How Far We’ve Come escrita por Lithium


Capítulo 11
9 — Tomorrow May Rain


Notas iniciais do capítulo

LEIAM ISSO! LEIAM ISSO! LEIAM ISSO! LEIAM ISSO! LEIAM ISSO! LEIAM ISSO!

Pasmem, mil desculpas por essa demora de, holy shit, quatro meses! Santo Deus, nunca tive um bloqueio tão poderoso em relação a essa fic. Vocês têm ideia de quantos capítulos eu apaguei só nesses últimos quatro meses? Eu tenho certeza que não. O problema era o seguinte: o plano inicial era introduzir o Angst já com força total e usar Lilith para isso, mas toda vez que eu escrevia, sentia que algo estava errado. Então entendi que estava indo rápido demais e que precisava de pelo menos um breve pontapé inicial. Mas qual? Então eu tive inspiração, e saiu isso aqui.

Ainda não é para vocês chorarem, isso foi só uma breve inicialização. Claro que eu planejo fazer vocês incharem os olhos, mas isso fica para depois. Espero que gostem do resultado. Eu fiquei bem nervosa escrevendo, mas gostei.

Queria agradecer a quatro divas, a Jackbeth, a Mrs. Armstrong, a Isa e a Lily (Drama Queen), por puxarem minha orelha por mais um capítulo. Sem deixar de mencionar que a diva da Lily me pediu para aguardar uma recomendação! ♥ E, claro, a todas aquelas que me deixaram lindos reviews no capítulo passado ♥

Bem, eu pedi desesperadamente para que vocês lessem isso não só pela demora, mas também por outros motivos muito importantes.

1) Esse capítulo, no original, tinha mais que 5.400 palavras, não as 4.775 que tem agora. O que aconteceu? Uma cena foi cortada. Uma cena importante, mas que eu achei melhor não mostrar aqui, e sim depois. No início ela parecia extremamente essencial, mas decidi guardá-la. Em outro momento, vocês vão lê-la.

2) Logo no início, vocês vão ver algo diferente do que foi dito em The Lost Hero. Não estranhem. Deixei até uma nota sobre isso.

3) Jasiper shippers vão adorar esse capítulo. Não, não tem beijo (desculpem-me, meninos e meninas), mas as coisas entre os dois vão começar a rolar. Sendo este um romance lento, eles serão os primeiros a desenrolarem, apesar de o modo de um ver o outro denunciar exatamente o contrário.

4) No original, esse capítulo deveria ter narrações alternadas entre Percy, Nico e Lilith, mas novamente eu decidi adiar a longa narração da Lyly e passar pelo menos um tempo sem os dois narrando. O motivo? Muito provavelmente Percy e Nico vão estar cheios de emoções para despejar...

5) Eu queria MUITO que vocês lessem as notas finais. Há um pronunciamento importantíssimo lá sobre o próximo capítulo, e é essencial que vocês leiam.

O título desse cap significa "Amanhã pode chover", sendo "may" o termo utilizado no inglês para uma probabilidade grande, ao contrário de "might", que é usado para uma probabilidade pequena. Um título bem são, não? Pois é, eu estava ouvindo I'll Follow The Sun. "Tomorrow may rain, so / I'll follow the sun". Tomorrow. May. Rain.

E então achei um título.

Certo, certo, certo, agora chega dessa enrolação. Vou liberar vocês logo. A gente conversa nas notas finais.

Hope you enjoy!



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Fogo.

Fogo.

O fogo estava em todos os lugares.

Dominando cada canto.

Destruindo.

Um espetáculo amarelo e laranja.

Um espetáculo que só é bonito aos olhos quem se vê de longe.

Aos olhos de quem vê de perto, é aterrorizante.

O Leo Valdez de cinco anos encontrava-se justamente nessa situação. O trauma aterrorizante de quem vê algo queimar não só de perto, mas junto. Perdido entre as chamas, o pequeno Leo Valdez gritava e procurava desesperadamente por sua mãe1, mas o garoto não conseguia ver nada em lugar nenhum. A fumaça o impedia de enxergar qualquer outra coisa senão as labaredas de fogo ao seu redor, formando uma espécie de prisão de chamas circular.

O pequeno Leo se encolheu. O teto desabava sob sua cabeça. Abraçou as pernas e enterrou a cabeça entre os joelhos. Ninguém poderia ouvi-lo. Ninguém poderia salvá-lo agora. Estava perdido.

Acima dele, o telhado estalou.

Naqueles milésimos de segundos, Leo pôde sentir a estrutura cedendo e se aproximando-se cada vez mais do chão. Aproximando-se cada vez mais dele.

.

*

.

Na manhã seguinte ao jantar, Leo acordou praticamente gritando.

Sua respiração estava pesada e irregular e seu coração batia tão forte, tão rápido e tão alto que parecia que podia ser ouvido no navio inteiro. Quando percebeu que estava sentando em sua cama, agarrou-se aos lençóis brancos e tentou respirar fundo. Está tudo bem, Valdez. Foi apenas um pesadelo.

Nico e Percy estavam sentados à beira da sua cama, com expressões preocupadas em seus rostos.

– Leo, você está bem? – Percy perguntou, com os lábios crispados e a testa franzida.

Leo respirou fundo, tentando formular as palavras.

– Eu... Eu estou bem.

É claro que ele não os convenceu.

– Não nos faça de idiotas – Nico rebateu. “Delicado”, não? – O que foi? Um pesadelo? Meu Deus, não nos faça parecer com mães superprotetoras.

Leo não se surpreendeu com o bom-humor matinal de Nico, sequer com o cabelo arrumadíssimo de Percy Jackson. O que o surpreendia era o fato de que já estavam de pé às nove da manhã, mesmo depois do dia interior.

A brecha perfeita para mudar de assunto.

– Bom, mas e vocês? Eu quem estou preocupado. Acordados às nove da manhã?

– Você estava gritando mais alto do que gritava quando queria me acordar quando estávamos viajando por causa de um jogo – respondeu Nico, não caindo na de Leo.

Leo sorriu.

– Bons tempos.

– Tá, se não quer contar, dane-se, mas ainda vamos tirar isso de você, Valdez. Agora levanta a bunda mexicana-americana dessa cama – Nico mandou, com um sorriso de canto, e Leo riu. Mesmo preocupado, ainda era Nico.

– É, estou com o gótico – Percy completou. – Você não pode ficar mofando aí a tarde inteira.

Leo levantou-se da cama e tirou a camisa com um sorriso verdadeiro no rosto. Jesus Cristo, eu posso não ter músculos, mas sou lindo pra cacete. Tenho que mostrar isso às Team Leo! Nico não tem uma barriguinha linda igual a minha!

– Tá rindo sozinho por quê? – Nico perguntou, com uma sobrancelha erguida. Leo riu.

– Quer mesmo saber?

– Não, perguntei à toa, seu besta.

– Estava admirando minha barriguinha sexy. Você vai ver como tenho mais fãs que você.

– Mas que merda, calem a boca – Percy interrompeu. – Estou a um passo de socar vocês dois.

Leo vestiu uma camisa com os dizeres “I wish I was dead” que na verdade era de Nico e que ele já usara algumas várias vezes antes (na maioria delas sem sequer pedir permissão e sem nunca admitir que cabia como uma luva) e voltou-se para os dois.

– Qual será a nossa programação de hoje?

– Depois do café da manhã, vamos jogar basquete – Percy anunciou, sorrindo. – Você, Nico, Jase, Luke e eu, mas dessa vez, com as meninas.

– Percy, quero Lilith no nosso time – Nico disse.

– Eu queria a Lyly antes!

– Argh Leo, eu falei primeiro. Larga de ser infantil e se contenta.

– Tá legal. Mas Nico?

– Sim?

– Team Leo são maioria.

– As Team Nico...

– CHEGA! – Percy berrou, rindo. – Pelo amor de Deus, vamos logo. Vamos comer e jogar.

O garoto dos olhos verdes foi indo em direção à porta e Leo quase comemorou por ter saído ileso. Quase. Porque, ao ver o olhar que Nico lhe lançava – um olhar que significava basicamente “Isso ainda não acabou” –, ele teve certeza que aquela sensação era mais que momentânea.

.

*

.

– Certo, as regras são as seguintes...

– Percy, elas sabem quais são as regras.

– Fique quieto Jason, estou explicando as regras para as gatinhas nas arquibancadas.

Jason revirou os olhos. As únicas garotas na arquibancada eram Piper, Annabeth e Thalia – e não que não fossem gatas, mas Percy fazia parecer que era um jogo de nível nacional. Ah, e ele não achava Thalia gata – quer dizer, era a irmã dele. E esse dilema todo estava começando a deixa-lo confuso.

– Percy, nós sabemos quais são as regras – Annabeth interrompeu, revirando os olhos.

– Pois é – disse Thalia. – Comecem logo, quero ver quem vai ganhar. Annie, Pipes, aposto cinco pratas no time do Nico, do Percy e da Lyly.

– Feito – elas sorriram. Jason pensou ter visto Piper sorrir para ele e não para as meninas, mas apagou logo o pensamento. Estava começando a imaginar coisas.

– Certo, nós três contra Luke, Leo e Jason. Bi, você pode ser a árbitra? – perguntou Percy a Bianca, que estava no canto da quadra. Em resposta, ela ergueu um apito laranja e Percy sorriu. – Perfeito. Mas nada de trapacear em favor do Nico!

– Eu sou do seu time, seu idiota! – riu o dos olhos negros.

– Trate de trapacear em favor do Nico!

As risadas contagiaram a todos, e Jason começou a sentir uma felicidade que não sentia a muito. Ele não se importava mais de estar num cruzeiro no meio do nada. Nem um pouco. E, por hora (por minuto), não estava mais se preocupando com o fator universidade – mas estava feliz. Fazia pouco mais de dois meses, mas para o loiro, parecia que anos haviam se passado desde a última vez que haviam jogado juntos.

Ele aproximou-se do centro da quadra, ficando frente a frente com Nico, e flexionou os joelhos o máximo que pôde sem chamar a atenção de ninguém. Nico podia ser bem menor do que ele, mas sabia saltar – ah, se sabia.

Bi lançou a bola no ar e Jason saltou. Saltou o mais alto que pôde e fez uso de sua habilidade de esticar bastante os braços, mas ainda assim, Nico levou a melhor. Seus dedos pálidos alcançaram a bola por apenas alguns milímetros. Ele a agarrou e lançou para Percy, que após erguer as sobrancelhas para o loiro, correu até a cesta.

Percy, seu fominha, riu Jason mentalmente. Percy sempre foi fominha de bola. Jason constatou isso desde que o viu jogar pela primeira vez – o que coincidentemente aconteceu sendo Leo o adversário e nos testes para o time de basquete de quase oito anos atrás.

Luke o interceptou no meio do caminho. Ele sempre foi mais alto que Percy e sempre havia uma atmosfera divertida de competição entre os dois quando aquilo acontecia. Luke parecia desafiar o outro a fazer uma cesta de três pontos de onde estavam – o meio da quadra.

Ele, como era de se esperar, arriscou e errou por poucos centímetros. A bola bateu com força no aro vermelho e caiu quicando pela quadra num modo fácil demais para que Jason tivesse sua posse. Ele conseguiu agarrá-la antes de Lilith (e anotou mentalmente que deveria zoar Lyly depois) e disparou em direção à tabela oposta.

Seu coração batia acelerado como em todo jogo e ele suava. Havia alguma coisa no estômago dele. Mas o que jazia perturbando o estômago de Jason Grace não era nenhum enjoo ou nervoso de jogo. Era uma mistura familiar de adrenalina com felicidade.

A nostalgia era pura e intensa.

Jason não gostava de pensar sobre todas as coisas às quais sua vida estava propensa – tempo, destino... Esse tipo de coisa o incomodava. Ele apenas vivia. Mas em enquanto jogava novamente com e contra seus amigos, só conseguia pensar nisso. Quanto tempo havia se passado desde aquele dia tedioso em que se conheceram? E quanto tempo havia se passado desde que jogaram todos os cinco pela primeira vez num time? Quanto tempo havia se passado desde que Lyly e Bianca tornaram-se suas melhores amigas?

E aquela era a questão. Quanto tempo?

E a cada segundo, aquela pergunta pipocava cada vez mais em sua mente. Quanto tempo? Ele não acreditava no modo como esses sete anos haviam se passado tão rápido. Num dia, eram garotos de doze anos explorando uma nova fase da vida e tentando encontrar amigos verdadeiros. Quanto tempo? Noutro, já eram maiores de idade de dezoito anos, adultos propriamente ditos, quando na verdade, eram basicamente “meio-termos”. Os meses, dias e anos passaram-se naturalmente, sem que ninguém reparasse. Não, não, reparar não era a palavra certa. Sem que ninguém percebesse.

Porque agora Jason percebia. Não reparava, percebia. Percebia que os melhores anos de sua vida haviam sido com aqueles caras. Jason viveu maravilhosos sete anos que logo seriam oito dali a poucos meses, mas e depois? Todos os cinco cresceram implorando por aqueles momentos. O belo dia em que completariam os dezoito anos e o belo dia em que finalmente sairiam da casa dos pais e viriam o mundo por uma nova perspectiva – a do campus de uma universidade. Lá estava ela de novo – a universidade, voltando tão rápido quanto saiu.

E a sensação de nostalgia em seu estômago foi se tornando algo na linha do estresse e do desespero. Ter Leo, Luke, Percy e Nico em sua vida foi um presente dos deuses. Ter Bianca e Lilith (e agora, se as coisas continuassem como estavam indo, Thalia, Annabeth e Piper) foi uma dádiva. E mesmo já tendo aprendido há muito tempo que o felizes para sempre não existia e que praticamente nada era eterno, Jason nunca pensou que quando algo importante para ele estivesse próximo de se acabar, ele se sentiria assim.

Tudo o que Jason queria era vomitar. Ele não sabia que curso escolher, não fazia a menor ideia de qual universidade ele deveria se inscrever e o pior – algo lhe dizia que não havia nada, talvez nem mesmo um milagre, que fizesse com que Luke, Percy, Leo, Nico, Lilith, Bianca, Annabeth, Thalia, ele próprio e, bem, Piper, ficassem na mesma universidade.

Seu coração bateu mais pesado à medida que o desespero o tomava. A ideia de perder os seus amigos o torturava mais que qualquer tortura imaginável. Ele não podia perdê-los. Tudo o que viveram não podia se tornar apenas meras lembranças.

Mas como expressar o sentimento? Como deixar os amigos a par do que ele estava sentindo e esperar os tão maravilhosos conselhos? Jason não tinha palavras para isso. Tudo o que sabia é que ele queria aproveitar todo aquele resto de tempo. Cada nanosegundo.

E aquela questão voltou a aparecer.

Quanto tempo?

Aquela questão o enlouquecia. Quanto tempo? Quanto tempo? Quanto tempo? Quanto tempo? Quanto tempo?

Fosse qual fosse esse tempo, quando ele acabasse, talvez só lhe restasse o vazio. O vazio do fim. Ele se sentia tão desnorteado... Quando esse fim chegasse, o que ele faria? Como encontraria amigos tão incríveis quanto aqueles? Ele sabia daquele ditado que amizades verdadeiras sobrevivem ao tempo e a distância. E, quando você é adulto – um adulto de verdade, acima de vinte e cinco anos e tudo, não um mero meio-termo –, é bem verdade, a maioria das amizades verdadeiras resiste. Mas quando você tem dezoito anos ou ainda está na faculdade, as probabilidades são mínimas. O buraco é sempre mais embaixo.

O tempo passa e o desgaste dos laços é inevitável. Sempre haverá boas memórias, sempre haveria carinho, mas no reencontro, o que acontecerá? Naquela idade, estamos sempre mudando. E, aqueles que não mudam, se decidem.

Ele não sabia o que pensar do futuro. Não sabia o que pensar nem de si mesmo.

Mas Jason prestou bem atenção no momento que estava vivendo. Leo, Luke, Nico, Percy. Lilith, Bianca. Annabeth, Thalia, Piper. E ele percebeu que a questão Quanto tempo, ao menos ali naquele momento, não importava. O que havia a dizer? Eram pessoas diferentes, cada uma com sua história de vida, seu modo de pensar e de agir, porém conectadas. Percy, Leo, Luke, Nico. Pessoas que há sete anos ele pensava ser totalmente diferente do que realmente são. Lilith, Bianca. As duas melhores jogadoras de basquete femininas que ele conhecia. Uma na quadra e outra atuando como árbitra, apitando e marcando cada uma das faltas de forma rigorosa e justa – e, para o azar de Percy e sorte de Jason, sem trapacear a favor de Nico. Annabeth, a melhor amiga de sua irmã que se provou ser uma pessoa não só interessante, inteligente e estratégica, mas leal ao ajudar na busca por Monkey. Thalia, sua irmã gêmea que ele conhece desde que nasceu e que, por mais que brigassem de vez em quando, ele sabia que sempre estaria disposta a ajuda-lo em tudo. E Piper. Ah, Piper McLean. A garota, em seu mais sincero ponto de vista, a mais bonita de toda a escola e que se esforçava para esconder. E que não era só beleza – Piper era uma garota astuta, habilidosa, doce e brava. A pessoa certa para se apaixonar.

E o que mais? Bem, estavam felizes. Todos ali. Muito felizes, apagando a sensação de despedida que predominou no último jogo pela Half Bloody High School.

Jason Grace apagou todos os seus pensamentos sobre o futuro e aproveitou o jogo como se não houvesse amanhã. Não era hora de pensar sobre o futuro.

Na verdade, era hora de arrancar a bola das mãos de Nico.

.

*

.

– EU DISSE! – gritou Leo. – EU DISSE! NÓS GANHAMOS! EU FALEI EU FALEI EU FALEI...

– Valdez, se você disser mais um desses, eu juro que mato você – ameaçou Nico.

Jason só riu e trocou dois high-fives, um com Leo e outro com Luke pela vitória. Eles estavam nos vestiários trocando as roupas suadas pela primeira vez depois do último jogo da escola.

– Cara, nunca pensei que fosse dizer isso – começou Percy – mas estou feliz por estar dividindo um vestiário com caras suados – ele riu.

– Vamos logo! – apressou Leo, o único que já estava pronto, usando roupas recém-lavadas. – Nossas “fãs” estão nos esperando – disse ele, se referindo às meninas. – Todas Team Leo, claro.

– Pare de se iludir, Leo, elas são Team Nico.

– Eu vou socar a cara de vocês – alertou Luke.

– Mas tem uma que não é nem Team Nico nem Team Leo – prosseguiu Valdez, ignorando Luke completamente.

– Quem? – perguntou Jason. Ah, como ele amava fingir estar interessado nessa coisa de Team.

– A Piper.

É, Leo sabia roubar a atenção dele.

– A Piper?

– Sim – disse Nico. – Ela não é nem Team Nico nem Team Leo.

Jason franziu a testa. Nico e Leo dizendo que uma garota não era Team nem de um nem de outro? Aí tem coisa.

– Ela é o quê, então?

Os dois se entreolharam e voltaram-se para Jason com sorrisos sacanas no rosto:

– Ela é... Team Jason!

Os quatro riram, exceto Jason, que obviamente revirou os olhos. Piper, Team Jason? Nico e Leo realmente eram sonhadores.

– Vocês são mesmo uma dupla de sonhadores – verbalizou o loiro. – Sou apaixonado por ela e tudo. Mas Piper não gosta de mim. Se gostasse, já teria me dito. Deus e o mundo sabe que eu gosto dela e eu duvido que ela não saiba.

– Jase, ela deve pensar do mesmo jeito – disse Luke, soando sincero. – She Loves You, com letra maiúscula da canção e tudo. E você deveria chegar nela e dizer que I Want To Hold Your Hand.

Oh yeah, I’ll tell you something / I think you’ll understand / When I say that something / I want to hold your hand2 – cantarolou Percy, sorrindo de canto.

Jason franziu a testa e tratou de pensar numa música para se vingar.

Day after day alone in the hill / The man with the foolish grin is keeping perfectly still / But nobody wants to know him / They can see that he’s just a fool3 – devolveu, com uma sobrancelha erguida sinalisando o desafio para rebater.

Elementary penguiun / Singin’ Hare Krishna4 – disse Nico, com uma expressão de “calem a boca, seus acéfalos idiotas”. – Calem a boca, seus acéfalos idiotas. – viu?

– Você é um amor, Nico – disse Jason, sarcástico.

– Não é? Tão simpático, foi tão gentil comigo quando nos conhecemos – disse Leo, tentando a todo custo se manter sério, mas logo caiu na risada. – Cara, você praticamente me engoliu! E parecia que ia morrer se dissesse o seu nome.

– Isso é porque você era um mexicano-americano muito insuportável, Valdez. – Disse Nico. – Eu disse era? Foi mal, quis dizer é.

– Ah, mas você sempre foi um amorzinho de pessoa também né – devolveu Percy. – Mas engraçado mesmo... Era o Luke querendo pular no seu pescoço nas primeiras reuniões do time depois daquela humilhação!

– Não foi uma humilhação! – defendeu-se ele. – Foi algo natural, oras. Eu o subestimei e ele devolveu. É algo que qualquer um de nós cinco faria.

– Lukes, podíamos esfregar isso na sua cara o resto da nossa vida inteira, mas nós vamos fazer isso depois porque minhas fãs estão me esperando – disse Leo.

– Aposto que são todas por mim. Menos a Piper, claro, ela é totalmente Team Jason – riu Nico, enquanto penteava o cabelo.

– Vamos logo, depois tu penteia esse teu cabelo – Leo apressou.

– Não deixaria de pentear o meu cabelo por você nem que você estivesse morrendo.

–... Quanta consideração.

– Você mesmo disse que eu sou um amor – mas Nico subitamente guardou um pente, mesmo estando com um lado arrumado na medida do possível e o outro tão desgrenhado que não há nem palavras para descrever. Ele olhou para Jason e sorriu. – Mas eu faria pelo Jase. Afinal, Piper McLean, a provável única Team Jason da Half Bloody...

– E do planeta! – adicionou Percy.

– Está lá fora esperando por ele.

– Ela não é Team Jason – repetiu ele. – E, se fosse, com certeza não seria a única do planeta. Sou eu quem não conheci nenhuma Team Percy até agora.

– Mas eu sei de um belo dum Team Annabeth, Jase – disse Luke.

– É – Jason prosseguiu. – Conhece, Percy? Ele se chama Perseu Jackson, tem dezoito anos, futuros dezenove, quatro melhores amigos, filho dum cara que cheira a peixe e tem nome de deus grego.

Percy bufou e olhou para Jason balançando a cabeça em desaprovação.

– Falou o filho do Zeus.

.

*

.

As meninas estavam os esperando no saguão principal do navio. Jason não sabia se eram Team Nico ou Team Leo ou o que fosse, mas ele só sabia de uma coisa: Thalia, Annabeth, Bianca e Lilith não eram Team Jason – e muito menos Piper. Se cumprimentaram como sempre e dali foram direto para o Starbucks tomar um café – claro que por conta de Hermes, nas palavras de Luke.

– Seu pai não... Se incomoda? – perguntou Annabeth, parecendo preocupada com a possibilidade.

– Que nada – Luke riu. – Ele tem tanto filho que não faz a menor ideia de quem gasta o quê.

Thalia bebericou seu expresso com chantilly e seu olhar caiu sobre o “I wish I was dead” da camiseta de Nico no corpo de Leo.

– Camiseta legal.

O rosto de Leo se iluminou como o de uma criança ao receber um pacote de doces.

– Você gostou? Então pode sair comigo.

Ela riu.

– Eu sei que Nico é o dono dessa camiseta. Ele é muito mais legal que você eu nunca sairia com ele. Que dirá com você. Mas, se você acha que é capaz que eu saia com você, vá em frente, puxe assunto e me impressione.

– Ahn... Já leu a edição da semana da Rolling Stone?

Todos riram e muita conversa prosseguiu, mas Jason não prestava atenção em quase nada. Só olhava de vez em quando, como aconteceu quando Thalia mostrou todas as fotos que tirou do jogo em seu celular e zoou o modo como o irmão saiu com uma expressão abobalhada em todas elas. Mas quando isso não acontecia, ele só conseguia olhar para Piper e reparar em tudo nela. O brilho dos olhos, o cabelo, o sorriso, a risada tão melodiosa aos ouvidos dele. Bela hora para gostar de uma garota.

Jason considerava-se mais inseguro que uma garota. Ele nunca pensava que a menina ligava para ele – era como uma espécie de autodepreciação espontânea. Tudo o que surgia na mente de Jason quando ele pensava na possibilidade era o clássico e decepcionante “Ah, mas o que ela veria em mim?”. E ele já havia tentando tantas vezes...

–... probabilidades de você ser Team Leo – dizia Percy, para alguém que o loiro não sabia bem quem era. – E você, Piper? É Team Leo ou Team Nico?

Jason sentiu o coração saltar em nervosismo. Ele ia matar Perseu Jackson.

Piper parecia um pouco em dúvida.

– Hm... Acho que se fosse para mim ser Team de alguém, eu seria... – ela olhou para Leo com expectativa. Depois seu olhar caiu em Nico. – Team Nico.

– O quê?! – exclamou Leo em um tom de falsa ofensa.

– Foi mal, Leo, sou mais próxima de você do que o Nico.

– Por isso mesmo, estou aqui dando sopa para você e louco para te es...

Nico, percebendo que Leo iria falar asneira sem nem reparar que Jason o mataria depois – o que ele com certeza faria –, tapou a boca de Leo com força.

– O que ele quer dizer é: se você não pudesse ser nem Team Leo nem Team Nico, você seria Team de quem? Eu sei que é uma decisão difícil, somos os caras mais sexys do planeta...

– Menos, Nico – disse Bianca.

–... Mas se você fosse obrigada a quem escolher, quem seria?

Piper ficou em dúvida por um tempo. Tempo o suficiente para que Nico piscasse para Annabeth, Thalia, Lilith e Bianca, que entenderam rapidamente o recado.

– Eu acho que já sei de quem a Pipes seria Team – disse Lilith, com um sorriso malicioso. – Aliás, eu tenho certeza.

– Ah, pois somos duas – Bi concordou. – Tenho nome e sobrenome na ponta da língua.

– Eu idem – disse Thalia. – Piper seria...

Team Jason! – completou Annabeth, já caindo na risada.

Piper riu junto de todos os outros e Jason, sem opções, riu também.

Riu como se fosse a piada mais engraçada do mundo, mesmo desejando ternamente que não fosse uma.

.

*

.

Jason talvez nunca tivesse tido um dia tão cheio desde que entrara naquele cruzeiro. Claro que ele já teve uma bela duma noite cheia – com os oferecimentos de Monkey the monkey –, mas dias cheios, nenhum até aquele.

Obviamente, o jogo de basquete fora a melhor parte do dia. Só que Jason fez tanta coisa que provavelmente nunca iria conseguir contar tudo. Depois do jogo, assistiu a A Hard Day’s Night e ao primeiro episódio de Star Wars, sem contar em “O Senhor Dos Anéis – A Sociedade Do Anel” e “Harry Potter E O Enigma Do Príncipe”. Toda a primeira temporada de The Big Bang Theory e pelo menos dois episódios de Doctor Who. Depois jogou três mãos de baralho contra Percy – que perdeu todas – e ainda teve que se arrumar de última hora para um jantar chato de família. E depois, claro, três mãos de truco. Sem se esquecer de adicionar que eles ouviram todo o Led Zeppelin I e, claro, o indispensável Help!.

Quando a noite finalmente caiu, os cinco amigos finalmente se dividiram. Leo e Nico foram procurar garotas e competir sobre aquela velha questão “Team”. Luke foi brincar com Monkey, e Percy foi procurar pelo que ele chamou de “o sinal de wi-fi perfeito” para pesquisar todos os detalhes sobre uma exótica espécie de peixe. E Jason? Para o convés.

O verão era a sua estação favorita. Não por causa do sol – pelo amor de Deus, Jason amava tanto o sol que seu amor podia ser comparado ao de Nico pelo sol – mas por causa que, ao mesmo tempo em que o verão tinha várias rajadas de sol, uma hora, o sol cedia espaço para a chuva. Jason amava a chuva. Tempestades longas, violentas, brutais, frias. Raios, trovões, céus negros de nuvens carregadas. Aquela era uma bela de uma paisagem bonita a seu ver.

Ele estava havia pouco tempo no Princesa Andrômeda, mas sabia que sempre que não tivesse nada a fazer – principalmente à noite – ele sempre poderia ir ao convés. De dia, era cheio de turistas, mas à noite, era quase que totalmente vazio, quase que só para ele. E foi assim que Jason ficou por tempo indeterminado. Debruçado na grade de proteção, observando silenciosamente o mar e o céu; contemplando um breve início de uma lua crescente.

Havia silêncio. Um silêncio quase mórbido, porém inexplicavelmente aconchegante. Um silêncio de que ele gostou. Até uma voz feminina murmurar em seu ouvido.

– Oi.

Jason por um momento sentiu-se chateado – bela hora para se ter garotas murmurando em seu ouvido – mas adorou o fato quando viu quem havia o feito.

Piper. Simplesmente Piper. Piper, com as mãos entrelaçadas e um sorriso caloroso e tímido.

– Percebi que você estava de olho na paisagem de novo – comentou. – Desculpe se atrapalhei.

– Imagine – disse ele, tentando soar o mais despreocupado o possível. – Você gosta dessa paisagem, assim, à noite? Eu gosto.

Ela assentiu, sorrindo.

– Eu também. Apesar de eu preferir a lua cheia à lua nova. Sabe? A lua cheia parece deixar a paisagem completa. Grande, prateada, linda e redonda. E o indispensável reflexo no mar.

Jason assentiu.

– É essa a sua paisagem favorita?

– Sim. E a sua?

– Gosto de tempestades – disse. – Sei lá como explicar. É um gosto exótico, eu sei, mas eu as acho... Lindas. Simplesmente lindas. São durante grandes tempestades que as melhores histórias de navios são contadas. E eu gosto delas. O clima, a atmosfera que proporcionam.

– Entendo.

Ela olhou para ele e ficou calada por alguns segundos. Seus olhos multicoloridos, olhos que Jason nunca seria capaz de determinar a cor, encaravam-no em seus próprios olhos azuis.

– Eu também gosto muito de tempestades.

Jason assentiu devagar. Ele estava viajando ou aquilo foi algum tipo de trocadilho?

– Sabe de outra coisa que eu gosto, Piper?

– Qual?

Tocadores de flauta.

Ela riu divertidamente e Jason a acompanhou. Ele havia acabado de usar a tradução literal de seu nome – Piper – para dizer que gostava dela sem realmente dizer. Uh, genial, Jason Grace.

– Eu também, Jason. São uma graça.

Foi a vez de Jason rir.

– Esperta, McLean.

Ela sorriu e seu olhar voltou-se para o mar ao mesmo tempo em que o mesmo ocorria com o de Jason. Uma brisa fria bateu em seus rostos, fazendo os pêlos de Jason se arrepiarem e o cabelo de Piper voar. Ela se aproximou um pouco mais dele e também apoiou-se na barreira de proteção; sua mão acidentalmente ficando por cima da de Jason.

Seria clichê dizer que uma descarga elétrica havia passado por seu corpo. Porque não foi uma descarga qualquer. Foi suficiente para ligar um supercomputador.

Piper corou com o acidente, mas não removeu a mão. Deixou-a lá, e olhou para Jason com expectativa.

Ele sorriu. E ela também. E juntos, de mãos dadas pela primeira vez, viram a passagem do tempo no céu estrelado do Oceano Pacífico.

Para Jason, tudo o que faltava para ficar mais perfeito era uma tempestade.

É claro que Jason pensou em tempestade no sentido literal – mas não seria assim que as coisas acabariam. Claro que não iria chover ali, em pleno momento – infelizmente, só os verdadeiros felizardos dão essa sorte –, mas de fato, uma grande chuva estava por vir. Uma bela de uma tempestade, com raios e trovões. Longa, brutal, fria.

Nem Jason nem Piper, sequer Annabeth, Thalia, Bianca, Lilith, Leo, Luke, Nico ou Percy poderiam saber do inevitável.

Mais cedo ou mais tarde, chove.

E amanhã iria chover.


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Notas finais do capítulo

¹ Sim, sim, sim, tio Rick diz claramente em TLH que a oficina em que Esperanza estava explodiu. E eu, por algum motivo, decidi originalizar essa parte. O resto, eu mostrarei depois :)
² The Bealtes, I Want To Hold Your Hand – “Oh yeah, eu vou te contar uma coisa / Eu acho que você vai entender / Quando eu digo essa coisa / Eu quero segurar sua mão”, em tradução livre.
³ The Beatles, The Fool On The Hill – “Dia após dia sozinho no monte / O homem com o sorriso tolo permanece perfeitamente imóvel / Mas ninguém quer saber dele / Eles podem ver que ele é apenas um tolo”, também em tradução livre.
4 The Beatles, I Am The Walrus – “Pinguim elementar / Cantando Hare Krishna”.

Então meus amores, antes de qualquer coisa, eis meu pronunciamento sobre o próximo capítulo: ele vai ser um bônus. Sim, um bônus, porque preciso escrever umas coisas que não podem ser inseridas normalmente na história. E ele não tem previsão para sair. Isso porque eu estou escrevendo um spin-off para How Far We've Come e eu quero mandar o link para vocês junto desse bônus. E não, eu não estou sob o efeito de Narciso de Bristol ou FDL, sequer LSD. Vocês leram certo.

Eu escrevi esse capítulo viajando e me concentrei muito, muito para descrever as emoções de Jason. Então me digam, o que vocês acharam? Deixem um review, por favor. Só me digam. Todas as leitoras e todos os leitores que comentam sabem que eu respondo cada um dos reviews, mesmo que eu demore.

Apesar de tudo, achei esse capítulo light até, se levarmos em conta o que eu queria escrever. Não posso dizer o que é porque seria spoiler - e isso me enlouquece, amo dar spoiler -, mas... Só posso dizer que o que eu escrevi no final desse cap é verdade. Há tempestade vindo.

Mas eu tenho ficado cada vez mais satisfeita com HFWC, apesar de meus frequentes bloqueios criativos. Queria pedir desculpas por deixar vocês na espera, mas também queria pedir compreensão. Adoro todos vocês de detestaria postar um capítulo mal feito.

As únicas coisas a acrescentar é que 1) A Hard Day's Night é o título tanto do primeiro filme dos Beatles quanto do álbum, 2) Led Zeppelin I é basicamente o primeiro álbum lançado pela banda e 3) Help! é tanto o título do quinto álbum dos Beatles quanto do segundo filme.

Bem, eu espero sinceramente que tenham gostado :D Apesar de tudo, foi divertido de escrever. E posso adiantar uma coisa: there's kisses coming. Há beijos vindo ;)

Vejo vocês nos reviews?

Beijos,

Mel ♥



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