Levei um susto com a campainha. Era a tal de Laura, a bêbada.

–Oi – ela parecia envergonhada – a Manuela mora aqui?

–Só um minuto...

Bati na porta e abri.

–Sua amiga bêbada ta ai.

Ela riu e pegou algo dentro da bolsa. Depois me deu um tapa.

–Não chama ela assim.

Não voltei para a sala até a tal ir embora. Quando ouvi elas se despedindo, voltei para o meu trabalho.

A Manu ficou parada na porta, com um sorriso de deboche.

–Não vai acreditar no que ela disse.

–O que ela disse?

–Que achou que fossemos namorados.

E me olhou com aqueles olhar de “acredita nessa doida?”.

E que os jogos recomecem.

Levantei, encarando ela, que não desviava o olhar.

–Pra mim não parece ser tanta loucura Manuela.

Segurei sua cintura, aproximando seu corpo. Ela olhou para minhas mãos e em seguida para mim, com um olhar tipo “serio que ta fazendo isso?”. Esboçou um sorriso e ficou na ponta dos pés, sussurrando perto da minha orelha.

–Depois eu que to brincando com fogo né?

Respondi no mesmo tom.

–Digamos que eu também gosto do calor.

Pude sentir seu sorriso mais largo. Ela me empurrou e saiu da sala como quem nada quer. Eu só fiquei olhando, acompanhando seu corpo ir.

Se isso continuar desse jeito, não vai prestar... Não mesmo.

***

Ele realmente me surpreende às vezes. Ontem foi o maior fofo me levando pro meu quarto, e hoje, vem todo se querendo pra cima de mim.

Ah Eduardo...

O sol já estava baixando quando parei de estudar e fui tomar um banho. Deixei a água descer por um bom tempo, escorrendo pelo ralo.

Consegui ouvir uma musica vindo baixinha de algum outro cômodo. Me vesti o mais rápido possível, passei a toalha no cabelo e fui ver o que estava acontecendo. Vinha do quarto do Edu.

Não demorei pra reconhecer a musica, I Found You, The Wanted.

Entrei no seu quarto cantando mais alto que a musica, e ele se assustou. Estava de óculos, e ai eu me assustei.

–Desde quando usa óculos?

–Só de vez em quando, quando tenho que forçar muito a visão...

Soltei meu cabelo preso no coque e continuei a cantar, puxando ele pra dançar comigo.

–Você é louca sabia?

–E você adora isso!

Ok, fato, tenho que admitir. Eu estava pirando.

***

Ela só podia estar pirando. E eu adorava isso. Dançava conforme a batida da musica e me puxava junto. Até que a musica acabou, e ficamos os dois rindo abobados, caídos de qualquer jeito na minha cama.

Quando consegui controlar o riso, percebi que ela me observava. Ela se virou, apoiando a cabeça no braço.

–Que foi?

–Fica uma gracinha de óculos sabia?

Seu olhar mostrava algo diferente...

–O que quer Manu?

Ela se ajeitou, se sentando do mesmo jeito que se sentou no banheiro aquele dia, em cima das pernas. Se aproximou de mim e tirou meus óculos, colocando no canto da cama.

–Quero propor algo...

Eu estava começando a ficar nervoso. Sei lá, ela era diferente.Com ela, aquilo era uma competição de quem ia ceder primeiro.

–Fala.

–Quer ficar comigo?

Serio? Não era meio obvio isso, tipo, não tava na cara dos dois? Ou será que só eu via isso...

–É o que?

Ela fazia charminho com cada movimento.

–Sem sentimentos, sem amanha, sem pensar em nada, sem compromisso. Foi hoje, e acabou. Amanha é amanha. Sem satisfação ou qualquer coisa que assuma responsabilidade. Apenas... Curtir o momento.

Ela havia fechado os olhos desde a primeira palavra, e só abriu ao pronunciar a ultima, sorrindo e mordendo a boca.

Ela ainda me deixa louco!

–Você é maluca!

Não perdi tempo em pensar. Puxei a barra da sua blusa, jogando seu corpo por cima do meu e a beijei.

Primeiramente, um beijo desesperado, como se a vida novamente dependesse disso. Com ela era sempre assim: tudo ou nada. Seu beijo foi ficando mais calmo, mais delicado... Não havia mais toda aquela urgência. Ela fazia movimentos ritmados mexendo no meu cabelo.

Às vezes parava, me olhava com um olhar que... Meu deus, o que era aquele olhar? Jogava os cabelos para o lado e voltava para o beijo, e a cada momento fazia algo diferente.

Joguei seu corpo para o lado, ficando por cima dela. Ela tinha um sorriso diferente agora, de qualquer outro que eu já tivesse visto vindo dela. Hoje ela não estava de batom, e mesmo assim, eu não via coisa melhor do que sua boca naquele momento. Me abaixei, brincando com sua orelha, sentindo ela se arrepiar.

–Completamente maluca!

Eu arfava, já sem ar. Ela não estava muito diferente... Porem, triunfante. Apoiou suas mãos em meu peito e me empurrou para o outro lado da cama. Se levantou e parou na porta, jogando o cabelo e olhando pra mim:

–Vou levar isso como um sim. Ta com fome?

Eu ainda estava processando o que tinha rolado ali. Com fome eu tava, mas não era de comida.

Fato: as santinhas são as piores.