"A Lua é para o homem o símbolo dessa passagem da vida à morte e da morte à vida"

Andava com rumo certo pelos corredores da enorme mansão.

Me limitei a sorrir miúdo quando avistei a varanda, meu lugar favorito.

Aconcheguei-me em uma cadeira qualquer, enquanto observava o céu, a lua envolta de um mar de estrelas.

Sempre lhe comparei a Lua, distante e gélida para uns, e acolhedora e para outras. Ambos sempre me passavam segurança, mesmo estando tão longe.

Sempre tentou esconder seus sentimentos, e houve uma época em que eu pensava que não os tinha. Mas foi quando, eu olhei atentamente em seus olhos, e vi tudo que, você, a muito custo tentava camuflar. Medo, insegurança, amargura e amor, esse último, tinha certeza, você não tinha consciência que o possuía. Mas sempre demonstrava, quando estava ao lado de seus dois grandes amigos, disfarçadamente.

Não sei quando parei de observar teu melhor amigo, e passei a medir cada gesto teu, mas sei que foi a melhor decisão de minha vida, mesmo que tenha sido feita sem meu conhecimento. Lembro que na primeira vez que nossos olhos se encontraram, desde que me descobri apaixonada por você, tive certeza que iria querer me perder naquele mar negro para sempre.
 
Ainda podia visualizar, quando fechava os olhos, como estava insegura quando finalmente criei coragem para me declarar. Lembro que baixei a cabeça, enquanto falava, quando a levantei novamente, vi o sorriso mais verdadeiro e puro.Você correspondia.

Vivi os anos mais felizes de minha vida com você. Você me completava de um modo que nenhum homem nunca seria capaz.

E hoje você se foi.

Perdida em pensamentos, não notei quando a Lua simplesmente sumiu. Incrível, você morreu em um eclipse.

Olhava fascinada para o céu, as lágrimas simplesmente cessaram. 

- Mamãe.

- Oh, o que houve Chiro? – perguntei, enquanto aninhava nosso filho, de apenas seis anos, em meus braços.

- O papai pediu pra você não chorar mais.

- C-como?

- É, ele falou que a Lua pode sumir por alguns instantes, mas... – ele tentava se lembrar - ela sempre volta, mais brilhantes e viva que antes – nesse instante a lua reapareceu.

- Tchau papai – Chiro falou, foi quando notei uma luz branca perto da porta da varanda. Seus olhos negros, transbordando amor, se destacavam em meio ao clarão. E simplesmente sumiu.

Apenas apertei Chiro em meu peito, e observamos o final do eclipse.

Agora eu sei, nunca estaremos sozinhos, porque a Lua sempre está presente.