eu não sabia ao certo o que diria ao mau-mau, nem como o perguntaria. eu estava muito confusa. porém, subi as escadas e bati na porta de seu quarto, na terceira batida consecutiva, ele a abriu e me encarrou.

– não vai me convidar para entrar? -pedi.

ele nada disse, apenas se afastou dando espaço para que eu entrasse. então foi o que eu fiz. me sentei sobre sua cama e suspirei.

– preciso falar com você mais uma vez, mau-mau. eu sinto que estamos nos afastando e...

– você quem está se afastando de mim. -ele disse com a voz fria.

– não é bem assim! -debati. - eu já te pedi desculpas pelo o que aconteceu, ora, ninguém é perfeito mau-mau, e aquilo foi só mais um de meus defeitos. eu preciso que você me entenda!

– mari... você já se pôs em meu lugar?

eu o fiquei encarrando e foi ele quem continuou depois de alguns segundos em silêncio.

– você simplesmente me esqueceu! eu fiquei como bobo te procurando, te ligando.. e você estava se divertindo com aquele cara! nem pensou em mim! nem por um segundo!

– você não sabe de toda a história mau-mau. infelizmente quando me lembrei ja era tarde. fiz lucas me levar até a faculdade com a esperança que você ainda estivesse lá. como não estava, voltei para casa... eu não lembrei que meu celular estava no silencioso, então quando vi suas chamadas eu sabia que você estava preocupado.

– tudo bem mari. eu acho que devo parar de me preocupar com você. poxa, eu pareço um... um... eu fico te enchendo todo o tempo, tenho que entender que você tem sua vida e que não precisa me dar satisfação de tudo o que faz ou deixa de fazer.

– não mau-mau! não é assim que deve ser. eu errei e sei disso! só preciso que você me perdoe. eu juro que vou fazer o possível para que não aconteça novamente.

ele se sentou ao meu lado e me abraçou.

– você é muito especial pra mim, mari. eu preciso de você comigo, sinto falta de você quando não está. é injusto a gente ficar brigando, mas tente me entender, você está me deixando em segundo plano, uma coisa que eu jamais faria com você. porém, o que mais me dói, é que você está colocando aquele cara como prioridade em sua vida. faz apenas alguns dias que ele voltou, e a gente está brigando todas as vezes, cada vez mais... a nossa amizade acaba se desgastando com isso!

– eu sei mau-mau. me perdoe! lucas é... - lembrei do que Samira me disse a respeito de mau-mau estar apaixonado por mim. - não importa o que lucas é pra mim. eu vou me dedicar mais a nossa amizade.

– mari... você e lucas....?

– se estamos namorando?

– ... é.

– não mau-mau, não estamos.

– mas está próximo disso não é?

– mau-mau, eu.... não vamos falar sobre isso agora, por favor!

ele revirou os olhos e encarou o chão. senti que ele se decepcionou mais uma vez. poxa, eu estou confusa com a volta de lucas! eu não sei o que quero. é difícil para mim.

–mau-mau. - o chamei. então ele voltou a me olhar. - tem mais algo que queira me dizer ou confessar? ... algo que você queira contar mais não tem coragem?

ele fez cara de confuso. eu não sabia o que dizer, e tinha medo de falar sobre ele estar apaixonado por mim, sei lá vai que era somente uma opinião de Samira, vai que não fosse verdade, eu pagaria como uma tonta!

– tipo o quê? -ele pediu.

eu peguei a sua mão, ele estava gelado. eu senti que aquele não era o momento certo, então nada disse sobre aquilo.

– nada! esquece. só achei que você teria mais alguma reclamação a fazer ou algo assim...

– você não quer falar sobre lucas não é? ... se está apaixonada por ele. se pensa em voltar a namorá-lo.

– eu... eu não quero falar sobre isso. ainda é cedo para mim, e eu tenho medo de te magoar com o que posso dizer...

– então você pode dizer que gosta dele ainda.

– isso te magoaria não é? -perguntei.

– muito. mas eu já estou me acostumando com a ideia. eu sei mari, eu sei que você gosta dele. eu não posso te impedir disso! mas sinceramente, eu jamais vou apoiar isso.

– lucas ainda mexe comigo. -disse por fim.

mau-mau respirou fundo e levantou-se da cama. eu permaneci em silêncio enquanto ele andava de um lado para o outro.

– a história de vocês ainda não acabou. -ele suspirou. - tudo bem, eu entendo.

– mau-mau... -senti que ele estava triste. - eu .... eu sempre gostei muito dele. ele foi meu primeiro namorado, foi o meu primeiro amor. a nossa história foi interrompida pela metade, não teve um fim. a gente não quis se separar...

– então agora vocês podem ficar juntos de novo! -ele me interrompeu.- mari , você não precisa dizer mais nada. ora, quem sou eu para te impedir de voltar com ele! se é isso que você quer... vá em frente!

– mau-mau, eu sei que você não quer isso, eu sei que te magoa me ver com ele.

– me magoa mais ainda ver você me deixando para trás. pode ter certeza.

eu levantei-me e o abracei.

–você jamais será deixado para trás, você sempre estará comigo! -sussurrei.

– eu espero que isso seja verdade. -ele respondeu.

eu sorri e beijei seu rosto.

meu objetivo era tirar aquela história à limpo. porém, me faltou coragem. então, eu preferi deixar aquele assunto para depois. não queria estragar nosso momento.

– não o beije na minha frente. -ele pediu.

– seu bobo ! -sorri e voltei a beijar seu rosto.

ficamos um bom tempo ali no meio do quarto abraçados. e era tão bom! fazer as pazes com mau-mau me deixava em paz comigo mesma. era como se ele fosse uma parte de mim! sem ele, eu não estava completa.

– você vai dormir comigo esta noite? -ele perguntou de repente.

eu encarrei seus olhos sorrindo.

– pois é. o escuro ainda me deixa apavorada. e por incrível que pareça, meu medo some quando estou com você. é como se o escuro me desse uma trégua.

ele sorriu feito bobo. eu amava aquele sorriso! o sorriso que eu via a anos.

– minha cama ainda está disponível para você. - ele falou em meu ouvido.

– ainda? - eu ri. - por quanto tempo?

– isso é você quem decide.

então, algo inusitado aconteceu. em todos aqueles anos de amizade, nossos lábios nunca haviam ficado tão próximos. eu sentia a sua respiração, e nossos narizes estavam encostados como nunca! eu sentia seu hálito fresco com cheiro de creme dental, o qual eu usava o mesmo.

nossa proximidade causou calafrios e arrepios em meu corpo.

eu suava frio, e podia sentir mau-mau respirar meu cheiro com cara de quem gostava dele. de repente, pude perceber os olhos de mau-mau se fecharem. então ele deslocou sua boca até meu pescoço e o beijou. em seguida, ele se afastou. o que me deixou envergonhada.

– vá pegar suas coisas. -ele disse por fim. - eu vou arrumar a cama para que possamos dormir.

eu não pude dizer nada, estava feito tonta. então sai de seu quarto e fui até o banheiro. me encarei no espelho e tentei entender o que havia acontecido a segundos atrás. fiquei pensativa por algum tempo, então molhei meu rosto com água gelada. passei a mão sobre meus cabelos, e me enxuguei na toalha branca do banheiro.

eu e mau-mau sempre nos abraçávamos, nos mordíamos, nos acariciávamos.... porém, a gente nunca teve um momento como aquele. em que nossas respirações se fundiram e eu senti uma enorme vontade de beijá-lo.

sim! eu tive vontade de beijar seus lábios. eu não estava me reconhecendo mais. algo estava acontecendo comigo, e eu queria entender.

será que mau-mau também quis me beijar? eu senti uma enorme raiva dele quando se afastou de mim, queria que ele tivesse me beijado. por que não o fez?

eu estava enlouquecendo. tinha medo de voltar aquele quarto. me sentia envergonhada, e estava com medo de que a gente voltasse a ficar tão próximos. pois eu não podia garantir que me seguraria se chegássemos aquela situação de antes novamente.

havia algo errado comigo. eu tive vontade de beijar meu melhor amigo!

e tenho que confessar, eu ainda sentia essa vontade...