A Sexta Guardiã escrita por Rocker


Capítulo 8
Capítulo 7 - Foi tudo um sonho?


Notas iniciais do capítulo

É o seguinte gente: eu estava com dificuldades de postagens, mas consegui dar um jeito de fazer dois blocos de postagens, com umas cinco fics em cada uma. A cada semana, eu posto um bloco, fazendo assim com que cada fic tenha uma atualização a cada duas semanas. Espero que dê certo e espero que comentem, senão eu desanimo. Bem, está aí mais um capítulo!



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Capítulo 7 - Foi tudo um sonho?

Pela primeira vez em muito tempo, eu não acordei com meu despertador. Acordei de repente, como se despertasse de um pesadelo. E talvez fosse isso mesmo. Quem sabe tudo o que eu passei na madrugada não fosse mais do que um sonho? Muitas vezes eu me perguntava se as aventuras do papai não passassem de um sonho. Jack Frost, o pedido de ajuda dos guardiões, uma nova guardiã desconhecida, o acidente do meu pai, uma informação interrompida, a morte dele, a invasão de Breu na minha casa... Isso tudo me parecia surreal demais para ser verdadeiro.

Mas assim que me virei para a janela, percebi que tudo isso era real. Um recado em gelo estava marcado no vidro: Me encontre assim que acordar. Mais ninguém conseguiria escrever uma mensagem congelada. Suspirei, jogando-me novamente de costas no colchão. E então percebi o quanto meu quarto já estava iluminado pelos raios de sol. Peguei meu celular debaixo do travesseiro e descobri que dormi mais do que deveria. Já eram dez horas da manhã, e eu já estava muito atrasada para a escola.

Pulei da cama, já completamente desperta, e fui atrás de uma roupa quente. Prendi meus cabelos em uma trança lateral, e coloquei um gorro por cima. Desci as escadas para o primeiro andar praticamente voando, e encontrei minha mãe ainda na cozinha, comendo uma panqueca - ela sempre pegava o trabalho algumas horas depois que íamos para a escola.

– Mãe, por quê não me acordou?!

– Bom dia, querida, eu dormi muito bem e você? - ela disse sarcasticamente, mas manteve o sorriso no rosto, mostrando que ela se divertia com a situação.

Eu apenas revirei os olhos. - Tem noção de que horas são?!

– Eu e Lily tentamos te acordar, mas você dormia como pedra! - ela defendeu-se, e eu não duvidei nada. - Não precisa mais ir a escola hoje, pode faltar as aulas da tarde.

Ficamos algum tempo em silêncio, desconfortavelmente, até que eu decidi finalmente perguntar.

– Quando será o enterro? - perguntei, sentindo um nó em minha garganta prestes a desatar.

E minha mãe nem olhou nos meus olhos quando respondeu. - Às três.

– Eu estarei lá. - eu disse, antes de sair de casa sem nem mesmo comer nada.

~*~

Eu ainda fiquei rondando um bom tempo pela cidade antes de ir até onde eu tinha certeza que Jack Frost estaria. Eu não queria encontrá-lo ainda, precisava antes pensar em tudo o que tinha acontecido. Não é fácil ver toda a sua vida mudando de cabeça pra baixo. Não é fácil ver Jack Frost, lindo como só ele, aparecer no meu quarto, dizendo que precisava da minha ajuda ou da de meu pai contra Breu. Não é fácil viajar para o Polo Norte e ver de primeira mão um novo guardião ser escolhido, ainda mais uma garota! Ainda não entendo porque, mas meu coração doeu ao ver isso. E é muito mais difícil ver meu pai morrendo bem em frente aos meus olhos.

E tudo isso numa única noite.

Eu precisava pensar. Raciocinar, bolar, entender, compreender, aceitar. Sabe, não é fácil ao menos acreditar nisso tudo. Queria, apenas por um segundo, imaginar que nada disso era real. Quem sabe assim que eu chegasse próxima ao lago congelado, eu não visse ninguém e finalmente me tocasse de que nada daquilo era real. Quem sabe eu finalmente percebesse que era tudo fruto de um sonho louco e maluco, eu ainda fosse uma adolescente estranhamente normal e meu pai estivesse vivo?

Mas parece que as forças do universos realmente iam contra mim, pois não foi bem como eu esperava. Numa árvore próxima ao lago coberto de gelo, num galho mais alto, estava um garoto de cabelos esbranquiçados e postura despojada, cochilando. Seu cajado estava apoiado estrategicamente sobre seu colo e o capuz do moletom azul cobria sua cabeça. Não sabia como acordá-lo. Sabia que imortais como ele não precisavam dormir, mas de vez em quando o faziam e eu não queria tirar seu sossego.

Então eu simplesmente me manti calada. Mas também não ficaria ali em pé. E muito menos naquela neve gelada. Subi cuidadosamente na árvore, tomando cuidado para não acordá-lo, e me sentei em um próximo ao dele e me recostei também no tronco. Era um pouco cansativo, na verdade, principalmente quando não comi nada depois que levantei. Já começava a me sentir tonta, mas eu não deixaria que meu problema de pressão baixa me atingisse. Sentir tonturas e desmaiar quando eu mal comia e me esforçava não era nem um pouco legal.

Eu devo ter adormecido em algum momento da espera, porque abri os olhos com alguém balançando meu ombro. Assim que consegui focalizar minha visão, encontrei um par de olhos azuis me olhando atenta e confusamente. Jack se afastou de mim quando me viu acordada e eu me estiquei preguiçosamente.

– O que aconteceu? - perguntei a ele.

– Eu que pergunto. - ele disse, se sentando ao meu lado no galho. - Eu acabei de acordar e te vi aqui dormindo. Há quanto tempo está aqui?

– Se eu dormi é porque estou aqui há mais tempo do que imaginava... - pensei em voz alta.

– E por quê não me acordou? - Jack perguntou, como se a resposta não fosse óbvia. O que, na verdade, realmente não era.

– Você precisava de descanso, então eu resolvi ficar quieta. - respondi, procurando algum jeito de descer desse galho.

– O que foi? - ele perguntou, ao me ver olhando nervosamente para a neve no chão, metros abaixo de mim.

– Subir é fácil, descer é que são elas. - eu comentei de mau-humor e ouvi-o rindo.

Olhei-o de esgrelha. O sorriso que deixava à mostra seus dentes brancos como bloquinhos de gelo e emoldurado por duas covinhas, os olhos azuis semicerrados de forma a formar ruguinhas leves nos cantos e os fios brancos desgrenhados balançando à medida em que ele se entregava às gargalhadas. Eu tinha que admitir: Jack Frost era o garoto mais lindo que eu já vi.

– O que foi?

Balancei a cabeça, expulsando tal linha de pensamento e finalmente me dando conta de que ele parara de rir ao me ver encarando-o.

– N-não foi nada. - gaguejei, desviando o olhar e inevitavelmente enrubescendo.

– Isso não parece ser nada. - ele disse, sorrindo martreiramente, enquanto invadia meu espaço pessoal e colocava o indicador sobre o rubor na maçã do meu rosto.

Desviei o rosto de seu dedo, sentindo minhas bochechas queimando ainda mais. Se isso continuasse assim, eu desconfiava que morreria por falta de sangue no resto do meu corpo.

– Já disse, não é nada. - insisti, ainda evitando olhar em seus olhos. - E será que você pode me ajudar a descer daqui?

– Sim, senhora! - Jack disse, envolvendo seus braços em minha cintura e nos lançando ao vento frio de inverno.

– Senhora está no céu, menino! Sou mais nova que você! - eu disse, fingindo estar rabugenta, e ouvi-o rindo ao pé do meu ouvido, segundos antes de sentir o chão sobre meus pés. - Obrigada.

– Não há de quê. - ele respondeu, e eu senti que seus olhos me observavam. - O que faremos agora?

Olhei-o confusa. - Como assim o que faremos? Você que me chamou aqui!

– Ah, é verdade... - Jack disse, coçando a nuca nervosamente.

– E então, por quê me chamou? - perguntei, tentando amenizar o desconforto dele, mas pareceu piorar, porque o coitado começou a gaguejar.

– E-eu... Bem...

– Já descobriram quem é a nova guardiã? - perguntei, como se ele não tivesse se enrolado, e ele pareceu aliviado.

Mas eu não estava. Não tinha gostado nem um pouco de saber que eles teriam uma nova guardiã e saber que Jack praticamente viveria com ela, um nó se formava na minha garganta.

– Ainda não, parece que ela realmente não quer ser encontrada. - Jack respondeu, parecendo mais calmo. - Mas o Norte está achando que ela pode nem ser imortal ainda.

– Como assim? - perguntei, finalmente olhando-o nos olhos. Jack parecia bastante intrigado com toda essa situação.

– Eu não sei... Parece que ela ainda nem é como nós. Como se ainda fosse humana, porque já tentamos de tudo, mas ainda não conseguimos rastrear a presença dela.

Fiquei em completo silêncio. Não era possível que essa garota ainda fosse humana. Será que o Homem da Lua realmente iria torná-la guardiã sem que ela nem ao menos fosse como eles? Acho que dificilmente. Só então se ela fosse realmente importante para a derrota de Breu e eles a achassem o quanto antes. E pensar nisso foi como abrir um buraco em meu peito. Se então eles têm uma nova guardiã, eu não necessária. Eles não precisariam mais da minha ajuda e eu provavelmente nunca mais os veria. E meu pai também teria morrido em vão.

– Angie, você está bem?

A voz de Jack me tirou dos devaneios e eu o olhei, percebendo que minha visão estava embaçada por lágrimas. Droga, Angeline, deixe de ser burra! É claro que eles não precisariam da sua ajuda! Jack só pediu sua ajuda porque seu pai não estava disponível!

E esse pensamento também não ajudou em nada.

– Eu estou bem. - respondi à meia-voz, passando as costas da mão pelos olhos, impedindo que as lágrimas caíssem. Eu já chorei demais na frente de Jack Frost, não precisava de mais. Aliás, eu devo ter chorado mais na frente dele do que em toda a minha vida.

– Você não parece bem. - Jack se aproximou, analisando minhas feições.

– Mas estou, obrigada por se preocupar. - eu disse, evitando ao máximo ser rude, mas foi um pouco impossível. E ele não pareceu se ofender.

Ficamos algum tempo em silêncio, até que meu celular começou a apitar. Jack me olhou intrigado, mas eu o ignorei e peguei o aparelho no meu casaco. Era um lembrete que eu tinha colocado para as exatas três da tarde. "Enterro", era tudo o que estava escrito. Já estava em cima, mas eu precisava ainda ir pra casa e trocar minha roupa.

– Jack. - eu o chamei e ele me olhou intrigado. - Você pode me levar pra casa? Preciso trocar de roupa antes de irmos para o enterro.

Sim, eu tinha me referido a ele e a mim irmos juntos ao enterro de meu pai e ele percebeu isso. Jack sorriu levemente, e me enlaçou pela cintura antes de irmos ao ar. E olha que eu nunca me senti tão envergonhada e nervosa em toda a minha vida. Eu não entendia porque me sentia assim. Ontem não foi isso, por quê então hoje eu me sentia diferente?

Pousamos sobre o parapeito da janela e eu o olhei intrigada.

– Eu... Ahn... - comecei, meio sem saber o que dizer, e sentindo as bochechas queimando.

Jack sorriu docemente. - Lily e sua mãe já não estão em casa, então eu te espero na sala.

Eu assenti, ainda meio envergonhada, e vi-o flutuando até a porta principal, antes de finalmente abrir a janela do meu quarto e entrar. No quarto que um dia foi de meu pai. Engoli em seco, sabendo que não era ainda hora de chorar, e fui pegar meu melhor vestido preto. Ele tinha um corpete e a saia de baixo brancos, um colete negro que juntava as os dois lados em um laço cinza, deixando o braco levemente aparecendo por baixo. Colado até os quadris e bastante rodado na saia até a metade da coxa. Uma meia três-quartos branca de lã, com um all star tradicional preto. Um casaquinho preto que ia até os cotovelos, os cabelos na mesma trança lateral de antes e um óculos de sol. Ninguém mais precisava saber se eu estava chorando ou não, e quando eu digo ninguém, quero dizer Jack Frost.

E eu encontrei-o sentado no sofá, observando tristemente todas as nossas fotos de família na mesa de centro que eu tinha certeza ser obra da minha mãe.


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