James

 Aurora me encara com preocupação diante de meu silêncio absoluto. Zack e eu permanecemos com Ashley, que não demonstrou o mínimo sinal de consciência durante os longos minutos que se seguiram.

— Eu vou verificar como estão os mutantes — diz Aurora segurando meu ombro. Ela sela nossos lábios antes de partir.

Zack passa a mão pelos cabelos da Ashley de maneira superprotetora. Nada mais parece fazer sentido sem ela aqui.

— Você não pode tentar trazê-la de volta? — questiona o Oliver de eum jeito que nunca vi: implorando.

Estou fraco demais para isso. Parece que cada minuto que passa se torna mais evidente o rumo das minhas escolhas. A vida da Aurora ou a minha. Não estou disposto a sacrificá-la, mas tenho a leve sensação de que ela não vai permitir que eu morra. E que sabe o que tem que fazer...

— James...?

— Eu não consigo. Não sei como despertá-la — minto, com o coração cada vez mais pesado por ver minha irmã desse jeito e nada poder fazer.

Wolverine se aproxima de nós. Me lança um olhar frio e em seguida encara o corpo de Ashley nos braços de Zack.

— Quero falar com você — Logan é direto e coloco as mãos nos bolsos da capa antes de segui-lo para uma mesa vazia.

Sento à frente dele. Wolverine abre duas garrafas de cerveja com suas garras e apanho uma delas tomando seguidos goles.

— Sua irmã me contou sobre você — Ele diz depois de beber um pouco. — Disse que me mataria se eu o ferisse.

— Está sendo bonzinho por causa dela? Agradeço. Mas já deve saber que estou morrendo — falo com frieza sem me importar com a situação.

Wolverine respira fundo.

— Eu perdi uma pessoa que amava também — comenta desviando o olhar e bebendo mais cerveja. — Eu tive que matá-la para salvar a vida dela...

Permaneço em silêncio. Wolverine carrega mais dores do que qualquer homem. Centenas de amores perdidos certamente o levaram a ser o que é hoje.

Suspiro observando Aurora consolar duas crianças chorosas e conversar com os outros jovens. Ela merece viver.

— Eu já fiz minha escolha — digo, acabando com o último gole da bebida. — Não vou voltar atrás.

Wolverine meneia a cabeça positivamente colocando-se de pé. Antes que vá indago:

— E os outros? E o professor Xavier? Pensei que estariam aqui.

Logan cerra os punhos antes de me responder.

— Tempestade voltou para a África. Ciclope está cuidando de um problema mais sério que isso junto da Emma Frost. O Professor Xavier está em coma há mais de um ano sendo cuidado pela Lince Negra e o Colossus em Londres. O Noturno e o Homem de Gelo deixaram o grupo de vez para ficarem com suas famílias. E a Vampira e o Fera estão no Instituto Grey cuidando das outras crianças — Ele para por um segundo observando os mutantes no fundo da sala. — Essas crianças são um recomeço. De todas as formas.

Franzo o cenho.

— Mas como podem existir problemas maiores para o Ciclope? Vocês são uma equipe! — digo seriamente, um tanto indignado.

— Ciclope está com o grupo dele e eu tenho o meu. Uma série de motivos fizeram com que tudo ruísse. Tenho certeza que o Professor Xavier não iria querer isso, mas algumas situações fogem de nosso controle. — Wolverine cruza os braços. — Espero que o seu grupo tenha mais sorte, Turner.

Ele se afasta exalando uma áurea mais amargurada. Observo o painel de controle onde o Batman trabalha agora com o Sr.Fantástico, Asa Noturna e o Simon (Destruidor). Resolvo me aproximar na tentativa de clarear os pensamentos com outras questões.

— Como andam as coisas? — questiono atraindo a atenção dos três. É significativamente bizarro estar cara a cara com o Batman (o lendário foda Batman!) principalmente ele sendo o pai da Clarissa.

— Vamos ter que tentar passar pelas armadilhas do Charada na sorte. — resume Simon um tanto preocupado.

— E a saída da nave? — arqueio uma das sobrancelhas.

— Existe uma passagem pelo subterrâneo que dá em uma estação de eletricidade — Charlie aponta um trecho da planta exposta no telão do painel. — Corremos o risco de morrermos eletrocutados.

— E temos duas pessoas feridas e crianças — Reed Richards comenta preocupado. — É muito arriscado.

— E se o Coisa tentasse arrebentar a entrada da nave? — sugere o Tocha Humana, com uma expressão esperançosa.

— Grande ideia, Johnny — o Coisa se aproxima a passos de elefante exalando ironia. — Acho que ainda tem água no seu cérebro! Não ouviu que a nave está completamente vedada? Deveria continuar preso naquele balde de água enorme!

— Eu apenas tive uma ideia! E você deveria ficar feliz por eu estar aqui! Graças aos dois — Ele aponta para eu e Aurora, que se aconchega ao meu lado.

De fato é verdade. Durante a evacuação das celas não imaginávamos que os dois poderiam estar presos na nave e “acidentalmente” achamos um setor abaixo de todos e dez vezes mais seguro.

O Coisa e o Tocha certamente eram os mais difíceis de aprisionar.

— Já chega! — o Homem Aranha se aproxima também. — Vamos perder tempo com essas brigas. Podemos tomar um chá juntos e contar as fofocas depois que fugirmos daqui, que tal?

Finalmente a falação cessa. Até Clarissa e a Mulher Gato chegam próximo do painel de controle. Certo. É estranho. Selina é a mãe da Clary, e Charlie é o irmão. A genética Wayne se encontra espalhada por todos os cantos aqui.

— Simon pode carregar a Ashley. Ela é uma pena diante da força dele. Zack pode tentar conter a eletricidade e Sophia consegue criar uma proteção para nós. — A Wayne diz com a voz ainda fraca, mas estranhamente mais recuperada. Vejo que o Batman apenas a encara sem qualquer emoção evidente. — Dylan, Stella, Aurora e James cuidam das armadilhas. O Coisa vai na frente protegendo as crianças com o Wolverine. Sr.Fantástico e Mulher Invisível cuidam da guarda de vocês. O Tocha e o Homem Aranha ficam com a proteção lateral para alguma ameaça vinda dos corredores ou até paredes.

— Batman e eu vamos com Charlie e você — Selina acrescenta. — Podemos cuidar das armadilhas do Charada já que o conhecemos melhor do que ninguém aqui.

O mais estranho de tudo foi Clarissa concordar com esse detalhe do plano.

(...)

Assim que abrimos a porta da sala, o breu do corredor se torna evidente. Os Wayne vão à frente seguidos do grupo do Wolverine e Coisa. Os Richards vão logo depois.

— Está bem? — Aurora me pergunta, enquanto Dylan, Stella e eu deixamos a sala em seguida.

— Tão bem quanto naquele quarto, gata — brinco, deixando-a corada.

— Estou preocupada com a Clary — Stella comenta enquanto pisamos poças de água e tentamos enxergar algo à nossa frente. — Ela está com uma bala no peito. Não pode se arriscar! E o emocional dela deve estar muito abalado!

— Clary é forte — Dylan diz confiante, atento à movimentação. — Mais forte do que qualquer um aqui.

— James.

— Ashley? — viro-me, em busca da voz novamente. Meu coração acelera, e a sensação de perigo parece cada vez maior.

— James! Me ajuda!

— James... O que foi? — Aurora segura meu ombro.

Um grito estridente. Ninguém parece ouvir.

— Eu ouvi a Ashley — digo apreensivo.

Aurora beija minha bochecha e tenta me acalmar com sua mão entrelaçada à minha. Estranhamente sinto como se fosse a última vez que poderemos aproveitar algum tipo de paz juntos.