Ela olhava para o horizonte como se pudesse observar o futuro.

Era sempre assim.

Todo dia, pontualmente ás 17h30min da tarde - logo depois de ter tomado seu chá" - Sakura se sentava no banco de mármore que ficava na sacada do seu quarto, para contemplar o horizonte.

Era incrível, radiante... Perfeito.

Perfeito. Essa era a palavra que podia facilmente descrever sua vida.

“Sakura Haruno, a filha perfeita de dois grandes empresários que morreram tragicamente logo depois do seu noivado.” – Pensou a jovem, e suspirou em meio a mais uma tarde fria de Tóquio.

– Meu bem, meus pais já estão chegando ao aeroporto. Eu estou indo buscá-los. – Disse o rapaz, dando-lhe um beijo na testa.

– Não quer que eu vá com você?!

– Não precisa. Logo, Logo estarei de volta. – Falou sorrindo carinhosamente.

Ela o observou sair apressado, e sorriu. Aquele era seu noivo perfeito. Itachi Uchiha. Dono da maior empresa de comércios de Tóquio. Nesse momento ele estaria dirigindo seu carro perfeito, rumo aeroporto para buscar seus pais perfeitos. Afinal, eles fariam a perfeita cerimônia de casamento na manhã seguinte.

Sakura se levantou da cadeira e virou-se para admirar seu quarto perfeito. Aquele era o lugar onde passaria suas noites perfeitas com seu marido.

Aquela mansão perfeita seria sua. E todos os dias ela iria cuidar do seu jardim perfeito, cozinharia em sua cozinha perfeita, arrumaria seu armário perfeito, mesmo tendo empregados perfeitos que poderiam fazer todo o serviço por ela.

Um leve zunido rondou sua cabeça.

Ela sabia o que iria acontecer a seguir. Correu para sua cama, e se encolheu entre os travesseiros e lençóis.

Então, o leve zunido se transformou em uma forte dor que balançou todo o quarto em que esta estava.

Sakura não sabia se o terremoto estava apenas em sua cabeça ou se o quarto estava realmente estremecendo.

Pegou um travesseiro e colocou em sua boca, abafando um grito.

O terremoto parou.

Era sempre assim.

Aquela era a única parte imperfeita da sua vida.

A dor.

Ela havia perdido as contas de quantos médicos a diagnosticara com uma doença crônica. Incurável. Alguns diziam que era apenas o impacto que a morte dos seus pais causou em sua mente.

Porém, Sakura sabia que aquilo não era uma doença, nem um impacto.

A jovem sabia que aquela dor era algo que seu cérebro queria se lembrar, mas não conseguia. E isso a deixava atordoava.

Sentou-se em sua cama e respirou fundo. Não sabia o que era aquela estranha dor, mas não podia perder seu tempo procurando uma resposta. Hoje faria a ultima prova do seu vestido de noiva e logo depois se preocuparia em recontar as lembrancinhas do casamento.

Se levantou, ajeitou suas longas mechas de cabelo cor-de-rosa na frente do espelho. E voltou a se concentrar em seu mundo perfeito.

(...)

– Essa mentira não pode continuar! – Falou o homem de meia-idade.

– Cale a boca e finja ser um pai que ama seu filho. – Disse Itachi, concentrado na estrada.

– Ele está certo, Sr. Itachi. Essa sua brincadeira está gastando tempo e dinheiro demais. – Falou a senhora encolhida no banco traseiro do carro.

– Tempo e dinheiro não importam, imagine só o estrago que pode acontecer quando aquela garota descobrir seus sobre seus poderes?! – Retrucou o velho, suando frio.

– Escutem bem o que eu vou dizer: a brincadeira só acaba quando eu mandar, entenderam?! –Falou o Uchiha, irritado.

A pequena senhora suspirou e encostou a testa no vidro do carro. Observou a paisagem se mover e as luzes das lojas cintilarem sobre seus olhos.

“- Pobre garota...” – Pensou.

(...)

A xícara de café estava flutuando acima da palma da mão de Hinata.

Qualquer pessoa que passasse por ali e a visse pela janela iria se assustar ou pensar que aquilo era apenas uma ilusão de ótica.

Ela sabia que um mago de bom senso não deveria revelar sua identidade, muito menos brincar com os seus poderes. Porém, ela gostava de se descontrair de vez em quando, de brincar com o que os humanos consideravam surreal.

O clarão veio como um raio, forte e avassalador.

A xícara caiu diretamente na mesa de madeira polida e se partiu. Espalhando cacos de porcelana e restos de café por todo canto.

A garota não se importou com a sujeira que havia feito. Levantou-se da cadeira e caminhou com passos firmes até o escritório. A única parte da imensa casa que ela tinha certeza que o encontraria.

Hinata não gostava de suas visões. Era o único poder que ela não tinha orgulho. Afinal, as visões eram apenas pedaços de imagens picadas que quando juntas tinham um sentido destruidor.

Abriu a porta do cômodo e observou com o rapaz atirar o dardo exatamente no cento do alvo. Silenciou-se por um tempo e ouviu apenas o crepitar da lareira.

– Você também viu, não?! – Falou Hinata, quebrando finalmente o silêncio.

Ele afirmou com a cabeça, pegou outro dardo da sua caixinha de camurça e se preparou para atirar.

– Temos que resgatá-la logo! – Indagou Hinata como se estivesse se preparando pra uma batalha.

– Não! – Protestou o jovem. – Vamos esperar. Quero ver qual será o próximo passo do meu querido irmão. – Sorriu e atirou dardo novamente no centro do alvo.

A garota observou Sasuke por mais um tempo, mas logo depois saiu do escritório sem reação alguma.

Ela apenas rezava pela delicada alma da menina de cabelos róseos.

(...)

– Seus pais pareciam um pouco nervosos no jantar, meu bem. O que houve? – Falou Sakura agarrando suavemente o pescoço do seu noivo.

– Você achou? Bem, deve ser por causa do casamento. – Disse Itachi beijando-lhe novamente.

– Deve ser. Não é todo dia que se vê o único filho se casando.

– Se casando com uma mulher maravilhosa! – Falou Itachi levando a garota até a cama do casal.

Sakura o abraçou novamente e imaginou como seria sua vida dali em diante. Pensou no perfeito, de como a irritava e como fascinava.

Afagou carinhosamente o rosto do seu futuro marido.

Sentia-se feliz.