Divergente - por Tobias Eaton escrita por Willie Mellark, Anníssima


Capítulo 26
Capítulo 26


Notas iniciais do capítulo

Muito obrigada às queridas Cary Mellark e Vampira Divergente por terem recomendado nossa fic. Ficamos super felizes. Vcs foram uns amores!!! ;D

Todos que comentaram e favoritaram, obrigada de verdade!

É muito importante para nós e amamos responder cada um dos comentários...

Boa leitura!!!
Leiam as notas finais!!!



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Os minutos parecem demorar uma eternidade para passar enquanto aguardo Tris. Durante esse tempo, eu percebi duas coisas. A primeira é que depois dela ter passado as duas horas que antecederam ao banquete, comigo, meu quarto não é o mesmo sem ela. A segunda é que apesar da hora avançada, tudo está estranhamente calmo para os padrões do Destemor em um dia da Cerimônia de Iniciação. Os corredores estão mortalmente silenciosos e o máximo de sons que se pode captar é aquele propagado pelo vento soprando e pelas águas chocando-se contra as paredes rochosas do Abismo ao longe.

É impossível limpar minha mente de todas as coisas que me preocupam. Parecia que era importante o que Tris tinha a me dizer, mas as circunstâncias não nos permitiram conversar. Eu me sinto inquieto demais para dormir, então, penso que talvez seja seguro procura-la em seu dormitório, agora que nosso namoro já não é segredo para ninguém.

Logo que saio do quarto, um estrondo curto e único me impediu de prosseguir meu caminho. Se eu pertencesse a qualquer outra facção eu poderia supor milhares de hipóteses para aquele som, mas sendo membro do Destemor, meu coração gelou porque se tratava de um tiro.

Corro na direção da qual achava que partira o disparo e, quando me aproximo, ouço outro tiro. Paro por uns segundos para colocar os pensamentos em ordem, e escorrego para o lado, me apoiando numa larga coluna atrás da qual sei que ficarei oculto das câmeras fixadas na lateral do corredor leste.

Os barulhos foram altos o suficiente para terem acordado, no mínimo, os moradores dos quartos próximos ao meu. É estranho que ninguém tenha vindo verificar o que acontece, mas quando olho para o lado percebo que isso não é mais estranho do que os membros do Destemor estarem organizados em filas perfeitas, todos completamente vestidos e caminhando simetricamente, sem perder um passo. Seus rostos parecem contemplar o vazio e seus movimentos se assemelham aos de um robô.

“Não, não. Me larga seu idiota!” – Alguém que, como eu, estava acordado grita na parte final da fila e vou ao seu encontro para tentar ajudar, tomando o cuidado de me manter afastado da multidão.

Conforme me aproximo, vejo um membro do Destemor vestido como um soldado atacando Cecília, uma garota um pouco mais velha do que eu. Nunca falei com ela, apenas a vi pelos corredores e no refeitório. Eu me aproximo com cautela e arranco o soldado de cima dela, que tentava se defender usando os punhos.

Assim que o lanço contra a parede, eu vejo que ele tem os olhos desfocados e o corpo rígido. Eu o acerto no rosto e desvio-me de um chute, derrubando-o no chão. Em seguida, tento imobilizá-lo. Não sei o que está acontecendo, mas posso supor que ele não está consciente de seus atos porque, além do seu estado de transe, um membro do Destemor não ataca outro desta forma covarde.

Não sei se existem pessoas mais leais à sua facção do que os membros do Destemor. Eles têm orgulho de serem o que são. É evidente que estão sendo controlados. Na verdade, eles se parecem muito com o que vemos quando programamos a paisagem do medo.

O soldado me empurra em direção às cadeiras de metal dispostas do lado esquerdo da sala. O som das cadeiras caindo chama a atenção de outro soldado que avança em direção à Cecília do lado oposto ao meu. Tento lutar, mas parece que os golpes não surtem efeito algum. Lanço o soldado contra a parede e ele cai ensanguentado, mas se levanta imediatamente como se não sentisse nada e quando ele vem até mim, ouço dois disparos seguidos e o soldado cai morto na minha frente, com uma bala no peito. Olho para o lado e vejo a garota com uma arma estendida em suas palmas, diante do corpo do soldado contra o qual ela se defendia. Ela está com os olhos arregalados e com hematomas espalhados por todo o rosto.

“Por que você fez isso?... Bastava desacordá-lo!” – Eu digo ríspido.

“Não adianta, Quatro, John perdeu a vida tentando imobilizar um deles. Eles apanham, mas creio que não sintam nada porque nunca param... Eles matam e precisamos nos defender matando eles também.” - Ela fala com um tom de tristeza notável na voz. - “Eu não sei o que está acontecendo, mas não irei morrer como John. Ele se sacrificou por mim.”

Lembro-me de John, ele era irmão de um dos iniciandos que estavam sob a responsabilidade de Lauren.

“Sinto muito pelo o que aconteceu com John, mas se vocês dois não foram controlados, assim como eu, significa que são divergentes?”

“Sim, eu sou e ele também era. Mas agora está morto, afinal, não é isso que sempre acontece aos divergentes?”

Penso que se nós, divergentes, estamos acordados é porque de alguma forma somos imunes. Então, Tris estará acordada em algum local deste complexo correndo perigo. Temo que algo aconteça com ela caso não siga junto com os outros. Preciso encontrá-la antes de qualquer coisa.

“Cecilia, você deve fugir para o mais longe que puder do complexo e da outras facções, também. Acho que seria melhor que se abrigasse no setor dos sem-facção por enquanto.” – Eu digo pensando que não sabemos se há outras facções envolvidas nisso.

“Não, eu jamais fugiria. Sou fiel ao Destemor e vou matar quem tirou John de mim.” - Ela grita e se contorce por causa da dor que parece se espalhar pelo seu corpo. - “Eu o amava Quatro, eu sei que isso pode ser ridículo para você, que é conhecido por ser o mais destemido e não sente nada... Só que eu o amava e sei que não posso trazê-lo de volta, mas mandarei para o inferno o culpado disso tudo.”

“Você só conseguirá morrer. Se ele se sacrificou por você era porque te amava também, mas você fará o sacrifício dele em vão se não sair daqui agora. Está machucada demais para lutar.” – Eu digo com pressa de sair e encontrar Tris.

“Por quê?” – Ela pergunta e eu devolvo um ‘apenas faça’ antes de me virar para local de onde vim.

“Quatro, antes que vá, por favor, não deixe que Gabe tenha o mesmo destino que o irmão.”

Aceno com a cabeça e vou. Entendo tudo o que Cecilia disse, porque se algo acontecesse com Tris, a minha vida tornaria a ser como antes, só um dia após o outro sem sentido.

Ao chegar no corredor principal me coloco em meio às pessoas da fila e assumo a mesma máscara inexpressiva delas. Meu plano imediato é encontrar Tris e tirá-la em segurança desse lugar. Depois, nós poderemos pensar no que faremos.

Paramos diante de várias mesas com armas e munições dispostas sobre elas. Todos em silêncio e com ritmos uniformes pegam armas e acessórios e eu me limito a imitar seus movimentos. Nos dirigimos à saída e até agora não avistei Tris.

Se Tris estiver sendo controlada, o que é pouco provável, ela mataria pessoas inocentes aliando-se ao que mais abomina. Se ela estiver acordada, talvez tenha se escondido. Eu quero acreditar nisso, mas não tenho esperanças. Ela não abandonaria as pessoas que ama. Nós dois sabemos para onde estamos nos dirigindo com armas.

Abnegação.

Ela tentará salvar a família.

Max passa por mim e me encara. Sinto minha mão se fechar rigidamente contra o cano da arma. Ele balança a cabeça e ordena para que abram os portões da caverna e, assim que os atravessamos, andamos até nos posicionarmos paralelamente aos trilhos do trem. Esperamos. Eu vejo Zeke há alguns metros de mim e sinto um pesar de tristeza profunda. Ele é meu amigo e está sendo controlado, nenhum de seus sorrisos estão ali. Ele aparece mais um cadáver.

Vejo uma das pessoas do meu lado virando-se e caminhando para frente do vagão, como se fossem comandadas para fazer aquilo. Eu os acompanho e, uma vez dentro do trem, imito alguns que se postaram em frente à porta do vagão e colaboro, ajudando outras pessoas a entrarem. De repente, sou surpreendido ao ver Tris perto de Jully e, assim como da primeira vez que a vi, ergui a mão para ela que a aceitou. Ela pulou para o interior do trem sem olhar para mim.

Depois do que se pareceram horas, ela me encarou, esperando que eu desse um sinal, mas permaneço parado, pois não quero que nos descubram. Eu não arriscarei sua vida agora que a encontrei. Seu olhar de esperança é substituído por um de tristeza e eu luto internamente contra a vontade de abraça-la e dizê-la que está segura e que irei protegê-la. Noto pequenas lágrimas se formarem em seus olhos e, pela primeira vez desde que saí de meu quarto e ouvi aquele tiro, me sinto vulnerável.

Ela pisca os olhos rapidamente, como se quisesse evitar chorar, e se vira, afastando-se de mim. Eu não espero até que todos tenham entrado no trem para me misturar ao aglomerado de gente, tomando o cuidado de ficar ao lado de Tris. Ela mantém uma posição semelhante a de todos ali. Todos, exceto nós dois e Uriáh, pelo que eu saiba.

Disfarçadamente, eu movo minha mão em direção à dela, entrelaço nossos dedos e aperto sua palma. A onda de alívio que sinto por tocá-la é instantânea e bem recebida pelo meu corpo. Agora só quero tirá-la daqui tão logo seja possível. Pelo jeito, as coisas tendem a piorar.

Ela pressiona minha mão de volta, em confirmação de que está bem. O trem começa a se movimentar e sabemos qual será seu destino. Pela minha visão periférica vejo Tris tensa, prendendo a respiração. Passo o polegar por sua mão a fim de dar-lhe algum conforto. Concentro meus olhos em uma abertura à frente, enquanto minha mente traça planos para distrair os líderes dando-a tempo suficiente para fugir. Sei que vou morrer ao fazer isso, mas é o preço a se pagar pela segurança de Tris.

Quando o som dos freios do trem em contato mais forte aos trilhos alteia, permanecemos parados enquanto, um a um, todos pulam para fora do trem. Chega a minha vez e sei que é esta a hora perfeita para ela fugir. Eu a encaro e ela devolve meu olhar. Procuro guardar para mim cada detalhe de seu rosto.

“Corra”. – Eu digo.

“Minha família.” - Ela responde e sei, embora quisesse, que não posso exigir que ela os deixe para trás. Eu mesmo não a deixaria, por isso pulo sendo seguido de perto por ela. Retorno a minha postura inicial e foco meus olhos na pessoa que caminhava em minha frente.

Percorremos os lugares onde vivi e o estrondo causado por disparos são um lembrete para mim de que esta Abnegação, tão fria e banhada por sangue de inocentes, não é a mesma que conheci. Crianças que antes eu via brincando pelas alamedas agora vejo encostadas aos pais completamente entregues ao desespero. Eu me sinto mal ao ver seus olhos em mim, como se eu fosse uma anomalia.

Soldados do Destemor invadem casas, retiram pessoas à força, ora enfileirando-as, ora as executando imediatamente. Pessoas inocentes sendo mortas à minha frente por outras pessoas também inocentes, com as quais convivia diariamente. Estou impotente, apenas observando amigos e conhecidos se transformarem em assassinos.

“Isso é uma loucura.” – Eu reconheço a voz de Eric próximo a Tris. Meu corpo fica rígido e aperto com força minha arma.

“Eles realmente não conseguem ver a gente? Nem ouvir a gente?” - Alguém pergunta e essa voz me é familiar.

“Eles conseguem ver e ouvir. Apenas não estão processando o que eles veem e ouvem do mesmo jeito.” - Eric diz. - “Eles recebem comandos dos nossos computadores por meio dos transmissores que injetamos neles...”. - Ele fala mais alguma coisa, porém não consigo identificar e nem de pensar sobre suas palavras porque ele já está ao meu lado.

“Agora, essa é uma visão feliz.” - Ele diz. - “O lendário Quatro. Agora ninguém mais vai lembrar que eu fiquei em segundo lugar, vai? Ninguém vai me perguntar: Como foi treinar com o cara que só teve quatro medos?”.

Pressiono minha mão com mais força, ao ponto de ferir-me. Eu tento me manter concentrado e em não demostrar sinais de consciência, mas isso se torna mais difícil quando Eric saca sua arma e coloca o cano rígido e gelado contra a minha cabeça.

Controle-se. Ele não fará mal a ela se você continuar imóvel.

“Será que alguém perceberia se ele fosse acidentalmente baleado?” - Eric pergunta..

“Vá em frente, ele não é nada agora.” - A voz feminina responde entediada.

“Que pena você não ter aceitado a oferta de Max, Quatro. Bom, que pena para você, de qualquer forma”.

Meu rosto aquece em fúria e meu estômago se contorce. Seguro o máximo de mim mesmo para não revelar-nos. Contorço minhas mãos procurando o gatilho da minha arma, mas antes que eu faça qualquer coisa, Tris aponta a arma para o rosto de Eric, que fica perplexo e assustado. Seu rosto perde a cor e seu corpo a coragem.

“Tire sua arma da cabeça dele,” - Tris ordena, mas sua posição não era boa, já que a outra mulher - uma das líderes do Destemor -, agora apontava uma arma em sua direção.

“Você não vai atirar em mim.” - Ele desdenha, blefando.

“É uma teoria interessante.” - Tris rebate e em um milissegundo, ela atira em Eric que pragueja e volta sua total atenção ao pé machucado, deixando-me livre para atirar na perna da líder do Destemor que apontava para Tris. Tris agarra meu braço e corre me puxando com ela. Não há tempo para atirar, só para correr. Conheço um prédio próximo que dá fácil acesso a outros antigos e interditados e, uma vez lá, não seríamos capturados.

Mais tiros. Aperto sua mão e acelero a corrida. Falta menos de cem metros para que estejamos a salvo. Então, Tris tropeça. Ouço mais tiros e viro-me para ajuda-la a se levantar, mas sou surpreendido com seu gemido de dor e percebo o sangue fluindo sob a caminha que ela usava. Ela foi alvejada no ombro.

Eu caio de joelhos e fico com ela. Neste momento, várias coisas passam pela minha mente. A imagem dela na rede e minha mão sendo a escolhida para retira-la de lá. Nós dois subindo a roda gigante e, no dia seguinte, eu sendo forçado a lançar facas contra ela e, depois, quando tomei coragem de mostrar-lhe minha paisagem do medo na mesma noite em que demos nosso primeiro beijo. Tris era importante demais para que eu a deixasse aqui. E, como se fosse um presságio do que viria, o que aconteceu com Cecília poucos momentos antes torna-se meus últimos pensamentos agora. Tris sacrificou seu disfarce para que eu não fosse morto por Eric. Tomou um tiro para me proteger e ninguém mais faria isso por mim.

“Corra!” - Ela me disse com os olhos cheios de dor.

“Não.” E é só isso que eu respondo. Eu havia tomado minha decisão e não a deixaria.

Em questão de segundos estamos cercados. Ajudo-a se levantar, apoio o seu peso e mim do lado oposto ao ferimento. Soldados do Destemor nos bloqueiam apontando suas armas.

“Rebeldes Divergentes.” - Eric diz com o ódio estampado no olhar. - “Entreguem suas armas.”


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Notas finais do capítulo

E aí, merecemos uma recomendação de 26 capítulos postados?!

A fic está na reta final e tem muuuiiitas pessoas que sabemos que acompanham e nunca nos deram um oizinho... Então, comentem, recomendem que voltamos com o 27, 28 e 29!!!

Se quiserem aparecer na nossa outra fic ficaríamos mto contentes.
http://fanfiction.com.br/historia/497964/Coracoes_Convergentes/

Beijos.