Como assim? Não sou... Filha... Da Ellen?

Não, só poderia ser mais algum daquelas fofocas que inventam por ai, quer dizer... Eu poderia ser uma bastarda? Não. Ela disse “você não é filha da rainha Ellen...” Então significava que pelo menos meu pai...

Meu pai. Ele não tinha nunca nem me dado suspeitas disso. Mas...

“Eu não amava sua mãe...”

A voz dele ecoou na minha cabeça.

“Foi a melhor noite da minha vida, eu agradecia intensamente pelas castas terem sumido, eu não sabia do que seria de mim sem ela. Passamos a noite juntos...”

Não podia ser... Depois de tudo... De tanto sofrimento quando eu era pequena, sem apoio moral, tendo que pensar em casamentos e nos rebeldes, não servia de nada mais, meu mundo estava caindo, eu estava perdida. Não sei meu estado agora, não estava enxergando nada. Minha cabeça girava e perguntas surgiam. Por quê? Por que não contaram? Por que eu não poderia saber?

– Princesa? Sinto muito... Eu... Eu não queria que soubesse assim, por mim. Por favor, não conte a ninguém que eu lhe disse isso... – a Marilyn estava falando arrependida. Eu apenas levantei a mão e pedi um pouco de silêncio.

– Bem, eu lhe agradeço Marilyn. – disse ainda surpresa – Por favor, me deixe um pouco sozinha.

Ela se levantou e se curvou, sibilou um sinto muito. Não, nenhum sinto muito iria me ajudar agora, eu só queria espaço, só queria pensar. E eu tinha tanto ódio por terem me escondido isso que nenhuma lágrima descia na minha face.

– Sanye, vem aqui. A festa está tão ótima, quero aproveitar bem todo meu momento com... – ouvi a voz do Ethan diminuir ao me ver sentada, com as mãos na cabeça, ele se aproximou – Algum problema San?

– Não... Nada! – ergui minha cabeça, não era coisa que não confiar, eu simplesmente não queria falar nada pra ele agora.

– Você está... Quieta. Sanye pode falar o que houve? – ele se sentou ao meu lado e pôs minha cabeça em seu ombro, só aquele gesto me fez morrer e eu me virei para ele e o abracei. Como se fosse a única coisa que pudesse me sustentar naquela hora. A única coisa em que eu podia confiar. E me derreti nas lágrimas.

– Por quê...? Por quê... – era tudo o que eu falava, soluçando.

– Ei, princesas não choram! – o Ethan levantou meu rosto e beijou minha testa – Assim que você ficar calma vai me contar tudo, tudo bem?

Eu não conseguia falar, apenas balancei a cabeça como um sim então ele me levantou.

– Vamos enxugar essas lágrimas. - ele tirou um lenço do bolso do paletó e passou no meu rosto – A senhorita vai voltar e sorrir vai dançar e esquecer qualquer coisa que tenha acontecido agora. Depois a senhorita pode sujar minha camisa com lágrimas.

Esquecer. Não tinha como esquecer isso. Era algo que ficaria em mim, e eu não podia simplesmente parar toda essa festa pra falar com meus pais. Não sabia o que fazer nem por onde começar.

Voltamos a pista de dança e o Ethan me colocou bem junta a ele. Apoiei a cabeça nos seus ombros e fechei os olhos enquanto o príncipe guiava uma dança lenta e linda, ainda tinha várias pessoas ali, eles estavam prestando atenção em nós.

– Vai ficar tudo bem... – ouvi o sussurro dele no meu ouvido, o que me fez suspirar e pensar... Será mesmo?

Depois de algumas horas os convidados iam partindo. Eu estava bem na porta de saída me despedindo e agradecendo a todos, assim que chegou a vez de Marilyn.

– Mais uma vez, sinto muito mesmo. – ela falou de cabeça baixa.

– Ei princesa, eu só tenho que te agradecer. E juro que seu nome não sairá de minha boca. – pude ver um sorriso do rosto dela.

– A senhorita será mais que uma Rainha pra mim. – ela se virou e saiu.

Depois de vários beijos nas bochechas e abraços eu só queria ficar sozinha. Pensar. Não queria falar nada pro Ethan, ele não conseguiria entender a dor que eu estava sentindo agora.

Despedi-me dos meus pais – não... Do meu pai – dos pais do Ethan e do Ethan até finalmente poder me deitar.

Eu fiquei horas sem dormir. Pensando no que tinha realmente acontecido hoje. O fato de que meu casamento estava próximo era o que mais me deixava feliz. Eu consegui sorrir só de pensar estar nos braços do meu príncipe, mas ao mesmo tempo o fato de ter uma falsa mãe estava me dando um aperto no peito. Eu queria falar isso, resolver isso. Mas algo me dizia que não era a hora exata.

Estava me revirando na cama quando ouvi um ruído vindo da janela.

Levantei-me e puxei as cortinas, não havia nada. Apenas o silêncio e a escuridão. Olhei para baixo, apenas as flores que cercavam o jardim. Então voltei para a cama numa tentativa inútil quando outro ruído mais alto me fez pular.

Havia uma pedra jogada no chão do meu quarto. Não tinha ninguém lá fora. Quando peguei o objeto não era bem uma pedra. Era mais como uma caixa preta e dourada. Pequena e retangular. Abri e dento estava um papel amarelado com uma letra bem legível.

“O dia D está chegando. Tenha uma boa noite senhorita Sanye. E reze pra que tudo seja perfeito, com amor, seus queridos ‘rebeldes’!”

Soltei um grito e joguei o papel contra o espelho, ele veio de volta a mim. Quando levantei a cabeça estava com uma expressão horrível. Medo. Angustia. Dia D? Tudo perfeito? Não, o que seria agora. Eu via lágrimas rolando na minha face... Minha vida perfeita estava agora desmoronando.

A única coisa que me surgiu foi:

“... Dia D...”

“Eu aceito me casar com você...”

“Casamento.”