Abri os olhos e olhei em volta, eu estava no quarto e finalmente o final de semana tinha acabado!Levantei da cama e caminhei ate o banheiro. Observei minha cara inchada no espelho, eu ainda estava com a mesma roupa de ontem, na verdade nem me lembrava de ter pegado no sono e agora eu estava horrível, mas precisava dar um jeito naquela cara feia e ir para a escola. Não que eu tivesse animo, eu sentia como se tivesse sido atropelada por um ônibus, mas eu precisava ir pra escola e precisava seguir minha vida normal. O mundo não para por causa de uma desilusão amorosa, apesar de eu estar completamente destruída por dentro, eu ainda precisava respirar.

Terminei de me arrumar e fui ao encontro da minha mãe na cozinha, ela baixou o jornal que lia e me observou entrar na cozinha e ficou assim me encarando ate eu sentar na mesa junto a ela.

–Bom dia mãe. Será que dá pra parar de me olhar assim?Perguntei enquanto me servia de um pouco de café.

–Posso sim, assim que você me explicar o que foi tudo àquilo ontem.

–Não tem nada para explicar.

–Não?E toda aquela gritaria?E aquele chororó todo?O Bruno foi embora chorando também. E você me diz que não tem nada pra explicar?

–São coisas de adolescentes mimados, puro drama, mãe, só isso.

–Luna!

–Mãe chega!Eu tenho que tomar café pra ir pegar o ônibus.

Minha mãe suspirou ainda insatisfeita com minhas respostas, eu sabia que ela ia continuar o interrogatório quando chegasse da escola, mas pelo naquele momento ela me deixou em paz.

Empurrei pra dentro um pedaço de pão e tomei um pouco de café, não tinha vontade de comer, mas se não fizesse isso corria o serio risco de minha mãe não me deixar sair de casa.

Assim que acabei o café, levantei para sair e foi então que vi na mesinha perto da porta da cozinha, uma enorme cesta recheada de bombons e tinha ate um ursinho.

–O que é isso, mãe?

–É pra você.

–Pra mim?Ai, mãe!Não precisava.

–Não fui que quem te deu.

–Não?

–Foi o Manoel.

–Manoel?

–Sim, ele veio aqui ontem à noite depois que o bruno saiu,mas como você já estava dormindo,pedi pra ele voltar depois.

Merda!Muita merda!Eu tinha me esquecido completamente do Manoel, tinha me esquecido que ele tinha voltado e que eu tinha que conversar muito seriamente com ele. Olhei para aquela cesta e me senti a pior pessoa do mundo, Manoel não merecia uma pessoa como eu.

Segui para a escola e logo na entrada encontrei com vick, Laura e o Fred.

–Oiii Luna. Cumprimentou-me Fred com um sorriso de orelha a orelha.

Laura e vick também sorriam e eu achei muito estranho aqueles sorrisos.

–O que vocês têm? Perguntei sem animo.

–Nada, só queremos saber como foi o seu fim de semana. Falou Laura.

Suspirei e fitei o chão sentindo as lembranças voltando a minha cabeça. Meus amigos perceberam meu estado.

–O que foi Luna?O que aconteceu? Vick perguntou.

–Aconteceu tudo. Não consegui conter mais as lagrimas e contei tudo para eles, desabafei.

–Eu não acredito nisso!Não é possível! Laura parecia bastante irritada.

–Vocês tem certeza que a Aline esta grávida?Perguntou vick.

–Claro que temos, ela mostrou o resultado do exame.

–Ai amiga você deve estar péssima. Fred me abraçou e ficou acariciando meus cabelos.

Chorei mais um pouco enquanto era consolada por meus amigos, era tão bom ter eles por perto.

Laura era a única que parecia inquieta e andava de um lado para o outro no pátio.

–O que você tem Laura?Perguntei.

–Eu tenho raiva!Raiva de mim por ter sido tão idiota!Eu disse para aquele imbecil que ia matar ele se ele te fizesse sofrer...

–Peraí!Como assim você falou pra ele?Do que você ta falando?

Laura fez aquela cara que todo mundo faz quando diz o que não devia.

–Fala Laura!

–Ta bom, eu falo!Eu fui atrás do Bruno e falei pra ele voltar com você e eu quem deu a ideia do acampamento.

–Laura!Eu não acredito que você fez isso, não acredito.

–Foi mal, me desculpa, mas eu não aguentava te ver daquele jeito por causa dele e ele me disse que te amava também e eu... Desculpa Luna, eu fui uma idiota.

Laura praticamente chorava enquanto despejava tudo. Olhei para minha amiga e não acreditei no que ela tinha feito, ela engoliu o orgulho e foi atrás do bruno por minha causa.

–Claro que eu te desculpo Laura, você não tem culpa de nada.

O sinal tocou anunciando que era hora de entrar na sala. Fui pra aula, mas como era de se esperar eu não consegui prestar atenção em nada que os professores falaram, dentro da minha mente só havia espaço pra pensar no Bruno. O nome dele ficava piscando na minha cabeça com um enorme letreiro e ainda tinha outro problema que me preocupava também que era o Manoel. Eu tinha que contar pra ele tudo o que tinha acontecido entre mim e o Bruno e precisava fazer isso hoje.

Não vi o Bruno e nem a Aline na escola e isso me deixou ainda mais nervosa, eu ficava imaginando os dois assinando os papeis do casamento, maior viajem eu sei, mas meu cérebro queria pregar essas peças em mim.

Finalmente o dia passou e já era hora de ir embora.

–Você vai querer uma carona pra casa? Fred perguntou.

–Eu vou sim, obrigada.

Caminhamos os quatro para o estacionamento e foi aí que o vi encostado no carro com um sorriso de orelha a orelha. O Manoel.

–Oi meu amor! Ele veio ate mim e me pegou no colo e rodou comigo no estacionamento.

–Calma, manu, estamos na escola ainda.

–Eu sei, mas eu estava morrendo de saudade.

Ele me beijou com muito entusiasmo.

Me despedi dos meus amigos e entrei no carro do Manoel.

–Vamos lá pra casa?

–Pra sua casa?Fazer o que?

–Eu quero mostrar pra você os meus dotes –Ele sorriu maliciosamente e acrescentou-Meus dotes culinários.

–Ahh...

–A não ser que você queira que eu te mostre meus outros dotes também.

Olhei para aqueles olhos esverdeados e me senti péssima, ele era tão maravilhoso comigo e eu não devia ter feito o fiz.

–Desculpa...

As palavras saíram da minha boca sem que eu percebesse.

–Desculpa?Desculpa pelo que?

–Nada, eu... Nem te recebi direito. Respondi o abraçando novamente e o beijando.

Eu não devia fazer aquilo, eu tinha que terminar com ele agora. Então porque eu não conseguia fazer isso?

–Você esta desculpada- Manoel sorriu com os lábios ainda colados nos meus- Mas você disse que tinha uma coisa para falar comigo...

Eu tinha que contar pra ele, essa era a hora, mas a coragem não veio.

–Não é nada de importante, vamos falar da sua viajem.

–Eu adorei!Você tinha que ver, a estrutura e como tudo é organizado, aquele é o meu sonho realizado.

Manoel e eu estávamos deitados na cama dele, já tínhamos almoçado e agora eu estava o ouvindo contar sobre o time de basquete, mas ele não parecia muito animado.

–E então porque essa cara?

Ele me olhou e suspirou.

–É que... Eu não queria ficar longe de você, eu quero que você venha comigo.

–Nós já falamos sobre isso e eu já disse que meus pais nunca deixariam.

–Mas nós nem tentamos... Talvez consigamos convencê-los.

Suspirei sem animo, eu realmente queria ir embora, queria deixar o Bruno para trás e Aline também, mas não era assim tão fácil e também tinha a traição que eu precisava contar para ele.

–Tudo bem, vamos esquecer isso por enquanto. Ele falou e beijou meu pescoço.

–Manoel...

Tentei o afastar, pois já percebi quais eram as intenções dele.

–Vamos aproveitar que estamos sozinhos e to morrendo de saudade de você.

Manoel me beijou e me puxou meu corpo para cima do dele, os beijos eram intensos e as mãos deles já passeavam por todo meu corpo, mas eu não conseguia entrar no clima. Não tinha jeito, eu tinha que contar pra ele.

–Manoel, espera um pouco. Me levantei da cama.

–O que foi Luna?Você não quer ficar comigo? Ele parecia desconcertado.

–Não é isso, é que tem uma coisa que preciso te contar e tem que ser agora.

–O que é?O que ta acontecendo. Ele também se levantou e ficou frente a frente comigo.

Respirei fundo buscando coragem .

– Eu transei com o Bruno.

–O que?

O rosto do Manoel era uma mascara de dor, ele parecia não acreditar naquilo.

–Por favor, não fica assim, eu juro que foi totalmente sem querer, quer dizer eu não planejei nada... Aconteceu.

–Aconteceu?Aconteceu, luna?Simples assim, você simplesmente transou com outro!Como você quer que eu fique?

Nessa altura eu já chorava, ultimamente era só isso que eu fazia bem, só chorar. Eu estava magoando uma pessoa que realmente gostava de mim. Eu tinha me transformado numa pessoa horrível.

–Eu sei que você deve estar com raiva de mim e sei que você vai querer terminar tudo, mas eu tinha que te contar, eu não ia consegui mais olhar pra você se eu não te dissesse logo a verdade.

–Isso é demais pra mim, eu não sei o que pensar agora.

–Desculpa.

Peguei minha mochila e sai do quarto.

O resto da semana não tive noticias do Manoel,nem um telefonema nem nada.

Eu já estava conformada que ele não iria nunca mais olhar na minha cara. Mas numa manhã de sábado alguém bateu na minha porta logo cedo e quando fui atender, dei de cara com o Manoel.

–Oi. Ele disse.

–Oi.

–Será que a gente pode conversar?

Deixei-o entrar e subimos para o meu quarto.

–Pode falar.

–Eu vim aqui, contrariando todos os meus pensamentos, porque eu precisava te falar uma coisa.

–O que?

–Eu não consegui parar de pensar em você, não deu e você teve corajem pra me contar o que tinha acontecido... Enfim eu quero ficar você, quero esquecer tudo o que aconteceu e começar outra vez.

Engoli em seco, não esperava essa atitude dele. Eu ainda não tinha esquecido o Bruno, mas aquela era a minha chance de tentar esquecer, o Manoel é quem eu preciso pra me ajudar com isso, tenho certeza que mais cedo ou mais tarde eu vou conseguir ama-lo.

–Que bom que você me perdoou, eu estava com saudade.

Nos abraçamos e eu me senti segura novamente. Eu vou tentar com todas as minhas forças esquecer o Bruno.