensar que estava apaixonada, mas desconsiderei a ideia. Geralmente quando estamos apaixonados por alguém, nosso coração dispara, as pernas ficam moles iguais à gelatina, mãos suando, e bom, pelo menos nos filmes são assim e definitivamente eu não sinto isso por ele. É quase como um irmão, e ele me lembra de meu primo, o que me dá vontade de chorar.

Ouço o barulho da janela e viro para trás encontrando Melanie, que está com os fios castanhos presos em um coque.

— Aí está você! Te procurei a casa inteira — fala ela sorrindo. — Vem dormir, amanhã iremos buscar mais suprimentos já que a maioria das coisas ficou na outra casa.

Concordo com a cabeça enquanto ela volta para baixo, e desjeitosamente vou andando pelo telhado. Meus pés encontram o chão com um baque surdo e vou para o quarto onde irei dormir essa noite. É um cômodo pequeno, com uma cama de casal e um pequeno guarda-roupa ao lado, as paredes são de um branco encardido, resumindo: podre, mas serve. Troco de roupa optando por um short jeans e uma blusa preta de manga comprida.

Decido ir lá em baixo desejar boa noite para eles, como uma garota civilizada.

— Oi gato — falo em uma voz sexy para Willian, que está sentado no final da escada. — Onde estão os outros?

Subiram para o quarto juntos — responde dando ênfase na palavra.

— Hum, esse dois... Aí tem. — Dou uma risadinha maliciosa, sentando-me ao lado dele. Há alguns dias venho observando os olhares que Melanie e Tonny trocam. Percebo que Will não respondeu o meu ‘oi’, estranho. Ele sempre embarca na zoeira.

— Você esta bem? — pergunto observando-o atentamente. Ele parece triste.

— Sim, só estava pensando — responde ele. — No meu pai — acrescenta.

— Oh! No que exatamente? — pergunto curiosa, me arrependendo imediatamente quando ele me olha com aqueles lindos olhos azuis tristes.

— Quanto eu disse que ele fugiu quando minha mãe ficou grávida era mentira. Ele foi embora quando eu tinha nove anos. Ele era o melhor pai que alguém poderia ter, eu o amava. Até hoje não sei por que ele me abandonou — diz com voz embargada. Jogo-me nos braços dele, dando um abraço desajeitado graças a nossa posição. Tento transmitir todo meu amor e carinho por ele com aquele simples ato, que demora uns segundos para ser correspondido, mas logo seus braços fortes rodeiam minha cintura me apertando junto ao seu corpo.

Agora estou vendo um Willian triste, que sente falta do pai, e não o Willi-Will irritante e divertido, que tem todas as garotas aos seus pés. Igual a todas as pessoas no mundo, igual a mim, ele tem um lado frágil e machucado pela dura realidade.

— Obrigado, baixinha — sussurra ele, se afastando um pouco para olhar nos meus olhos. — Você é muito especial, sabia?

— Sim, e linda, maravilhosa, diva... — acrescento. Isso faz com que ele sorria, o que me deixa feliz.

— Dorme comigo hoje? Por favor — pede. Ergo uma sobrancelha interrogativa. — Só dormir, nada de mais. Não por hoje — acrescenta sorrindo torto.

— Certo, só porque sou uma ótima pessoa — digo — Mas não se acostume, Willi-Will.

Ele levanta, jogando-me em seus ombros como se eu fosse um saco de feijão (eca, odeio feijão), me carregando escada a cima.

— Ei! Me solta! — ordeno me esperneando. — Moleque idiota, não pode ficar um momento parado sem irritar as pessoas.

— Aff, para de reclamar. Aliás, você é pesada — reclama, jogando-me na cama.

— Não sou, não! E não tenho culpa que você é um fracote! — retruco brava.

Depois trocamos mais algumas “ofensas” e fomos dormir. Eu sei que ele ainda está triste, mas vai passar. Nada dura pra sempre, nem tristeza, nem felicidade.

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Acordei com um pressentimento ruim, como se algo desagradável fosse acontecer, mas preferi ignorar. Levantei olhando para o lado e encontrando Willian praticamente babando no travesseiro, nojento.

Troquei de roupa rapidamente, ficando com o mesmo short jeans de ontem e colocando uma regata branca, que me deixa um pouco mais apresentável. Arrumei meus cabelos, deixando-os soltos. Calcei uma bota e me olhei no pequeno espelho na porta do guarda-roupa: Bonita, porém um pouco suja. Que é? Eu tenho vaidade mesmo no apocalipse zumbi.

Desci as escadas encontrando Melanie e Tonny se beijando, espera, beijando?

— Aimeudeusdoceu! — grito, assustando os dois que interromperam o beijo e agora estão me olhando com cara de bunda. — Eu sabia que isso ia acontecer! S-A-B-I-A! — acrescento, batendo palminhas de alegria e indo abraçá-los. Como estou idiota hoje, deve ser consequência de dormir com Willi-Will.

— Oh! Certo, desculpe, podem continuar — falo percebendo o que acabei de fazer. Que vergonha! E ainda atrapalhei o momento love dos dois.

– Está com fome? Tem um ultimo enlatado ali, mas deixe um pouco pro Willian- Fala Melanie depois de se desvencilhar do meu abraço, como se nada tivesse acontecido. Percebo que ainda estou abraçada com Tonny que está com o braço em volta dos meus ombros e imediatamente soltei-me dele que me olha com uma cara engraçada. Sinto-me corar. Ele ri e fala:

– Se apresse, daqui a pouco iremos sair, e vá acordar o Willian. Ah, e eu sei que vocês dormiram juntos- Arregalo os olhos- Calma, também sei que não aconteceu nada.

–Hum... Kath e Willi-Will- fala Melanie maliciosa, Tonny e ela riem quando coro mais ainda.

–Falou os dois que estavam se comendo no meio da sala agora mesmo- Revido, sorrindo vitoriosa quando os vejo corando.

–Haha, muito espertinha a senhorita, não está muito nova para usar esse vocabulário?- resmunga Melanie enquanto Tonny vai olhar as redondezas.

Ignoro-a e vou pro quarto acordar a princesa adormecida. Agora ele definitivamente está babando.

–Anda! Acorda Bela Adormecida! Não temos o dia todo –grito arrancando as cobertas de cima dele, que é respondido somente com um resmungo- Willian! Estamos no fim do mundo e você aí dormindo. - Grito mais alto ainda assustando ele que levanta imediatamente olhando pros lados procurando quem foi a pessoa que interrompeu seu sonho com gnomos e unicórnios. No caso eu. Depois de todos esses gritos que dei com certeza o jardim estará infestado de zumbis.

–Porra Kath, que chatice. – resmunga ele- Não poderia ser um pouco mais delicada não?

Respondo qualquer coisa e desço novamente para arrumar minhas coisas. Nesses últimos tempos consegui muitas coisas interessantes, como um óculos de grau, eu não preciso de verdade, mas acho eles bonitos; uma câmera daquele tipo antigo, que imprime a foto na hora; algumas roupas bonitas e que serviam em mim(vaidade agradece). Coloquei o meu fiel machado na minha cintura, e enfiei a arma calibre 34 na minha bota, lugar ruim eu sei, mas não tinha outro.

Depois que Tonny voltou avisando que tinha uns alguns zumbis á dois quarteirões de distância o que não seria perigoso se não fizéssemos barulho, estávamos todos reunidos na sala avaliando o melhor plano para pegar suprimentos em um supermercado á três quadras de distância, relativamente grande, o que pode ser perigoso, mas que contém vários itens que seriam extremamente úteis para nós.

O plano seria: Tonny ficaria de guarda na frente do supermercado, e eu atrás enquanto Melanie e Willian que são os mais rápidos iriam pegar os suprimentos e levariam para o carro que estava do outro lado da rua, a minha direita, o que seria fácil de alcançar caso chegassem muitos zumbis. Porém isso não estava em minhas primeiras alternativas, graças ao meu medo por carros. Era um plano simples, porém bom.

Meu mau pressentimento voltou agora, e meu coração esta apertado. Estou com medo, muito medo de esse plano dar errado. Mas eu confio em Tonny, seus planos nunca deram errado, e não seria agora que isso mudaria. Assim espero.

Antes de sair sugeri que tirássemos uma foto, no início eles não concordaram, mas acabaram cedendo. Irei guardar essa foto para sempre: Tonny e Melanie lado a lado, Willian me abraçando ao lado de Melanie e todos sorrindo alegremente, como se depois daquela porta não houvesse seres que queriam comer a gente até não restar nada além dos ossos.

Inventei a desculpa de que queria andar (o que não era uma total mentira) para evitar o carro. Mesmo negando companhia Willian decidiu vir comigo. Estamos caminhando lado a lado, faltando dois quarteirões para chegar ao supermercado quando resolvo falar:

–Will?- Pergunto timidamente olhando pra ele, que vira a cabeça na minha direção me encarando, esperando que eu continue- Eu estou com um pressentimento ruim.

–Como assim?

–Não sei, um aperto no coração. Desde que acordei estou sentindo isso. – respondo- Eu estou com medo. - admito. Ele me observa por alguns segundos e me puxa para seus braços, me abraçando.

– Vai ficar tudo bem, eu prometo. – Diz beijando o topo de minha cabeça. Agarro-me nele mais forte, desejando que esse momento durasse para sempre. O que obviamente não aconteceu, já que dois minutos depois nos separamos e recomeçamos a caminhar, porém agora ele mantinha um braço possessivo e torno dos meus ombros. Isso me fez sentir segura.

Encontramos dois zumbis no caminho, matei um com meu machado e Willian outro com sua faca. Quando chegamos ao supermercado Tonny e Melanie já estavam lá nos esperando e ajeitando suas armas, e no caso de Melanie sua mochila também. O carro já estava em seu devido lugar. Mel entregou uma mochila para Willian e o abraçou, pedindo para que ele tomasse cuidado. Logo Tonny e eu fomos incluídos nesse caloroso abraço.

–Kath, caso acontecer algo corra o mais rápido possível para o carro ou para nossa casa, não importa quem ou o que estiver atrás, salve sua vida. Sobrevivência em primeiro lugar- Melanie falou séria- Isso vale para você também Willian. Eu amo vocês.

Todos concordaram. Ouvi Melanie e Tonny trocarem um “Eu te amo” o que me emocionou profundamente, eles são um casal perfeito. Quando estava indo pra meu posto, que é atrás do supermercado, uma mão me alcançou. Virei e dei de cara com Willian.

–Cuidado baixinha, fique viva- disse mal esperando uma resposta e alcançando Melanie que já estava esperando-o na porta.

–Você também- murmurei, mesmo sabendo que ele não iria ouvir.

Nesse momento meu aperto no peito foi quase insuportável. Por que estou sentindo isso?
Corro para meu “posto” atrás do supermercado, encontrando um zumbi que vinha na minha direção, peguei meu machado e finquei em sua cabeça pobre, espirrando sangue em mim. Magnífico.

O lugar está calmo. Na minha frente há uma rua com casas que antes eram de pessoas ricas, na minha direita um playground abandonado e um pouco mais pra frente o carro, a minha esquerda a rua que leva a minha “casa”. Minha mão esta tremendo, o que está acontecendo comigo? Eu nunca fui medrosa, por que seria agora? “Seja homem” Ordenei a mim mesma.

Já faz uns 10 minutos que estão lá dentro, tudo está calmo, calmo demais pro meu gosto. Quando termino esse pensamento escuto um tiro, em seguida outro, e mais outro... Desespero-me automaticamente. Será que eles estão bem? Será que estão cercados? Acho melhor eu ir lá ver o que esta acontecendo... Porém minhas reflexões são interrompidas por uma mão tampando minha boca, e outra em volta do meu corpo, impedindo que faça qualquer movimento. E nesse momento somente uma coisa vem a minha cabeça:

Fodeu.


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Notas finais do capítulo

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