Sentei-me bruscamente na cama olhando para a parede de meu quarto.

– Jack Frost! É ele antes de se transformar! O garoto que Jack amava... Era... Era... Eu...

Trrrin! Trrrin!

Alarme idiota.

XxX

Desliguei meu celular e no instante seguinte comecei a procurar Jack pelo quarto com o olhar.

– Jack?

Jack sempre aparecia nos momentos mais inconvenientes, como quando eu estava confuso acordando pela manha ou quando estava exausto precisando dormir. Mas, agora que aguardava sua presença e realmente precisava dele, Jack não aparecia.

Talvez eu pudesse chama-lo na janela outra vez? Tive sorte que nos últimos dias ao tentar chama-lo não havia ninguém andando na rua para me mandar calar a boca. Além disto, era noite em uma cidade pequena, ou seja, ninguém estava na rua.

Preciso falar com Jack, preciso contar sobre este seu outro amor, que, afinal, era eu... Ou minha outra encarnação? Err, será difícil contar a ele algo tão bizarro assim que se quer eu entendo direito. Nossa, queria que pelo menos uma vez eu tivesse certeza sobre algo que diria a Jack! Bom, se Papai Noel realmente entregou os meus presentes e Jack Frost fez nevar em meu quarto, isso não é tão estranho e difícil de entender assim.

Arrumei-me rápido e sentei em uma cadeira a frente da janela, então, esperei. Esperei olhando para o céu e para a neve aguardando que Jack aparecesse enquanto eu brincava ansiosamente com a manga de meu blusão. Mas nada aconteceu.

– Hiccup! O que esta fazendo?! Estamos atrasados!

Ouvi Cabeça-Quente gritar a frente de minha casa, suspirei e arrastei-me até minha mochila, peguei uma maçã e fui cumprimentar meus amigos que não paravam de reclamar.

Reclamar. Astrid.

Olhei para todos os rostos de meu grupo, um, dois, três...

– Onde esta Astrid?

– Sei lá, ela decidiu que queria ir sozinha.

– Por que...?

– É Astrid cara, não tem como entender.

Falaram os gêmeos rindo debochados começando a andar. Os segui tentando entender o que podia ter acontecido com Astrid.

Não conseguia concentrar-me na aula. Relembrava todos os sonhos relacionados a Jack que tive e cada vez tornavam-se mais claros em minha mente. Lembrei-me de como o conheci e o quão constrangedor fora, lembrei também de quando meu pai o encontrou pela primeira vez, lembrei de como a mãe de Jack era gentil, e, principalmente, lembrei de como Jack me salvara e no segundo seguinte morrera em minha frente.

– Hiccup?

– Hm?

– Esta me ouvindo?

– Hã?

– Hiccup!

– Ah, desculpe... O que você disse mesmo?

Perguntei desinteressado brincando com o canudo de meu suco.

– O que você tem, hein? Tanto faz, perguntei se você e Astrid brigaram. Faz pelo menos dez minutos que ela esta fuzilando você.

– Esta?

Perguntei procurando o olhar ameaçador de Astrid pelo refeitório. Assim que a localizei virou seu nariz empinado para o outro lado fingindo que ouvia a conversa de suas amigas.

– Vocês brigaram, não é?

– Não... Não que eu me lembre. Sei lá, eu falo com ela no fim da aula.

– Portanto, se trinta e quatro é o X do quarto cálculo, é obvio que o resultado do terceiro cálculo esta errado. Vamos pessoal, vocês viram isto no ano passado.

Trrrrrrrin!

Ah finalmente!

Apenas atirei meus cadernos e meu estojo na mochila então sai o mais rápido possível da sala de aula. Enquanto saia da escola já contava os minutos que levaria para chegar em casa, até que lembrei de um detalhe loiro que tinha que cuidar.

– Hiccup!

Olhei para trás procurando quem chamara meu nome.

– Astrid?

– Hey...

Ela começou a andar até mim, não parecendo muito animada com este fato.

Que droga, eu devia ter a procurado!

– Eu estava mesmo pensando em procurar você.

– Hmrum, parecia.

Olhei para o lado desconfortável.

Não podia contra dizê-la, nem ficar insultado com sua expressão de desprezo ao olhar-me. Eu realmente esqueci-me dela e ainda por cima nem pensara no que iria dizer-lhe quando a encontrasse.

Lembro-me claramente do que Jack falara ‘’ Você vai continuar com aquela garota estupida! ‘’ , ‘’ Pela segunda vez, vai encontrar outra pessoa, por que você não precisa de mim!’’. Precisava terminar com Astrid, afinal, queria que Jack percebesse o quão importante ele é para mim, e, principalmente, que nunca o trocaria. Ter outra pessoa não seria a maior prova disto.

– Vem, não quero falar aqui.

Disse Astrid começando a andar em direção aos fundos da escola, o que me assustou um pouco. Nunca podemos saber o que Astrid vai fazer. É claro que às vezes isso é bom, afinal isto foi algo que me chamou atenção nela. No entanto, outras vezes isso também pode seguinificar problema.

A segui até os fundos do prédio antigo, observando sua trança loira dançar sob suas costas enquanto andava a minha frente. Já não havia mais ninguém além de nós na escola, aos menos nos fundos, o que não era uma surpresa. Astrid parou de andar quando já não podíamos mais avistar a frente do colégio.

– Então... Por que todo este mistério?

Ela pareceu pensar por um instante sobre o que iria dizer, então se virou para mim.

– Hiccup, você esta me traindo com alguém?

– Q-que?

Gaguejei sem conseguir processar o que ela havia perguntado.

– Você ouviu. Esta me traindo com alguém?

– Eu...

Ela viu Jack?

Não poderia ter visto.

Astrid é a ultima pessoa que teria a capacidade de acreditar em Jack. Astrid é cabeça dura demais, sem falar que é completamente cética.

– Ótimo, isto já serve de resposta.

Falou passando por mim andando em direção à frente do colégio.

– Astrid...

– Terminamos Hiccup.

Fiquei sem reação por alguns minutos ouvindo o som dos balanços movendo-se com o vento enquanto a observava ir.

Eu ia mesmo terminar com Astrid. Afinal, não sinto mais nada por ela. Nem sei se senti alguma vez. Mesmo assim, para uma parte de mim fora um pouco duro ouvi-la dizer isto. Ao mesmo tempo, outra parte de mim se sentiu aliviada e... Um pouco feliz...? Isto soa tão bizarro. Quem fica feliz por levar um pé na bunda? Mas acho que estava feliz, afinal, agora eu estava reservado apenas a Jack. Agora não haveria nenhuma barreira entre nós. Queria contar logo a ele, queria contar sobre o que sonhara, queria contar a ele que o amava mais que tudo naquela época. Queria contar que não havia mais nada entre mim e Astrid, queria contar que agora erámos apenas eu e ele.

Acho que enquanto andava estava sorrindo para o nada.

Quando cheguei, meus pais não estavam em casa como de costume. Subi as escadas e abri meu quarto lentamente, com alguma esperança de ver Jack. E, outra vez, ele não estava lá.

Arremessei minha mochila na escrivaninha e sentei na mesma cadeira em frente à janela que sentara no inicio de minha manhã.

Desta vez, esperei Jack por um longo tempo, nem sei quantas horas fiquei sentado em frente à janela, às vezes desenhando, às vezes fazendo meus deveres, às vezes apenas encarando o céu e ás vezes escutando a discussão do casal ao lado de minha casa.

– Jack, onde você se meteu?

Resmunguei olhando para a neve.

Jack passara os últimos dias visitando-me, por que não aparecia agora? Será que... Algo aconteceu com ele? Meu peito apertou-se só de imagina-lo em perigo. Não, não pode ser isto. Ele pode estar doente? Pode ter pegado um resfriado afinal esta muito frio e... Nossa, eu sou uma anta.

Talvez ele apenas tenha mudado de estado ou país para levar a neve, nós já estamos no fim do inverno? Desta vez, eu fiquei irritado. Não pode ser isto! Jack não pode ter ido embora sem me avisar!

– Hiccup! Venha jantar!

Jantei e passei mais horas em espera.

– Ah dane-se!

Empurrei a cadeira dando-me por vencido completamente irritado com a ausência de Jack. Vesti meu pijama e confortei-me abaixo dos cobertores. Admito que espiei algumas vezes a janela, com a esperança de ver Jack . Claro que novamente ele não apareceu o que me fez ficar mais irritado.

– Não importa, eu não ligo, não preciso dele.

Falei irritado virando para a parede tapando-me até a cabeça. Respirei fundo e concentrei-me em esquecer Jack, fechei meus olhos e relaxei aos poucos sendo levado aos sonhos...

– Oi Hiccup!

– AHHHHHHHHH!