Sophia

O alarme começa a soar no momento que desfiro o último soco em um guarda qualquer. Simon fita Ashley e Zack e em seguida me encara. Seus olhos são a única coisa visível por debaixo da máscara preta.

— Vamos abrir as celas dessa ala. Eu cuido dos guardas enquanto Zack, Ash e você retiram os heróis. — Simon fala com certa autoridade. É possível ver quão perdido ele está diante de tudo isso, bem lá no fundo. Afinal somos projetos da S.H.I.E.L.D, orquestrados desde o princípio para que mantivessem o controle sobre nós.

Parecemos ter nos esquecido de todas as verdades vomitadas pela S.H.I.E.L.D antes de chegarmos a Vegas. Mas agora consigo sentir a nuvem de nervosismo que paira sobre nós — principalmente em mim.

Não consigo acreditar que minha avó é uma feiticeira, e que na verdade sou filha de Sue e Reed Richards. Faz todo sentido por conta dos meus poderes de invisibilidade, no entanto, ainda é inacreditável.

Zack, no entanto parece estar lidando muito bem com a situação mesmo sendo filho de Thor. Encarar a verdade é difícil para o restante de nós, exceto para ele. Zack realmente está particularmente tranquilo por ser filho do Thor, o que definitivamente é estranho.

Estou suando frio com a perspectiva de encontrar meus pais verdadeiros. Será que irão me rejeitar? Será que vão acreditar em mim?

Simon arranca a porta de uma das celas como se fosse feita de isopor. Lá dentro as luzes piscam em um tom avermelhado, por vezes falhando.

Zack e Ashley já invadem outras três celas. Encaro Simon. Ele ergue a máscara e segura meu rosto para capturar meus lábios em um beijo calmo, aquecedor e até mesmo encorajador.

Ele se afasta e torna a abaixar sua máscara para encobrir seu rosto. Sua mão enluvada afaga meu rosto.

— Você consegue — Zack afirma e segue pelo corredor, para longe de mim temporariamente.

Respiro fundo e entro na cela, caminhando passo ante passo lentamente. As luzes vermelhas continuam a falhar, até que eu alcance o final da sala onde residem o que me faz estacar instantaneamente.

Em tanques cheios de água esverdeada, presos por correntes nos pés e pulsos, Sue e Reed Richards estão aprisionados.

Consigo identificar as poucas semelhanças enquanto se encontram adormecidos. A tonalidade dos cabelos de Sue, tão idêntica a cor que preenche meus cabelos, e o nariz de Reed, levemente arrebitado como o meu.

Antes que eu tome consciência minhas mãos já estão tocando ambos os vidros, buscando uma proximidade até então desconhecida.

Meus olhos fixam-se nos cabos que são conectados aos tanques vindos de um painel de controle ao fundo da sala. As luzes ainda piscam durante minhas passadas até a mesa onde residem inúmeros botões com comandos.

Busco um tanto desesperadamente pelo botão que permite a abertura dos tanques. O encontro no canto direito da mesa e o pressiono com força.

Um barulho de sucção logo que o líquido esverdeado começa a ser sugado permitindo que Sue e Reed aos poucos demonstrem que estão despertando. Aperto outro botão que libera as correntes dos membros deles, e desativa as portas dos tanques.

Corro até Sue, e abro a porta para pegá-la antes que caia. Ela pisca atordoada. Retiro-a do tanque fazendo-a se apoiar em mim, e deposito seu corpo no chão.

Reed se apoia em meus braços logo que retiro do tanque, e cambaleio um pouco por seu peso. Coloco-o ao lado de Sue e me agacho diante deles. Aos poucos, bem lentamente, eles parecem reconhecer o ambiente ao redor deles. Durante tal processo, meu coração palpita e uma torrente de lembranças bombardeiam a minha mente.

A época da incompreensão na escola, as humilhações de Lexi e seu grupo, o armário onde eu me mantinha escondida e utilizar meus poderes de invisibilidade para acompanhar as aulas e burlar a chamada para não reprovar por faltas.

Foi um período terrível. Mas eu estou aqui. Encarando a verdade e vivenciando mudanças claras na minha personalidade.

— Quem é você? Onde estamos? — Reed Richards questiona abruptamente.

Tiros ecoam do lado de fora, interrompendo qualquer tentativa minha de falar a verdade.

— Precisam sair daqui. Estão presos à muito tempo. Meus amigos e eu vamos ajudá-los — explico suavemente.

Sue e Reed se entreolham, parecendo decidir se confiavam em mim ou não. Simon apareceu à porta da sala carregando sem dificuldades um Homem-Aranha desfalecido.

— Temos que ir logo, Soph! — Ele alerta, seus olhos focando em Sue e Reed. — Sou Simon Walker, líder dos Destruidores. Vocês podem confiar em nós.

Ajudo Sue e Reed a ficarem de pé, e eles se apoiam em mim. Saímos da sala rapidamente, ou ao menos é o que parece durante o trajeto. Meus pensamentos vagam até minha avó e todas as mentiras contadas. Por quê? Por quê esconder minhas origens?

Chegamos a porta e seguimos Simon pelo corredor preenchido de guardas inertes no piso, montando um tapete até uma curva que nos leva a outro corredor com vista para outro setor.

Uma explosão e novos alarmes soam pela nave. Continuamos correndo. O Homem-Aranha fala algo enquanto é carregado por Simon, mas parece atordoado demais para dizer qualquer coisa que faça real sentido.

— Onde estão Ash e Zack, Simon? — questiono alcançando talvez um tom exasperado demais.

Ele destrava uma grade que nos direciona a outro piso.

— Eles vão ficar bem — garante passando a tranca pela grade logo que atravesso o portal com meus pa... Com Sue e Reed.

— Eles estão servindo de isca não é? — tento adivinhar e Simon suspira.

— Temos que salvar os heróis — Simon observa atentamente o perímetro. — É necessário qualquer coisa.

“É necessário qualquer coisa...”. Simon está sabendo liderar o grupo. Mas será que suas decisões estão certas?