Ele sabia que nada ia mudar. Sabia que mesmo que ficasse ali, trancado por horas, nada mudaria o fato de que ela estava lá. Nos braços de outro. E tudo o que conseguia pensar, tudo o que conseguia sentir era raiva, raiva de tudo e de todos. Até de si mesmo. Sirius o tinha seguido até o dormitório e tentara convencer o amigo a relaxar e dar uma volta, recebendo somente o silêncio por resposta. Ele não queria ver ninguém. Não queria ouvir palavras sem nexo que não teriam nenhuma utilidade ou sentido para ele. Não ia prestar atenção de qualquer jeito. Queria ficar ali. Contemplando os terrenos de Hogwarts do parapeito da janela até seus olhos não aguentarem, até o cansaço abatê-los e fazer com que as lágrimas que insistiam em rolar pelo seu rosto desapareçam, até a dor cessar.

Aquele dia de sábado pareceu durar uma eternidade. Sirius retornou para a biblioteca já que não tinha mais o que fazer. Talvez se falasse com Remo os dois podiam animar Tiago, o que ele achava difícil, mas não impossível. Quando chegou a mesa em que os amigos estavam viu que Lily tinha voltado pra lá.

– Qual é, Lily! Que quê foi? Nem vem dizer que não é nada porque você está pálida. - Ouviu Kate sussurrar.

– É Lily, o que foi? Você costumava ter um pouco mais de caráter... Opa cor. - Comentou Sirius maliciosamente, olhando fixamente nos olhos da garota.

– Não era minha intenção...

– Ah não claro, que não.

– Escuta Sirius, é sério. Eu, eu não sei o que estou fazendo...

– Que seja, não vim aqui falar com você. Seus problemas, você se vira.

– Opa, opa, o que quê está acontecendo aqui? - Indagou Anne.

– Nada. Só um leve desentendimento.

– Lily... O que quê ele quis dizer com “um pouco mais de caráter” e “seus problemas, você se vira”? - Indagou Kate e a amiga permaneceu em silêncio.

– Nada. Eu, eu vou pegar um... Já volto.

– Ela não vai voltar... - Comentou Pedro.

– O que quê foi isso tudo? - Questionou Remo a Sirius que começou a tagarelar.

– Onde o Tiago está? - Questionou Anne olhando para Sirius.

– Deve estar no dormitório ainda.

– Vem Kate, eu falo com ele e você fala com ela.

– Por que eu fico com a pessoa mais mal humorada??

– Porquê eu sei exatamente o que fazer com relação ao Tiago. - Nisso ambas se encaminharam para a Torre da Grifinória e se dividiram para entrar nos dormitórios.

– Você tava confusa, e por alguma razão achou que se si encontrasse com o Robert, iria decidir, mas não percebeu que estava se forçando a fazer o que acha que é o certo, porque é o que você faz. Lily, você tem colocar uma coisa na cabeça: se ele fez tal declaração e agiu dessa forma quando viu você com aquele coisa é porque ele sente alguma coisa obviamente. Mas só você pode decidir o que vai fazer disso, e tem que decidir logo e não da maneira como acha que deve agir, mas como quer agir.

– Eu não posso fazer isso. É uma ilusão. Eu sei o que vai acontecer. É a mesma coisa que tomar uma poção sem saber se é um veneno.

– E só tomando você vai saber se não é um. Ponto. Fica ai quietinha que eu vou trocar de roupa.

– Ti? Posso entrar? - Perguntou Anne abrindo a porta do dormitório masculino poucos minutos depois e percebendo que o garoto estava dormindo recostado à janela e se desequilibrou. - Desculpa!

– Não, tudo bem - comentou se levantando com a ajuda da amiga. - Tô bem hehehehe. Obrigada Anne - nisso o garoto notou que ela estava fixando seu olhar nele com certa diferença. - Só estou cansado do treino.

– Não teve treino hoje - Comentou sorrindo.

– Semana trabalhosa, sabe como é que é... - Comentou sorrindo também.

– Você não faz nada durante a semana, com todo respeito - comentou enquanto o garoto fazia careta.

– Que péssima visão sobre mim cara Aninha.

– Sabe o que eu percebi, Sr Potter?

– Não senhorita Souturn.

– Você costumava me contar as coisas, só costumava mesmo.

– Que isso... De qualquer forma, o que você quer que eu te conte se sou um livro aberto? Se bem que não precisa dizer o que. Pergunta para Lily, se bem que o Sirius deve ter te dado todas as informações possíveis.

– Primeiramente. “Pergunte para fulano e beltrano” não é o que você me diria... Na verdade é sim, mas... credo! Quanta disposição hein? E talvez ele tenha contado, talvez não, pode ter sido uma fênix, vai saber...

– Uma fênix? - brincou o garoto.

– Aham. E que só poderia ter um motivo pra isso, acho que eu podia deduzir sem a fênix ter me contado. Sobre uma tal de Lily... - concluiu.

– Lily... Que nome engraçado... Nunca ouvi alguém chamado assim...

– Há-há-há muito engraçadinho.

– Claro. Sempre.

– Você não se trancaria num quarto por nada Tiago.

– “Tiago”, o papo ficou sério agora. Mas talvez sim, talvez só esteja com sono.

– Talvez, mas... não. O que aconteceu quando vocês ficaram para trás depois do treino?

– Ela não contou?

– Contou que vocês ficaram conversando, que a Jenne apareceu e pôs fim nisso. E não, eu não acredito que tenha sido só isso, nem eu, nem Kate.

– Depois da Jenne aparecer do além, e da Lily ter saído quase que voando e eu ter ido atrás dela, eu... eu falei tudo, eu tinha que dizer, e precisava de uma resposta. E sabe, quando nos beijamos... - notando o sorriso no rosto da amiga, soltando um riso.

– Pode continuar, eu deixo. Quando vocês se beijaram pontinho, pontinho, pontinho.

– Eu senti que era o que ela queria, que ela sente o mesmo. Mas ai... Depois de uma semana entregando flores todas as manhãs, fazendo de tudo pra ter a confiança dela... Eu ia levar um buquê hoje . Lá na biblioteca. Ela não estava lá... E daí você sabe, não?

– Você sabe, e é algo bem claro, que a Lily é indecisa. Deixa rolar que as coisas vão se encaixando. Tenta falar...

– Olha Anne, eu tentei falar, eu consegui falar e, sinceramente, não deu em nada. Vou esperar, parar as coisas um pouco. Fazer o mundo girar ao meu favor. Ser uma fênix, não?

– Renascendo das cinzas.

– Renascendo das cinzas. - Repetiu o garoto. - Mas e você Souturn...

– Você deve amar meu sobrenome de tanto que fala...

– Não foge do assunto não.

– Que assunto ser de Godric’s?

– O fato de você estar tendo aula com o Remo, diz algo?

– Ciúmes? Sério??

– Quase, mas ainda não foquei nisso. Você e ele...?

– Não! Claro que não. Até porque ele está com aquela garota da voz irritante.

– “Até porque...” então se ele não estivesse com ela...?

– Tiago!

– Tá bom, parei, mas estou de olho viu. - E nisso deu um abraço na garota. - Obrigada. - sussurrou ao ouvido dela.

– Eu tô aqui pra isso, lembra?