Setor Sobrenatural de Crimes - para Asuka Maxwell escrita por Amigo Secreto


Capítulo 1
Setor Sobrenatural de Crimes




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/463360/chapter/1

Ele não sabia porque tinha sido escolhido para essa missão. Não era como se ele fosse o melhor agente do setor, pelo menos não ainda. Em sua humilde opinião era uma questão de tempo.

Enquanto tamborilava os dedos na mesa de madeira do modesto Café, ele se olhou no reflexo do vidro e supirou. Ele sabia que sua aparência contava muitos pontos para seu trabalho, com sua pele bronzeada pelo sol, os cabelos pretos e arrepiados e os olhos vividamente azuis. Mas ele desejava que seus colegas percebessem que fora mais do que sua aparência e sua linhagem que haviam lhe conseguido o trabalho.

Ele foi interrompido de seus pensamentos quando a porta do Café se abriu e um jovem entrou, quase tropeçando no chão. Ele endireitou o gorro azul e a mochila transpassada que carregava e olhou em volta, como que procurando alguém. Quando seus olhos se encontraram, o jovem sorriu largamente e em passos rápidos caminhou na sua direção.

“Jade, certo?”

Ele acenou devagar, os olhos azuis desconfiados. O jovem sentou-se e após pedir um Latte para a garçonete, ele tirou a bolsa do corpo e a colocou em cima da mesa.

“Meu nome é Quartz. Bom, meu codinome é esse e vamos deixar assim por enquanto. Eu sou seu suporte para esse missão. Bem-vindo a Londres.”

Jade apertou a mão oferecida com certa cautela.

“Humano?”

Quartz riu e soltou a mão do homem mais velho, tomando um gole do Latte que acabara de chegar.

“Não, mas engana bem né? Eu sou um druida e faço esse pequeno truque para me misturar na multidão. Se eu enganei um lobisomem de linhagem pura, quer dizer que estou no caminho certo.”

Jade arqueou a sobrancelha e o jovem riu.

“Oh, é meu dever como suporte saber tudo sobre você, senhor agente da CIA.”

“Você não parece ter idade para já trabalhar na Interpol.”

Quartz bufou com a declaração.

“Eu sei que pareço um adolescente, você não é o primeiro a me falar.”

Jade observou-o calmamente. Certamente as roupas quase hipster , combinadas com a pele pálida, sardas e os cabelos ruivos saindo do gorro não ajudavam. Os olhos grandes e verdes só reforçavam isso.

“Qual o nosso projeto?” dise por fim, mudando de assunto.

Quartz riu e abriu a mochila, tirando um folder e empurrando na sua direção.

“É basicamente um feijão com arroz. Você conhece o diplomata americano Karl Spalding?”

Jade acenou.

“Ele estava em Londres para a Conferência Internacional de Criaturas Sobrenaturais quando sua filha foi sequestrada. Isso ainda não foi divulgado na mídia por questões políticas, como você pode imaginar, e nosso projeto é achá-la.”

Jade abriu o folder, escaneando o relatório e as fotos rapidamente, seus olhos atentos a cada detalhe. Por fim, comentou.

“A última vez que tinha visto esse tipo de coisa foi quando aquela filha do diplomata chinês havia sumido.”

“É, no fim ela havia fugido com um goblin.”

Jade arqueou a sobrancelha, surpreso. Quartz sorriu marotamente.

“Além de ser um ótimo druida eu sou um ótimo hacker. Eu sei que essa não foi a história que apareceu nos jornais, mas é a versão real.”

O agente fechou o folder e levantou-se.

“Vamos? Há muito para investigar ainda.”

O ruivo levantou-se abruptamente e guardou o folder em sua mochila.

“E eu sei onde podemos começar.”

-----

“Esse foi um truque druida ou um truque hacker?”

Quartz o encarou com os olhos estreitos enquanto abria a porta do quarto de hotel. Jade rapidamente passou a investigar cada detalhe no local.

“Um pouco dos dois.”

“Uhn?”

“Você perguntou qual foi o meu truque e eu respondi.”

O moreno sorriu de canto de boca e continuou a investigação. O quarto ainda estava desarrumado, cortesia do hotel, que deixara do jeito que haviam encontrado quando a garota sumira. Seus sentidos aguçados detectavam apenas dois cheiros no local, um doce e açucarado, outro forte e exótico. Provavelmente a garota e seu captor. De canto de olho o agente viu o druida colocar luvas de silicone e começar a revirar o espaço.

Ambos trabalharam silenciosamente por quase vinte minutos e Jade estava surpreso de como a presença do druida não lhe incomodava.

“A-ha!”

Jade virou-se ante a exclamação do outro agente e viu o Quartz segurando um abridor de cartas ensanguentado.

“O que é isso?”

“Temos uma digital e o dna do sangue. Meu palpite seria a arma de defesa da nossa vítima, mas somente examinando posso comprovar.”

“Ótimo, iremos para a Interpol então?”

“Na verdade...”

Mas antes que Quartz pudesse completar, sua audição aguçada ouviu vozes vindo na direção do quarto.

“Quartz, se esconde, vem vindo alguém.”

O jovem enfiou o abridor de cartas num saco plástico e rapidamente se escondeu no quarto do lado. Ele mal fechara a porta quando a outra, da sala se abrira, revelando um homem vestindo roupas escuras e a supervisora do hotel, um pavor puro escrito em seus olhos. Jade encarou ambos até que o homem sibilou como uma cobra, seus olhos brilhando na cor vinho. Certo.

“Achei que tivesse dito que ninguém havia vindo pra cá.”

“Eu disse a verdade, eles não passaram por mim na recepção, eu juro.”

Jade sorriu largamente, deixando seu rosto o mais charmoso possível.

“Oh, me desculpe, eu estava esperando pela minha namorada, queria fazer uma surpresa pra ela. Aconteceu alguma coisa?”

O homem rosnou e jogou a mulher para o lado, avançando contra ele. Em um movimento rápido ele girou e jogou o homem contra o chão, pressionando suas garras na nuca pálida.

“Tsc, vampiros, tão previsíveis.”

Quartz abriu a porta e foi até a mulher, ajudando-a a se levantar. Ele assobiou quando viu o homem que o moreno segurava contra o chão.

“Eu estou assumindo que ele veio fazer a limpeza?”

“Parece que sim.”

O ruivo virou-se para a supervisora e sorriu, seus olhos brilhando dourados.

“Você pode ir agora, cuidaremos do intruso.”

O rosto dela era impassível, como que hipnotizada. Ela acenou afirmativamente e saiu da suíte, deixando os três homens a sós. Ele se aproximou do vampiro e retirou algo da mochila, um líquido vinho dentro de uma seringa. Ele fincou a agulha na nuca do vampiro intruso e logo esse se contorceu antes de perder a consciência. Jade levantou-se, encarando o ruivo com uma expressão surpresa. Ele deu de ombros.

“Sempre esteja preparado, é o que eu sempre digo. “

“Achei que os escoteiros dissessem isso.”

“Eu também sou adepto dessa frase.”

Jade sorriu com humor e pegou o homem, jogando-o no ombro.

“Interpol?”

“Bom como eu ia dizendo...:” o druida sorriu amarelo e coçou a nuca.

-----

“Bom, pelo menos não é a garagem da sua casa.”

“Quando eles querem que seja ultra-secreto, isso significa não usar dos recursos da agência.”

Jade revirou os olhos enquanto depositava o vampiro desacordado em uma cadeira de madeira. Quartz revirava algo em umas das gavetas do estranho laboratório, até se aproximar com uma cara de triunfo, segurando uma corda.

“O que é isso?”

“Corda feita de verbena, perfeita para segurar vampiros que não queiram cooperar e eu estou assumindo que esse será o caso.”

Ambos envolveram o corpo frio com a rústica corda e bem há tempo, já que o homem dava sinais de acordar. O vampiro abriu os olhos e sibilou, tentando morder um deles, mas a corda o restringiu e ele gemeu, sentindo-a queimar na pele.

“Me soltem!”

“Calminha aí dentuço, não antes de você responder umas perguntinhas.”

Jade apenas levantou uma das mãos e deixou suas garras aparecerem. O vampiro riu, seus caninos, agora maiores que antes, brilhando na meia-luz.

“Nada do que você fizer será pior do castigo que terei se eu contar algo, vira lata.”

O moreno rosnou, seus olhos brilhando vermelhos. Quartz empurrou Jade para trás, antes que ele arrancasse a cabeça do vampiro. Ele tinha os lábios comprimidos, a postura rígida.

“Jura que você vai jogar essa carta? ‘Meu chefe é um vilão demoníaco e tenho mais medo dele do que de você’? Mesmo? E você!” ele apontou para Jade “Esfrie a cabeça, ou vou te sedar cada vez que você ameaçar um suspeito que fizer alguma piada canina.”

Jade grunhiu e seus olhos voltaram ao normal.

“Continue me comparando com um cachorro para ver o que acontece.”

Quartz revirou os olhos e ignorando o agente da CIA e voltou para o vampiro que ainda os encarava com ódio no olhar. Ele ergueu a mão e mostrou a adaga que segurava, um sorriso quase maldoso em seu rosto.

“Aposto que essa corda está lhe machucando um pouco não é? Bom, mas segundo eu sei, verbena não é nada comparado...” ele ergueu a outra mão e havia um pote de vidro com um líquido escuro dentro “com um pouco de sangue de morto não?”

O vampiro arregalou os olhos, quase querendo dar um passo pra trás, mas as cordas e a cadeira o seguravam. O ruivo sorriu ainda mais.

“Ótimo. Agora vamos conversar sobre a filha do diplomata Spalding.”

Jade arqueou a sobrancelha diante dos gritos que Quartz conseguiu arrancar do imortal. E todo mundo dizia que lobisomens que eram violentos.

-----

“Uhn...nunca imaginei que o clã de Londres realmente ousaria quebrar essa política pacífica para aumentar o consumo de sangue fresco. Parece um motivo estúpido não?”

“Vampiros são estúpidos.”

Quartz riu e empurou Jade pelos ombros. Ambos estavam dentro do toyota preto do ruivo, observando uma casa noturna na região de East End, aparentemente a central de operações do clã vampírico de Londres. Segundo o vampiro que eles haviam interrogado, Lena, a chefe do clã, estava cansada de ter esse acordo cheio que restrições que havia sido imposto pelos humanos quando os seres sobrenaturais foram revelados ao mundo. E agora eles estavam vigiando-os de perto para ter certeza que teriam alguma pista do paradeiro da jovem.

“Nisso eu vou ter que concordar com você.” Comentou Quartz por fim.

Jade sorriu brevemente e isso surpreendeu o ruivo. O pouco tempo que conhecia o outro, tinha a impressão que sorrisos eram algo raro na vida do agente. Ele olhou brevemente para onde estava a entrada do clube e logo voltou seu olhar para o americano. Mordendo o lábio inferior, resolveu perguntar de vez.

“Jade...? Sei que apesar de estarmos usando codinome a essa altura você sabe que já investiguei tudo sobre você não?”

O sorriso do moreno aumentou.

“Eu desconfiei por causa de todo o papo hacker...mas porque falar sobre isso agora?”

“Ahn...bom, digamos que eu consegui inclusive os dados confidenciais sobre a morte da sua família.”

Foi como se um balde de água fria tivesse sido jogado em Jade. O sorriso morreu em seus lábios e ele virou-se para a frente, não encarando o britânico.

“E...?”

“Deve ter sido difícil perder uma família grande como a sua tão rápido.”

O moreno voltou a encara-lo, surpreso. Geralmente, quando alguém tocava no assunto de sua família, era sempre com uma voz acusadora, por mais que ele não havia sido quem tinha matado a todos. Jade resolveu ser sincero.

“Você é a primeira pessoa que fala isso.”

Quartz sorriu e extendeu a mão.

“Meu nome verdadeiro é Abel. Prazer em conhecê-lo.”

Jade apertou a mão oferecida. Por algum motivo aquele druida, aquele humano, lhe oferecia mais confiança do que ele sentira em muito tempo.

“Prazer, meu nome é Ethan. Mas aposto que você já sabia disso não?”

O ruivo piscou divertido e respondeu.

“Claro que sim, você está falando com o melhor hacker dessa região.”

E se eles seguraram o aperto de mão por mais tempo que fosse necessário, ninguém iria saber.

-----

“Eu não acredito que aquele idiota realmente me mordeu!”

Ethan riu quando finalmente avistou Abel na porta da ambulância, tendo seu pescoço examinado, onde um dos capangas de Lena o atacou.

Eles acharam que entrar no clube e interrogar a vampira seria algo fácil e rápido, mas que ledo engano. Quando menos esperavam, eles foram atacados por quase todas as criaturas do local. Se Abel não tivesse lançado um feitiço de congelamento, eles certamente nem teriam chegado perto de Lena. Mas o uso de tal artifício, que era muito poderoso, acabou deixando o ruivo vulnerável. O que acabou dando brecha para um dos vampiros o morder.

Capanga agora que estava com uma cabeça a menos quando Ethan acabou com ele. E o americano não queria examinar porque ver o druida se machucando havia despertado sua fúria. Ele se orgulhava do controle de suas habilidades.

“Ethan?”

Ele acordou de seu devaneio quando viu Abel o encarando, um cobertor laranja em seus ombros e seu pescoço com uma bandagem cobrindo as marcas de presas. Ele se aproximou e sentou-se ao lado dele na ambulância.

“Terminaram os exames?”

“Sim, felizmente a mordida não foi suficiente para eu virar vampiro, o filho da puta quis só me machucar mesmo.”

O moreno arqueou a sobrancelha diante do xingo. Abel deu de ombros e um leve rubor cobriu suas pálidas bochechas, deixando as sardas em contraste.

“Estou aliviado que você está bem. Não ia querer chamar um vampiro estúpido para um encontro.”

O druida arregalou os olhos diante do comentário do outro e quase derrubou o cobertor dos seus ombros quando virou-se para encara-lo de frente.

“O que?”

Ethan respirou fundo e tomando coragem puxou-o pela nuca, dando-lhe um beijo profundo. Abel soltou um suspiro surpreso antes de fechar os olhos e corresponder ao beijo, o cobertor laranja caindo na calçada quando ele moveu os braços para envolver o pescoço do americano.

Após longos minutos eles terminaram o beijo e Abel sorriu maroto.

“Louie, acho que esse é o começo de uma grande amizade.”

Ethan riu com a frase e empurrou-o para trás. Mas o sorriso, que em anos não vinha fácil, permaneceu em seu rosto.

Sim, era o começo de algo grande.

FIM


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Setor Sobrenatural de Crimes - para Asuka Maxwell" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.