Laboratório do avião/19h18min

– Simmons, ela nos enganou. –Fitz sussurrou, aparentemente para que ele não escutasse.

– Não, Fitz. A Skye não é assim. – Ela rebateu e, ao escutar aquele nome, Ward sentiu vontade de socar alguma coisa.

– Ela é assim, agente Simmons. – Intrometeu-se na conversa.

– Acho que ela tem alguma explicação. Se nós a ouvíssemos. Se você a ouvisse, War... Agente Ward.

– Você nem conhece essa garota. – Fitz protestou.

– Acho que conheço melhor que vocês. – Respondeu e saiu da sala.

– Eu preciso socar alguma coisa. – Ward bufou e Fitz, assustado, recuou dois passos – Calma, eu não vou te socar agente. – Fechou os olhos e respirou fundo. Toda vez que está nervoso você faz isso. A voz de Skye veio em sua mente. Fecha os olhos, respira fundo e/ou fecha a mão em punho. Ela era observadora. Um sorriso involuntário brotou em seus lábios, mas durou pouco tempo, só até ele lembrar de que ela também era mentirosa. No fim, seu irmão mais velho tinha mais razão do que pensava, tudo era fingimento.

– Agente Ward?

– Sim? – Virou-se e deu de cara com Coulson na companhia de Jemma, que estava com uma expressão aflita.

Com um clique no controle remoto, que estava em suas mãos, Coulson ligou o monitor do laboratório, que mostrava o circuito interno de vigilância dos corredores principais do avião. Gesticulou para que Ward olhasse, a princípio, não parecia nada de mais, porém quando as imagens mudaram para um dos corredores “vazios”, ele não sabia o que havia lá, do avião, Ward viu Skye correndo de Mike.

– Droga. – Berrou e foi atrás dela. Já tinha achado o que socar.

– Hey Agente Ward – Uma mão firme segurou seu braço. May. Era bem mais forte do que aparentava. – A garota não é importante agora.

– A garota não é importante agora? – Ecoou as palavras da piloto – A garota não é importante agora? Vamos deixa-la morrer? Não podemos deixa-la mor...

– Por que não? – A voz de Jemma surgiu e assustou a todos.

– V-v-ocê estava defendendo a Skye e agora quer deixa-la morrer? – Gaguejou Fitz.

– Deixa-la morrer? – A cientista arregalou os olhos – Não, não, não. Vamos “deixa-lo” – fez aspas com as mãos – morrer.

– Claro! Genial! – Fitz aproximou-se de Simmons e a abraçou apertado, mesmo convivendo pouco tempo com eles Ward podia perceber que tinham uma espécie de ligação “psíquica”, do tipo que se completam em tudo, até nos finais de frase. – Você é genial. – Exclamou soltando-a do abraço e segurando suas mãos, fazendo-a corar.

– Agora podemos, por favor, ter uma tradução disso aí? – Indagou um pouco irritado. Afinal, Skye estava correndo perigo de vida. Não que estivesse começando a gostar dela, nem nada do tipo. Ela ainda havia mentindo, isso era inegável. Entretanto nos breves minutos que haviam conversado, quando ela pegou sua camisa xadrez, tinha desgostado um pouco menos dela.

– É claro – Simmons se recompôs – O corpo de Mike foi submetido a diversas exposições...

– ... Exposições às quais o corpo humano não suporta. – Completou Fitz.

– E agora ele está entrando em combustão. – Continuou.

– Ou seja, vamos todos explodir – Coulson tentou fazer uma piada.

– A menos que... – Exigiu uma explicação. Enquanto Coulson tentava fazer piadas, ou FitzSimmon estavam um completando o outro, Skye estava lá, prestes a ser morta pelo seu namorado assassino.

– Vamos atirar na cabeça dele! – A loira disse sorrindo de excitação. – Bem no centro, uma descarga elétrica no cérebro, e a combustão para!

– Entretanto – O cientista começou se aproximando de Ward com cuidado. – Só um tiro na cabeça é capaz de parar a combustão, se errar ela pode se acelerar e então todos nós morremos. Você precisa usar está arma aqui – Entregou-lhe o objeto leve – Ela é feita com material extremamente leve e funcio...

Não deixou que ele terminasse de falar, correu para salvar Skye. A vida dela, a vida deles, era mais importante que explicações sobre a formulação de uma arma. Escutou passos atrás de si, provavelmente os outros corriam tentando acompanha-lo. Não deu importância a isso também, nada mais parecia ter importância naquele momento.

~*~

Fechou os olhos e respirou fundo.

Por um breve momento teve vontade de rir. Afinal, aquela era a mania do Sr. Robô. E, eles não se davam bem. Nem um pouco. Talvez, depois que Mike acabasse com a vida dela, ele comemorasse. Não teria que “dividir o corredor” do avião com mais ninguém. Não teria mais uma vizinha de quarto, nem ninguém para roubar sua camisa.

A camisa dele.

Olhou para baixo e alisou o tecido xadrez. Era mesmo uma blusa muito bonita, e tinha ficado bem nela. Porém o motivo de tê-la vestido mais uma vez não fora esse. Não sabia o porquê, mas deseja que Ward gostasse dela, ou, que ao menos, não desgostasse. Pensava que ficando com a camisa, mais um dia ou dois, teriam mais algum assunto para tratar, e assim se aproximariam. Coisa de menina boba. Mas ela nunca soubera muito como agir nesses casos.

– Acho que essa mania é contagiosa, Sr. Robô. – Sussurrou abrindo os olhos, só para fecha-los mais uma vez. – Me desculpe por morrer com a camisa do seu irmão. – Continuou a falar sozinha enquanto Mike avançava pelo corredor. Avançava lentamente, como que para aumentar a tortura. – Talvez, ainda sobre um pedaço da manga. E talvez, eles te deixem costurar no seu uniforme da S.H.I.E.L.D.

Soltou um suspiro pesado quando sentiu a respiração de Mike contra seu rosto. Teve a sensação de estar flutuando, e, poderia ser uma das sensações mais maravilhosas de sua vida, se não estivesse sendo erguida no ar pelo pescoço. Fechou os olhos, cerrou os punhos, respirou. Estava pronta para morrer. Mike soltou um grunhido animalesco, arrastando-a parede acima, e então ela caiu no chão.

Não havia morrido.

Ainda estava ali, viva.

Escutou um barulho vindo da parte final do corredor, e lá estava ele, seu ex-namorado assassino. Havia achado outra coisa para bater. Uma coisa mais ágil, e mais forte que Skye. Ward. Eles estavam lutando. Mike tinha um ferimento, que parecia ser feito por bala, na nuca, o sangue jorrava sem parar, mas nem isso o fazia parar. Entre urros e batidas no peito, como uma espécie de animal defendendo o território, ele socava Ward. Um soco atrás do outro.

Então ele o ergueu pelo pescoço, assim como fizera com ela. Uma onda de pânico a invadiu. Uma coisa era ela morrer por conta de uma escolha que fizera outra, totalmente diferente, era um inocente levar a pior, mesmo que esse inocente fosse Grant Ward.

– Ward! – Gritou ao mesmo tempo em que procurava algo que pudesse usar para bater em Mike. Viu a arma, que provavelmente era do agente que tentava defende-la, pegou-a. Nunca havia pegado em uma arma antes, entretanto, situações desesperações exigem medidas desesperadas. Mirou o melhor que pode e com a mão trêmula deu um tiro no agressor, que caiu no chão uivando de dor.

– Skye! – Ward correu até ela assim que foi solto, pegando na sua mão e arrastando-a pelos corredores. – Me diga que você está bem. – Gritou enquanto corria.

– S-sim. – Gaguejou. Ele estava preocupado com ela?

– Ótimo, eu tenho que voltar lá. - Deu um suspiro, que parecia ser de alívio. - Fique aqui. – Acrescentou em tom autoritário.

– Você não pode ir atrás do Mik... – Nem foi preciso que ela terminasse a frase, nem foi preciso que Ward corresse até ele, o próprio Mike estava lá, atrás deles. Parecia mais nervoso, como se a cada tiro ficasse pior.

Um urro mais estridente que todos os outros. Mike correu em direção a eles. Skye ficou parada, incapaz de fazer qualquer coisa. Ward moveu-se rapidamente na direção do agressor, passando direto por ele e agarrando-o pela barra inferior da camisa. Com um grunhido, não animalesco como os de Mike, mas sim um grunhido de motivação, para si mesmo, o agente abriu a porta do avião. Um forte vento invadiu o local, Skye segurou-se na parede. Viu Mike ser lançado para fora. Sorriu para Ward, que sorriu de volta. Aquilo havia, enfim, acabado.

Respirou aliviada.

Alívio que durou poucos segundos, alívio que deu lugar ao pavor, assim que Skye viu Mike pendurado nos pés de Ward, puxando-o para fora do avião.