Divergente - por Tobias Eaton escrita por Willie Mellark, Anníssima


Capítulo 2
Capítulo 2


Notas iniciais do capítulo

Agradecemos imensamente todos os reviews, maaas gostaríamos que todas pessoas que marcaram acompanhamento comentassem!!!
Beijo, genteeee!!!!



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Quando todos os iniciantes estão em terra firme, nós os conduzimos para um túnel próximo à entrada. Os olhares curiosos dos novatos percorrem toda a extensão do local, observando as paredes de pedra e o teto inclinado. Embora a ausência de luz seja predominante, há pequenas frestas pelas quais raios do sol entram o que traz alguma claridade ao Complexo.

Paramos, então, Lauren se vira para todos os iniciandos – transferidos e nascidos no Destemor.

"Aqui é onde nos dividimos, os iniciados nascidos no Destemor, venham comigo.” - Ela sorri. - "Eu suponho que vocês não precisam de um tour pelo lugar."

Assim que o grupo de iniciandos do Destemor se afasta, desaparecendo pela porta, restam apenas nove novatos transferidos. Olho para seus rostos e constato que apenas Tris veio transferida da Abnegação, assim como eu, em minha iniciação. Dirijo-me até eles, encarando um a um com o claro intuito de mostrar superioridade e indiferença. Tenho que me impor porque deixar os traços típicos de minha antiga facção é algo extremamente necessário, mas esconder minha verdadeira origem pode se tornar algo ainda mais difícil, com a presença da Careta novata.

“A maioria do tempo, eu trabalho na sala de controle, mas pelas próximas semanas eu sou o instrutor de vocês.” - Eu digo. - ”Meu nome é Quatro.”

"Quatro? Como um número?" Uma garota pergunta e, de acordo com sua vestimenta, ela veio transferida da Sinceridade. Em geral, não gosto dos membros da Sinceridade, com suas intermináveis perguntas, respostas francas e curiosidade além do limite. Agem como se o simples fato de serem diretos – na minha opinião, indiscretos -, obrigasse a todos que também o fossem. E, se existe algo que realmente me incomoda são perguntas porque é uma regra eu não querer respondê-las.

"Sim, algum problema?" - Pergunto-lhe secamente.

"Não." - Ela diz e, pelo seu tom, sinto que está um pouco amedrontada. Isso é bom.

“Bom,” – continuo -, “nós estamos a ponto de entrar no Fosso, o qual algum dia, vocês aprenderão a amar. Eu..."

Antes que eu possa completar a frase a mesma garota me interrompe novamente.

“O Fosso?” - Pergunta ela rindo. - ”Nome interessante!"

Ando seriamente até ela, inclino-me bem próximo ao seu rosto e a encaro. Não posso deixar que ela se sinta à vontade de me interromper e atirar questionamentos sobre mim. Além disso, não gostei da forma como ela me perguntou. Odeio que riam de mim!

"Qual é o seu nome?" - Pergunto com uma falsa calma.

"Christina." - Ela grasna.

"Bem, Christina, se eu quisesse suportar os espertinhos da Sinceridade, eu teria entrado na facção deles. A primeira lição que você vai aprender comigo é manter a boca fechada, será que entendeu?" - Ela apenas assente.

Começo a andar em direção ao final do túnel, os levo por uma porta dupla e as empurro. Agora sim o nosso pequeno tour começa. Mostro a eles os andares construídos dentro das rochas, entre outras coisas durante a entrada, assim como foi feito quando entrei aqui pela primeira vez. Lembro-me que minha reação foi semelhante a deles, só que falta uma das coisas mais importantes daqui: o abismo.

“Se vocês me seguirem,” - digo - “Eu lhes mostrarei vocês o abismo."

Andamos para o lado direito da Caverna e começamos a ouvir os rugidos da água se movendo rapidamente contra a rocha. Afasto-me um pouco para que eles possam observar mais próximos da beirada. Eles parecem encantados com a forma, barulho e violência das águas. E como sei que alguns podem interpretar este encantamento para se lançarem em tentativas de provarem sua coragem, tentando vencer a força das águas, acho melhor alertá-los de que existe uma diferença entre destemor e riscar de forma vil suas próprias vidas, como acontece todos os anos com os viciados em adrenalina que existem aqui.

"O abismo nos lembra de que há uma linha tênue entre bravura e a idiotice." - Grito, por causa do barulho. - "Um pulo audacioso dessa saliência irá acabar com sua vida. Isso aconteceu antes e vai acontecer novamente. Vocês foram avisados."

"Isso é incrível." - Christina fala olhando para Tris.

"Incrível é a palavra.” - Responde Tris assentindo enquanto se afastam da beirada.

Após minha breve apresentação do local, levo-os ao refeitório que é um dos poucos lugares aqui em que a iluminação é realmente satisfatória. Logo na entrada, é possível ouvir as pessoas conversando em voz alta e animadamente. São em momentos como este que temos certeza de que o Destemor pode ser considerada a facção da liberdade. Ensinamos o básico, damos um tapinha das costas dos membros e dizemos ‘vão lá e façam o que quiserem, como quiserem e quando quiserem.'

É claro que existem algumas regras que devem, claramente, ser obedecidas, pois qualquer sinal de transgressão pode levar à um corpo repousando ao lado de trilhos ou no fundo do abismo...

Logo que entramos ouvimos os gritos e aplausos de boas-vindas dos membros do Destemor para os novatos. Guio-os até uma mesa ao lado do salão. Sento e vejo através da minha visão periférica que a garota da Sinceridade – Christina – pula um banco para não ficar do meu lado, me fazendo suprimir um sorriso. Tris é a última a entrar e sinto quase pena dela porque não lhe resta outra opção senão se sentar ao meu lado e, certamente isso não a deixará mais confortável. Em que estou pensando? Não quero mesmo tornar nada mais fácil para ninguém aqui. Isto seria altruísmo e exteriorizá-lo vai contra o espírito do Destemor.

Mas por mais que eu quisesse ser indiferente, a careta me lembra à mim mesmo e, instintivamente olho para ela que está segurando um hambúrguer, sem saber o que fazer e a entendo. Na Abnegação tínhamos que comer de forma comedida, além disso, a comida lá é simples, de modo que carne não é um alimento corriqueiro. Cutuco-a com o cotovelo e digo.

"É carne de boi.” – Digo na tentativa de ajuda-la um pouco, pego um pacotinho de ketchup e dou a ela. - "Coloca isso”

"Você nunca comeu hambúrguer antes?" - Pergunta Christina, ao perceber a confusão nos olhos de Tris.

"Não, é assim que se chama isso?" - Tris responde.

Depois do meu comportamento anterior com Christina, resolvo complementar a resposta de Tris, afinal, não quero que sintam mesmo medo de mim. Respeito. Medo não.

"Abnegados se alimentam com uma comida modesta." - Eu digo.

"Por quê?" - Christina pergunta.

"Extravagância é considerada indulgente e desnecessária.” - Responde Tris, enquanto dá de ombros. Uma resposta clara e concisa como se poderia esperar de uma Careta.

"Não é de se surpreender que você tenha saído." - Christina fala enquanto ri.

"Sim, foi só por causa da comida." - Tris diz.

Seguro-me para não rir e penso quais seriam as razões por trás de sua escolha... Neste momento, as portas se abrem e qualquer sorriso que pudesse surgir por conta da resposta de Tris desaparece, quando vejo a figura de cabelos compridos e gordurosos, com rosto cheio de piercings: Eric.

Ele participou da mesma iniciação que eu e terminou em segundo lugar. Sempre me odiou e sei bem o porquê. Sua arrogância e pretensão excessivas o fizeram se sentir humilhado por mim tantas vezes durante a iniciação. Não foi somente o fato de ter ficado na segunda colocação, mas sim porque a primeira ficou para um Careta.

Ele anda em direção a nossa mesa.

"Quem é esse?” - Christina pergunta.

"O nome dele é Eric. Um líder do Destemor."

"Serio, mas ele é tão jovem?" - Ela diz e me olha espantada.

Realmente, mas a juventude aqui não é pautada pelos mesmos critérios utilizados em outras facções. Quando a maioria dos membros arrisca diariamente a vida, não há muitos que chegam à velhice e os que chegam, se tornam velhos demais para ser de alguma utilidade e são gentilmente ‘convidados à deixar’ a facção, estando livres ainda para seguirem outro caminho: a morte! Idade aqui não significa nada.

"Idade não importa aqui." - Digo seriamente para Christina.

Eric chega em nossa mesa e senta-se próximo à mim.

"Não vai me apresentar?"

"Essas são Tris e Christina." – Eu digo.

"Oooh uma careta.” - Ele olha pra ela rindo. - "Vamos ver quanto tempo você dura."

Sei que ele disse isto mais para mim do que para ela, mas mesmo assim a olho pra ver se ficou surpresa, envergonhada ou se sentiu ameaçada. Ao contrário do que imaginei, ela apenas o encara e de alguma forma isso me deixa feliz, porque ela precisa ser corajosa.

"O que você tem feito ultimamente, Quatro?" - Ele me pergunta.

"Nada." - Respondo. Ele tentou parecer casual, mas sei onde ele quer chegar.

"Max me falou que ele fica tentando se encontrar com você, mas você não aparece, ele requisitou que eu descobrisse o que estava acontecendo com você," - diz ele.

Ah Eric, sempre tão previsível... É claro que está interessado, afinal, seu cargo preferencialmente seria o meu. Vejo sua curiosidade e medo ao mesmo tempo e decido provoca-lo só um pouquinho.

"Fale para ele que eu estou satisfeito com a posição que eu tenho atualmente," - digo, observando seu rosto.

"Então ele quer dar um trabalho a você." - Ele me analisa ponderando sobre a informação.

"Parece que sim," - respondo.

"E você não está interessado?"

"Eu não estive interessado por dois anos, porque estaria agora?" Digo e ele relaxa imediatamente.

"Bem." - Eric responde. - "Vamos esperar que ele compreenda então". - Ele se despede com palmas nas minhas costas - não suave como um amigo, mas pesadas -, com uma raiva disfarçada.

"Vocês são... amigos?" - Tris me pergunta. É a primeira vez em que, deliberadamente, me dirige à palavra.

"Nós estávamos na mesma classe de iniciação. Ele veio transferido da Erudição." - Eu digo.

"Você é um transferido também?" - Ela me pergunta e eu me sinto na defensiva. Corre pela minha mente tudo o que eu passei para estar aqui, que ainda me sinto infeliz, que a sombra do meu carrasco me persegue em meus pesadelos... Não posso deixa-la pensar que pode me fazer perguntas.

"Eu pensei que só teria problemas com a Sinceridade, fazendo tantas perguntas. Agora eu também tenho Caretas também?" - Falo friamente.

"Deve ser porque você é tão acessível como uma cama de pregos!" - Ela responde me encarando e de repente, acontece de novo... Aquela sensação que senti quando olhei no fundo de seus olhos quando a ajudei sair da rede, só que agora veio com mais força. Ela não fica tensa nem desvia seu olhar do meu. Ao contrário, seu azul me penetra e estranhamente meu sangue começa a fluir de forma mais rápida, meu coração se agita e fico nervoso.

Algo dentro de mim quer gritar com ela, para que ela pare de me deixar assim. Por outro lado, quero agarrá-la e não sei de onde isso veio. Ninguém havia me encarado assim, e por um momento, esqueço-me do que responder porque estou preso aos olhos dela.

Quando percebo que estamos nos encarando por mais tempo do que seria aceitável, para desviar-me dela, apenas digo: "Cuidado Tris!"

Zeke me chama para sentar junto com ele em outra mesa e agradeço mentalmente. Por ora estou livre desses olhos.


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Notas finais do capítulo

Comenteeem.
Por Favoor ^^
E, outra, adoramos que nos mandem mp's!!!!