Can you hear me? Can you feel me in your arms?

Tudo que ele via era vermelho.

Sentiu o coração parar quando o avistou; o corpo no chão, a cabeça separada, e sangue, tanto sangue.

O caos ao redor pareceu desvanecer conforme ele se aproximava. O mundo ficara em câmera lenta, e no momento só existiam os dois.

Loras só percebeu que estava chorando quando sentiu o sal das lágrimas nos lábios.

Ajoelhou-se, sem se importar com o quanto ficaria sujo. Passou a mão pelo braço, lentamente, sentindo a suave frieza que já começava a tomá-lo. Então focou-se no rosto, em outro ponto, naquela visão horrível de tê-lo longe do pescoço, mas de alguma forma ele não conseguia parar de olhar.

Renly tinha uma expressão assustada, e até mesmo confusa. Loras gentilmente forçou sua boca a se fechar e fechou também seus olhos. Ficava muito mais pacífico assim. Lembrava-o de todas as noites em que o vira dormindo. O sentimento que o engolfou então era uma mistura de dor, saudade e agradecimento.

Ele não estava lá na hora. Ouvira o que os outros gritavam; Brienne tinha-o nos braços quando entraram. Brienne, não ele.

Loras sentiu que estava vindo, que não conseguiria segurar - e realmente não se importava. Era errado, aquilo tudo estava errado- ele não podia morrer. Simplesmente não podia. Não agora, não assim. Errado, errado, errado...

Ele mal percebeu que se levantara, e menos ainda que tirara a espada da bainha. Continuava a ver vermelho, mas não sabia bem porquê. A dor o cegava, e só o que ele conseguia sentir era raiva. Sua mente parecia quebrada, como se não conseguisse fugir do mesmo padrão, repetindo-se de novo e de novo.

Morto. Morto. Ele está morto.

Loras atacou o primeiro que viu. Não sabia quem era e não queria saber. O homem lutou contra ele, gritando para que ele parasse. O Cavaleiro das Flores notou, por um breve momento, que estava lutando contra alguém da guarda de Renly, que não havia sentido naquilo. Mas o pensamento se foi tão rápido quanto chegou.

Ele está morto. O que importa?

Loras continuou, gritando, enlouquecido. Matou o homem, e passou a lutar contra o próximo que apareceu. Continuavam tentando acalmá-lo.

Ele está morto. Como posso ficar calmo?

Matou o segundo. O sangue de Renly já se misturara com o dos outros, no chão e em suas roupas. Quando o terceiro cavaleiro apareceu, Loras se sentiu fraquejar por um segundo. O cansaço estava chegando - não físico, mas emocional.

Ainda conseguiu matar o terceiro antes de cair ao chão. Derrubou a espada e colocou a cabeça entre as mãos. O peso caiu sobre ele como uma bigorna.

Ele está morto. Meu rei está morto.

Ouviu as pessoas arquejando, assustadas, sem saber se era seguro se aproximar ou não. Não ligou para isso. Soluçou, a visão ainda vermelha, como se o vermelho fosse o culpado de tudo.

E era, não era? Se nunca tivessem acendido essa cor entre eles, não estaria doendo tanto. Tanto.

Depois de algum tempo que parecera muito e muito pouco, deixou que o levassem dali. Deixou que falassem, deixou que acusassem, deixou que consolassem. Não ouvia direito. Tinha os olhos fechados, e imaginava se podia ouvir a voz de Renly em sua cabeça, ou se só estava tentando ficar louco.

Tudo que eu queria dizer é que te amo, e que não tenho medo.

Não tinha certeza de quem era essa voz.

Não tinha certeza se viveria sem ela.