Boarding School? escrita por Mrs Stoll, LuluuhTeen, Luisa Druzik, Eklira


Capítulo 31
Thoroughness


Notas iniciais do capítulo

Descobri que tenho uma praga: se digo quando vou postar, não posto na data e atraso meses. Parei de prometer, agora se não aparecer nada, não apareceu, uma hora aparece.
That's it.
Ah, a música é Secret o' Life, do James Taylor ;)



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/457054/chapter/31

The secret of love is in opening up your heart

It's okay to feel afraid

But don't let that stand in your way

.

.

.

A verdade é que o grande segredo da vida está muito bem escondido. E você me pergunta, o que isso tem a ver com a história? A questão é que se você quer fazer um bolo, pode pegar a receita. Se quer construir uma casa, pode pegar a planta. Quer montar uma televisão, pegue o manual. Mas não existe nada disso para a vida. Você vai aprendendo aos poucos com os erros, seus e dos outros, com os acertos.

Quer saber se gosta de morango? Prove. Na vida é assim. Ou você arrisca, ou não petisca.

O problema é que quando se arrisca, você pode perder. A conclusão que se tira disso é o contrário do que pensamos. Sabe quando falam que quem pula de para quedas é porque não gosta da vida? Está errado. Quando se pula de para quedas se arrisca e como vimos agora, a vida é arriscada. Agora, quem faz bolos, ou constrói casas. Esses sim não gostam de viver, não gostam de arriscar.

Sendo assim, Fran não gostava da vida. Mas Jimmy a obrigava a gostar.

– Eu não vou, de maneira nenhuma, subir aí! - O filho de Hermes revirou os olhos e puxou novamente seu braço.

– Você não vai cair! - Prometeu, mas ela olhou firmemente em seus olhos.

– Quem me garante? - Seus olhos faíscavam e as mãos dele afrouxaram e escorregaram até as suas. Ele fitou-a com muita calma e com a voz firme tranquilizou-a.

– Eu garanto. Não vou te deixar cair. - Fran sabia que ele não podia prometer aquilo, mas olhando em seus olhos teve certeza de que ele faria tudo para cumprir sua promessa. Então ela foi.

Eles estavam no telhado.

De acordo com ele, não podiam combinar isso nos quartos, era muito arriscado, assim como as escadas de incêndio. Ela não falou sobre a clareira na floresta, aquele seria seu esconderijo, então ele levou-a ao esconderijo dele.

O telhado era de fácil acesso. Para um filho de Hermes. Ela teve que subir uma escada infinita, cruzar um corredor imenso e entrar numa escada de emergência que parecia menos segura que qualquer prédio em chamas. Por fim, chegaram a uma portinha pro nada. Isso. Nada.

A porta dava diretamente para a beirada do prédio e ela precisaria de todo equilíbrio (que não tinha) para passar para a parte espaçosa do telhado.

Estava confiando no Draskoczy que a levasse em segurança até onde ela pudesse se virar sozinha.

– Ah meus deuses, eu não nasci pra isso. - Ela disse com apenas um pé no beiral, fazendo-o rir levemente.

– Segura minha mão e vem devagar. O segredo é não olhar pra baixo. - Ela fechou os olhos e quase pisou em falso. - Mas também não feche os olhos! - Ele empurrou-a de novo para dentro. - Você não vai cair, só são dois passos, logo vai estar fazendo isso sem nem pensar. - E eles foram. Quando ela soltou a respiração estavam com a planta dos pés completamente no chão, ele ainda segurando suas mãos.

– Eu não morri? - Ele sorriu malicioso.

– Sei que pareço um anjo, mas ainda não. - Ela nem se deu ai trabalho de retrucar, apenas se jogou sentada.

– Eu não morri... - Sussurrou para si antes de começar a comemorar. - Eu não morri! Não morri, não morri, não morri! Jimmy, eu não morri! - Pulava no telhado como se não estivesse morrendo de medo há alguns segundos. Abraçou o garoto tão forte quanto conseguiu e beijou suas bochechas onde alcançava. - Estou viva! Obrigada, obrigada, obrigada!

– Ei, eu já entendi, chega! - Ele empurrou-a gentilmente, rindo. - Estava com tanto medo assim?

– Eu? Medo? - Ela riu nervosa se sentando. - Eu não estava com medo, só fiquei um pouco aterrorizada depois que você disse "Bem vinda ao fim da linha, saia com cuidado!" quando abriu aquela porta.

– Foi um trocadilho, como eu ia saber que você ia realmente sair sem olhar? Mas eu te segurei, veja pelo lado bom! - Ela olhou-o enviesado.

– Você está na minha lista negra, Draskoczy. - Ele passou o braço pelos seus ombros, abraçando-a de lado.

– Você vai me castigar por ser um garoto mau? - Ela riu, já acostumada com suas brincadeiras de duplo sentido e o empurrou.

–Bem, já pode começar com seu super plano maligno. - De repente Jimmy ficou sério, como quando contava a história na escada de incêndio.

– Eu quero que ela passe pelo que a Jack passou. Foi injusto e traiçoeiro, nós confiamos nela de todo o coração e ela nos passou a perna. - Ele olhou-a bem nos olhos. - Pense se fosse com você, se a sua... irmãte traísse dessa forma. Como você ia se sentir? - Fran deu de ombros. - Eu preciso de Glossy seja traída pela pessoa que mais confia, pela melhor amiga, pela irmã.

– Melanie nunca trairia ela. - Ela observou.

– É aí que você entra. Você sabe lidar com pessoas, é nova, Glossy pode aprender a confiar em você. Se ela contar pra você tudo que fez, nós podemos apunhala-la pelas costas como ela fez comigo. - Seus olhos escorriam ódio. - Ela vai se sentir tão mal que vai ter que fugir como obrigou Jack a fazer.

– Jimmy, isso é muito sórdido pra mim... - Tentou explicar. - Estamos falando de um ser humano como nós, ela errou, tudo bem. Mas você quer baixar o seu nível a esse ponto? Ao ponto de se igualar a ela?

Nesse momento eles ouviram uma voz gritando para que todos se aproximassem e olharam para o pátio, tão longe lá embaixo. A garota estava lá, lendo em voz alta e estridente uma carta que tinha em mãos.

Francesca, me desculpe por ter demorado tanto para te escrever... – A filha de Athena ofegou, como...?

– Você disse ser humano, quis dizer monstro?– Jimmy perguntou se levantando.

–--x---

O grande segredo da vida está em ter segredos. O mundo é movido pela curiosidade, as pessoas só vão atrás de novas descobertas porque querem responder uma pergunta. E quem faz as perguntas se não os curiosos?

A questão é que se não houvessem segredos, não existiriam perguntas. Talvez algumas, mas sem os segredos nossa vida seria totalmente diferente. Não existiriam trancas, nem portas, nem privacidade, nem paredes! Não precisaríamos de medo, de segurança, de nada disso!

Sem segredos, não existiriam mentiras, não existiriam enganos, não existiriam crimes.

O segredo da vida está bem aí: Nos segredos que deveriam ser abolidos.

Mas afinal, quem é que nunca guardou um segredo? Pode apostar, que semideuses, principalmente, tem muitos. Mas colegas de quarto não são os maiores peritos em privacidade.

Sophie olhou para os dois lados do corredor antes de fechar a porta com chave. Ligou o som bem alto para não ouvir os próprios pensamentos e pôs-se a despir-se da camiseta. Suspirou levemente quando as mãos tocaram os hematomas ainda roxos de sua última visita à casa do pai. Analisou o feio corte em suas costelas e deixou uma lágrima cair, vendo todo o horror que ela era por baixo das roupas.

Ela era um monstro.

Pegou a pomada no dedo e levemente escorregou o frio creme em sua pele, suspirando de alívio pelo contato gelado e tremendo de dor apenas por encostar no ferimento. Espalhou com paciência para que não doesse mais do que já doía, o espelho ficava no canto extremo do quarto e ela agradecia, pois assim só via a si mesma e nada a distraía do seu trabalho rotineiro. Limpou as mãos do creme para os hematomas e pegou a pomada mais consistente que passava na cicatriz, na esperança de que um dia ela ficasse menos tenebrosa do que era naquele momento.

– Desculpe, mãe, por não conseguir ser tão bonita quanto as minhas irmãs. - Pediu enquanto cobria o corte com o creme. - Eu... - Uma lágrima quente caiu em sua coxa. - Eu tento, mas é difícil honrar seu sangue quando se tem marcas assim. - Ela sentiu uma leve brisa adocicada tocar seu rosto e balançar seus cabelos, como sempre acontecia quando se culpava pelos erros do seu pai. Ela sabia que Afrodite olhava por ela e que a magoava muito ver a filha se culpando por um erro que era seu. A cada vez que Sophie tentava se reconciliar com o pai a deusa tinha vontade de puxá-la pela orelha até sua segura cama no chalé 10.

Mas ela não podia, é claro.

Sophie estava tão distraída tentando alcançar um hematoma que não tinha visto no meio de suas costas que nem notou a porta se abrir e sua colega de quarto entrar derrubando os livros que carregava ao ofegar com a visão da filha de Afrodite.

– Oh, Sophie, o que aconteceu com você? - Rapidamente a garota pegou sua camiseta tentando se cobrir, mas era tarde. - Quem fez isso com você? - A mortal pegou-a pelo braço e virou-a para ver as marcas em suas costas. - Você quer que eu chame alguém?

– Quero que me deixe em paz! Não é nada, eu sei me cuidar! - Danica se assustou com os gritos da sempre doce Sophie. - Só... Me deixe sozinha. - Sussurrou deixando mais lágrimas caírem. Só assim que a morena viu a cicatriz nas costelas da semideusa.

– Sabe... Eu também tenho cicatrizes. - Danica suspirou sentando-se na cama e puxando suas mangas para cima. - Não são tão grandes, mas eu também tenho. - Vários riscos brancos em seus pulsos e um deles ainda ligeiramente avermelhado. Uma grande cicatriz cruzava todos os cortes do pulso esquerdo, esse era vertical.

– Você... Fez isso? - Sophie ofegou. - Eu estou aqui, quase me matando pra esconder e tentar me livrar da minha e você faz elas por vontade própria? Por quê? - A filha de Afrodite estava horrorizada.

– Eu... Não sei. Acho que é meio como com as tribos antigas, que lavavam suas almas com um sacrifício em sangue. Eles acreditavam que todas as impurezas do ser humano estavam no sangue e que fazendo isso se livravam de seus defeitos e das experiências ruins. - Ela suspirou passando o dedo pela maior. - Acho que quando eu faço isso consigo ver o que me fez fazer isso refletido no sangue indo pro ralo. É simbólico, sabe? É uma forma de dizer pra mim que eu não preciso daquilo, que não quero aquilo. - Olhou para a colega de quarto. - Faz sentido?

– Não muito, você podia fazer isso de um outro jeito, não? - A loira revirou os olhos, voltando a ser quem era. - Sei lá, escrevendo num papelzinho e jogando fora? Quebrando um vazo?

– A dor torna tudo mais real, é como se realmente eu estivesse tirando de mim o que faz mal. - Sophie bufou.

– Se depila então, aposto que vai ser bem real pra você! - Danica riu e baixou as mangas do casaco.

– Contei as minhas, agora é a sua vez. - Sophie vestiu a camiseta que ainda estava em suas mãos, ficando corada por pensar que estava apenas de sutiã até aquele momento. O que foi? Uma filha de Afrodite não pode ser tímida?

– Não é nada demais e faz tempo. - Desconversou.

– Esses hematomas parecem bem recentes pra mim. - Analisou a morena.

– Você perguntou da cicatriz. - Brincou. - Foi meu pai... - O que foi? Vocês pensaram que Ares foi o único cara agressivo com quem Afrodite já se deitou? - Ele costuma ser um pouco... Instável.

– Por que não mora com a sua mãe? - Questionou Danica.

– Eu moro! - Protestou. - Digo... Quase. Minha mãe não pode ficar comigo, então moro num acampamento, mas eu amo meu pai. - Sacudiu a cabeça. Droga! É meu pai! pensou. - Tento voltar para casa nas férias, ver se ele se acalmou, cuidar da casa... Eu sempre volto para dar uma nova chance, mas não costuma funcionar. - Foi isso. Simples e rápido e Danica já tinha entendido tudo.

– Ele é assim normalmente? - Sophie deu de ombros.

– Ele nunca me deixou por perto tempo o suficiente pra descobrir, mas tem que ter alguma química envolvida. - Olhou para baixo e a colega de quarto entendeu que ela queria acreditar que tinha alguma química envolvida. Não iria suportar se soubesse que o pai fazia aquilo com ela sóbrio.

– Ei, você quer que eu te ajude com isso? - Perguntou Danica apontando para as pomadas.

– Você não fica com... Nojo? - Questionou Sophie.

– Desde que não tenha nenhum sangue ou ferida que possa sangrar, tudo bem. Eu acho. - Retrucou. - Ah, aceite logo antes que eu perca a coragem! - A filha de Afrodite riu e a mortal ficou feliz por conseguir fazê-la esquecer, ao menos por um momento, a dor.

– Eu aceito, se você passar nisso daí também. - Apontou para os pulsos cobertos pelas mangas. - São tão fininhas que logo somem, nisso você deu sorte. - Danica assentiu e optou por fazer a vontade da outra. Que mal ia fazer?

A verdade é que mesmo que improvável, a relação das duas ficava cada dia mais forte. Agora, além de confiança o suficiente para deixarem-se ser mudadas uma pela outra, existia aceitação de seus defeitos dos dois lados. Elas queriam melhorar, mas aceitavam sua personalidade acima de tudo.

E é disso que se trata o ser humano. De ser humano. De aceitar seus defeitos ao mesmo tempo que tenta melhorar e dar o máximo de si. É o equilíbrio perfeito do caos. É o impossível bem diante dos nossos olhos e bem dentro de nós.

.

.

.

The secret of life is enjoying the passage of time

Any fool can do it

There ain't nothing to it


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Ficou meio filosófico demais, não? Quem sabe né, uma hora, eu acerto e faço um capítulo legal.
Gente, outra coisa, eu estava conversando com a Eysh e queríamos saber a opinião de vocês sobre um casal homossexual. É algo que PODERIA acontecer, mas só vai acontecer se vocês quiserem, então, o que acham?