A-Next: Beyond Frontiers escrita por Joke


Capítulo 8
Elsa


Notas iniciais do capítulo

Eu sei, eu sei
(católicos, corrijam-me se eu estiver errada)
demorei mais que jesus, que morreu e voltou à vida em apenas 3 dias enquanto eu....

Enfim, capítulo novo com uma narradora nova :D

Sobre os reviews passados, li TODOS e pretendo responder ao longo da semana, então por favor, não fiquem me cobrando

boa leitura!



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Capítulo 8 – Elsa Thropp

Os calafrios começaram quando pisei em casa.

Como sempre, após cruzar a porta, escuto gemidos da minha irmã mais velha vindos da porta branca rente à escadaria logo à direita. Não são somente alguns chiados de falso prazer, mas também lamentos, um choramingo que faz meu sangue subir e meus olhos se encherem de lágrimas.

Isso só pode significar uma coisa: ele a está usando de novo.

Minha irmã não é nada além de um de seus brinquedos sexuais, e não há nada que eu possa fazer para impedi-lo, já que assinamos um contrato. O nome desse monstro que se passa pelo meu “padrasto” se chama Walter Hayes, e como ele divide o mesmo teto que o meu é culpa exclusivamente minha.

Não sou americana de nascença, na verdade, nasci em um vilarejo bem remoto chamado Margrete, na Noruega. Sou a filha mais nova de Lena Orjan, uma norueguesa inocente e ingênua que acabou se apaixonando pelo cara errado: Adam Belanov, o chefe da máfia russa de Moscou, o típico caso de “sexo sem compromisso”. Minha irmã mais velha se chama Anastásia, e, sendo mais pé no chão que a minha mãe, acabou cuidando de mim quando éramos largadas sozinhas em casa.

Durante anos nós três vivemos numa casa simples em Margrete, recebendo de vez em nunca visitas do meu pai. Não tínhamos luxo, mas o conforto era mais que suficiente.

Até que, pela primeira vez, eu senti.

Começou como um desconforto na lombar, como se fosse uma pequena picada. No início, eu ignorei, mas nem três dias sucederam quando os pesadelos vieram. Mãos com garras afiadas emergiam das sombras, rasgando tudo que se colocava em seu caminho. Olhos vermelhos sangue observavam-me dos cantos, e vozes sussurravam em meus ouvidos coisas horríveis, coisas que crianças da minha idade não deveriam nem saber da existência.

Mais dois dias se passaram quando minhas mãos começaram a escurecer e minha pele rachar como vidro. Meus olhos, de íris uma vez tão verdes quanto à aurora boreal, já estavam contaminados pelo êxtase da minha nova existência, dominados por um vermelho vivo. A dor na coluna era insuportável e eu chorava sem parar todas as noites, querendo que eu acordasse logo daquele pesadelo.

Minha mãe não sabia o que fazer comigo, apenas chorava pelo meu sofrimento e por meu pai não estar ao seu lado para consolá-la. Ela se recusava a me tocar e até mesmo a me ver. Seu medo e repulsa eram tantos que, não aguentando mais olhar para mim, Anastásia e eu a encontramos morta no chão, com ambos os olhos queimados e com um sorriso nos lábios.

Não pude conter o ódio e a mágoa de me sentir abandonada, e, para o meu desespero, esses sentimentos apenas intensificavam a minha aparência, despertando o medo e a ira dos demais moradores do vilarejo e as minhas próprias angústias.

Os dias se passaram, se tornado semanas e até mesmo meses. Não havia sinal do meu pai e a tensão entre a pequena comunidade e a minha antiga situação era algo que preocupava demais Anastásia. Eu era um monstro, uma aberração física da natureza que estava sendo constantemente cutucado com uma vara composta por olhares de desprezo e palavras ofensivas.

Era mais do que óbvio que se nós duas continuássemos em Margrete, acabaríamos sendo atacadas pelos nossos vizinhos. Por isso, numa madrugada em que todos dormiam em meio a uma tempestade de neve, Anastásia me acordou com duas passagens para a América na mão.

“Vamos construir uma vida nova, eu e você. Chega de neve, chega de caras feias. Nós duas merecemos mais do que isso.”

“Mas, Anna, olhe pra mim! Não quero ser uma aberração, não quero que os outros tenham medo de mim como a mamãe teve. Como todo esse lugar estúpido tem!”

“Elsa, você é quem tem o controle! Se quiser se adaptar na América, começar tudo do zero, terá que encobrir isso, não sentir, e não deixar aparecer. Se os outros não podem ver, nunca saberão.”

“E se eu ficar com raiva? Ou triste? Eu não sou de ferro, vou acabar cedendo.”

“Daremos um jeito nisso também. Mas você irá tentar?”

“Sim... Encobrir, não sentir, nunca saberão.”

“Isso mesmo. Tudo será diferente.”

De fato, quando cheguei à América, Nova York não era absolutamente nada igual à Margrete. Todas as luzes, carros, pessoas, sons, tumulto... Tudo tão diferente da minha cidade natal! Tão cheio de vida! E o melhor de tudo: eu era invisível. A fórmula para uma vida normal e longe de confusões era simples:

Encobrir + Não sentir = Nunca saberão

Ah, se apenas ela (mesclada com mais alguns truques que aprendemos com nossas experiências de vida) fosse o suficiente para Anastásia e eu vivermos nossas vidas em paz...

Não, tinham que exigir a droga do greencard.

Para um estrangeiro viver em solo americano de maneira legal, é necessário possuir o greencard. Há três maneiras de se conseguir a cidadania americana, e a mais rápida e mais utilizada é o falso matrimônio, que, como o próprio nome já diz, você forja um casamento no prazo de um ano com um cidadão americano para ter direito ao greencard.

Como tenho apenas 17 anos, sou legalmente dependente da minha irmã, que possui minha guarda (entramos como órfãs nos Estados Unidos e cortamos qualquer relação com nossa parte russa, trocando nosso sobrenome “Belanova para “Thropp” n registro). Para colocar nosso plano de “recomeçarmos a vida do zero” em prática, Anastásia foi obrigada a se casar com o maior porco abusivo americano que eu conheço: Walter Hayes, se é que é esse mesmo o nome do infeliz.

Cara e porte físico de um rato, cabelos loiros grisalhos ralos, pouca afinidade para com a higiene pessoal e machista dominador são algumas das muitas características abomináveis do marido/encosto que Anna conseguiu no desespero quando soube do greencard.

Mesmo não sendo brilhante, sou aplicada nos estudos, e Anna se formou em medicina numa excelente universidade enquanto morávamos na Noruega. Nós duas estamos trabalhando duro para mudarmos de vida, para deixar tudo pra trás e tentarmos achar a tão desejada paz que nunca tivemos. E ter alguém como Walter Hayes dividindo o mesmo ar que o nosso me dá nojo.

Cerro meus punhos quando escuto minha irmã gemer de dor, sentindo a dor na coluna aumentar conforme minha raiva cresce. Subo as escadas correndo, vendo minha pele querer rachar de novo, quando abro violentamente a porta do quarto a fim de abrir a gaveta do criado mudo atrás de uma injeção já pronta.

Injeto a substância com força na coxa, tomando meu lugar no colchão duro logo em seguida. Não demora muito para minhas pálpebras pesarem com a grande quantidade da droga que coloquei em meu organismo, aliviando também a pressão na coluna.

Anna e eu sabíamos dos riscos, mas a morfina foi a única coisa que conseguiu me fazer dormir. A única substância forte o suficiente para me ajudar a administrar minhas dores físicas e mentais. A primeira que me fez relaxar em anos.

Solto um rápido suspiro antes de me entregar ao sono.

Não há sonho ou pesadelo, apenas uma voz grave masculina me chamando de lugar nenhum.

“Elsa... Elsa... Elsa...”

“O que você quer de mim?”

“Há tanto potencial em você, Elsa, tanto poder... Liberte-se.”

“Não posso.”

“Por que não?”

“Porque eu machucaria as pessoas.”

“Ah, Elsa, e desde quando isso é relevante?”

“Desde que a minha mãe morreu e minha irmã está sofrendo por minha causa.”

“Elsa...”

“Deixe-me em paz!”

“Liberte-se!”

“NÃO!”

– Elsa! – A voz preocupada da minha irmã mais velha me acorda. Quando abro meus olhos, percebo que ela segura ambas as minhas mãos com força contra seu corpo, impedindo-me de coçar as feridas já abertas da região dos braços e dos ombros.

– Há quanto tempo estou desacordada?

– Quase doze horas – Anna me informa com uma voz falha, observando minhas feridas com preocupação. Eu – Você tem que parar de fazer isso, assim não vai cicatrizar nunca.

Encolho-me com a represaria, mirando minhas unhas curtas, também arrancadas, cobertas pelo meu próprio sangue já coagulado.

– Sabe que não consigo controlar isso... É involuntário.

A testa branca como marfim da minha irmã se vinca enquanto ela tira os cabelos negros dos olhos azuis.

– Então use as luvas para dormir! – Vendo que sua voz se alterou de maneira drástica, ela imediatamente desce o tom. – Ainda são seis horas da manhã, mas já quero que saiba que terei que cumprir um plantão hoje... Você vem comigo ou vai passar a noite na casa de alguém?

Mesmo apresentando seu diploma, por ser estrangeira, o direito da minha irmã de exercer a sua profissão em solo americano foi vedado. Para validar seu diploma, Anna está sendo obrigada a trabalhar como uma escrava num hospital local, recebendo menos que uma enfermeira por estar estudando metade do tempo.

Muitas vezes, Anastásia tem que cumprir plantão, e ela se recusa a me deixar sozinha em casa com Walter. Ou seja, ou vou com ela para o hospital e passo a noite escutando gente tossir e resmungar enquanto dorme, ou vou para a casa do meu único amigo no mundo.

– Espere um pouco – peço-lhe, procurando pelo meu Nokia velho jogado na escrivaninha. Assim que pego o mini tijolo, apresso meus dedos a digitar o número já decorado. O telefone do outro lado toca várias vezes do outro lado antes de eu ouvir a voz sonolenta de Dante Maximoff:

– Luna?

– Quase.

– Elsa – não posso deixar de sentir um meio sorriso brotar em meus lábios ao ouvir sua voz hesitada ao pronunciar meu nome. – Você tá bem? Aconteceu alguma coisa?

– Tô sim... É que eu queria te pedir um favor.

– Peça.

– Anastásia vai ter que cumprir o plantão hoje. Será que eu...

– Poderia me acompanhar no casamento de hoje à tarde? Claro que sim – percebendo que eu fiquei sem entender sua resposta, Dante solta um riso abafado e completa. – O casamento de Vampira e Gambit hoje no Instituto,aquele que eu comentei há uma semana mais ou menos.

– O casamento... – aos poucos a nossa breve conversa sobre o evento é recuperada pela minha memória. Engulo seco. – Não vai ter muita gente, certo? - Novamente, um leve formigamento começa a tomar a base da minha coluna.

– Não, vai ser algo bem simples e reservado, apenas para alguns amigos mais próximos – Dante tira um enorme peso dos meus ombros, mas ainda sinto-me aflita só de me imaginar num evento tão comunicativo como o casamento. Eu teria que me aproximar demais das pessoas, interagir com as mesmas, coisa que eu nunca faço na escola, apenas com Dante, meu único e também antissocial amigo. – Prometo que voltaremos cedo pra casa, daí a gente pode inventar outra coisa pra fazer.

Mordo meus lábios devido ao susto que recebi da minha irmã. Anna veio como um leão pra cima de mim quando percebeu que eu estava me cutucando de novo, batendo fortemente em minhas mãos e me dando um olhar de advertência.

– Elsa? – Dante me chama do outro lado da linha.

– Claro, eu vou adorar ir.

– Legal. Faz a sua mala e vem pra cá quando a lua for completamente embora, tá?

– Pode deixar. – Respondo no bom-humor, porém, posso sentir minhas bochechas pegarem fogo. Por que não esperei um pouco para ligar? – Até.

– Até.

– E então? – Anastásia me pergunta, inquieta.

– Eu vou pra casa do Dante.

– Maximoff?

– Não tem muitos caras com esse nome em Nova York.

Minha irmã revira os olhos, mas um sorriso preenche seus lábios.

– Engraçadinha – ela pega algumas seringas vazias e as coloca num saco especial. – Vou devolver estas para o hospital e pegar novas. Walter saiu ontem à noite e até agora não voltou, vamos rezar pro maldito...

– Ter tido uma overdose? – Sugiro num tom maldoso.

– Volte, pois precisamos dele por mais um mês.

– Um mês – eu suspiro. – Tão perto...

É a vez de Anna suspirar e me envolver num abraço apertado.

– Coragem, Elsa. Em breve seremos livres de verdade – ela beija minha bochecha e segura meu rosto com ambas as mãos. – Mas, enquanto isso, lembre-se...- “Encobrir. Não sentir. Nunca saberão” falamos juntas em unis solo. – Vai querer uma carona para a casa do seu amigo? Eu saio em dez minutos.

– Não, ainda tenho que comer, tomar banho e arrumar a mala.

Anastásia olha para o relógio de punho com aflição, indicando-me que, na verdade, já está atrasada para ir ao hospital.

– Não se esqueça de pegar as luvas e as pomadas para os machucados – ela me avisa pela última vez enquanto caminha apressadamente para a porta, vestindo o jaleco branco sobre a roupa casual de mesma cor. – Se precisar de mim, estarei no celular ou no telefone do ramal da UTI. Você tem o número, não? – Concordo com um rápido movimento com a cabeça – ótimo, então nos vemos amanhã. Cuide-se! – E sou deixada para trás com um simples e rápido bater de porta.

Respiro fundo, pensando comigo mesma se como seria nossa nova rotina, a que está a um mês de distância, quando nossa carta de alforria por servidão a anos de sofrimento fosse enfim entregue com o greencard.


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Notas finais do capítulo

Sim! A minha Elsa é beeeem mais sequelada que a Elsa que serviu de inspiração para a personagem (Frozen), além claro de ter um draminha psicológico extra que eu adoro :3
Espero que vcs tenham gostado! Por favor, não esqueçam de dar aquela comentada ;)
Nos vemos no próximo capítulo
beijocas lindos