Sinal escrita por Universo das Garotas


Capítulo 16
16º Capítulo




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16º Capítulo – Beatriz

Cheguei cedo no escritório hoje. Há duas semanas meu pai faleceu e eu não consegui conciliar o meu trabalho nem todas as pendências do escritório. Meu sócio Diogo me ligou cedo hoje, precisando da minha ajuda. Ele era além de tudo um amigo, que sempre segurou as pontas quando precisei. Devia mais atenção a ele, então saí cedo de casa sem nem mesmo tomar café.

Ele já estava dentro da nossa sala. Ao contrário de mim, Diogo trabalhava cedo e saía pouco antes do almoço, para realizar serviços externos e mais tarde ir para Faculdade local em que fazia um mestrado em direito econômico. Era brilhante a forma que conduzia a sua vida e sua carreira!

– Olá Senhorita! Bom dia para quem não é de dia! –ele disse e foi logo me abraçando carinhosamente.

– Olá Senhor madruga as pessoas! – eu disse rindo mas logo eu remendei – sinto muito por esses dias, eu estava com a cabeça cheia.

– Bia, sério, você não tem do que se desculpar! Você perdeu seu pai, e apesar de tudo, não faço ideia do que você está sentindo. Mas eu precisava de você aqui hoje. Suas ações trabalhistas deram uma guinada surpreendente essa semana. E como você está bem mais inteirada da situação, precisava da sua ajuda.

– Que ações? Quase todas as minhas estão em fase de execução, e não teriam nada diferente para acontecer. Bem eu não entro com uma ação desde aquela coletiva dos trabalhadores da Global Time...

– Exatamente! Sobre essa empresa que eu estou falando! Sabe o processo do Sr. Arnaldo? – eu confirmei com a cabeça – então pela primeira vez você pegou eles Bia! O juiz determinou outra perícia, além daquela que você acompanhou e que não deu em nada. E essa, não deu tempo deles maquiarem porque foi descoberto um monte de irregularidades.

Eu acho que era para eu sorrir. Mas ao invés disso, minha cara devia ser uma carranca porque significava que a empresa de Frederico seria condenada em irregularidades e multas consideráveis. Apesar de saber intimamente a verdade sobre tudo, a imagem dele estava impregnada em mim. Lembrei da noite que passamos juntos na minha casa, de como ele adormeceu nos meus braços, e ao pensar nisso encarei de repente a estante de livros que usamos de apoio enquanto fazíamos amor selvagem no meu escritório.

Diogo parecia atônito com a minha falta de reação mas como me conhecia como ninguém percebeu algo no ar. Seu rosto expressava curiosidade e ele se inclinou:

– Beatriz? Eu perdi algo? Por acaso você ouviu o que eu disse?

– Sim, ouvi. Bom isso é realmente bom, apesar de inesperado porque eu não solicitei uma segunda perícia. Não entendo, o que aconteceu?

– Bom eu poderia discorrer sobre a desconfiança do perito ao constatar mudanças naquela primeira perícia em relação as demais que foram feitas mas Bia, eu sei que tem algo te incomodando. Fala!

Eu soltei todo o ar que estava segurando. Então resolvi desabafar, sentando na minha cadeira enquanto Diogo fazia o mesmo:

– Ok! Eu me rendo! Sabe o local que você me buscou no dia do enterro do meu pai?

– Sei, eu não perguntei para você o fazia naquela região nobre da Cidade mas também não estávamos em um dia muito apropriado...

– Eu sei, te conheço e por isso chamei você e não outra pessoa. Sabia que não ia me perguntar. Bem, estava ali porque passei a noite com Frederico - vendo que ele não ligava o nome a pessoa eu completei – Frederico Costa Silva.

Ele pensou no nome por apenas um segundo, então arregalou os olhos em uma expressão de incredulidade.

– Jesus, Bia! Você tá falando do mesmo empresário dono da Global Time? – eu confirmei com a cabeça – Era ele naquele dia, depois que saímos do escritório? Puta merda! Conte-me tudo...

Eu contei. Falei sobre a batida do carro, a audiência, a perícia que ficamos embaixo da terra juntos por horas, a visita a sua casa, os drinks do Liver Pool e o resto. Só omiti detalhes de como nos agarramos e em quais lugares, principalmente sobre o escritório. Durante a história ele não fez qualquer comentário. Só meneava a cabeça para eu continuar. No final, quando terminei ele apenas comentou:

– Você não podia se envolver com alguém menos complicado, Bia? Sei lá, com Felipe talvez? Eu fiz menção de protestar mas ele continuou – não que eu condene que você saia com alguém, pelo amor de Deus! Desde meu primo que não vejo você com ninguém. Isso faz uns cinco anos pelo menos! Mas Bia, ele é tudo o que você detesta, bom fisicamente o cara é consideravelmente bem apanhado, eu realmente entendo a atração mas e o resto? Você já pensou?

– Claro, pensei e tentei me afastar – vendo que ele hesitava em acreditar eu continuei - olha, eu sei que não sou um modelo muito bom de relacionamentos. Sabe que quando menos se espera eu afasto as pessoas. Fiz isso com seu primo. Você ao contrário de mim está em um relacionamento sério há uns, sei lá, pelo menos 10 anos?

Diogo presenciou a minha separação com o primo, a distância, porque ele era tão ligado com ele quanto comigo. Éramos quatro amigos (eu, sua esposa, seu primo e ele) que sofreu mais que nós dois quando resolvemos separar. Não foi nada fácil, mas poderia se dizer que tínhamos superado. E ele era um modelo de dedicação a família, esposa, que me deixava envergonhada pelo tanto que fui relapsa com as pessoas na minha vida.

– Bia, são nove anos e dez meses. Esqueceu-se da minha festa de 10 anos? Brena já enviou para sua casa os convites.

Realmente tinha me esquecido. Argh! Tinha uma festa para ir dali um mês e nem me lembrava.

– Mas isso não significa nada, Beatriz. Estamos falando aqui de um mega conflito profissional. Você está advogando contra as empresas dele. Ele é sem dúvida, conforme descobrimos pela nossa pesquisa, o dono real das empresas da Global Time. O cara é o magnata das fraudes. Jesus Bia! Um tipo desse não poderia lhe fazer bem se soubesse que você está advogando contra ele!

– Ele sabe, não disse a você que ele foi pessoalmente em uma das nossas audiências da Global Time!

– Mas Bia ele sabe realmente em que pé estamos de envolve-lo nas fraudes? Porque até essa conclusão da última perícia ele provavelmente estava confortável em ter processos que não tinham êxito nenhum. Quantos execuções dessa empresa nós e alguns colegas de profissão não conseguimos receber nada? Não encontramos patrimônio nenhum! Todos blindados por fraudes! Mas Bia, estamos próximos de derruba-lo em um série de processos. Já entrei em contato com alguns colegas para agendarmos uma reunião. Quando apresentarmos aquele dossiê, vamos chegar ao patrimônio de Frederico. Eu e Felipe já reunimos pelo menos três vezes o valor das causas trabalhistas em patrimônio. Quanto mais podemos encontrar?

A seriedade das palavras de Diogo mexeram comigo. Eu iniciei aquela pesquisa, comandei os processos contra Global Time e arquitetei todo o plano para encontrarmos informações sobre a origem e posição do patrimônio. E Diogo tinha continuado com Felipe a investigação, ao ponto de simplesmente encontrarem o patrimônio blindado. Há dois meses aquela noticia seria o suficiente para eu dar uma festa com direito a dançar com todos os trabalhadores, mas nesse momento eu fiquei arrasada. Não poderia continuar.

– Diogo, você vai ter que seguir sem mim. Quando te contei tudo talvez não tenha deixado claro mas estou muito envolvida com ele. Não quero prejudicar os trabalhadores mas se eu continuar posso me perder nessa história. Reúna todo o material, procure Felipe, divida com ele as tarefas e os honorários do processo.

– Bia, mas isso era todo o seu trabalho...

– Por favor... – eu supliquei - eu não mudei em relação ao que deve ser feito. Quero que protejam os trabalhadores, que eles sejam compensados pelo que passaram nas dependências dessa empresa. Faça o que tiver que ser feito. Não se intimide. Mas eu não posso te ajudar mais. Tenho que me afastar, colocar minha cabeça no lugar. Preciso desse tempo.

– Claro. – ele pareceu pensar por segundos - Por favor, Deuses da advocacia trabalhista tragam a minha amiga de volta! – disse sorrindo para mim – eu não te culpo pelo que está passando Bia. Foi uma infeliz coincidência que você tenha encontrado alguém que é seu inimigo natural. Mas como amigo, tenho que te advertir: ele é seu inimigo, mesmo que em um pacote atraente, ele ainda é o que é, e principalmente, tem o que tem, porque passou por cima de inocentes.

– Eu sei – eu consegui dizer com a voz embargada.

– Não volte aqui enquanto não decidir o que fazer! Conte comigo para qualquer coisa. Vou ligar para Felipe, chama-lo para atuar nas próximas audiências.

Eu apenas concordei com a cabeça. Eu abri a porta do escritório e dei uma última olhada para ele.


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