Pov Elsa

Nada era mais como antes, eu não sabia mais o que dizer em meio a tantos acontecimentos vindo de uma só vez.

São como avalanches que me levam para muito, muito longe e de repente me trazem de volta ao mesmo lugar de onde tudo começou.

Olhei bem para aquelas pessoas ali, com tanto amor no coração, tantos sonhos, tantas vontades boas, tantas almas quentes.

Eu jamais poderia ser quente.

Não do jeito que as pessoas são.

Pensei realmente que eu já tivesse me acostumado com isso, mas ver aquelas palavras na neve me despertou um medo que eu havia enterrado há muito tempo.

Me despertou o medo de perdê-lo.

De perder Jack Frost.

E eu não poderia aguentar isso, não de novo.

Tudo que eu queria nesse momento, por mais egoísta que possa parecer, era abraçá-lo e beijá-lo, deixando todo o mundo para trás, voando com ele até qualquer lugar além do universo real.

Mas isso era impossível nesse momento, pois aqui, na minha frente, estava uma garota loira desacordada.

O sangue que escorria de sua testa e ombros estavam visivelmente graves, empapavam os lenços deixando-os com um vermelho vivo, e eu não conseguia imaginar o que teria causado tal feito.

Não pela falta de coisas que causariam isso, e sim pela quantidade infinita que eu não conseguiria escolher.

Hiccup segurava sua mão e chorava, mais quieto dessa vez, ela ainda não havia acordado e estava deitada na cama dele, vez ou outra ele trocava os lenços.

Mas não saía do seu lado em hora alguma.

Talvez fosse o medo de perdê-la.

Talvez fosse o medo de perdê-la de novo.

O verdadeiro amor nasce em tempos difíceis.

–Ela vai ficar bem, Bocão? - Soluço pergunta para um cara grandão que entra pela porta, ele possui um bigode laranja tão grande que parece mais uma cenoura, parece a cenoura do Olaf, seus dentes sobressaltavam sua boca fina que escondia-se por baixo do bigode.

Ele ajeita seu gancho no lugar da mão em um pequeno movimento.

–Ela ficará bem, Soluço, mas não foi por falta de aviso. - ele olha para nós - todos vocês deveriam saber com o que estão se metendo antes de enfrentá-lo. Nenhum de nós aqui sabe o que é, mas Astrid é a prova viva, ou quase isso, de que é algo extremamente perigoso. Agora se me dão licença, tenho algumas facas para afiar. - ele levanta-se e anda até a porta já aberta - E soluço? Você deveria ir ver sua mãe.

E sai, deixando soluço cabisbaixo.

–O que houve com a sua mãe? - Jack pergunta, franzindo o cenho, preocupado.

–Ela disse para eu jamais entrar na neblina - ele baixa ainda mais a cabeça e depois levanta-a devagar - Mas eu não faço a mínima ideia do que isso quer dizer.
Jack encara Rapunzel e ambos trocam algo em silêncio, um olhar apreensivo, cheio de receios.

–Não, não é possível. - Merida, que estava do outro lado da sala, aparece ali no meio da gente, seu rosto assumiu uma expressão que eu reconhecia bem, ela estava morrendo de medo. - O que quer que seja isso, também estava atrás de mim.

–Como? - Hiccup pergunta.

–Como você acha que cheguei aqui? Sim, eu estava atrás de aventuras, mas... Não desse jeito, não com meus pais correndo perigo, ou qualquer outra pessoa. - todos a olham e ela continua, sentando novamente no carpete. - Eu estava fugindo dessa neblina, grande, acinzentada, e vinha rápido demais. Meu cavalo já estava além da sua velocidade normal, e então eu ouvi. - ela suspira e encara Flynn, que estava olhando diretamente para ela, assim como todos nós. - a voz dizia para eu ir com ela, e a voz era exatamente a da minha mãe. Eu consegui me salvar e não ir com ela porque toda magia tem uma falha, assim como toda magia vem com conseqüências desastrosas, e isso eu aprendi desde pequena. - seus olhos marejam, e ela põe as mãos cobrindo o rosto.

–Ei, vem cá, não fica assim não - Flynn, que estava ao lado dela no carpete, aproxima-a e a abraça primeiramente de lado e logo depois puxando-a para que ela chore no seu peito, usando-o como escudo, algo que eu entendo bem. - Não vamos deixar nada acontecer com você nem com seus pais, prometo.

O clima fica tenso, somente o choro dela é ouvido.

E então ela para, sai do abraço e esfrega o rosto tirando as lágrimas que sobravam.

–Eu sou forte, eu sei passar por isso. Mas é realmente algo forte, e sua mãe, Soluço, está certa. Meus pais devem estar em perigo, então.

Soluço agacha-se na frente dela.

–Flynn está certo, enquanto estivermos aqui, prometemos que nada acontecerá com seus pais ou com você sem que a gente impeça. - ele diz e levanta-se. - agora quem deve ter respostas para algumas de nossas perguntas é Astrid, Bocão é um ótimo cara pra cuidar da saúde dos outros, mas nunca é rápido no quesito melhorar. Então acho que Astrid só acordará mais tarde, talvez à noite. - ele direciona o olhar para mim e depois passa o olhar para Jack, Rapunzel, Flynn, Merida e Jamie, que estava calado, nessa ordem, falando enquanto olhava. - Vocês definitivamente deveriam ir tomar um ar fresco.

–E você, Hiccup? - Jamie manifesta-se.

–Eu não vou, ficarei aqui, preciso cuidar dela e trocar os lenços. Já tomei ar fresco demais. - Banguela, que estava sentado até agora, levanta-se e inclina a cabeça à procura de carinho. - E além do mais. - ele ri e esfrega a cabeça do dragão. - Eu não estou sozinho.

–Tudo bem - Eu digo. - nós entendemos você, sabemos como é esse sentimento, só...fique com ela.

–Obrigado. - ele diz e sorri curvando a boca.

Aceno com a cabeça e por um momento nos compreendemos.

Por um momento Jack toca minha mão e eu sinto seu gelo igual ao meu, aquele frio que eu tenho em mim mas que ao mesmo tempo eu sinto falta.

Por um momento eu me sinto segura.

Por um momento, eu me sinto em casa.

Isso é amor, é como voltar pra casa.

Mesmo nos meus momentos de dúvida.

Algo estava acontecendo.

Mas naquele momento, eu juro, eu amei Jack Frost.

~•~

Pov Jack.

Mesmo nos meus momentos de dúvida.

Eu amo Elsa.

Com todos seus detalhes, sorrisos e teimosias.

Céus, como eu a amo.

Olhei bem para seus olhos, ali, sentados no observatório de madeira, o vapor de alguma fogueira que havia sido apagada ali, ainda saía em ondas no ar.

Toquei seu rosto e examinei seu queixo, tão perfeito e tão diferente, seus olhos de um azul tão gélido e lindos que nem os meus chegavam aos seus pés.

Não mesmo.

Ela transmitia uma aura boa nesse momento, enquanto minha outra mão segurava a sua.

–Posso te contar um segredo? - pergunto, com um sorriso no rosto.

Ela me olha desconfiada.

–Conta.

–Você é a pessoa mais linda que eu já vi e já verei em toda a minha vida.

–Ainda estou esperando o segredo. - diz séria e eu rio alto, fazendo-a rir também.

Me inclino enquanto ela ri e beijo seus lábios frios, fazendo-a parar de rir mas continuar com um sorriso bobo no rosto.

E eu amava aquele sorriso.

Beijei-a como se não houvesse amanhã, e do jeito que tudo estava instável, talvez não viria a ter mesmo.

O céu estava de uma típica tarde, quase terminando e ao mesmo tempo longe de terminar.

Abracei-a durante o beijo, fazendo seu corpo colar no meu e subir em cima do meu colo.

Ela daquele jeito, mais alta que eu, me olhando de cima assim, era tão tentador, uma paisagem tão bonita que eu poderia passar meus próximos mil anos ou mais na mesma posição.

Mas congelaríamos o local.

Ou não nos controlaríamos.

Minha mão esquerda segurava sua nuca, puxando-lhe de leve o cabelos.

Minha mão direita brincava em suas costas, em um vai e vem constante que levantava um pouco sua blusa.

Não me acostumava com ela de roupa.

Tá, isso soou um pouco malicioso da minha parte.

Mas não foi isso que você está pensando.

Na verdade é que ela havia trocado de roupa, e eu nunca me acostumava com ela de blusa e short. Nunca.

Mas já que queríamos nos disfarçar, era um bom começo.

Suas pernas entrelaçam minha cintura e sinto a neve ao meu redor, caindo em flocos leves e gelados.

Assim como Elsa.

De repente ela sai.

Se desvencilha do beijo e levanta do meu colo, ficando em pé rapidamente e ajeitando a blusa.

–Eitadesculpa! - Jamie fala rápido, já colocando um pé pra fora.

–Não, não - Elsa ri, meio forçado e ofegante. - tá tudo bem, só estávamos...

–Em um momento nosso. - Minha raiva era pequena, mas parecia crescer, e eu não entendi o por quê.

Elsa e Jamie perceberam a leve irritação na minha voz.

–Calma cara, tudo bem, já estou indo... - ele diz e vai se virando para ir embora.

–Não, Jamie, não tem porquê. - ela olha para mim de relance - Na verdade acho que eu deveria ir procurar a Merida, preciso perguntar algumas coisas para ela sobre a neblina. - Elsa fala e minha boca entreabre-se.

–Eu vou com você.

–Não, Jack, eu vou sozinha. - ela me olha e sua expressão me preocupa, uma mistura de preocupação com ansiedade.

–Tudo...bem, então. Tem certeza? - pergunto só para confirmar se estava ouvindo certo.

Elsa pedindo para que eu não vá com ela? A única vez que ela pediu para eu ficar longe não durou nem um capítulo da nossa história.

O que estava acontecendo?

–Tenho, Jack, é melhor assim. Preciso falar com Merida. - responde e já vai saindo, deixando uma trilha de neve atrás.

E me deixando.

Do mesmo jeito que fiz com ela.

E eu jamais me perdoaria.

Jamais.

~•~