My Mirror escrita por Sially, Beatrice


Capítulo 2
Capítulo 2: Vingança


Notas iniciais do capítulo

Ainda há mais um capítulo e o epílogo, então esperamos que gostem!



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Narrador

– Sially, Diana, vamos! Temos que proteger nossa escola – disse Malu chamando suas melhores amigas.

Malu não via Draco há quase um ano quando eles se separaram após a morte de Dumbledore. Ela não podia ter o deixado partir para o “outro lado”. Prometera que o manteria são nem que tivesse de enfrentar o próprio Snape. Mas falhou na missão que poderia salvá-lo, a mais importante.

Malu não sabia o que havia acontecido com Draco durante aquele ano, temia o pior.

Malu ficou responsável por cuidar da Torre de Astronomia, no caminho até lá, alguns comensais apareceram.

– Pode ir, eu cuido desses daqui – disse Sially preparando a varinha. – Andem logo! – ela gritou para as outras duas.

– Boa sorte - Diana gritou para ela antes de saírem correndo.

Diana e Malu tiveram que parar novamente por conta do bando de aranhas gigantes que apareceram de todos os lados.

– Malu, vai! É pequeno o caminho até lá. Assim que eu e Sially acabarmos, te alcançamos.

– Ok e hmm... boa sorte – Malu disse com verdadeira preocupação com a amiga que tinha fobia de aranhas. – Você consegue! – Então Malu se virou e correu para a torre dando tempo de ouvir um grito por parte de Diana que começara a atacar as aranhas com agilidade e inteligência.

Ao se aproximar da torre, diminuiu os passos sentindo que já estava acontecendo uma batalha lá. Ouviu uma voz que reconheceria em qualquer lugar. Draco Malfoy. Seu coração parou por alguns milésimos de segundos apenas para observar o garoto de cabelos dourados. O garoto que desafiava ela sobre tudo, que a odiava, o único que alcançou o que nenhum nunca conseguiu alcançar: seu coração. O único que ela realmente se importava. O único que a chamava de Maria, e ela gostava. O garoto que partiu seu coração. E por mais que Malu tentasse negar, ela o amava. Não queria. Queria entrar naquela torre e acabar logo com isso, o matando. Mas isso nunca aconteceria. Pela primeira vez ela estava em uma guerra interna entre a razão e o coração e quem ganhou...

EXPELLIARMUS! – Draco agitou sua varinha para o garoto a sua frente. Porém Malu foi mais rápida.

PROTEGO! – ela gritou na frente do garoto. A varinha de Draco voou longe. – Malfoy, sua luta agora é comigo – ela disse confiante. Com um movimento de cabeça mandou o garoto sair de lá. – Deixe comigo. Estou responsável por esta torre.

– Ora, ora. Maria Luiza Muroni aqui? Você era a ultima pessoa que imaginava encontrar. – Draco recuperou sua varinha rapidamente e enfim os dois apontavam as varinhas. Draco começou a rir.

– Por que está rindo, Malfoy? – perguntou Malu sem desviar um centímetro a varinha do rosto de Draco.

– Uma vez você disse que queria me matar – ele continuava rindo cínico, se lembrando de um dos nossos confrontos, quando eu beijei Blásio. – Faça de suas palavras verdadeiras. Prove que você estava certa o tempo todo, como sempre. Prove que você sempre vai ganhar de mim, que você é mais forte que eu. Me impeça – ele disse e Malu ficou indecisa se ele dizia ironicamente ou se realmente implorava para que ela o matasse. – Prove agora o quão melhor do que eu você é. – Malu não se mexeu, não fez movimento nenhum. Ela queria voltar à época em que só existia os dois na cabana, as competições. Onde nada era complicado. – Nada? Achei que você tivesse aprendido. – Draco agitou a varinha – Estupefaça!

Protego! – Malu disse rapidamente se protegendo do golpe que levaria. – Eu realmente não quero lutar contra você, Draco.

– Ótimo, assim fica mais fácil para mim. Só achei que você não seria tão covarde. Everte Statum! – Draco gritou e Malu sendo mais rápida, contra atacou com um feitiço.

Impedimenta!

Então antes que Malu fosse aos ares, ela recitou o feitiço e quem voou longe foi Draco. Malu andou até o lado de Draco ainda com a varinha apontada para ele, mas ele não se mexia. Malu pensou que ele estivesse desmaiado e baixou a varinha, mas em questão de segundos Draco se virou para ela e lançou:

– Expelliarmus! – A varinha de Malu voou longe e seu corpo foi empurrado, batendo, coincidentemente, em uma das quinas da parede da torre que dava para o lado de fora. Ela sabia que ia cair então fechou os olhos.

De repente uma mão agarrou seu braço.

– Eu não vou deixar você cair. Não vou – disse o loiro mais para si mesmo do que para Malu. De algum modo Draco foi afetado pelo seu próprio feitiço e acabou tendo o mesmo destino de Malu. Ele segurava no chão da torre com uma mão e com a outra segurava o braço de Malu. Era fato, os dois estavam no ar e dependiam da força de Draco em segurar na torre. – Malu, segura firme – ele gritava para a garota. Mas o nervosismo de estarem prestes a cair e provavelmente morrerem deixava sua mão suada e escorregadia.

– Estou tentando. Draco, você não vai conseguir segurar por muito tempo aí.

– Eu consigo. Eu sei que consigo. – Malu sabia que não, mas não podia deixá-lo mais nervoso. Tentou pensar em algo que poderia salvar ambos.

– Tive uma ideia. Draco?

– O quê?

– Você precisa confiar em mim! – Ele respirou fundo, ponderando se mentia mais uma vez.

– Eu sempre confiei e vou sempre confiar – ele disse por fim. Ela sorriu.

– Onde está sua varinha? Está com você?

– Não, não sei por que, mas ela voou quando lancei o ultimo feitiço, ela não tem estado na mesma sintonia que eu, desde que tentei – ele enfatizou a última palavra e Malu revirou os olhos – matar Dumbledore.

– Minha varinha deve estar muito longe. Tenta pegar a sua, não deve ter voado tão longe quanto a minha. – Draco se impulsionou um pouco para cima para tentar enxergar onde estava sua varinha.

– Não está muito longe, mas não consigo pegar. Posso tentar empurrar ou assoprar para cair, mas você PRECISA pegar. – Malu assentiu. – Me ajuda a pegar impulso. No 3. 1, 2.... 3. – Malu fez força para cima e Draco tentou empurrar a varinha, mas só conseguiu quase derrubar os dois. Malu gritou. Seu coração estava a mil. Eles não caíram, apenas algumas pedras pequenas que estavam no chão caíram neles. – Tudo bem? – Malu assentiu novamente. – Então vamos tentar mais uma vez. 1, 2.. 3! – Malu impulsionou Draco e ele conseguiu empurrar a varinha de alguma forma e ela caiu. Malu quase não pegou, mas conseguiu no último instante com a ponta dos dedos. Os dois respiraram de alívio.

– Draco. – Os dois arfavam.

– Fala, Malu.

Ela respirou fundo.

– Você precisa soltar.

– O QUÊ? Você ficou louca? – Draco disse incrédulo.

– Eu tenho um plano, você precisa cofiar em mim.

– Mas Malu...

–DRACO, VOCÊ QUER MORRER? – Malu gritou um pouco desesperada percebendo como as mãos dele estavam ainda mais suadas e escorregadias do que antes.

Draco respirou fundo, olhou profundamente nos olhos azuis de Malu e disse:

– Se você estiver dando uma de Romeu e Julieta e matar nós dois, eu mato você, Maria! – gritou e então soltou. Malu a poucos centímetros do chão gritou:

Aresto Momentum!

Eles pararam antes de cair no chão e em seguida caíram, porém Malu caiu perto da ponta de um morro e rolou abaixo batendo a cabeça em uma pedra e desmaiando. Draco foi até ela e passou a mão em sua testa, em um pequeno corte por causa da queda. Pegou a garota nos braços e a levou perto do castelo até que se lembrou do que tinha que fazer, impedir que Harry conseguisse as Horcruxes. Draco sabia que precisava fazer isso, afinal era um Comensal da Morte.

Colocou Malu deitada no chão em um lugar que ele sabia que a achariam. Aproximou-se do rosto dela e disse mesmo sabendo que ela não estava ouvindo:

– Você já provou que consegue se cuidar sozinha – ele sorriu. – É forte o suficiente para se manter viva. Isso é tudo o que eu preciso. – Ele deixou uma lágrima escapar de seus olhos azuis e cair no rosto da garota. – Minha Maria. – ele sorriu novamente e como em todas as despedidas entre os dois ele selou os lábios de Malu em um rápido toque entre eles sem saber se eles se veriam novamente.

Malu’s POV

Acordei assustada, estava na grama perto do castelo. Forcei minha memória e me lembrei de estar caindo depois ter rolado e mais nada. Passei a mão em minha cabeça e quando olhei ela estava com sangue, meu sangue. Provavelmente bati minha cabeça em algum lugar quando caí. Uma imagem, quase como um sonho surgiu em minha cabeça. Era Draco, ele havia me beijado e partido de novo. Toda a memória de antes da queda voltou a minha cabeça. Eu havia mesmo duelado com Draco.

Já havia escurecido e nada dele por perto. Levantei-me e fui para a frente do castelo. Estava acontecendo uma batalha e havia muitos feridos de nossa parte. Mesmo estando meio zonza eu precisava ajudar a defender minha escola. Fui correndo até a torre de astronomia e peguei minha varinha, encontrei Diana no caminho, ela tinha derrotado a aranha porém quando passamos onde Sially estava, ela estava caída e desacordada com alguns machucados por causa da luta.

Ela não podia estar morta, mas nunca se sabe. Quando se luta com um comensal as Maldições Imperdoáveis não são tão proibidas assim. Verifiquei se tinha pulso e ainda tinha. Suspirei de alívio.

– Vamos, Diana, temos que levar ela pra ala hospitalar. – Diana assentiu. Nós pegamos Sially nos ombros e a levamos onde feridos estavam. – Diana, fique aqui, você também está ferida. – Peguei minha varinha. –Eu tenho que ir.

– Aonde vai? Você está com um corte na testa, tem que ficar aqui.

– Não posso. Tenho que lutar. Eu ainda posso e vou! – Diana me conhecia muito bem. Se eu dizia que faria algo, nada no mundo me impediria.

– Boa sorte. E é melhor você não morrer! – ela ordenou.

– Pode deixar – sorri para ela e corri para fora do castelo ajudar na batalha.

Todos estavam dando tudo de si, eu não iria ficar sentada sem fazer nada, eu iria lutar até não poder mais. Usei todos os feitiços que aprendi, mas a cada golpe que recebia minha visão ficava mais embaçada. Estava lutando contra um comensal em um lugar mais afastado quando ele lançou:

Avada Kedavra! – desviei do golpe que bateu em uma parede de pedras atrás de mim que caiu em cima de minha perna me fazendo cair. Praguejei e agora estava presa porque minha perna sustentava quase o peso da parede toda. Se tivesse que adivinhar, apostaria que a tinha quebrado. O comensal vendo que eu estava indefesa e com a varinha longe começou a se aproximar. Eu pensei “Pronto, é agora, vou morrer aqui.” Tentei me esticar ao máximo para pegar minha varinha, mas não me movi nem um centímetro.

Uma voz do nada apareceu vinda do céu. Um anúncio de Voldemort. O comensal virou sua atenção para o céu. Enquanto isso eu tentava me esticar para pegar a varinha antes que ele se lembrasse de mim. O anúncio acabou.

– Eu devo voltar, mas antes vou acabar com você. Uma presa fácil. – Ele levantou a varinha, agitou-a. Fechei os olhos esperando o pior.

Avad...

– Expelliarmus! – Abri os olhos e era Draco de novo. – Você-Sabe-Quem mandou todos voltarem, deixe que eu cuido dessa para você.

– Mas você também é um comensal, tem que voltar. Eu pego essa daqui, acabo com ela em um feitiço.

Eu presenciava a discussão temendo por minha vida.

– Eu não sou um comensal completo, você é. Ouvi dizer que você é um dos preferido do senhor, e você sabe o que aconteceu com o ultimo preferido de Você-Sabe-Quem quando ele se atrasou.

– Não, não sei.

– Exatamente, ninguém sabe. Então é melhor você ir logo. – O comensal pensou e percebeu que Draco tinha razão, e ele foi embora.

– Minhas despedidas dramáticas nunca dão certo com você sempre atrás de mim. Será que vai ser sempre assim? Tenho sempre que te salvar? – Draco perguntou para mim.

– Eu não preciso da sua ajuda – disse confiante e arrogante.

– Tudo bem, vou embora então.

Tentei soltar minha perna da parede e estava muito pesado, e como a perna estava fraturada era impossível mexer.

– Espera! - gritei esticando a mão para ele. Revirei os olhos. – Eu preciso de ajuda.

Ele abriu um sorriso.

– Eu sei que precisa.

Draco usou o Wingardium Leviosa para tirar as pedras e os tijolos de cima de mim. Tentei me levantar, mas a dor em minha perna fez minha visão escurecer e eu cair de novo.

– Você não espera mesmo que eu faça você ir andando o caminho todo – comentou Draco, e eu pude sentir uma pitada de seu antigo eu de volta. Antes que eu pudesse responder, ele passou um braço por trás dos meus joelhos e o outro ao redor de minha cintura e me ergueu no colo. Instintivamente, abracei o pescoço dele para me equilibrar.

Para quebrar um pouco da proximidade de nossos rostos, eu olhei para minha perna quebrada, que pendia em um ângulo muito bizarro. Felizmente, eu não era uma daquelas pessoas que desmaia por um machucado. Era estranho e até um tanto constrangedor ficar assim, tão perto dele, já fazia tanto tempo.

Draco começou a andar.

– Caminho para onde? – perguntei, o que foi uma reação um pouco atrasada do que ele disse.

– Você vai ver. Eu posso ter um plano, mas agora preciso que não faça barulho.

Eu franzi as sobrancelhas, mas decidi não discutir. Parecia que alguém estava enfiando uma faca na minha perna, e eu tinha que me concentrar em alguma coisa que não fosse aquilo. Apoiei a cabeça no ombro de Draco, sem nenhuma outra intenção a não ser a de descansar, é claro.

Tudo bem, quem é que eu estava querendo enganar? Eu sentia tanta falta de Draco que meu coração doía de pensar nele. Mais de um ano sem vê-lo, sem ter notícias dele, sem tocá-lo, sem sentir seu cheiro amadeirado, sem saber como ele estava me deixaram mais aflita do que eu admitia a mim mesma. E apesar de tudo o que estava acontecendo no momento, minha perna, a guerra em Hogwarts, nosso lado da batalha, eu estava contente de tê-lo novamente perto de mim desse jeito.

Quando percebi que ele estava se dirigindo em direção à Floresta Negra, eu tive um palpite de para onde estava me levando.

Chegamos à cabana. A cabana que permanecia intocada, mesmo depois de tanto tempo, em que nós nos encontrávamos às escondidas nos tempos bons de escola – que na época eram terríveis, mas em comparação com agora...

Draco me depositou na cama, tomando cuidado para não mexer demais minha perna machucada.

Olhei ao redor, para as paredes mal pintadas, descascando e com algumas manchas de bolor por causa das chuvas que já enfrentaram. E mesmo cheio de defeitinhos era o lugar que eu mais me sentia em “casa”, que eu podia chamar de lar.

– Esse foi o primeiro lugar em que pensou?

– Pra falar a verdade, foi.

– Obrigada – falei, me referindo a ter me tirado de baixo da parede.

– Não há de quê.

– Então – eu me ajeitei no colchão velho. - Que plano você disse que tinha?

– Ah, sim – Draco juntou as mãos. – Malu, eu preciso que você saia daqui.

– Da cabana?

– Da guerra – ele corrigiu.

– O quê? – eu disse incrédula. – De jeito nenhum.

– Olhe o que já te aconteceu por você ter vindo lutar – disse Draco. – E aposto que não é o primeiro acidente. Malu, eu não te quero mais machucada se eu posso evitar isso.

– Você não pode evitar que eu me machuque – respondi. – Eu fiquei na escola para ajudar porque quis, não é um problema seu.

– É claro que é! – Draco falou como se fosse óbvio. – Eu quero você a salvo. Viva, respirando. Com o coração batendo.

– E quanto aos outros?

– Eu não me importo com os outros.

– Então você continua o mesmo egoísta de sempre – acusei. Ele não podia me pedir para deixar meus amigos de uma hora para outra.

– Isso não é nenhuma novidade, não é? – Draco não pareceu se importar com a minha ofensa. Deve ter se acostumado. – Malu, por favor. – Para minha surpresa, ele se ajoelhou na minha frente e pegou minhas mãos. – Eu já tive que te deixar uma vez, e não quero fazer isso de novo. Não quero te perder. Você é a única que eu não vou aguentar perder, e essa guerra já fez todos perderem muita gente.

Eu abri a boca para contestar, mas ele continuou:

– Se eu tivesse tido a escolha de não me juntar aos Comensais, eu a teria escolhido. Minha mãe estava desesperada porque Lúcio foi mandado para Azkaban e falhou com Você-Sabe-Quem. Bellatriz nunca viu nenhum de nós como nada além de desonrosos com o resto da família. E o Lorde das Trevas... bem, acho que não preciso comentar. – Draco sorriu torto. – Por incrível que pareça, só você realmente me viu como uma pessoa alguma vez.

– Draco... – comecei.

Ele tocou minha bochecha.

– Eu preciso de você.

Tenho que confessar: naquela hora, eu quis beijá-lo. E realmente aceitar a proposta de ir embora só para tranquilizá-lo. Eu me sentiria da mesma forma se fosse o contrário e quisesse mantê-lo o mais seguro possível dentro da situação. Mas meus amigos... Sially e Diana ainda estavam lá dentro, e os outros com quem eu conversava; até mesmo os professores. Uma aluna a menos não faria tanta diferença, mas quanto mais pessoas para defender o castelo melhor. Eu nem sabia quantos já estavam mortos.

Então escolhi o meio termo.

– Tudo bem, Draco. Eu vou embora. O que quer que eu faça?

Ele suspirou, aliviado, e apertou minhas mãos.

– Eu tenho que ir me reunir com os outros Comensais agora. Não vai ser por muito tempo, já deve estar no fim. Quando eu voltar, vou trazer uma capa e te tirar escondida através da floresta. Encontramo-nos quando a guerra estiver acabada.

Eu assenti. Draco me beijou rapidamente no canto da boca e fez um movimento ligeiro com a mão que segurava a varinha enquanto se levantava. Senti um aperto no pulso e olhei para baixo. Ele conjurara uma corda para me prender à cama. Olhei-o com descrença.

– Só por garantia, você sabe. Você é a Maria Luiza Muroni, não me esqueci disso. – Draco deu uma piscadinha e foi para a porta, onde parou e olhou para trás. - Nos vemos daqui a pouco, Maria.

– Idiota. – resmunguei, afinal ele havia estragado meus planos. Tive a sensação de que precisava falar mais alguma coisa, mas não tinha ideia do quê. Antes que eu pudesse me decidir, Draco já tinha saído.

Eu tinha que agir rápido. Tentei me lembrar de algum feitiço útil para melhorar minha perna, mas não me lembrei de nenhum. Todos esses anos estudando para nada, que ótimo. Eu sim sou uma verdadeira corvinal.

De qualquer modo, teria que ser daquele jeito mesmo. Como eu entraria no castelo e voltaria antes de Draco era uma questão muito boa para ficar exatamente onde eu estava, mas eu precisava ir. Pelo menos para saber o que estava de fato acontecendo, ou para me despedir. Todos ouvimos o anúncio de Voldemort para entregar Harry Potter.

Ah, Draco. Não devia ter deixado minha outra mão livre. Desfiz o nó – que estava muito bem feito - da corda após uns poucos segundos. Apoiei-me com ambas mãos para me levantar e tentei mexer o mínimo a perna fraturada. Apanhei minha varinha e fui mancando até a porta. Não me lembrava de ela ser tão longe da cama assim, mas eu demorei. Perna estúpida. Tinha que quebrar justo naquela hora. Girei a maçaneta capenga e dei o primeiro passo para fora, os olhos semicerrados de dor.

Não cheguei a andar muito. Umas pessoas vestidas de preto passaram apressadas perto dali – Comensais da Morte, nenhum deles Draco – e achei melhor me manter nas sombras até todas passarem. Quando achei que o caminho já estava livre, apressei o passo. Draco já devia estar retornando se os outros passaram.

Estupefaça!

A porta explodiu atrás de mim, e graças a Deus eu a deixara aberta. Aparentemente ela interceptara o feitiço que lançaram contra mim. Mas quem? Eu reconhecia aquela voz... O que restou da porta voou por cima da minha cabeça ao me abaixar, e conforme o clarão diminuiu eu pude ver Pansy Parkinson, da Sonserina, colega de Draco, me encarando com ódio profundo.

Impedimenta! – ela gritou.

Protego! – me defendi a tempo. O impacto me fez cambalear e eu me apoiei na parede da cabana para não cair.

– Está fugindo, Maria Luiza? – Pansy provocou. – Por que não me ataca de volta? Eu sabia que você era uma covarde. Draco deve ser cego por não ter percebido isso.

Pansy lançou outro feitiço, dessa vez sem pronunciá-lo, e eu o interceptei.

– E, é claro – eu respondi com ironia -, quando ele percebesse que eu sou uma covarde iria para você. O problema, Pansy, é que se ele visse isso também fugiria de você.

Outro feitiço. Outro bloqueio. Minha perna fraquejou, e agora doía mais do que nunca.

Expelliarmus! – foi o melhor em que pude pensar. Eu estava muito fraca para revidar, e Pansy simplesmente deu um passo para o lado para evitar minha azaração. Sua varinha nem se mexeu.

– Já chega da brincadeira, Maluzinha – ela disse. – Sabe, eu achei mesmo que Draco não tivesse te trazido aqui. Afinal esse era o meu lugar. Nosso lugar. Realmente me surpreendi em encontrar você aqui. Mas chega de papo, não é? Reducto!

Usei o feitiço de proteção novamente, mas não fui ágil o bastante. Protegi meu corpo, mas a parte mais importante no momento não: minha perna. O Reducto de Pansy ricocheteou em meu tornozelo e eu senti como se o estivessem moendo. Caí no chão, gemendo de agonia, e quase não percebi quando Pansy se aproximou mais, chutando minha varinha para longe.

– O Draco deveria sempre ter sido meu. Você não deveria ter se metido no meio.

– Pelo menos serviu para ele ver a diferença entre nós duas – eu grunhi. – Eu não sou uma vadia.

– CALA A BOCA! – Pansy berrou, e ergueu a varinha para o meu rosto. – Cala a boca, ou eu vou arrancar essa sua língua nojenta. Sua sangue-ruim.

– Acho melhor não, até porque o Draco gosta muito dela e ficaria chateado. – Ri com um certo tom de superioridade, afinal quando se falava em Pansy eu realmente era superior.

Ouvi um som sair da garganta de Pansy, um som que me pareceu raiva. Vai ver ela tinha contraído a doença, pobrezinha. Pansy tomou impulso e pisou com toda sua força na perna minha perna quebrada. Abri a boca para gritar, mas não consegui produzir um som coerente.

Silencio! – Pansy ordenou, e eu realmente fiquei muda. Dessa vez era um feitiço. – Você não é nada perto de mim. O que é que você tem? Arrogância, orgulho e um ego maior do que pode suportar. Você é pobre, vem de uma família de trouxas e quase não tem amigos. Sabe o que eu acho? Que você fez uma poção do amor. Vai ser ótimo quando Draco souber disso, por mim, é claro. Sobre como você confessou tudinho enquanto me pedia misericórdia.

Cerrei os dentes, com mais ódio do que alguém podia sentir. Muda, humilhada e no meio de uma floresta. Como era desprezível minha situação, eu Malu Muroni nas mãos de uma vadia descabelada. Quem era essa pessoa?

– Sua última chance – finalizou Pansy, com uma voz doce -: Silencio. Suas últimas palavras? Antes que eu só consiga ouvir gemidos de dor. – Era incrível como ela dizia isso com a maior naturalidade e um sorriso doce no rosto.

Eu ainda tinha que ter alguma dignidade.

– Vá em frente – falei. – Faça o que quiser comigo, mas você nunca vai conseguir mudar o fato de que o Draco prefere a mim do que a vadia louca. – completei com o mesmo sorriso.

Os olhos dela flamejaram. Ela apontou a varinha para o meio de minha testa e disse:

Crucio!

Draco’s POV

Eu já estava no meio do trajeto de volta quando ouvi os gritos. Me surpreenderia se alguém não os tivesse ouvido.

Voldemort e minha mãe me fizeram ficar mais um pouco porque tecnicamente eu era considerado do círculo de confiança. Enquanto todos os outros Comensais da Morte recomeçavam o ataque a Hogwarts eu fingia que ouvia o que conversavam, sem me incluírem em nenhum momento.

Agora, em direção à cabana, meu coração pareceu parar assim que os gritos ecoaram por entre árvores. Eu poderia dizer que, na minha vida, nunca ouvira um som como aquele. Porque eu sabia a quem ele pertencia. Não que eu já tenha a ouvido gritar dessa forma, mas era sua voz. Eu a reconheceria em qualquer circunstância. E não era um grito só de dor. Havia sofrimento e isso é o que eu mais temia.

Correndo naquele solo pedregoso e barrento até os berros, eu só pensava que Malu precisava de mim. Ela estava sofrendo, em perigo. Se eu tivesse ficado com ela, se a tivesse protegido melhor... Como a encontraram? A cabana não só era bem escondida no mato mas também protegida por feitiços. Eu nunca contara a Malu sobre eles por serem contra as regras, mas eles estavam lá por precaução desde sempre. E se ela saíra por livre e espontânea vontade... Por quê? Ela me prometera que não iria.

Idiota, eu me repreendi. É a Malu. Uma corda não a prenderia por muito tempo. O plano delanunca foi seguir o meu de tirá-la de lá.

Raízes enroscaram nos meus pés, tropecei em troncos, desviei de arbustos até chegar ao local.

Crucio! – Ouvi uma voz de garota esganiçada ordenar, rindo. A voz de Pansy Parkinson.

A alguns metros, eu já podia ver a cena: Pansy gargalhando enquanto torturava uma Malu ensanguentada e com uma perna quebrada em vários pontos, largada no chão, toda suja.

No intervalo que Pansy levou para pronunciar a Maldição Imperdoável novamente, Malu me avistou, os olhos molhados de lágrimas de dor. Uma cena que eu nunca pensei presenciar em minha vida, ainda mais vinda da pessoa mais forte que já conhecera.

– Draco – ela murmurou. Sua voz quase não saiu, e Pansy parou no meio do movimento com a varinha para se virar e me notar.

Eu não percebi que continuava correndo, mas a distância entre nós parecia infinita. Eu não ia chegar a tempo. Eu não ia conseguir.

Pansy deu a impressão de sorrir, como se fizesse uma coisa boa. Sacudiu a varinha, e Malu foi lançada no ar.

– Pansy, não! – berrei o mais alto que pude. Meu contrafeitiço não a alcançaria dali. Só mais alguns passos, implorei.

AVADA KEDAVRA! – Pansy amaldiçoou. Um clarão verde explodiu da ponta de sua varinha, atingindo o alvo. Foi como se tudo passasse em câmera lenta. Malu olhou profundamente em meus olhos sabendo o que ia acontecer, uma lágrima cristalina caiu e consegui ler seus lábios. Sua ultimas palavras: eu te amo. E então parou com um sorriso fraco no rosto.

Eu achei que estava morrendo.

Porque a parte mais importante de mim morreu naquele momento.

– NÃO!

Malu ainda estava de olhos abertos, fixos nos meus. Enquanto ela despencava para o chão, minha visão ficou turva e alguma coisa dentro de mim foi despedaçada. Eu finalmente cheguei até ela, antes de atingir a terra, e Malu caiu em meus braços. Ela estava fria... vazia. Diferente de quem eu conheci.

Meu coração falhou.

– Malu! – falei, desesperado. Ela parecia tão frágil agora, esparramada. Não podia ser verdade. Aquilo não acontecera. – Malu, por favor, não, por favor... Você não pode me deixar. Eu preciso de você. – Por que ela não me respondia se ainda me olhava com aqueles olhos de diamante? Porque agora ela está morta. – Não, não, não, NÃO! VOCÊ NÃO! – Pansy não parava de falar ao meu lado, eu não conseguia ouvir, não queria. A imagem da Malu sendo morta na minha frente acabou comigo. Assim que voltei a realidade, a voz irritante de Pansy entrou em minha mente sumindo com a voz doce de Malu.

– Foi para o seu próprio bem, Draco – a voz de Pansy, aquela voz horrível, soou no fundo da minha mente conturbada, embebida em desespero e tristeza. – Ela não te merecia e você não merecia ela. Há muitas melhores por aí pra você. Ela era uma sangue-ruim, uma nada. Você é tudo. Eu sou tudo.

Virei o pescoço lentamente na direção dela. Não sabia exatamente quando eu começara a chorar, mas tinha certeza de que meus olhos estavam vermelhos. Eu sentia o rosto molhado. Mas acima de tudo, acima de ter perdido a única coisa que fiz razoavelmente certa na minha vida, eu sentia a raiva. Eu não consegui descrever a fúria que senti. Senti que podia fazer qualquer coisa sem medo das consequências. Não me importava com nada. Eu queria vingança.

– Você – a palavra saiu como um rosnado. Minha varinha ainda estava na minha mão, por baixo do corpo de Malu.

– É melhor assim, Draco – insistiu Pansy, agora já não mais tão segura quanto antes. – Eu te fiz um favor. Essa garota só trouxe miséria para sua vida.

Em silêncio, deixei Malu com delicadeza na grama e me levantei, ficando de frente para a garota que eu pensara que era minha amiga por todos esses anos. Andei a passos lentos mas de forma intimidadora.

– Draco? O que você está fazendo? – Pansy disse dando alguns passos para trás, receosa. – Draquinho, vamos conversar. Sem aquela sague-ruim vamos ter mais tempo para nós, meu amor.

Fiquei girando a varinha em minhas mãos, ponderando qual Maldição Imperdoável eu usaria primeiro.

– Você vai se arrepender, Pansy. – Eu olhava para minha varinha e em seguida para Pansy, sempre falando em tom irônico.

– Draquinho, vamos conversar – ela disse, o medo visível em seu rosto.

– Você vai pagar por cada grito – um passo mais próximo – cada lágrima – outro passo – cada gota de sangue – mais um – cada minuto de dor e agonia que ela sofreu. –Aimagem de Malu sorridente correndo comigo até a cabana fugindo de Umbrige e logo em seguida a garota com um rosto que suplicava misericórdia apareceram em minha mente e minha raiva só aumentou. – Você vai pagar por TUDO. Sua cadela imunda. Ah, e nunca mais me chame de “Draquinho”, sua vadia.

Voltei meu rosto para ela, eu sentia que ele estava transfigurado de raiva. Apontei a varinha para ela.

Pansy correu.

Eu disparei atrás dela imediatamente, sem ligar mais onde pisava. Brandi a varinha bradando feitiços seguidos, explodindo árvores que impediam o caminho, ateando fogo em outras, errando a Maldição da Morte por milímetros. Pansy gritava de terror, e pelo rumo que seguia estava indo para Hogwarts pedir reforços. Eu a fiz desviar, fazendo uma fileira de carvalhos cair.

Crucio!

Pansy caiu, contorcendo-se e gritando. Aproximei-me e baixei a varinha.

– Tá sentindo, minha querida? Porque é só o começo.

– Draco, você tem que entender por que eu fiz aquilo... – ela soluçou. – Era para você ser meu. Foi ela que atrapalhou...

– Vamos, querida, eu sei que você aguenta. – Através da expressão dela pude sentir que estava com uma cara de maníaco. Perfeito, porque era exatamente como eu me sentia. Pisei em sua perna com força.

– Draco – implorou ela.

– Você não queria ouvir a Malu gritar de dor, se deliciando de prazer? Então, por incrível que pareça nós temos isso em comum. – Pisei mais forte. Pansy gritou. Eu não parei, o rosto contorcido de dor de Malu estava preso em minha memória e isso só me fazia continuar. Pansy gritava como nunca, e pela primeira vez não me importei de ouvi-la gritar.

– Draco, por favor, não. – Pansy olhou em meus olhos, seus olhos estavam vermelhos de choro. – Você não se lembra? Eu fui sua amiga. Quando aquela vadia te magoava era a mim que você procurava.

– Você não devia ter chamado a Malu de vadia. – forcei sua perna até ouvir um “crack”.

– Draco, por favor, você não tem misericórdia?

– Você não teve misericórdia com ela. E eu sempre disse que nunca fui o bonzinho. Crucio!

– Acabe com minha tortura. Me mate.

– Eu não deveria, mas por causa dos nossos anos de amizade vou fazer isso.

– Te esperarei no inferno, Draquinho. – E essas foram as ultimas palavras de Pansy Parkinson.

Avada Kedavra!

Uma luz verde, e Pansy ficou imóvel. Não me surpreendi ao não sentir nada fazendo aquilo. Caminhando de volta à cabana, eu senti. Devastação.

Aninhei o corpo de Malu no meu colo mais uma vez e a abracei. Não consegui chegar a tempo de salvá-la mas consegui chegar a tempo de vê-la morrer. Era sempre assim? E se eu tivesse sido mais rápido? E se eu tivesse dado mais atenção a Pansy? E se Malu não fosse tão teimosa? E se eu tivesse sido mais cuidadoso? E se...

Comecei a soluçar. Não sei por quanto tempo fiquei ali, naquela posição, remoendo todos os meus erros, mas foi um longo período. Eu poderia ter evitado tudo isso. Em uma coisa Pansy estava certa: se Malu não tivesse se envolvido comigo, ainda estaria viva, com muito menos inimigos do que no passado.

Houve um momento em que as lágrimas secaram; aquele momento em que o vazio vai além das lágrimas.

Olhei para Malu mais uma vez e fechei seus olhos.

– Eu te amo, Maria.

Pensando agora, o destino foi cruel. Ela nunca teve a chance de me ouvir dizer que a amo. Em todas as vezes que eu tive coragem suficiente, ela estava dormindo ou desmaiada. Provavelmente essa seria a última vez que eu diria isso para ela. Porém desta ela não estava só dormindo.

Respirei fundo.

– Não vai ficar assim, Malu – prometi. – Vou dar um jeito de trazer você de volta. Ainda não acabou.


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Notas finais do capítulo

Então, como foi? Conte-nos o que achou no review *-*



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