Minha viagem foi silenciosa. Estávamos apenas eu e minha tia May na BMW Prateada dela. Ela vivia tentando me convencer à aceitar a Mercedes vermelha que comprara para mim. Mas não dá! Eu não consigo! A Mercedes era igual a que minha mãe tinha.

Vivíamos eu, Minha mãe Jocelyn e meu padrasto Luke ( meu pai, para todos os efeitos). Éramos uma família alegre e unida, até o dia do acidente. Estávamos indo para o aeroporto, íamos para o México, era o começo das férias de fim de ano. Luke desviou um pouco o olhar da pista e acabamos batendo contra uma árvore. Só eu sobrevivi!

Minha tia Maia lutou pela minha guarda e, assim que me deram alta no hospital, me mudei para sua mansão em Nova York. Ela era dona de uma marca de roupas femininas muito famosa: La Famme Fattalle.Muito sorridente e quase sempre de ótimo humor, minha tia é a minha melhor amiga. Ela me matriculou no melhor colégio de Nova York. Minha mais nova tormenta cheia daqueles almofadinhas e patricinhas, A Holiter Preparatória. Tia May me deixou em frente ao prédio da secretaria da Holiter com um simples " Boa sorte " e um " te vejo no sábado, Mindinha! ". (Mindinha era o jeito que minha tia me chamava, por causa de minha altura.)

Entrei, respirando fundo a fragrância de limão que aquele ambiente tinha e me direcionei à senhora rechonchuda e grisalha que estava sentada atrás da mesa de madeira velha.

- Posso ajudá-la? - Perguntou a tia, com seu tom de voz meigo e quase maternal.

- Sou Clarissa Fray Salvatori. - Falei, esperando que meu nome esclarecesse que eu era aluna nova. E foi isso que aconteceu...

A Tia me desejou boas vindas, me mostrou meus horários de aula, me deu a chave de meu quarto, me explicou as normas do colégio e sobre o uniforme, que era obrigatório. Até nós ouvirmos uma gritaria vindo da sala do diretor. Nos entreolhamos e fomos checar um pouco mais de perto. A persiana estava levantada, então, pudemos assistir a cena toda.

O diretor estava dando bronca em dois garotos, um moreno, alto e forte, e estava com um pano sangrento sobre o nariz. O outro era loiro, mas não consegui ver se era alto ou baixinho, pois estava sentado em uma cadeira com os pés apoiados na mesa do diretor.

- O que eu falei sobre brigas, Lightwood? - O diretor se virou para o loiro. O garoto pareceu parar e pensar, e por fim respondeu:

- Que só são permitidas à garotas de biquínis? - Ele desdenhou. O Diretor se exaltou e puxou os pés do tal Lightwood de cima de sua mesa, provocando um baque surdo.

- Cale-se Jace! - Exasperou-se. - E você, Velarc? Vai me dizer o motivo da briga? - Virou-se para o moreno, que declinou ao pedido do Diretor. - Bem, - Ele se recompôs. - Como me falaram que o Velarc começou, irá ficar sem permissão para saída por duas semanas. - O tal de Jace soltou uma gargalhada. - E você, Lightwood... Vai ficar responsável pela aluna nova! - Dessa vez o Velarc que riu em voz alta.

- Como? - O tal de Jace começou a protestar. - Mas...

- Mas nada, Jace! Ela já deve ter chegado. - O Diretor pareceu contente com sua penitência. - Está liberado, Sebastian! Você, - Apontou para Jace. - Vem comigo!

Eles saíram da sala e vieram em nossa direção. Meu coração parou. Simplesmente parou.

O Garoto loiro fez meu coração sofrer um descompasso. Ele tinha cabelos compridos que chegavam ao meio do pescoço, seus olhos eram de um dourado encantador. Ele era alto, 15cm mais alto que eu - pelo menos. E forte, mas não do tipo exagerado. Ele era... perfeito! Ele sorriu torto, e foi aí que percebi: Ele tinha muito auto-confiança. Provavelmente, deveria ser um galinha.

- Clary! - Disse o Diretor. Esticando a mão para eu apertar.

- Clarissa! - Eu o corrigi, duramente. E, meio relutante, apertei sua mão. Ele ficou envergonhado.

- Esse é Jace Lightwood, ele vai ficar responsável por sua adaptação essa semana. - Apontou para o loiro.

- Ah, qual é? - o loiro riu. - Ela deve ser do prézinho, olha só a altura dela! - Ele tava tirando uma com minha cara.

- Jace! - O diretor o repreendeu.

- Oh, não! Deixe! - Disse, sorrindo. - Ele não vai me atingir! - Afirmei. O garoto parecia me avaliar, e sorriu torto novamente.

- Bem vinda ao inferno! - Ele disse. - Vamos começar o tour? - Ofereceu seu braço.

- Fazer o tour com o próprio Satã deve ser um luxo concedido a poucos! - Debochei, aceitando seu braço.

Ele riu e simplesmente disse:

- Você nem imagina!