A vida é engraçada. Tem vezes que, eu me pergunto se eu sou a garota mais sortuda da face da terra ou se seria ironia do destino mesmo. Se eu for parar pra resumir a minha nova vida, a partir de uma semana, eu mesma não acreditaria no que está acontecendo.Na quinta feira passada, me deram a notícia de que eu iria trabalhar pra uma pessoa famosa. Na sexta, eu sofro um pequeno "acidente" e conheço ninguém mais, ninguém menos que Michael Jackson, o amor impossível. Passo o sábado meia deprimida por ter desmaiado na parte boa, e logo no domingo, Mike vai na minha casa conversar comigo. Tem noção do que é isso ? Pode parecer tão bobo em palavras... Mas é surreal ! Aliás, surreal mesmo é na segunda, fazer o melhor show, vendo tudo de cima do palco e de quebra, ficar sozinha com ele numa pequena floresta depois de um "atentado" de fãs que o machucaram . No mesmo dia, eu me enfio com ele em casa, e de noite, vou numa festa, acabo quase quebrando a perna e dou um beijo no lábio de Michael. E agora, estou eu aqui, em Neverland, sendo beijada pelo cara mais perfeito do mundo inteiro. Eu juro que nunca fui tão sincera em relação a alguma pessoa.

Uma lágrima de felicidade rolou pelo meu rosto. Eu gemi, pois a emoção dentro de mim não me deixe transparecer isso. Desci minhas mãos do pescoço dele, passando por entre os braços, nas costas. Ele foi parando o beijo com carinho, dando aqueles selinhos envolventes, ainda usando um pouco da língua.

Ainda de olhos fechados, concentrei em respirar, pois não tinha conseguido fazer isso ainda. Só estávamos testa colada com testa, sem dizer alguma palavra. O único barulho que escutara era mesmo da cachoeira.

– Annie... – Ele pausou, respirando profundamente sem parar. Esperei até que ele continuasse, sem me mexer. – Por favor me desculpe... Eu... não sei... Eu fui burro de te beijar assim.

– Por favor Michael... Não se desculpe... nós... Aconteceu e... – Não consigo me expressar do modo que quero. Existe, milhares de pensamentos ao redor da minha mente.

– Não deveria ter feito isso... Agora, eu não consigo nem abrir os olhos e te olhar de verdade ! – Ele disse.

Eu não estava de olhos abertos, mas tinha certeza que ele sorriu, e estava totalmente envergonhado.

– Somos dois. – Eu sorri também. – Só me dê um minuto de coragem... Eu estou... confusa.

– Me desculpe... Não deveria ter sido assim. Eu tinha que...

– Michael ! – Uma voz ao longe gritou.

Uma mistura de susto e medo me fez abrir os olhos, saindo do colo de Michael. A primeira coisa que fiz foi olhar para a origem de onde vinha o grito, assim como Michael fez totalmente constrangido. São dois seguranças, acenando da beira da cachoeira. Pareciam nervosos.

Olhei pra Michael com um sentimento indefinido. Alguma coisa estava acontecendo.

– Fãs invadiram Neverland. – Um dos seguranças gritou – A mídia está toda ai fora, e não param de passar notícias sobre a senhorita Annie na TV !

– Oh – Disse. Olhei para Michael.

Se rosto estava totalmente entristecido. Eu não sabia o que estava acontecendo com ele pra ficar tão triste assim, mas agora não daria pra perguntar. Ele me olhou e fechou os olhos instantaneamente. Se aproximou de mim e pegou minha mão para que fossemos até o segurança.

Começamos a andar dentre a água de pressa, minhas mãos tremem. Eu não sei o que a mídia está falando de mim, e nem porque isso tem haver com os fãs que conseguiram entrar em Neverland. Talvez não tivesse nada haver comigo. E sobre a mídia, eu não tenho medo. Eles podem estar falando sobre eu ter me machucado na festa de ontem, ou por estar em Neverland...

– Já os pegaram. Só estão vendo se alguém escapuliu da segurança. – O outro segurança disse.

– Senhor, te esperam na porta da casa em que senhorita Annie está.

Senhorita ?

– Não sabemos como eles conseguiram entrar. Talvez em um caminhão que entrou a alguns minutos.

– Quantos minutos ? – A voz de Michael tremeu.

Isso me fez olhar pra ele assim que paramos em frente aos dois seguranças. Eu só queria chorar. Não sei o que pensar.

– Talvez... 40 minutos. Vamos, não podemos ficar aqui pra sua segurança. Não sabemos do que esses fãs são capazes.

Os seguranças ficaram ao nosso lado enquanto andávamos até a casa onde eu estava. Em toda a volta, existiam pessoas procurando os tais fãs. Eu permaneci calada, olhando o chão. Não sei porque, mas o aperto no coração está grande. Isso não é uma boa coisa de se ter num momento desses. Não é medo da imprensa, e sim do que isso pode acarretar não pra mim, mas pra Michael.

Levantei o rosto, pra ver o burburinho que vinha da frente da casa de Michael.

Oh não.

Acho que todos os produtores e acessores estavam agora, exatamente lá. Pude ver Bella e Sann também. Na verdade, minha vontade é de correr pra longe daqui nesse exato momento. Mas eu não posso fazer isso.

Brandon estava de costas, e por aviso de algum acessor que eu não sabia o nome se virou, e veio em nossa direção. Ele não olhou pra mim, pelo menos não ainda. Seu olhar era fixo em Michael que ao menos nem o olhava. Estava desolado. Minha vontade era de confortar-lo, mas agora, eu não podia fazer isso. Agora eu estava lhe dando com Michael Jackson, o astro.

– Michael eu nem sei o que dizer primeiro. – A voz dele desafinou pela raiva visível. Ele parou na nossa frente olhando pra Michael.

Michael não levantou a cabeça. É claro que não era pelo que Brandon estava dizendo mas, sim porque... Por que ?

Brandon ficou ao lado de Michael, passando entre nós. Consequentimente, minha mão se separou da de Michael. Eu a recolhi próxima ao meu peito, junto a outra.

– Eu te avisei que ela iria dar problemas. Você sabe o que a mídia está dizendo agora? Você sabe o que seus fãs estão falando ? – Brandon dizia olhando pra mim com a voz e o olhar mais frio que já vi e escutei em toda a minha vida.

– Perai Brandon, se você acha que o Michael é só a fábrica do seu dinheiro, vai mudando de opinião. Você não vê que ele não está bem com tudo isso, e anda quer culpar-lo ? Se você diz olhando pra mim, dirija a palavra a quem você realmente quer falar. – Fechei as mãos nos punhos sem medo algum de Brandon ver isso.

– Que abusada ! Olha aqui garota...

– Brandon ! – Michael gritou. – Vamos parar com isso aqui ? Se você dizer um "ai" sobre Annie eu juro que...

– Michael tudo bem. Agente conversa depois. – O interrompi em relação as pessoas todas que estavam ali na nossa frente. Seria mais uma confusão se escutessem isso.

Enfim chegamos a varanda da casa. Olhei em volta, sendo fuzilada por todos os olhares possíveis. Exceto os acessores mais importantes de Michael.

Michael. Olhei em volta procurando-o, e ele já estava longe de mim. Muitas pessoas falavam com ele, e ao menos se importavam se ele estava molhado, e que primeiro precisava de um banho e comer algo. As vezes eu penso que pra eles, nada importa, além da imagem do seu garoto prodígio. Eu posso estar amargamente enganada, mas me infiltrar nesse mundo, me fez enxergar essas coisas. Talvez eu esteja enganada. Talvez não.

– Annie... – Escutei a voz de Sann.

Levantei a cabeça lentamente. Não queria conversas agora, e muito menos no meio de tanta gente me olhando. Eu era sozinha aqui. Michael não estava mais comigo.

Olhei pra Sann com cuidado pra não deixar escapar as lágrimas que lutavam em aparecer nos meus olhos. Ele me olhava com receio, diferente do garoto que eu tinha conhecido. Bella estava ao seu lado, com um ar de vitória. Não quis olhar pra ela, por mais que soubesse que ela não merecia estar feliz nas minhas costas.

– Oi Sann.

– Nossa, eu...

–Não precisa dizer nada. – Eu o cortei. – Eu sei que vou descobrir logo.

– Sim. – Ele pausou. – Você não tem noção da confusão que estão fazendo com seu nome.

Meu coração gelou. Senti meu corpo se arrepiar de um medo receioso, diferente.

– Com o meu nome ? – Perguntei com as sobrancelhas juntas.

– Sim. – Ele pigarreou e respirou profundamente. – Eu acho melhor você não ver ou ler, seja o que for. Não deixe que isso te coloque pra baixo porque é isso que eles sempre querem.

– Você está se metendo com Michael Jackson querida. – Bella finalmente disse.

Joguei o olhar pro lado, respirando profundamente. Queria me preparar pra olhar nos olhos dela e não dar um tapa naquela cara debochada. Enfim, a olhei com uma careta abusada.

– Acho que não há uma pessoa no mundo que não saiba disso, querida. – Dei um sorriso super falso, me virando em seguida pra Sann.

– Tudo bem, isso vai acabar. Eu vou subir pra tomar um banho, ir pra casa e pensar no que faço. – Comecei a andar em direção a porta da casa, mas Sann segurou meu braço.

– Annie. – Ele me olhou, e afrouxou a mão – Eu acho melhor você ficar aqui em Neverland.

– Sann eu sei me cuidar. – Disse entre os dentes.

– Essa não é a questão ! – Ele falou mais rápido.

– Se não é isso, é o que ?

– Por favor, eu sei que você está com raiva, é seu direito. Mas se lembre que isso não é uma coisa pequena. A gente não sabe o que podem fazer com você depois que passar desse portão sozinha !

– Sann...

– Você vai se machucar. – Ele me interrompeu. – Não só fisicamente.

Não me importei com os olhos fixados em mim e refleti sobre isso. Logo, tirei delicadamente a mão de Sann do meu braço.

– Tudo bem.

– É sério Annie.

– Tudo bem Sann, eu já disse. Eu só vou tomar um banho, não vou embora.

Ele me olhou mais um tempo, como se procurasse nos meus olhos, que aquilo fosse realmente verdade. E abaixou o olhar.

– Fica bem.

– Eu sei. – Disse com a voz disfarçada, pois já estava chorando.

Tenho certeza que Sann não viu isso, mas o resto que ainda me olhava deve ter percebido. Não olhei muito em volta o suficiente pra ver Michael. Na verdade, eu não queria ver-lo agora. Eu precisava ficar sozinha, talvez. Sempre que fico sozinha, eu fico pior. Mas nesse momento, por mais que eu ficasse pior, eu tenho que ficar sozinha.

Empurrei a porta com cuidado, por mais que quisesse jogar-la uns 3 metros á frente.

Aquela empregada estava com uma badeja de toalhas. Ela me olhou, e ofereceu uma toalha.

– Obrigada e, desculpe. – Disse em relação a estar toda molhada e estar molhando o chão todinho.

– Tudo bem. A senhorita precisa de mais alguma coisa ? – Ela disse já se afastando, enquanto eu fazia o mesmo em direção a escada.

Apoiei minha mão no corrimão e me virei pra ela.

– Duas coisas. – Gesticulei com a mão. – Que, se alguém vier me chamar, eu não estou mesmo. Dê qualquer desculpa. E que, por favor, você faça a gentileza de não me chamar de senhorita... – Eu sorri entre lágrimas que alcançavam meus lábios.

Ela sorriu sem mostrar os dentes e eu segui o percurso da escada.

Assim que as subi, me lembrei que eu não fazia idéia de onde era o “meu” quarto. Hoje mais cedo, eu tive a sorte de achar o quarto do Michael, e me lembrar que era do lado do meu. Agora, chorando em silêncio, enquanto sinto meu corpo pesar, não é mesmo uma boa hora pra se lembrar onde é meu quarto.

Ah, que se ferre. Eu tenho muito tempo à frente. Fechei os olhos por alguns instantes, tentando fazer todas as minhas lágrimas pararem de embaçar minha visão. Os abri, olhando pro lado direito. Procurei em cada porta, o quarto em que estava, e depois de 4 portas diferente, achei.

– Eu não sei o que fazer... – Murmurei pra mim mesma. Minha voz era mais um gemido do que um murmuro.

Me guiei até o banheiro com dificuldade. Meu corpo queria cair. Eu não queria pensar no que teria que fazer, mas sabia que isso ia acontecer daqui a pouco.

Tirei minhas roupas devagar, e entrei no banho gelado. Talvez isso me acordasse.

Assim que senti a água em contato com meu corpo nu, não agüentei. Lentamente, me sentei no chão do Box, escutando minha própria voz ecoar. O choro era sim inevitável.

Por mais que tentasse esconder meu rosto entre os joelhos, eu sabia que isso não é o suficiente pra meus soluços sumirem, e minhas lágrimas não se misturarem com á água corrente. Porque eu sei, que a mídia podia estar acabando comigo agora. Eu não tenho medo disso, e sim de outras coisas. Eu posso imaginar perfeitamente o que eles estão dizendo. Tudo que uma garota interesseira podia fazer, eu fiz. É claro que eu não estava interessada em nada que viesse do Michael com essa aproximação, mas como eles não perdoavam nunca, eu não iria escapar. Pois até as coisas normais que você faz, é, e sempre tem uma segunda intenção, uma outra intenção pra eles. E muita gente deve estar acreditando nisso agora, muita gente deve estar pensando que... Oh meu Deus.

Levantei minha cabeça, sentindo a mesma latejar. Sai do Box rapidamente, me enxuguei muito mal e sai com o roupão até o closet correndo. Abri a porta bruscamente, e corri para pilha de roupas que estavam ali por perto. Peguei a primeira que vi, me vestindo rápido. Cambaleante, quase cai enquanto colocava o pequeno macacão jeans, de short com uma blusa de mangas básica por baixo. Sai do closet olhando em volta. Mirei meu olhar na TV, e a liguei rápido indo em direção a cama. Me sentei na ponta dela, olhando a tela. Se formou uma imagem de um programa de TV. Uma mulher, perguntava á uma garota que estava na rua de LA.

“–... Acha que ela está mesmo namorando com Michael Jackson ?”

“– Mas eu tenho certeza ! Essa garota é interesseira. Eu vi como ela pulou com Michael pra dentro do carro naquele dia, com certeza ela quer causar. Desde quando uma fã é apta á tocar com um astro de um dia pro outro ?”

“– Então você acha que Michael está ipnotizado com a garota dos cabelos negros ?”

“– Eu não sei como Michael se deixou levar dessa maneira. Ela está mexendo com a vida dele toda, está tudo fora do lugar. Essa menina devia ser despedida, e afasta...”

Desliguei a TV antes que a quebrasse. Meus olhos já estavam cheios de água o suficiente.

Joguei meu corpo pra trás, pra me deitar. Logo, senti algum papel que fizera barulho, atrás de mim. Peguei o papel, e o estendi pra cima, pra que pudesse ler.