A Última Lágrima. escrita por Pedro C


Capítulo 3
Recomeço.




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'' Embora ninguém possa voltar atrás e fazer um novo começo, qualquer um pode começar agora e fazer um novo fim. ''

Chico Xavier.

§§

O barulho da chuva, tocando o telhado, foi bom para me distrair. Ficar sozinha, sem pensar em nada, não era bom. Terminei de encaixotar a última caixa de meu quarto. Desci as escadas, já sentido o calor entrar e fui silenciosamente para o quarto de minha mãe. Ela não estava no cômodo e só o que vi era uma caixa aberta, com algumas roupas coloridas sobre o piso de carpete, e uma foto.

Junto na foto comigo estava meu pai e minha em um verão ensolarado enquanto rolávamos na grama, aproveitando a casa nova.

Corri até o banheiro e minha mãe molhava o rosto com a água, sua face estava triste, vazia, suas rugas de expressão caídas, seu cabelo ruivo com cachos mal definidos e ressecados. Ela respirou fundo, quando me viu.

— Ah, você está ai. — Atrapalhou-se e tentou sorrir forçadamente. — Terminou o seu quarto?

— Terminei. Mãe, eu sei que isso não está sendo fácil para nenhuma de nos. – Enruguei o lábio enquanto engolia em seco. — Mas será bom para nós duas uma casa menor em um lugar menor, vamos seguir em frente. Ou pelo menos, tentar seguir em frente.

Afastei-me de minha mãe e terminei de encaixotar algumas coisas da sala. Escolhemos uma cidade pequena no sul da Inglaterra, Forks. Queríamos um lugar calmo, tranquilo e bom de viver. Lá a chuva reina.

De Phoenix até Forks são 3 horas de voo nada tranquilo, cheio de turbulências, graças ao tempo úmido. Durante toda a viagem minha mãe ficou ‘‘acordada’’, flutuando em seus pensamentos secretos. Eu observava tudo pela janela, era tão pequeno, éramos frágeis lá do auto, então adormeci. Adormeci lentamente, tentando lutar contra o sono, até que não resisti.

[...]

— Filha. — Uma mão quente acariciava levemente meus cabelos. Abri os olhos lentamente e ela sorriu. — Já chegamos.

A chuva gélida nos recebeu, tentei sorrir e mostrar animação; mas falhei. Então me concentrei em tentar ficar feliz, passamos por todos os processos normais no aeroporto e pegamos um táxi para á casa que minha mãe comprará com o dinheiro que sobrou depois de quitar as dívidas que meu pai deixará.

Fui à janela do táxi, observando tudo por onde passávamos, ás arvores molhadas com os troncos cobertos de musgo, o verde forte em suas folhas e a grama encharcada. As pessoas passavam por mim e me encaravam como se eu não fizesse parte daquilo, infelizmente eu sabia que elas estavam certas.

O táxi parou pausadamente, tentei relembrar o caminho quando avistei uma velha, porém, aconchegante casa. A casa era estranhamente bonita, recém-pintada de branco, o teto molhado em forma V de cabeça para baixo, uma janela com detalhes de madeira e vidro sujo a esquerda; ao seu lado, também na esquerda, uma grande porta de madeira com a aparência de garagem com espaço para dois carros.

No centro, a porta de entrada de madeira continha cheiro de madeira molhada e outra janela do mesmo jeito, à direita. Em cima, mais próximo do telhado, duas janelas do mesmo jeito, porém, menos conservadas, era o segundo andar.

Tínhamos vizinhos com as casas quase do mesmo estado, mas a nossa frente encontrava-se uma mata verde e fria. Até aonde consegui ver ela estava mal cercada por arame de aço fino, quatro dos mesmos, como se fosse impedir alguém de transitar por ali.

A cidade era toda rodeada e guardada pela mata, algo estranho. O aroma ali era de árvores molhadas e o interior da floresta era escuro. O que me deixou receosa, mas consegui disfarçar bem.

— É aconchegante. — Afirmou minha mãe.

— É sim. — Sorri. Peguei minha única mala, já que a maior parte das minhas roupas era de calor, e minha mãe abriu a porta, que respondeu com um rangido fino e irritante.

A primeira visão que tive foi de uma sala com porta para outro cômodo, que era a cozinha, e uma escada de madeira que dava entrada para o segundo andar. No final da escada, no lado direito do único cômodo do lado, dava para ver um pouco do banheiro de piso branco. O cheiro era de umidade e poeira, abri a janela para o ar gélido entrar.

— Vou pegar o quarto maior enquanto você fica abrindo as janelas. — Suspirou minha mãe, ironizando.

Eu soltei um risinho bobo a vendo subir as escadas como uma irmã iria fazer comigo no primeiro dia de casa nova. Não estava nem aí para o quarto maior ou algo do tipo, só queria ver minha mãe feliz. Subi as escadas rapidamente, com certo medo de sair rolando, e a segui. Era um longo corredor de carpete, um corredor frio e silencioso.

O único barulho que ouvirá era dos pés da minha mãe andando sobre o cômodo. No corredor tinha três quartos: um seria de minha mãe, outro meu e outro para, caso algum dia, alguma visita. Meu quarto era grande, espaçoso e frio. O carpete estava brilhoso, apesar do clima, e limpo.

Fui até a janela e a abri sem nenhuma dificuldade, fiquei com a janela esquerda. A vista era estranha, o verde intenso das árvores, as nuvens acinzentadas, e o sol, longe, lá no horizonte tentando ganhar seu espaço no seu horário. Deu-me certo medo e receio, então, deixei a janela aberta para circular o ar e fui analisar todos os cômodos.

[...]

O restante do dia foi entediante. Nossas coisas chegaram, foram montadas e colocadas nos seus devidos lugares. Minha mãe terminou de resolver alguns papéis sobre o novo emprego e minha nova escola. Quando ela disse que eu começaria a estudar no dia seguinte me calei, nunca fui muito boa para me enturmar.

— Eu estou exausta. — Suspirou minha mãe, olhando o resultado da sala. Até abriu um sorriso, mas assim que olhou do lado de fora da janela fechou a cara discretamente.

— Eu vou dormir. Boa noite mãe, qualquer coisa estarei uma parede separada de você. — Sorri, cansada.

Tomei um banho quente para relaxar, coloquei o roupão enquanto desembaraçava meus cabelos e me deitei. Lembrei-me das noites da casa antiga, lá estaria morrendo de calor, mas aqui precisei de um cobertor á mais. Fitei o teto, a garoa começou a ficar mais espessa e barulhenta.

Lembrei-me de meu pai, de tudo que larguei. De tudo que perdi.

[...]

Abri meus olhos e tudo o que vi foram minhas coisas desarrumadas, chovia levemente e o frio estava mais intenso. Tratei de colocar roupas quentes e desci a escada, que rangeu.

— Bom dia. — Balbuciei.

— Bom dia, querida. Como passou á noite? — Indagou minha mãe, revirando sua bolsa. Sua face estava visivelmente maquiada e seus cabelos levemente molhado, formando seus cachos.

— Foi ótima. E aí, está conseguindo se acostumar com o tempo? — Indaguei enquanto abria um sorriso.

— Sim, hoje termino de resolver seus papeis na escola. — Afirmou enquanto pegava sua bolsa preta e arrumava seu casaco de cor marrom que ia até o joelho, deixando ela mais alta. — Acredita que só tem uma escola para toda essa cidade? Deve ser legal estudar em um lugar assim.

Levantei uma sobrancelha assustada, mas mordi o lábio para segurar a surpresa. — É, vai ser muito legal.

— Preciso ir, me deseje sorte. — Ela sorriu e abriu a porta. O vento gélido a surpreendeu, ela suspirou e voltou a sorrir.

— Até mais. — Disse. — O emprego já é seu! Eu sorri e fechava a porta lentamente, ela dava ré e saia da garagem com aquele carro enquanto mantinha seu sorriso. Suspirei, poderia desfazer a face feliz.

[...]

Arrumei meu quarto do jeito que me agradará, então fiquei sem nada para fazer. Não tinha amigos, ainda na nova cidade. Não tinha livros para ler. Então, decidi sair.

Desci do ônibus e olhei a fachada do cemitério, foi fácil achar um ônibus que fizesse o percurso que eu queria. Suspirei. Sentia-me cheia, com algo na garganta, querendo gritar e chorar. Comecei a seguir o corredor de pedras molhada até chegar a um canto do cemitério aonde tinha árvores, sentei-me na grama úmida, sem me importar com a calça jeans, e fitei o céu que brotava alguns raios de sol.

— Oi pai... Como você está? Eu não sei se está bem e onde está, mas ai é bom? Aqui está tudo péssimo. Mamãe está tentando disfarçar sua dor e sua tristeza com um sorriso, eu sei que ela quer parecer mais forte e transmitir isso para mim, mas é tão bom ver ela com um sorriso, mesmo que seja forçado, que... — As lagrimas começaram a brotar repetidas vezes, seguidas de outras, tentava limpa-las com a costa da mão. — Sabe pai, se eu pudesse eu viajava para meu próprio mundo, assim como você fez por meses até morrer. Mas, tem a mamãe, eu não posso...

Desabafei durante algum tempo e depois fiquei fitando o nada. Quando alguns trovões e raios começaram a se sobressair das nuvens escuras me levantei e esperei o próximo ônibus.

[...]

Quando cheguei ao ponto de ônibus, que ficava perto da minha casa, o tempo tinha melhorado. Ainda frio e úmido, como é de costume, mas não chovia. Tentei ser rápida para chegar antes de minha mãe, não queria ter que inventar uma desculpa para dizer onde eu estava. Nunca fui muito boa em mentir.

Quando estava me aproximando, encolhida por causa do frio, vi um carro preto parado perto de minha casa. Comecei a andar mais rápido, quem poderia ser? Não conhecíamos ninguém na cidade. A chuva começou a cair mais gélida. Quando me aproximei do carro vi que alguém estava em casa, a luz amarelada estava iluminando toda a sala. Aproximei-me calmamente, controlando minha respiração.

Mal tinha mudado e já estávamos sendo roubadas? Procurei algo que poderia usar contra a pessoa no gramado da frente e achei um pedaço de madeira, peguei e senti sua umidade molhar minha luva.

E, abri a porta.


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Notas finais do capítulo

Olá. Bella vai enfrentar um bandido '-'?
Eu tentei fazer com que esse capítulo ficasse legal, mas, é o capítulo de recomeço então é mais chatinho...
Espero que estejam gostando. Obrigado pelos comentários e comentem :)
Até logo.