Sophia

Desperto abruptamente, sentindo de imediato como se um peso caísse na minha cabeça. Levo uma das mãos à testa, e sinto alguém envolver-me em um abraço.

— Ela está acordando!

A voz de Simon ressoa aos meus ouvidos, e posso sentir a aproximação de mais pessoas.

Consigo abrir os olhos, e reconheço Aurora lado a lado com Zack, Ashley e James. Pisco, tentando afastar o incômodo na base da nuca.

— O que... Aconteceu? — indago, dando-me conta que me encontro com parte do corpo aconchegada no colo de Simon.

Ele por sua vez apresenta em seu semblante linhas duras de sua intensa preocupação.

— Emeline se foi. Lexi está sob nosso controle. — James cruza os braços, semicerrando os olhos. — E Stella está contendo o caos.

— Eu não acredito que ela está fazendo isso! — Aurora exclama levando uma das mãos à testa.

Percebo o barulho contínuo em uma sala próxima a nós, e cambaleante forço meus membros a sustentarem meu corpo para que eu fique de pé. Simon me ajuda passo a passo, e logo que paro na entrada do ambiente, meus olhos se arregalam.

Sangue deixa as narinas de Stella, enquanto seu corpo inteiro parece reagir a quantidade de metal absorvida pelo conteúdo diverso de objetos que permeiam os arredores de seu corpo, girando em um tornado irrefreável.

Charlie permanece próximo, mesmo com o risco evidente de ser acertado por algo. Seus olhos não deixam Stella por um segundo sequer.

— Ela não está... — gaguejo ainda atordoada.

Um grito escapa da garganta da Richard, e os vidros espatifam-se. Afastamos-nos em conjunto, e vejo Charlie cerrar os punhos.

— Ela está salvando o mundo — diz Simon ao meu ouvido, com um toque doloroso em sua voz.

Lágrimas deixam os olhos dela durante o processo.

— Trinta segundos para a detonação... — Ele se afasta resoluto. — Preciso resolver uma coisa.

— O quê? James! — Aurora ameaça seguir, mas o Turner já virou o corredor em uma corrida desenfreada. — Meu Deus! O que está acontecendo?

— Acho que sei o que é — Ashley fala de um jeito calmo, abraçando Aurora. — E acredito que James vá fazer o certo.

Aurora franze o cenho sob o ombro da cunhada, contudo não diz nada. A sensação de impotência durante os segundos que antecedem o caos é terrível. Saber que fizemos tudo o que estivera ao nosso alcance até então, e que possivelmente esse pode ser nosso último instante como um grupo.

No entanto, a ausência da Clarissa e do Dylan é perceptível e insubstituível. Fecho os olhos afastando os pensamentos ruins, contando silenciosamente os últimos instantes.

Sinto Simon me abraçar mais forte pelas costas, seus lábios chocando-se com minha bochecha.

Vinte segundos...

Viro-me sentindo Simon como um verdadeiro protetor. Meus olhos encontram os seus e é inevitável não esboçar um mínimo sorriso.

— Tudo começou aqui — sussurro passando os dedos por seu rosto. — Obrigada. Por tudo. Por me tirar do abismo.

Simon sorri finalmente, suas rugas de preocupação dissipando-se conforme o antigo garoto tímido e nerd ocupa o corpo atual.

— Obrigado por ter sido minha luz — Ele passa os dedos por uma mecha que cai por meu rosto, e seus lábios se aproximam dos meus.

Estou preparada para o que vier, contanto que ainda seja com ele.

Dez segundos...

— Eu detestaria passar por tudo isso sem vocês — Zack diz após um leve pigarro. Seu braço passa pelo pescoço de Ashley. — E mesmo que esse seja o fim... Fico feliz de ter passado por cada momento com vocês.

— Uau. Isso se tornou uma despedida? — Ashley diz com amargura.

As passadas rápidas se aproximam de nós, e posso ver James aparecer arrastando um Dylan atordoado.

— Dylan! — exclama Aurora avançando um passo.

Dylan senta-se no chão, longe de nós, com o olhar completamente perdido como se não nos reconhecesse. James ofega, envolvendo sua amada em um abraço forte.

— Eu prometi a Clarissa — Ele fala deixando que lágrimas caíssem por seu rosto pela primeira vez. — Ela me pediu para cuidar dele. Eu não posso trazer a mente dele de volta... Mas posso consertar algumas partes do humor dele.

Stella emite um último grito.

Um segundo...

Uma luz forte incide pelas salas de NovaHead, e é possível ouvir a primeira explosão. Abraço Simon, e vejo Aurora e James, juntos de Ashley e Zack do outro lado do corredor. Charlie desaba ao lado de Stella, esmurrando o piso ao mesmo tempo em que o prédio chacoalha.

Fecho os olhos, agarrando Simon e apertando meu rosto contra seu pescoço na tentativa de fazer com que tudo passe o mais rápido possível...

— Uau! Que... Sucesso!

Abro os olhos, e Simon me solta por um segundo. A estrutura não treme mais, e o brilho do lado de fora das janelas cessou por completo. James deixa de abraçar Aurora ao focar na figura presente no corredor.

— Stanley! — O Turner avança contra o homem, sendo contido por Aurora.

— Acabou James — Ela lembra, lançando um olhar de desprezo a figura. — O que você quer?

Ele dá de ombros, caminhando em nossa direção.

— Vim parabenizá-los! — Seus olhos contém um brilho intenso e um sorriso percorre seu semblante. — Acabaram com tudo, não é? A Richard está caidinha ali depois de ter controlado a Torre da Liga da Justiça... Emeline e Lexi estão acabadas... Os vilões já caíram diante dos heróis...

Recuo um passo, um pressentimento ruim segue como uma lâmina abrindo caminho dolorosamente em minhas entranhas, causando-me dor.

— Vocês vão comemorar agora... Talvez tentar fazer Dylan Allen voltar ao normal... Ou tentar encontrar Clarissa... — Stanley pende a cabeça. — Mas o problema de vocês é que focam demais nas questões menos importantes, e se esquecem do resto.

Ashley toma a frente, com um ar irritadiço.

— Você não pode nos derrotar Stanley! É o patife cachorrinho dos maiores! — seus saltos ecoam pelo piso, conforme impõem-se contra o vilão. — E não vai querer um monte de heróis contra você, não é?

A risada do homem se transforma em uma gargalhada medonha.

— Eu não vou matar vocês nem nada do gênero! — Ele estende os braços, como se com esse mínimo gesto conquistasse nossa confiança. — Sou amigo de vocês!

— Amigo? — questiona Zack, franzindo o cenho. — Pelo que me lembro você colocou um veneno na Clarissa que nos interligava a ela. Por sorte quebramos isso quando morremos.

Stanley sorri, mexendo em seu chapéu marrom.

— Oh, Oliver! Você tocou em um ponto interessante! — rapidamente o homem retira um artefato do bolso que não consigo identificar.

Antes que possamos detê-lo, ele agarra a vítima mais próxima e enfia a seringa no pescoço dela.

Aurora Clarkson cai no piso, com um baque, seus olhos perdendo o foco conforme a queda. James emite um grito que soa abafado aos meus ouvidos diante do pânico que me ensurdece por uma fração de segundos.

Como um alarme de perigo, posso ver Stanley pressionar uma espécie de granada em sua mão, e de imediato meus membros enfraquecem.

— Feliz aniversário, Destruidores! — a risada segue cada vez mais psicótica conforme um a um, caímos no chão, em uma mistura mortal de sonolência e fraqueza.