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Olhando para o escuro, o mesmo velho vazio em meu coração.

Eu me lembro dessa dor. Isso corre pelos meus olhos e tudo é tão estúpido.

Tudo dói tanto.

—Eu? - pergunto.

—Elsa! - Anna grita - Não! - tenta correr até mim, mas é interceptada por um dos cavalos de areia negra.

—Você fica e eles vão. - Pitch a ignora.

Hesito por um momento.

Mas a resposta já está clara, eu sei que devo ficar.

Encaro Jack antes. Vê-lo daquele jeito me deixava sem saída. Me deixava sem rumo.

Ele parece querer sair correndo, seus olhos estão inquietos.

—Eu fico... - o corpo de Jack enrijece - mas os liberte, agora! Tire Jack disso!

—Hum....Está bem - ele parece pensar por um momento - tirarei ele disso, mas ele não terá forças o suficiente para te salvar, então não adianta ter esperanças. - sorri e estala os dedos, Jack cai no chão na mesma hora, o cajado protegendo o rosto, assim como a outra mão, ele está acordado mas seus olhos mostram cansaço, tento correr até ele - e você vai ficar aqui!

Sinto algo puxar minha mãos.

Algemas.

Crescidas do chão, feitas de areia negra.

Caio com o impacto, fazendo neve se espalhar pelo piso.

Anna grita e corre para mim, segurando meu rosto entre suas mãos.

—Elsa! Você não pode ficar!

—Anna... - me ajeito de forma que estou quase de joelhos e sorrio tocando seu rosto até onde as algemas deixam - eu irei ficar bem...

—Não - ela me abraça, chorando. - eu não sei porquê, sinto que temos uma ligação, como se eu já te conhecesse... não quero te perder Elsa!

Deixo escapar uma lágrima que cai em seu ombro.

Abro meus olhos apenas um pouco, deixando-os semicerrados, e vejo Jack se arrastando pelo chão frio em minha direção, tentando se levantar.

—Jack...pare... - meio que imploro com quase um sussurro - eu irei ficar bem, vão! Vocês tem que ir embora! - Solto-me da Anna. Pitch olhava para nós, divertindo-se com nossos sentimentos, rindo dos nossos medos e aumentando nossas angústias.

Jack chega perto de mim com a ajuda da Anna.

Fica de joelhos para me alcançar e sua força ainda está pequena, mas ele segura meu queixo com seus dedos frios mesmo assim, levanto minha cabeça para olhar diretamente em seus olhos azuis, assim como os meus.

Ele sorri um sorriso triste e me abraça.

—Desculpa. - ele diz e meu coração pesa.

Seus braços que eu tanto sentia falta.

Seu frio parecido com o meu.

Suas lágrimas orgulhosas e seus sorrisos travessos.

Suas misturas de branco e azul, seus dentes de um branco nunca antes visto.

Sua diversão, nossa diversão.

Desejo que ninguém mais esteja aqui.

Nossas neves cobrem todo o chão ao nosso redor.

Pitch franze a testa, parece ficar preocupado.

—Me desculpa - eu digo chorando ao seu ouvido.

Ele roça seu lábio em meu ouvido, consigo sentir seu sorriso, e sussurra.

—Eu te amo.

Me solto devagar do abraço e o olho, sacudindo a cabeça levemente e acabo por sorrir.

Ele sorri junto e nossos olhos vacilam.

Todo o meu fôlego parece ir embora dos meus pulmões quando eu seguro sua nuca fria, o trazendo para perto de mim.

—Parem com isso! - Pitch parece se desesperar por um momento, os cavalos estão agitados.

Mas ele não consegue atravessar a nevasca que já formei.

A nevasca que já formamos.

Encontro sua boca fria, seus lábios frios, nossas línguas geladas passeando e se encontrando diversas vezes.

Sinto algo totalmente novo, sinto algo diferente, outro tipo de adrenalina.

Algo que dói, algo que mata.

Algo que faz bem. Algo que liberta.

De repente eu acredito.

Eu acredito em uma coisa chamada amor.

Por mais difícil, por mais doloroso que é amar, eu amo.

Porque eu já passei por muita coisa pior.

Eu era tão pequena quando a dor começou, agora para sempre com medo de ser amada.

Mas eles estavam enganados sobre mim.

Me separo apenas um pouco de Jack, não sou que nem ele, preciso de ar.

E preciso dele.

—Jack... - falo a quase um centímetro de seu rosto.

—Oi. - ele abre um sorriso travesso, esquecemos de todo o mundo ao meu redor.

Me aproximo de seu ouvido e sussurro.

—Eu te amo.

A nevasca branca ao meu redor cai totalmente no chão, acalmando-se drasticamente e se espalhando junto com as palavras que acabei de dizer, e sinto que todos estão prendendo a respiração.

Mas eu não ligo para nada que está acontecendo fora daquele momento entre nós dois.

Céus, eu não ligo!

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