A uma possibilidade daquela saúde e proposito ser apenas uma farça.

— Delírio Insignificante, Pauline Morris (Jordan Packson).

Selene abriu seus olhos, piscou várias vezes para ver onde estava. Uma sala branca, com nada mais que dois aparelhos respiratórios. Seus ombros se aliviaram quando vira que o amigo estava ao seu lado, com tubos em seu nariz e vários furinhos no seu braço direito.

— Oliver? — sussurra ela, levantando um pouco a cabeça. — Acorda, cara. Por favor.

Ele não se mexeu.

— Se você não acordar agora eu... eu... eu mato você! — não recebeu resposta, foi ai que bateu sua mão em sua testa murmurando. — Seu idiota.

A porta da sala foi aberta cuidadosamente, Lucius Maclaine olhou para a jovem e deu um sorriso malicioso e ao mesmo tempo tímido. Entrou e foi logo falando:

— Nós estamos em um navio, com os TJE começando e o pateta ainda não acordou para começarmos o treino.

Ela franzi a testa.

— TJE? — pergunta.

— The Jogos Ellen.

Assenti por fim e tenta se levantar, mas todo o seu peso caí para o lado oposto de sua perna direita. Lucius aperta seus lábios lembrando-se de algo.

— Não há problemas com sua perna, na verdade, é com o seu pé. — diz. — Não, ele não quebrou, só deu uma “torcida”, logo vai parar de doer. — Selene o encarou e ele adivinhou por fim: — Oh sim, deixe-me te ajudar.

— Por que disso tudo?

Ele sorri.

— Não gosto de perguntas.

O jovem colocou suas mãos macias na cintura da jovem, sentindo o papel amassado que apenas cobria o corpo da garota. Engoliu em seco, o que ele está pensando? Por Atena, que pensamento mais... ridículo.

A jovem olhou para os cabelos loiro-pretos do garoto e mesmo assim, quando ele colocou a mão em sua cintura, não sentiu a mesma eletricidade de quando Oliver – naquele momento de proteção- colocou suas mãos grandes no mesmo lugar. O que ela estava pensando? Agora virou OliverXLucius? Ela nem ao menos conhecia direito o garoto dos cabelos loiros.

— Tantos furos para acertar em um só lugar? — pergunta quando vê melhor os furos que preenchiam o braço do amigo – ainda desacordado.

Lucius sorri, um pouco tímido.

— Não sou bom em achar veias, e a desse garoto é a mais fina que eu já vi. — por um momento, Selene pensou que o garoto de cabelos loiros fizera de proposito, mas descartou esse pensamento. O que ele ganharia com aquilo? Absolutamente nada.

— Entendo.

...

— Você nunca provou vinho? — Lucius levanta uma de suas sobrancelhas perfeitas e prende o riso.

— Ei! Não ria de mim, garoto. — a jovem revira os olhos, mas um pequeno sorriso nasce em seu rosto. — Espera, você pediu camarões? Está maluco? Isso daqui é... pelo Olimpo, isso é o preço da minha vida! — ela vira o cardápio do restaurante para seu novo amigo, com desdém.

Ele ri.

— Nem tanto, Garcia. — diz. — Esses camarões são o preço da minha vida e da sua. Ou talvez até a da Ayla. — franzi sua testa, zombando.

Os dois riem de coisas bobas, não se importando com as pessoas refinadas que estavam a sua volta. O grande restaurante do Arbex² tinha luzes e garçons para todo o lado. Em outra mesa, Laila Ayla jogava um pedaço de maça em sua boca enquanto Kalyn paquerava o garçom, gargalhando quando o mesmo fazia caretas de desgosto.

— Vocês dois pareciam o tipo de irmãos que “Eu não gosto de vocês, morram!”. — Selene fala, com uma careta zombeira em seu rosto.

— Dois?

— Sim. A Kalyn é mais...

— Estranha? É, ela é. — o garoto vira para a mesa ao lado, e depois se volta para Selene com um sorriso torto. — Se ela descobre que eu falei isso, acho que vai me mandar para o Tártaro pelo resto da vida. Na verdade, ela já me manda todos os dias, então... — dá nos ombros.

Os pratos cheios de camarões chegam nos braços de uma garota loira com olhos cinzentos penetrantes. Cheiro do mar preenche a mesa dos dois amigos, mas antes de comer, Selene se vira para a garota.

— Beeh... você...? — mas a garota some sem dar uma resposta, ela não poderia correr atrás de uma desconhecida, isso era loucura.

— O que foi?

— Nada não. — ela viu que não convenceu o garoto de cabelos loiros, então, colocou vários camarões na boca e falou: — Valeu minha vida por essa maravilha! Já provou? — foi aí que o quase assunto da garota desconhecida se acabou.

...

Os dedos de Oliver se mexeram devagar, com dificuldade e nervosidade para conseguir ficar em pé logo. O ar frio do ar-condicionado não ajudava muito. Ele tentou abrir seus olhos, mas não conseguia. Mexeu seus ombros, mas isso não é uma vitória, já que levantar só com a ajuda dos ombros era impossível. Sua mão esquerda já estava totalmente domada. Foi aí que ele começou a fazer sua pesquisa.

Colocou a mão em sua barriga e sentiu o papel liso cobrindo sua pele, subiu mais um pouco, com um alivio, sentiu seu coração batendo normalmente. Sua garganta estava perfeitamente intacta, havia dois tubos em seu nariz, bem, ele não fez questão de tirar, estava bem com aquilo.

Foi aí que colocou a mão na bochecha e sentiu uma queimação fortíssima. Sua garganta ficou seca e um desconforto completo por toda sua face. Com seu dedão, sentiu que sua bochecha tinha algum liquido. Como pode não ter sentido isso antes?

A queimação foi literalmente “andando” para o seu nariz, e ele começou a respirar pela boca. Foi para perto de seu olho esquerdo, e seus cílios queimavam, como uma tortura sem fim. Até que chegou ao seu olho e em algumas partes de pele perto dele ficaram em chamas.

A dor foi embora rapidamente, do mesmo jeito que chegou. Sua mão sentiu sua pele perto do olho enrugada, e ele não conseguia mais ver nada por aquele mesmo olho. Tudo era negro, preto, nada. Entrou em desespero, e gritou o mais forte que pode. Talvez ele fosse um pouco burro, talvez não soubesse nem ao menos alguma coisa sobre matemática na escola, mas tinha uma coisa que estava clara para o mesmo naquele momento: ele acabou de ficar cego de um olho, com queimaduras na parte esquerda de sua face... ele foi queimado cruelmente, sem nem ao menos saber o por que.