Tudo o que Sou escrita por Samantha Silva


Capítulo 1
Capítulo 01




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Alguns dias já haviam se passado desde que cruzaram o Transportal e agora estavam quase estabelecidos, uma sensação de alivio dominara a todos desde que se deram conta, conforme os dias foram passando, de que estavam realmente livres – ou pelo menos bem distantes – de qualquer coisa ou alguém que pudesse lhes fazer mal.

Haviam construído moradias com troncos e grandes folhas de árvores, com ajuda de todo tipo de objeto cortante que haviam trazido consigo. Não era difícil conseguir alimentos, uma vez que estavam cercados de diversos tipos de árvores frutíferas e o mar oferecia uma incrível variedade de peixes e, o mais importante para qualquer chance de sobrevivência, a cerca de quase um quilometro dali havia um grande lago os oferecendo mais peixes e água fresca e pronta para consumo.

Havia também várias espécies de animais pequenos – ainda não tinham cruzado com nenhuma espécie grande e ameaçadora – e Caçarola sentia-se extremamente feliz em poder cozinhar novamente. Na verdade, encarou as adversidades como um grande desafio e todos agradeciam aos céus por ele estar se saindo tão bem, embora não fosse nenhuma surpresa.

Tendo onde abrigarem-se e comida a vontade, tudo parecia em paz. A maioria das pessoas se comportavam como se estivessem de férias, outras como se tivessem acabado de se mudar para uma nova casa e tentassem se adaptar. Thomas se encaixava no segundo grupo e não conseguia entender como outros podiam parecer tão indiferentes com tudo que acontecera antes de chegarem até ali. A única coisa que todos tinham em comum, era a tristeza no olhar em algum momento do dia. Todos tinham deixado pessoas para trás. Não seria tão fácil seguir em frente.

Thomas não conseguia se livrar de seus fantasmas. Tinha pesadelos constantes com as mortes de Chuck, Newt e Teresa. Por que não conseguia se livrar daquilo?

Naquele dia, as coisas pareceram diferentes desde o momento que acordou. Não conseguia explicar claramente o que sentia, mas sabia que algo estava prestes a acontecer, só desejava que não fosse nada demais.

Era uma tarde ensolarada e Thomas estava sentado no topo de uma pequena colina. Uma brisa leve tocava-lhe o rosto e ele tentava deixar a mente livre de qualquer lembrança.

Fechou os olhos e concentrou-se nos sons ao redor, desejando ser tomado pelo ambiente e permanecer ali todo o tempo que tinha até ir encontrar com Minho para caçar.

Os ouvidos se enchiam com canto de pássaros variados, folhas agitando-se nos galhos das árvores, as ondas do mar logo a frente quebrando-se na areia e risadas. Muitas. Pelo tom, só podiam ser as crianças.

Ele não resistiu àquele som espontâneo e enérgico e abriu os olhos para ver melhor a cena que o originara. Entrando em seu campo de visão, lá embaixo, nas areias claras a beira do mar, todas as crianças que faziam parte de seu pequeno povo – eram nove no total – corriam chutando areia e empurrando qualquer um que estivesse à sua frente, enquanto gritos e risadas resfolegadas ecoavam por todo o lugar.

Thomas sorriu, percebendo que estavam brincando de pega-pega e não se lembrava de ter brincado disso na infância, mas sabia que a brincadeira existia. Procurou para ver quem era o responsável por tentar pegar todos eles, mas todos pareciam apenas correr de qualquer um, até que alguns pararam para retomar o fôlego, as mãos apoiadas nos joelhos.

Poucos segundos depois um deles apontou para trás, para onde a visão de Thomas não alcançava e desatou a rir, voltando a correr, os outros o copiando. Então, Thomas escutou um grito e antes que pudesse se assustar, uma figura entrou correndo pelo caminho já percorrido pelas crianças. O ser urrava como um animal selvagem, trazia grandes folhas nas mãos e as agitava como se fossem asas, embora não voasse.

Não foi difícil perceber quem era, ninguém lidava com aquelas crianças melhor do que ela. Apenas uma delas tinha uma mãe imune e que atravessara o Transportal, as outras não tinham ninguém da vida anterior. E, por isso, ela tornara-se essencial para cada uma delas, ora fazendo o papel de mãe as obrigando a comer e lavar-se, ora sendo a melhor e travessa amiga, como naquele momento.

Aquela era uma das melhores pessoas que conhecera, embora não se lembrasse de seu passado, tinha certeza de que se lembrasse, ainda teria a mesma opinião.

Um sorriso nascia nos lábios de Thomas ao ver as crianças voltarem correndo e se posicionarem ao redor dela, provocando-a. O cabelo comprido e cacheado, clareando-se a cada dia de sol, a pele que agora parecia dourada.

Estava mais bonita do que nunca.

Era Brenda.

E tão rápido quanto surgiu, o sorriso sumiu do rosto de Thomas.

Ela não falava com ele há quase duas semanas.


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