– Sexta tem festa de novo. – Amy disse animada do meu lado.

– De novo? – Perguntei.

– É. E você vai. Não vai? – Todo mundo olhou pra mim.

– Ah... Eu não sei.

– Ela vai. – Brian, meu namorado, falou. Todos concordaram.

– Anne sempre fala que não sabe e chega do nada na festa. – Revirei os olhos. Enfiei cereal na boca só pra não responder. Sentia-me observada desde o momento que pisei no refeitório. Olhei em volta. Meus olhos pararam em um menino que eu nunca falei na vida. Eu nem me lembrava de sua existência, mas mesmo assim achava ele bonito. Só tinha o visto nas minhas aulas de geografia e química, as aulas que tenho com ele. Quando ele viu que eu percebi que ele me olhava, desviou o olhar. Arqueei uma sobrancelha. Olhei pro meu cereal de novo e vi pelo olhar periférico que o Brian me olhava.

– Que foi? – Perguntei.

– O que você tava olhando?

– Nada. – Ele aproximou o rosto do meu ouvido.

– Eu já disse pra você não mentir pra mim.

– Eu não menti. – Ele só olhou pra mim pelo canto do olho e não falou nada.

– Vocês leram o capítulo de ontem? – Ouvi a voz da Candice e meus ouvidos ficaram atentos.

– Quem não leu, Candice? – Olivia disse rindo.

– Todo mundo lê aquela história. – Amy disse. – Quem vocês acham que escreve?

– Alguma excluída. – Candice disse. Segurei o riso.

– Alguma otária. – Brian disse e todos olharam pra ele. – Deve ser alguma menininha excluída e que não tem o que fazer. Sem contar que a história a ridícula. – Senti um embrulho na boca do estômago.

As aulas foram chatas como sempre. Quando o sinal tocou, anunciando o fim do dia na escola, eu levantei e fui em direção ao meu armário.

– Está brava comigo? – Brian perguntou se escorando no armário ao lado do meu.

– Por que eu estaria?

– Eu sei que você lê aquela história que postam no site.

– Tá...

– Eu falei aquilo só pros meninos do time não ficarem no meu pé. – Ele aproximou a boca do meu ouvido. – Eu leio também. – Olhei surpresa pra ele. – Segredo de namorado? – Sorri.

– Segredo de namorados.

– Quer carona? Hoje não posso demorar. Tenho aquele negócio que te falei ontem. – Ele ia ajudar o pai dele com sei lá o que.

– Pode ir. Eu to de carro. – Ele me deu um selinho e foi embora. Guardei outro livro no armário. Recebi um recado mais cedo da coordenadora, que queria me ver após a aula. Não tenho ideia do que seja.

Entrei na sua sala e ela pediu pra eu me sentar na cadeira em frente à mesa. Assim fiz.

– Senhorita Jones, você sabe que temos um grupo aqui na escola pra ajudar os alunos.

– Sei. Um grupo de apoio.

– Soubemos que está tendo um problema na sua casa.

– Problema? E souberam como?

– Senhora Chase veio nos comunicar. – A governanta. Que não era bem uma governanta. Era mais como a mãe que eu "nunca" tive.

– Hm... Não to com problema nenhum.

– Querida, todos nós do corpo docente sabemos que é difícil assumir quando temos um problema assim. Ainda mais a senhorita que é bem conhecida aqui na escola. Mas nesse grupo existe uma coisa chamada sigilo. Quantas pessoas você sabe que participam do grupo?

– Nenhuma. – Murmurei.

– O grupo começa as 16h00 e é nas terças e quintas. Se quiser ficar direto depois da escola, sem problemas.

– Era só isso?

– Sim.

– Boa tarde. – Levantei e saí da sala. Eu em um grupo de apoio... Ela tem noção do quanto eu vou ser zoada por isso? E eu não preciso.

(...)

– Já que seu pai foi embora, teremos algumas regras aqui. – Eu mal cheguei em casa e ela já vem me encher.

– Quais?

– Seu pai era liberal demais com você. Brian não vai poder chegar perto daquela escada, por mais que eu goste dele.

– Mas... Qual o problema? Eu nem fecho a porta do quarto quando ele tá aqui.

– Não discute comigo. Sem sair sexta. – Ela continuou dizendo sem me olhar. – Não é pra chegar tarde nem de sábado. E nada de dormir fora de casa.

– Mas a Amy...

– Não gosto dela. Na verdade, não gosto de nenhum dos seus amigos. Com exceção do Brian. Mas ele não é seu namorado, não amigo. Então, sem dormir fora de casa. E nada de alguém dormir aqui.

– Tá. – Continuei parada esperando ela continuar falando.

– Era só isso. Pode sair da sala agora. – Suspirei e fui pra cozinha. Margareth, a senhora Chase, estava lá conversando com a Brianna, a cozinheira.

– Margareth, fiquei sabendo que você foi na minha escola.

– E o que falaram?

– Você sabe o que falaram.

– Fiz isso pro seu bem.

– Mas não precisava. E você sabe disso.

– Precisava sim. Nem com o Brian você conversa sobre isso. – Mordi a parte de dentro da bochecha.

– Vou subir. Depois eu desço pra comer alguma coisa.

– Tá. Brianna vai fazer a comida que você gosta. – Sorri.

– Obrigada. – Dei um beijo na bochecha das duas e fui pro meu quarto.