Velhos Instrumentos escrita por KariAnn


Capítulo 7
Voz


Notas iniciais do capítulo

Último instrumento.

Espero que apreciem.



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Voz

Ela caminhava solene em meio às flores cujas pétalas murchas caiam ao chão. O ambiente era fúnebre e o céu nublado convertia felicidades em tristezas.

Os galhos balançavam um pouco com o vento frio que trazia consigo um som. E a mulher conhecia aquele som.

Você compartilhou carne comigo

Dançou comigo no círculo antigo

De vida, de nascimento e morte

Mas Você vive novamente

Era só uma voz... Uma voz ao longe... Uma voz que o vento carregava. Uma voz masculina, melodiosa, grave, suave como pétalas de uma rosa branca.

A mulher seguiu aquela voz, cada vez mais atenta ao que cantava.

Enquanto as folhas do outono caem

No verão de minha vida

É a pedra de moinho

Ao redor do pescoço de todos nós

Em meio às árvores era quase impossível ver qualquer coisa ou pessoa. Mas a voz continuava a cantar, sem intervenção, sem nenhum instrumento a mais, apenas aquele, apenas a voz e as palavras.

Mas Você usou isto como uma coroa

Tecendo ao estridente

Que faz de todos nós covardes

Mas para Você isto era harmonia

A mulher sentia estar cada vez mais perto. E olhava, calma, a procura do dono daquele belo instrumento que não precisava de mais nenhum exceto dele mesmo.

Você conheceu a vergonha como nenhum outro

Você provou a morte como nenhum outro

Você derramou lágrimas como nenhum outro homem

Você compartilhou carne comigo

Dançou comigo

Olhou ao redor. Não havia nada além de árvores, porém ela podia ouvir a canção. Sentia estar perto, ao mesmo tempo em que parecia estar ainda muito distante. Sua calma aos poucos se esvaía e ela já não simplesmente queria, ela precisava encontrá-lo, ouvi-lo de perto.

Esta encarnação me repeliu

Mas me lançou de joelhos

Posso eu ser algo

Exceto uma traça para a chama?

Era uma canção perfeita para o tempo e para o lugar. Fúnebre. Lutuosa. Para uma voz que parecia se derramar como uma cachoeira.

Você é a respiração que me dá vida

Você é mistério

Você é beleza

Você é o Cristo que ascendeu

Então a voz se calou. E a mulher ficou lá, parada, com apenas aquele último verso ecoando em sua mente, aquelas palavras preenchendo seus pensamentos. Uma pequenina lágrima escorreu por seu rosto. Ela não sabia o porquê, mas sentiu vontade de chorar e deixou que as lágrimas quentes escorressem singelas.

Aquela voz logo seria uma lembrança de um rosto nunca visto, de um sentimento desconhecido. Um instrumento autônomo, velho e eterno.


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Notas finais do capítulo

Música: tradução de Anthem - Virgin Black

Espero que tenham gostado.



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