Sinal escrita por Universo das Garotas


Capítulo 32
32º Capítulo




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32º Capítulo – Fred

E

u estava vivendo um sonho. Durante toda a semana fiquei na casa de Beatriz. Levantava de manhã, fazia o café e voltava para o quarto só pra ter certeza de que ela estava lá.

Beatriz era dorminhoca, mas eu adorava isso nela. Deixava-a dormir até a hora que quisesse enquanto eu ficava zapeando pelo seu apartamento. Tudo bem que eu fazia esse trajeto completo em 50 segundos. Mas não importava. Eu estava ali...

Quando sentia que ela demoraria mais para acordar eu saía para correr e na volta passava na padaria trazendo pão quentinho. Isso agradava tanto que ela abria um sorriso travesso toda vez que avistava a sacola na mesa, dizendo “que ela poderia se acostumar com isso todo dia”.

Detalhes pequenos do meu cotidiano com a Beatriz passaram a ser tão importantes que por uma semana eu esqueci todo o resto.

Mas hoje era um dia importante. Ela iria mais cedo para CEM porque haveria uma reunião e o anúncio dos novos acionistas da empresa após o leilão da semana passada.

A minha empresa já havia sido liquidada e seus ativos tinha sido vendidos para um grupo econômico que representava empresas estrangeiras. Pesquisei apenas pela origem antes fechar a venda porque não queria mais nada que fosse irregular nas minhas transações.

Hoje começaria uma vida nova. Diminui consideravelmente meu patrimônio mas ainda consegui diante de toda a situação realizar uns bons investimentos. Na verdade, me concentrava nesse momento em um único bom investimento...

– Olá Sr. Skywalker – Beatriz surgiu na sala de blusa velha do Ramones nesse momento. O que era extraordinário é que ela ficava irritantemente sexy só com ela e calcinha.

– Olá, o que devo lhe chamar depois desse nome? Princesa Leia ou Padmé talvez? Eu respondi mordiscando uma maçã.

– Não precisa. Primeiro te dei esse apelido porque quando fica sério e pensativo faz essa cara com aspecto sinistro a la Skywalker. Segundo porque fisicamente você lembra o ator Hayden Christensen, bem pelo menos antes de ele virar o Darth Vader...

Eu tive que rir do comentário dela. Eu era parecido com um galã de cinema? Não me lembrava muito bem mas o cara era tido como um rosto bonito. Mesmo ela dizendo algo também sobre meu rosto ficar sinistro quando fico em pensamentos, aquilo animou o meu ego.

– Hum acho que eu acabei de saber que a Senhorita me acha bonito – e fui para perto de Beatriz, beijando o canto dos seus lábios – estou enganado Dra. Bia?

– Não fique convencido – ela me retribuiu com um longo beijo nos lábios.

– Eu fico, porque isso vem de você...

Ela me olhou intensamente. Mas logo se afastou dizendo:

– Não posso me atrasar hoje Fred. Preciso estar as 9hs na empresa para o anúncio dos novos acionistas.

– Irei com você. É só o tempo de eu tomar um banho – e saí na direção da porta do banheiro. Beatriz me olhou intrigada mas não disse nada. Eu também não ia dizer.

Estávamos no caminho para a sede da empresa no meu carro, quando recebi um telefonema. Era Jason. Reconheci pelo número que surgiu no painel do carro. Não atendia as ligações dele nas últimas semanas e ele estava furioso. Insistiu até que todas as chamadas caíram na caixa postal. Depois de um tempo ouvi o som de uma mensagem recebida. Iria ler depois quando estacionasse o carro.

Paramos na sede da Companhia Engenheiros da Moda e entramos no elevador que levava diretamente a sala da Diretoria. Já estavam aguardando Beatriz vários homens e muitas mulheres, muito bem vestidos, que olharam curiosamente para mim quando entramos:

– Beatriz, estávamos aguardando. Por favor ocupe uma dessas cadeiras aqui – disse uma mulher loira, bem alta e magra. Sabia que era Anne Roch, a presidente, que embora fosse bonita era de certa maneira exageradamente elegante. Não fazia meu tipo. Ela olhou de maneira exagerada para mim quando eu entrei na sala junto com Beatriz – e seu amigo, faz o quê aqui?

Quando eu fiz menção de dizer alguma coisa Beatriz me silenciou com o dedo. Ela estava prestes a me defender porque reconheci a postura que a Bia faz quando endireita os ombros e tranca o quadril. Estava na defensiva com o comentário da mulher.

– Basta dizer Anne que ele está como interessado e meu consultor. Pelo que me consta não é uma de nossas reuniões privadas e estão aqui hoje alguns clientes da CEM para saberem sobre a divisão do novo quadro societário e votar todas as propostas que foram feitas nas últimas semanas, algumas das quais você sabe claramente que eu não sou favorável.

Fiquei surpreso com a resposta da Beatriz. Ela não tinha me falado nada de qualquer animosidade com as diretrizes da empresa e de seus Diretores.

– Certo. Tudo bem, pode se sentar Sr. Frederico Costa – disse apontando uma outra cadeira distante de Beatriz. Fiz que não entendi e sentei propositalmente em uma cadeira ao lado de Bia. Ela sorriu de maneira sutil e tentou disfarçar mas eu percebi. Observei cada um dos presentes e reconheci duas mulheres: uma ruiva mais velha do que eu uns 10 anos, de uma beleza natural bem rara e uma mais nova que Bia, provavelmente a outra Beatriz, do dia do LiverPool. Ela estava bem constrangida com a minha presença quando percebeu meu olhar sobre ela. Voltei a olhar para a Presidente da CEM quando esta recomeçou a falar:

– Estamos aqui hoje para a votação de dois temas principais e ainda a abertura do resultados do leilão das ações no mercado aberto. Assim, vamos ao primeiro: A expansão da CEM para o mercado internacional com a criação de uma filial em Miami.

Olhei para Bia e ela balançou a cabeça negativamente. Ela obviamente não concordava com isso e parecia indignada com essa proposta. Mas quem começou a argumentar foi a ruiva mais velha:

– Isso demandaria muitos recursos financeiros além da transferência de pessoal para fora. Poderíamos admitir alguns funcionários da própria região para a linha de produção e precisaríamos treina-los por três meses ao menos. Mas todo o pessoal de gerência teriam que ser alguns dos nossos aqui do Brasil, por questão estratégica. Já separei nomes e eles estarão disponíveis em pouco mais de um mês mas a transferência elevaria o custo de seus salários com o deslocamento. E teríamos que recuperar o tempo de máquinas paradas. Assim, em menos de um ano não recuperaríamos o nosso investimento inicial. Mas temos proposta de contratos por períodos de longos 10 anos na terra do Tio Sam.

– Muito bem, pelo belo discurso da nossa querida Gil, temos um apanhado geral da situação dessa proposta. Nos slides colocados no quadro estão a estimativa de lucro para essa empreitada. Temos 10 contratos garantidos para essa expansão e recursos para fazê-la. Não há empecilho real para que ela não ocorra.

Todos olharam espantados para Anne Roch. Ela tinha acabado de dizer que não havia impedimentos ou pontos negativos na expansão quando estes foram muito bem detalhados no discurso da Diretora ruiva. Era uma loba em pele de cordeiro, podia farejar suas intenções. Este tipo de estratégia agressiva era a mesma que eu tinha na GlobalTime, firme e com propósito. Disfarçando riscos e sutilmente colocando-os como positivos. Mas ela não estava convencendo ninguém por ali e muito menos Beatriz:

– Anne você não pode realmente estar defendendo essa ideia. Expansão não é o mesmo que arriscar-se em outro país. Isso exigiria muito dos nossos funcionários que trabalhariam excessivamente para cobrir a implementação da expansão. Já vi a proposta que foi enviada para o RH. Há sugestão de trabalho em todos feriados e domingos desse ano para cobrir a produção. Não tem cabimento essa exigência para que possamos ampliar a empresa para contratos com outros países por um período delimitado de 10 anos.

– Não tem cabimento? Beatriz pergunte ao faturamento e ao financeiro quais são as estimativas de percentual de ganho com essa expansão. Temos o pessoal certo, o capital e ainda a proposta de contratos por tempo determinado. O planejamento é perfeito! Disse Anne Roch de maneira exagerada

– Não, não é perfeito. É estratégico no máximo mas não existe uma preocupação com o bem estar dos trabalhadores envolvidos no processo.

– Chega de discussão – atulhou Anne – vamos iniciar a votação: Favor anotarem em um papel os que tem direito a voto e colocar na urna ao lado.

Beatriz olhou indignada para Anne Roch mas não disse mais nada. Anotou seu voto em um papel. Pelo que eu sabia seu voto tinha o peso de 49% das ações da CEM. Ao lado de Anne estava o envelope que correspondia a 2% para pequenos investidores como alguns trabalhadores da empresa e 28% para grandes investidores externos. Faltava o voto das ações que foram colocadas a venda no mercado.

O tema seguinte foi a mudança na estrutura da sigla CEM. A antiga marca era em caixa alta e letras douradas. A alteração seria mínima, apenas uma moderna curvatura das pontas das letras e o dourado seria transformado em um sombreado com centro marrom. Realmente uma marca muito mais atualizada do que a original. Não teve maiores discussões e nem objeções. A votação foi imediatamente realizada sem conversas paralelas.

Recolhendo todos os papéis da mesa, a Secretaria da reunião colocou os desdobrados para que Anne Roch fizesse a contagem.

Os investidores externos que participavam da reunião eram representados pela Sra. Roch. Apenas os trabalhadores encaminharam para essa reunião um representante que integrava o Sindicato da Categoria. Ele também estava votando em nome do 2% de participação dos empregados acionistas.

– Ana Beatriz Figueiroa representa 49% dos votos válidos, os trabalhadores estão impedidos de votarem em questões de expansão, fusão e incorporação empresarial conforme Estatuto da companhia. Agora só falta anunciar os novos acionistas para finalizar a votação do primeiro tema de expansão – declarou a Secretária.

– Nesse caso, vamos a leitura do leilão da CEM – disse Anne Roch olhando para mim – por favor Dr. João Canedo realize a leitura – nesse momento um senhor com porte de advogado levantou-se e abriu um envelope lacrado.

– Senhores foram vendidas todas as ações no percentual de 21% para um único arrematante.

Nesse momento todos se viraram surpresos na direção dele. Apenas Anne mantinha o rosto sereno e tranquilo.

– Não estou entendendo, como no mercado aberto as ações foram compradas por um único comprador? Disse um dos presentes.

– Sim, antes do início do pregão ele havia negociado com uma corretora toda a compra do lote. Praticamente não houve oferta das ações. Assim que iniciou o pregão elas já estavam arrematadas. E por sinal o comprador está presente. Assim ele tem direito de voto nos temas que foram propostos com peso de 21% do total de ações – disse o advogado.

Bia assistia tudo atônita, como se entendesse parcialmente o que foi dito. Eu me aproximei do seu rosto e disse apenas para ela ouvir:

– Bia, algum problema com a compra das ações?

– Não – ela virou para me olhar – mas você não acha estranho apenas um único comprador? Bem essas ações juntas deveriam ter valido uma pequena fortuna e ainda sim a compra de todas elas é uma manobra arriscada para um investidor. Será alguém do ramo de malharia?

– Acredito que não – eu disse sincero – mas acho que já vamos conhecer o verdadeiro comprador.

Olhei ansioso para os presentes procurando sinal de apreensão. Estavam todos calados esperando o próximo passo como se aquilo fosse mudar o curso de suas vidas.


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