CAPÍTULO 3

Edward

Madrinha dormira no meio da leitura. Ultimamente ela anda muito cansada. É nova, deve ter uns 40 anos não muito mais que isso, mas talvez tanto tempo longe da filha a tenha envelhecido mais rápido. O comendador também não ajuda, ele deve ser uns 15 anos mais velho que a esposa, e a deixa muito sozinha. Vive viajando a negócios, mas quando está em casa, sai praticamente toda noite e volta quase pela manhã. Eu mesmo já o vira em estabelecimentos que para um jovem como eu frequentar tudo bem, mas um homem casado? Eu sinto pena de minha madrinha.

Trouxe para a cozinha da casa grande, pena e papel. Preciso fazer algumas anotações sobre o livro. Jane Eyre. Está no original em inglês, e leio traduzindo em português para a madrinha. Não que ela não saiba inglês, ela arranha muito bem o inglês e o francês, mas ela é uma grande admiradora de nossa língua portuguesa.

¾ Que que tu tá fazendo aqui menino! – Renée chegou de mansinho por trás de mim e gritou quase dentro do meu ouvido.

¾ Que susto Renée! – falei sorrindo.

¾ Susto levo eu, chego na minha cozinha uma hora dessas e escuto uns barulho estranho. Quer matar a véia, quer Edward?

Renée como sempre muito dramática, levou a mão ao peito e encostou na bancada.

¾ Como se já não fosse acostumada comigo aqui na cozinha. – levantei-me e lhe dei um beijo na testa.

Renée fez uma careta tentando não sorrir. Como eu a amava! Apesar de todos os cuidados de minha madrinha, a quem eu era muito grato, Renée era quem eu considerava minha verdadeira mãe. Ela era alegre e falava o que vinha à cabeça. Era robusta, achava a maior graça quando eu dizia que parecia um bombom gigante. Apesar dos cabelos brancos teimarem a nascer, o que lhe dava um aspecto de mais jovem, sei que Renée já beirava meio século de idade.

Renée fora para cozinha assim que deixou de ser parideira. Aos 25 anos, dera a luz ao seu 8º negrinho, como ela dizia, e nunca mais conseguira engravidar. Todos eles trabalhavam no Engenho, como a madrinha ficava mais na chácara, pouco via os filhos.

¾ Bom, apruveitando que tu tá aqui, me canta os ingrediente dessa receita estrangeira que tua madrinha quer pá amanhã! – falou colocando um enorme livro de receitas francesas em cima da mesa.

Suspirei e larguei meu livro de lado. Como dizer não a Renée?