Além do Sangue escrita por Giullia Lepiane


Capítulo 14
Hogsmeade


Notas iniciais do capítulo

Este é um capítulo comemorativo (tudo bem, na verdade é um capítulo normal, mas o clima em que estou postando é festivo :3), pelo meu aniversário de dois anos de Nyah! Mal dá para acreditar... Parece que foi ontem que criei essa minha conta e postei minha primeira história.
Bom, espero que gostem do capítulo!



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Janeiro já estava quase chegando a seu fim, e consequentemente, já não nevava tanto como outrora. No entanto, ainda estava bastante frio, e neve continuava cobrindo Hogwarts e as áreas próximas como um gelado cobertor branco, mesmo que não fosse tão consistente como fora em dezembro e na maior parte de janeiro.

Na verdade, a neve estava uma verdadeira armadilha: estava muito fácil escorregar nela e cair no chão. Era época de todos começarem a tomar mais cuidado com onde pisavam, mas não eram todos que estavam preocupados com isso – alguns alunos do terceiro ano da Grifinória, por exemplo, tinham transformado em brincadeira escorregar de propósito e tentar retomar o equilíbrio antes de caírem no chão – o que não estava dando muito certo, de modo que eles já traziam as vestes inteiramente molhadas.

Andrômeda estava sentada em uma mesa ao lado da janela no Três Vassouras, o bar mais popular de Hogsmeade, e podia assistir bem ao movimento do lado de fora do estabelecimento, inclusive a brincadeira boba dos grifinos. Não era muito interessante, mas pelo menos era melhor do que prestar a atenção à conversa dos sonserinos com quem ela dividia a mesa, embora estivesse captando alguns fragmentos do que eles diziam para poder responder se algum deles se dirigisse a ela.

– Eu sempre quis experimentar uísque de fogo. – Contava Norman, sentado ao lado dela. – Por que será que não posso pedir aqui? Sou um maior de idade, não sou?

– É um maior de idade que está em um passeio do colégio, Norman. – Nerida respondeu a ele, dando em seguida um gole em sua cerveja amanteigada. – Como quer pedir bebidas alcoólicas?

– Eu experimentei uísque de fogo durante as férias. – Francis Greengrass contou, orgulhoso. – É uma bebida incrivelmente...

Andrômeda também deu um golinho em sua cerveja amanteigada, sem desviar o olhar da janela. Nunca tinha experimentado o uísque, mas diferentemente dos outros, não dava a mínima para isso. Tinha coisas mais importantes para pensar – naquele momento, por exemplo, pensava em como preferia estar na escola do que em Hogsmeade, em como estaria livre se não tivesse dormido naquela aula de Transfiguração e em como não gostava de estar com seus colegas de casa.

Será que faltava muito para o horário em que eles poderiam voltar para Hogwarts?

– Ouvi falar que os trouxas menores de idade não podem nem tomar cerveja. – Disse Julius Erikson.

– Não? – Madeleine perguntou rindo, erguendo as sobrancelhas. – Depois quando dizemos que são idiotas...

Ted já havia dito para Andrômeda que, quando ele fora para Hogsmeade pela primeira vez, ficara surpreso por bruxos poderem beber cerveja amanteigada. Mas de acordo com ele, a cerveja trouxa era mais forte do que a bruxa, e por isso os menores de idade não podiam beber. Não significava que eram idiotas.

Ela fingiu não ter ouvido o comentário de Madeleine e continuou a bebericar sua cerveja amanteigada e a assistir o movimento de fora do Três Vassouras, até sua atenção ser completamente quebrada por quatro estudantes da Lufa-Lufa que passaram pela janela.

Um nó se formou em seu estômago e impediu que ela conseguisse beber mais. Ela colocou o copo sobre a mesa e voltou seu olhar para a porta de entrada do bar, por onde os quatro alunos entraram poucos segundos depois.

Eles eram do sétimo ano – havia um garoto e uma garota que Andrômeda conhecia de vista, mas não estava certa de seus nomes, uma garota que ela sabia que se chamava Amy Rogers e Ted Tonks.

Doeu-lhe ver o quanto Ted parecia normal. Conversava e ria com os amigos como sempre fizera, e sua aparência estava ótima. Claro, não era como se houvesse algo de errado com a aparência de Andrômeda – houvera antes, mas quando ela reparara sobre o quanto seu repentino descuido estava parecendo suspeito, no mesmo dia em que fora à Ala Hospitalar, tratou de resolver aquilo, não só voltando a cuidar de sua aparência como se dedicando a isso ainda mais do que antes. Passou, inclusive, a aplicar muita maquiagem extra todos os dias para esconder suas olheiras (ainda não estava dormindo muito bem) e disfarçar a palidez.

Mas ela duvidava que Ted estivesse tendo de se esforçar para parecer normal, como ela estava.

O Três Vassouras era sempre lotado, por isso os quatro lufanos não se surpreenderam quando olharam em volta e não viram nenhuma mesa vaga. As opções que lhes restavam eram sair do bar ou esperar que alguma mesa fosse desocupada, e eles ficaram com a segunda alternativa.

Tiveram a sorte de não ter de esperar muito, porém, pois não tardou para alguns bruxos que estavam sentados em uma mesa bem no fundo do bar se levantarem a saírem. Os amigos então apressaram-se para ir até lá antes que alguém mais pegasse o lugar, e no caminho, tiveram de passar pela mesa onde Andrômeda estava.

Ela olhou para Ted, esperando por uma piscadinha inconsequente ou qualquer mínimo sinal de reconhecimento, mas ele sequer olhou para o lado. E no segundo seguinte, eles tinham passado.

Para disfarçar a expressão magoada que não pôde evitar fazer, Andrômeda terminou sua cerveja amanteigada com dois goles e voltou a prestar atenção na conversa que corria em sua mesa.

– Você tem algum parente na Polônia, Norman? – Perguntava Madeleine.

– Um primo da minha mãe. – Ele respondeu. – Ele nasceu aqui, mas parece que quis ir para a Polônia depois que...

Andrômeda queria saber sobre que os lufanos estavam conversando. Eles estavam há apenas algumas mesas atrás dos sonserinos, mas não era possível ouvir nada do que diziam por causa dos sons de conversas, risos, passos, e copos batendo contra as mesas que preenchiam todo o estabelecimento.

Mas era possível ver o reflexo deles no vidro da janela.

Ela detestava ter de admitir, mas a alegria do grupo a enojava. Enquanto Andrômeda nunca seria feliz sem Ted, ele parecia estar se saindo bem sem ela.

Mas por que estou tão surpresa? Ele tem todos aqueles amigos divertidíssimos para apoiá-lo, enquanto eu só tenho eu mesma. E após ter esse pensamento, ela imaginou como seria se ela mesma se mudasse para a Polônia depois de se formar em Hogwarts e nunca mais voltasse para a Inglaterra. Não parecia mais que ela tinha algo a perder.

Uma garçonete foi até a mesa dos lufanos e anotou o pedido deles. E após ela sair, Amy Rogers tirou um embrulho da bolsa que trazia consigo e, com um grande sorriso, o entregou para Ted.

Andrômeda não viu explicação lógica para aquilo, e muito menos para o abraço que eles trocaram depois. Ela nunca tinha falado com Amy, mas naquele momento, sabia que a odiava.

O garoto que estava com eles estendeu o braço e deu um tapinha no ombro de Ted, e a outra garota bateu palmas algumas vezes e começou a cantar algo, mas não continuou, pois Ted começou a balançar freneticamente as mãos como que pedindo para que ela parasse. Todos da mesa riram, e ele voltou a atenção a desembrulhar o presente de Amy.

O ódio de Andrômeda por ela apenas aumentou quando viu eles se abraçarem novamente, depois que Ted terminou de rasgar o embrulho do que acabou por ser um livro.

Aquilo era ridículo. Por que estavam se abraçando tanto? Andrômeda nunca se portara assim com um amigo dela... se é que ela já tivera algum amigo de verdade.

Será que era assim, então? A incrível amizade dos alunos da Lufa-Lufa, tão unidos e felizes? Andrômeda levou seu copo à boca para dar mais um gole de cerveja amanteigada, e só quando não sentiu o líquido tocando seus lábios se lembrou que o copo estava vazio.

Deixou o objeto na mesa, e foi aí que uma explicação para os abraços e o presente surgiu em sua mente. Sem se direcionar exatamente a nenhum dos colegas em particular e sem se importar em interromper a conversa que eles já estavam mantendo, perguntou:

– Que dia é hoje?

– Sábado. – Respondeu Francis na hora.

– Do mês. – Andrômeda desfez o mal-entendido, tomando cuidado para disfarçar sua impaciência.

– Trinta. – Disse Nerida, friamente. – Está perdida?

Ela preferiu não responder aquilo, mas para ser sincera consigo mesma, estava. Quase nada mais conseguia interessá-la ultimamente, nem mesmo a data.

Porém, mesmo assim ela devia ter se lembrado antes de que aquele era o dia do aniversário de Ted.

Ele estava completando dezoito anos, e ela sequer ia poder desejar-lhe um feliz aniversário... embora os amigos dele estivessem fazendo aquilo tão bem que ele dificilmente iria sentir falta dela. Parecia que Ted não ligava mais para qualquer coisa dela, de qualquer forma, já que nem se sentar ao lado dela nas poucas aulas que faziam juntos ele fazia mais. Nem a notava quando entrava em um bar com os amigos e passava pela mesa dela...

De repente, ficar no Três Vassouras se tornou insuportável. Andrômeda se levantou, com a desculpa de estar indo ao banheiro já na ponta da língua, mas todos os outros da mesa se levantaram também antes de ela dizê-la. Deviam ter visto o gesto dela como uma iniciativa de sair do estabelecimento, já que todos já tinham acabado suas bebidas – e era até melhor desse jeito.

Os seis sonserinos saíram juntos para o dia frio, discutindo sobre para onde iriam em seguida. Já fazia horas que eles tinham chegado à Hogsmeade, então só daria tempo de eles passarem em mais um lugar antes de voltarem para a escola.

– Sabem o que eu queria? – Disse Julius quando eles pararam para conversar melhor sobre aquilo, do lado de fora do Três Vassouras. – Passar na Zonko’s.

– Na Zonko’s? – Madeleine riu. – A loja de artigos para pegadinhas? Você não é muito velho para isso, Julius?

– Não se fica velho demais para a Zonko’s. – Ele se defendeu. – E nós sempre vamos lá, é uma tradição.

– Não podemos quebrar tradições. – Falou Francis. – Eu apoio a ideia.

Os outros começaram a concordar também – inclusive Madeleine, que pareceu mudar de ideia ao ver que Francis também queria ir para lá, mesmo que ainda não animada com isso –, e Andrômeda foi a única que continuou sem estar com a menor vontade de ir para a Zonko’s. Aquela loja era sempre lotada e barulhenta, o que já não era o estilo de lugar que a agradava, e a falta de vontade dela ainda piorava por causa de seu humor.

– Na verdade – Ela começou a dizer, e os outros se calaram para ouvi-la. A garota falava tão pouco com eles que, quando fazia, sempre pareciam surpresos, como se mal se lembrassem que ela estava com eles. –, eu estava querendo ir até a loja de penas. Mas vocês podem ir para a Zonko’s, e nós combinamos algum lugar para nos encontrar depois.

– Você quer penas, Andrômeda? – Perguntou Nerida, novamente fria. Era a que menos parecia simpatizar com a ideia de agora ter de andar com ela. – Você é a pessoa que tem mais penas que eu conheço.

Aquilo não era exagero. Andrômeda fazia coleção de penas desde seus oito anos de idade, quando seu tio Alfardo viajara para a Alemanha e lhe trouxera de presente uma pena com as cores da bandeira do país. Depois daquilo, ela sempre comprava as penas que lhe pareciam bonitas – já tinha perdido a conta de quantas tinha atualmente fazia tempo, mas tinha certeza de que já eram mais de duzentas.

– Nerida tem razão. – Disse Norman. – É melhor você vir conosco, Andrômeda.

Mas as palavras dele não soaram como uma sugestão, o que indicava o que ela já sabia: Ele não confiava nela, mesmo que ela não estivesse mentindo sobre querer ir até a loja de penas. Estava pensando que pelo menos algum proveito tinha de tirar daquele passeio, mas pelo visto, nem aquilo teria.

Ou foi o que ela imaginou antes de Madeleine ir a sua defesa:

– Mas qual é o mal de ela ir até a loja de penas? Ela não nos impediu de ir a qualquer lugar que quiséssemos o dia inteiro, acho que o mínimo que podemos fazer é retribuir a mesma gentileza. – Com aquilo, Norman lançou um olhar significativo para ela, mas Madeleine olhou sutilmente para o lado para não ter de retribuir o olhar. – Olhe, não tenho nada para fazer na Zonko’s. Eu vou com ela, satisfeito?

Norman resmungou alguma coisa, mas por fim cedeu. O grupo decidiu se reencontrar no mesmo lugar em meia hora antes de se separar, seguindo Norman, Nerida, Francis e Julius para a Zonko’s e Andrômeda e Madeleine para fora da via principal de Hogsmeade.

Andrômeda não sabia como agradecer Madeleine sem acabar puxando um assunto indesejável ou falando algo impróprio sobre Norman, então, fingiu estar ocupada prestando a atenção em onde pisava, para ao não escorregar na neve que começava a derreter.

Mas Madeleine, aparentemente, não tinha decidido ir até a loja com Andrômeda simplesmente para ser simpática, pois logo que os outros saíram do campo de visão delas – ela se virou para conferir –, disse, em um tom repentinamente muito sério:

– Eu não queria dizer isso perto de Norman porque sou sua amiga, Andrômeda. Mas você está muito enganada se acha que eu não reparei.


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Notas finais do capítulo

Curiosidade: O aniversário do Ted Tonks é 30 de janeiro porque este é o dia do aniversário do meu cachorro, que também se chama Ted kk.
Até o próximo capítulo!