–Ah meninas, vocês não irão acreditar!- falo entrando em meu quarto. Como sempre: arrumado como se eu fosse da realeza.

A cada dia estava mais habituada aquele cômodo. Suas paredes cinza e branca não eram mais uma combinação que me parecia chique demais para uma garota como eu. Aqueles móveis que antes pensava que se eu os tocasse com minhas mãos, os sujaria; agora não eram mais intocáveis. Bem, a cada dia estava me tornando mais uma dama de companhia. A cada dia mais italiana.

Algumas vezes me pego pensando como sou uma traidora em relação a minha origem. Mas sempre continuarei uma cidadã de Illéa, querendo ou não. Porém, o quê somos não pode ser separado de onde nós viemos. Sempre levarei comigo os costumes da terra em que nasci. Existem costumes ruins, a maioria implantado pelos governantes do país, e aqueles que veem de gerações em gerações desde que ainda existia o grandioso Estados Unidos. E são esses os costumes que quero transmitir aos italianos. O senso de nunca estarmos derrotados. E se eu tiver que ir para a França para fazer com que nós possamos ajudar o povo de Illéa a retornar a esse costume; eu irei.

Mas vamos confessar: não será um grande esforço. Um dos meus grandes sonhos era conhecer aquela grande torre que fica na capital de lá. Como é que se chama? Torre Fell, não, Torre Eiffel. Tão linda por fotos, imagina ao vivo? E todos aqueles museus? Tanto a ser visto e aprendido...

– Já estamos preparando as malas, senhorita.- Flora fala.

–Nossa que rapidez, o comunicado já chegou?

– Há algum tempo, senhorita.– Flora se dirige a mim com um espanador e uma das mãos e na outra com um bilhete direcionado a mim. Demorei tanto com a Victor, assim?

– Meninas, sabem onde Theo está? – pergunto depositando o bilhete na mesinha de centro.

– Não sei, senhorita. Mas acho que Lea deve saber.– Fala ela e logo chama Lea que está arrumando o banheiro. –Lea, onde está o Theo?

–No quarto, acho. Hoje é o dia de folga dele. – escuto a voz de Lea por entre o barulho da limpeza.

Vou até minha mesa de escritório e escrevo um rápido bilhete para ele, falando que estava partindo de viagem e gostaria que ele fosse. Afinal, ele era o único que eu havia falado direito dos meus guardas. E por tirá-lo de seu tempo livre, escrevo que irei liberá-lo quando chegarmos após a viagem.

–Flora, poderia entregar esse bilhete para ele, por favor?– pergunto estendendo em sua direção um pequeno papel com meu nome assinado.

– Claro, senho...– ela estende a mão para pegá-lo, mas logo Lea chega em disparada.

– Eu posso levar, senhorita. – fala ela pegando o bilhete enquanto se arrumava. Seu avental estava amarrotado e seus cabelos curtos estavam cobrindo seus olhos mel.

– Pode ser.– falo. Alegre ela parte em direção da porta arrumando o cabelo que a estava irritando. Logo que ouço som da porta se fechando, me viro para Flora que está com uma expressão irritada:

– O quê há entre os dois?

– Senhorita, eles só discutem, só discutem...– fala ela enquanto ia para perto de minha cama, onde havia uma mala aberta. Creio que o assunto deu por terminado. Mas o quê será que há entre aqueles dois?

– Eai Flora, o quê teremos para vestir nessa viagem?– falo chegando de mansinho, enquanto ela tirava do armário e colocava na mala algumas peças. Tive um vislumbre de algo brilhoso, porém não deu tempo de ver do que realmente se tratava.

– Bem, o clima de lá é um pouco mais quente do que aqui, portanto, teremos manga curta ou sem manga. – fala ela rindo do jeito que estava falando, como se fosse um garçom.

– Interessante. E para hoje?– falo encarando as roupa e depois ela.

– Temos esse esplêndido, maravilhoso, magnífico modelito Graciel Nichelatti em parceria com Greta Vaz.

–São aqueles...

– Apresentadores da TV? Simm. Senhorita, você acredita que esse modelo foi feito para você? Eles deram como presente de boas-vindas para dama de companhia. Graicel é o melhor estilista de todo reino da Itália e Greta é A diva.– fala ela elétrica. Realmente, Flora ama moda.

– Mas que honra. – falo olhando para o vestido tomara que caia de um tom verde claro com o busto justo e saia solta. Extremamente lindo.– Nenhuma calça, ou shorts ou até mesmo uma saia curta?– pergunto com uma cara de cachorro que caiu da mudança.

– Senhorita, ninguém lhe proíbe de usar, porém é mais adequado usar no tempo livre.

–Se eu tivesse um...– penso alta.–Mas entendo, Flora. Alguma de vocês irá comigo?– pergunto.

– Infelizmente não, senhorita. Mas terá com certeza alguma criada a sua disposição lá.

–Na próxima vez irei levá-la.

–Seria uma honra. França deve ser um paraíso. – fala ela, olhando pela janela.

– Contarei quando voltar, Flora.- olho na direção onde ela estava olhando.

Lá fora está um dia ensolarado e as cores do jardim se destacam entre todo aquele verde da grama e do bosque. Mal havia chegado a esse país e já partia para outro. Quando iria imaginar isso? Uma menina casta 5 viajando pelo mundo? Realmente inacreditável. Quem me dera proporcionar isso a minha família. Mas eles não querem abandonar Illéa. Eu disse para eles o quê iria se passar por lá, eles entenderam minha parte, porém ficaram tristes por o quê o povo terá que passar. Consegui convencê-los a deixar-me mandar dinheiro extra, mas depois de muita discussão por telefone. E é assim que está meu contato com meus pais, por telefone e cartas, sinto tantas saudades deles. E minha sobrinha que está para nascer? Não sei se poderei vê-la tão cedo...

Vestido: http://i1336.photobucket.com/albums/o660/lugoldling/88dbbfe5-495f-4092-a275-168d8348ae3d_zpsa52e9120.jpg

***

–Meu cabelo!!– escuto Orabella resmungar. Todo mundo estava segurando alguma coisa, a Noemi segurava seus brincos, eu segurava meu vestido para não levantar, Victor seu terno, porém Nicoletta nada, mas para quê? Lorenzo estava cobrindo ela, ele bloqueando o vento que vinha do leste. Todos estamos, lado a lado, de frente ao palácio de Paris, quase tão magnífico quanto o italiano. Os reis, Melissa e Ottavio estavam um tanto afastados mais próximos a uma fonte no centro do jardim, já os mais jovens estavam perto da comitiva de carros, todos ainda com as portas abertas, afinal tínhamos acabado de sair deles.

A viagem foi extremamente tranquila, sem contar algumas pequenas discussões de Nicoletta com Lorenzo (que não fazia nada) e Victor atormentando a Noemi, Orabella e a mim o caminho todo. Agora estamos esperando a família real aparecer, o certo seria eles nos esperarem aqui fora e evitar que tomássemos esse vento, apesar disso, ainda faz um pouco de sol, mas há certas nuvens suspeitas no céu. Com certeza Flora não seria uma boa moça do tempo.

– Não quero dar uma de metida, mas que desagradável da parte deles nos deixar em tal situação. – Fala Noemi, ainda segurando seus brincos para não caírem.

–Noemi, não estamos esperando a nem 5 minutos.– fala Nicoletta calmamente.

– É fácil falar quando você está sendo protegida por alguém desse vento.– reclama Orabella. Isso faz com que Nic fique vermelha e Lorenzo a puxe para um abraço, não sei se para provocar ou porque não queria que ela passasse frio.– Está decretado: eu quero um namorado.– fala ela se derretendo com a imagem.

–Ei. Não somos...– Nicoletta começa a falar, mas percebe que Bella não estava ligando.

– Eu também.–Noemi fala. E as duas olham para mim que dou de ombros:

– Estou cheia do sexo oposto por um longo tempo...– rio e os outros me acompanham.

– Duvido.– Lorenzo fala.

– Não duvide, Lorezo.- falo. No começo, ao falar nesse tal assunto me fazia mal, porque na hora surgia a imagem de Maxon em minha cabeça,no entanto, agora sinto feliz de ter me distanciado de tudo aquilo. Agora sei o quê é viver.

De repente, sinto alguém me puxando para o lado, logo percebo que é Victor, me colocando a sua frente. Ainda voltada para o palácio, vejo os portões se abrindo e a rainha e o rei surgindo junto com seus guardas que logo se encontram com os nossos, incluindo Theo. Não vejo nenhuma menina, então Daphne não deve vir. Mas que pena, queria tanto ver o que iria acontecer entre ela e o cavalheiro atrás de mim.

–Oh Victor, meu querido. Creio que hoje você não irá precisar de uma guarda-costas novo. – falo virando-me, ficando cara a cara com ele.

– Apenas a estava testando. – ele fala, mas por sua cara, sei que aquilo não é verdade. É engraçado, um homem daquele tamanho precisando de mim para protegê-lo de uma garota maluca. Ele já devia estar acostumada a ser um imã para esse tipo de garota.

–Claro.– falo dando um tapinha em seu peito. E: ai. Que duro.

Saio de sua frente e volto a ficar ao seu lado. O rei Damon e a rainha Anna trocam algumas palavras com nós, mas rapidamente vão dar boas vindas a Giuseppe e Giorgia. Até aquele momento Victor ficou tenso ao meu lado, talvez esperando a tal bomba Daphne, mas logo percebeu que ela não viria.

Começo a conversar com Nicoletta sobre os pontos turísticos da França.

–Poderemos visitar apenas um, você terá que escolher America. Sei que é difícil, mas logo voltaremos.

–Por mim não tão cedo, Nic.– Victor fala rapidamente, tirando o cabelo de cima dos olhos. Seu terno azul com detalhes pretos destacando seus cabelos com dos detalhes do mesmo.

E é ai que avisto um lampejo loiro vindo do palácio em... nossa direção. Pelo o que eu sei, Daphne é loira.

–Ai meu deus.– Nicoletta fala e logo é seguida por Orabella e Noemi. Lorenzo está ocupado conversando com Victor.

Ela está realmente correndo com um vestido daqueles? Inclino a cabeça um pouco para o lado para saber se eu estava vendo certo. E eu estava, e ela estava chegando e estava vindo em minha direção. Não ela está um pouquinho mais para direita.

Rapidamente me coloco de frente a Victor que está rindo com Lorenzo, mas instantaneamente me percebe e olha em minha direção.

–Oi.

–Oi.– falo.

– Tudo bom?

–Tudo e você?– pergunto.

– Sim. Mas eai, mudou de ideia?

– Absolutamente não. – falo me referindo a pausa para qualquer relacionamento amoroso.

– Mas então, me diga por que está aqui?

– Queria olhar para os carros novamente. Bonitos, né?- falo apontando para além dele com o queixo e ele se vira para trás para olhar para os carros.

– Sim, realmente são.

– Tenho muito bom gosto. – admito.

– Com certeza. Mas creio que existem príncipes muito mais gatos do que aquele.

– Sério? Cadê?– ele eu começamos a rir e Lorenzo que estava só observando nossa conversa, não entendeu nada.

– Eu poderia saber do que estão rindo?– e ao escutar uma voz doce e com sotaque carregado, me aproximo de Victor que logo me vira, agora eu ficando cara a cara, ok, peito e cara com a princesa francesa, que no momento me encarava com voracidade.

– Vossa Alteza.–faço uma pequena reverência.– O príncipe apenas contou uma piada. Gostaria de ouvi-la?– falo olhando para baixo.

– Não perco meu tempo com bobagens, garota.–fala. Eu estremeço na hora. Isso me faz lembrar do rei Clarckson. Vejo que todos ficam incomodados com a fala e logo Nicoletta se pronuncia:

–Daphne , querida. Gostaria de apresentar a minha dama de companhia, America Singer.

– Oh sabia que já havia visto esses cabelos ruivos.– ela fala. Desconfortável? Não, magina. Eu nem gostaria de estar no outro lado do mundo, ou até mesmo em outro planeta. – A queridinha de Maxon.– Fala ela com uma cara de desprezo ao pronunciar o nome dele. Ai tem coisa.

– Isso foi há algum tempo, Daphne. Agora ela não é nada dele.- Victor fala.

– Um mês é muito pouco para esquecer um grande amor. –ela fala.

– Não me lembro de ter colocado minha vida pessoal na mesa de debate, Vossa majestade. Prefiro não falar sobre tal assunto, se a senhorita me permite.

– Sim, claro.– Dá ela de ombros e se volta para Nicoletta e os resto, mas não antes de lançar um olhar em direção de Victor. Ele logo me puxa para o lado, pedindo licença para todos.

–Nossa. Menina estranha.- falo.

– Estranha? Maluca, isso sim. Mas você conseguiu responder a altura.

– Obrigado. Não entendo, não fiz nada para ela. – ele dá um suspiro e começa a falar:

–America, não poderá ser ingênua assim por tanto tempo.

–Eu não sou. Apenas não entendo o por que dela ser tão rude assim. – falo.– Além do motivo dela ser louca.

– Viu? Eu te disse isso ontem! E a senhorita não acreditou em minha palavras – fala ele em um tom dramático e solto uma risada.

–Realmente, você estava certo. Mas, mesmo assim, para convencer a França cooperar, preciso conquistar a filha deles. Me sinto tão...

– Desapontada? Incapaz?– e eu concordo. – Sei bem o quê é isso. Mas temos sempre que lutar pelo o quê queremos, Mesmo que estejam além de nossos limites. - Eu sorrio. Ele pensa exatamente como eu.

–Nunca podemos nos dar como derrotados. – complemento.

– Nunca.

***

–Estou quase dormindo em pé. – Orabella confessa.

Tínhamos acabado de sair da sala de reuniões, mas após 6 horas de falatório, nada. O rei Damon realmente não queria mudar de ideia. E nós já não sabíamos o quê fazer, não tínhamos mais argumentos. Todos aparentavam cansados, o rei e a rainha estavam tão abalados quanto a gente. Se eu argumentei muito, eles falaram o triplo.

–Amanhã teremos mais disso, pessoal. Preciso dormir.– falo concordando com Orabella.

– Depois que amanhã acabar precisamos de férias.– fala Victor.- Temos que fazer algo animado.

– Poríamos ir a minha fazenda.– fala Lorenzo.

–Boa ideia.–Nicoletta afirma, ela está apoiada em um dos ombros de Noemi que concorda com a fala da prima.

–Tenho que trabalhar ainda muito para tirar férias, pessoal.– falou meio bocejando meio falando. – Boa noite!– Ainda era 22 horas, mas depois de tanto falatório, parecia que era meio da madrugada.

–Trabalho,trabalho, America! Só pensa nisso. Ainda vou te levar para se divertir nas ruas.- fala Victor.

– Claro, quando você arranjar algum tempo livre na minha agenda, me avise. – falo sorrindo e me distanciando do grupo que estava no centro de um grande corredor.

Meu quarto é ali perto, é similar ao meu no palácio italiano, só que menor. Com quarto e sala conjugados e banheiro separado. Minha mala estava depositada cuidadosamente sobre uma cadeira no canto direito de meu quarto. Pego o pijama, na verdade, minha camisola azul de seda larguinha e mais decotada do que eu normalmente uso e a coloco, deixando o vestido que anteriormente usava no chão. Estou com tanto sono que nem tenho a capacidade de guarda-lo.

Deito em baixo do lençol e fecho os olhos, mas nada. Tento não pensar em nada, não consigo dormir. Conto carneirinhos, até centésimo, nem ameacei fechar os olhos. Cadê todo aquele sono? Não é possível. Depois de várias outras tentativas, desisto e pego um livro para lê. Passo cerca de 1 hora lendo e nada de vim aquela bendita vontade de dormir.

Toc toc

De onde vem esse som?

Toc toc toc

Quem será que está na minha porta a essa hora?

Toc toc toc toc

Não vai ser atendido. Estou com preguiça.

Toc toc toc toc toc toc toc

–Já vou!!– grito.– Mas que raiva.– resmungo enquanto abro a porta.

– Boa noite.- ele fala. Por que ele está todo arrumado?

– O quê você que,Victor?– pergunto.

– Arranjei um tempo livre na sua agenda.

– E você não poderia esperar para falar isso amanhã? Ou a saudade minha era tanta?

– Para de ser boba. – ele faz cara de tédio.

– Ok. Quando é que é esse tempo livre?

– Agora.

–Quê? Agora?- pergunto um tanto confusa, o que em santa santidade iríamos fazer a essa hora em um país que mal conhecemos?

–Sim. Você disse para eu arranjar um tempo e eu consegui. E agora vou te levar para fazer algo animado.

– Ah é? E o quê seria essa algo animado?– pergunto, encarando-o.

– Minha querida America, você está prestes de ter a melhor noite de sua vida.- fala ele com uma cara super animada.