Despertar escrita por Seto Scorpyos


Capítulo 11
Capítulo 11




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/45405/chapter/11

Assim que entrou no camarim, Aoi varreu o lugar e encontrou Uruha sentado no canto, fumando calmamente. Reita estava perto dele, explicando alguma coisa.

- Uruha... – chamou, cumprimentando rapidamente os outros com a cabeça.

Aproximou-se do namorado, procurando marcas no rosto delicado.

- Que bom que está bem! Eu fiquei preocupado... – começou, parando de frente ao guitarrista.

Reita elevou uma sobrancelha, mas não disse nada. Uruha ergueu a cabeça e tragou o cigarro, assoprando-o de lado.

- Obrigado. – respondeu, contido.

- Eu quero explicar. – Aoi tentou, ansioso – Quero não, preciso. Preciso te contar e explicar...

- Não era importante antes, porque se tornou agora? – o loiro perguntou, baixo.

- Não é assim. Sempre foi importante, mas eu misturei um monte de coisas... – parou, tentando encontrar as palavras certas – Eu tentei entender porque fiz aquelas coisas, e por mais vergonha que eu sinta, tenho que reconhecer que fiquei realmente com raiva de você.

- Raiva? – Uruha não escondeu a surpresa, mas o moreno ergueu a mão.

Kai e Ruki acompanhavam a conversa com atenção e Reita, com desconfiança, mas nenhum dos músicos interrompeu.

- Eu fiquei com raiva de você por ser tão bem resolvido com sua sexualidade. Fiquei com raiva porque seu pai nunca armaria uma cilada para você se casar e apesar de não gostar da situação, te recebe bem, te protege... Eu fiquei com raiva por que suas irmãs sabem que você me ama e apoiaram quando interrompeu as férias para vir ficar comigo... Fiquei com raiva quando sua mãe ligou apenas para conversar... Ela nunca aceitou muito bem nosso estilo, mas nunca te encostou na parede... Tenho vergonha de admitir que senti inveja. Inveja e raiva... eu quis te machucar e te ferir... te atingir de algum jeito porque estava infeliz e decepcionado com a minha família... Estava frustrado e irritado, com tudo...

Ele parou e desviou os olhos, constrangido. Kai colocou uma mão sobre seu ombro, penalizado.

- Aoi... – começou, incerto.

- Não, Kai. – o mais velho olhou para o namorado, ainda o encarando de volta – Não quero que pense que estou em dúvida se quero ou não você para mim. Não ter você não é opção, eu preciso de você do meu lado para ser completo. Tenho certeza do que sinto e sei que não é certo ou aceitável, mas é assim. – Aoi respirou fundo – Eu simplesmente baguncei tudo na minha cabeça, te culpei porque... – parou e mordeu o lábio – Te culpei por ser você mesmo, por ter mais coragem que eu e por tudo o que você tem, e que eu queria tanto ter também.

Com um olhar triste e exausto, o moreno se abaixou e se apoiou na perna do loiro, tirando o cigarro quase todo queimado de entre os dedos do jovem, que acompanhou o gesto com um olhar aturdido. Aoi apagou o cigarro e ajeitou a camisa do namorado, sem coragem de olhar para o rosto do outro guitarrista.

- Desculpe, Kou. Me perdoe por ser covarde demais, confuso demais.. me perdoe por te ferir e te magoar... me perdoe por não te merecer, mas por favor... por favor me perdoe. – pediu, baixo.

O moreno ficou parado, ciente de que o próximo passo devia ser de Uruha.

- E Akaya? – a pergunta veio também baixa.

O mais velho ergueu a cabeça, aliviado por ver apenas curiosidade nos olhos escuros.

- Eu fui até lá.... Acho que ela estava grávida quando estive com meus pais da última vez e então, depois que o bebê nasceu... – o guitarrista moreno encolheu os ombros – Não consegui as respostas que queria. Não sei porque ela começou a dizer que o bebê era meu. Kanako soube e ajudou, sei lá... – Aoi abaixou a cabeça, brincando com os dedos do amante – Meus pais souberam e não desmentiram... ao contrário, começaram a agir como se realmente fosse meu filho. Quando eu os confrontei, ouvi uma coisa inacreditável. Meu pai me disse que era melhor eu me casar com Akaya, assumir a criança e ter uma vida respeitável. Como um prêmio de consolação, podia continuar na banda.

- Meu Deus! – o líder exclamou, abismado.

- Isso é... – Reita parou, surpreso e indignado.

- Foi isso o que eu disse a eles, que não aceitava e não ia fazer algo assim. Eles não aceitaram e não entenderam. Kanako disse que se fosse o caso, eu podia continuar com você, mas que me casasse porque meus pais já tinham se afeiçoado ao bebê e era melhor para todo mundo.

Apesar de se dirigir ao namorado, Aoi olhou em volta, encarando os amigos.

- Eles ficaram pressionando e por fim, eu acabei tendo que ameaçar um processo, com prova de DNA e tudo. Akaya percebeu que eu falava sério e acabou desistindo, mas por precaução falei com os pais dela. Não voltei à casa dos meus pais depois disso, mas Kanako me ligou, irada. Assim que ela começou a esbravejar, desliguei.

- É difícil, não? – o vocalista perguntou, com voz profunda.

Aoi ergueu a cabeça e o encarou, respirando fundo. Ruki acendeu um cigarro e se recostou no sofá, devolvendo o olhar intenso do amigo.

- É difícil ter que se posicionar contra a sua família, deixar tudo para trás... e tudo porque o que você é não se encaixa com o que eles queriam que você fosse.

- Nunca pensei que fosse tão ruim. – Aoi concordou, baixo – Nunca pensei que me pediriam isso... não depois de tudo... Eu sempre fui discreto, sempre procurei orgulhar meus pais, trabalhei tanto para dar segurança a eles...

- E no fim, percebeu que nada disso valeu alguma coisa. Que o padrão deles é impossível de ser alcançado. – Ruki completou, seco – A não ser que perca a sua alma.

- E agora? – o mais velho perguntou, inclinando levemente a cabeça – O que acontece?

- Você simplesmente morre. Não tem nenhum tipo de vínculo, a não ser o financeiro se você achar que deve. – o pequeno vocalista respondeu, encolhendo os ombros.

- É como ser órfão, sem ser de verdade. – Aoi resumiu, sem emoção.

- Por aí. – Ruki concordou, tragando o cigarro.

Por alguns momentos, ninguém disse nada. Kai ainda estava processando a nova situação do guitarrista moreno, tentando se lembrar dos pais do amigo. Não eram do tipo que acompanhavam a carreira, mas não achou que fossem tão rígidos. Com um suspiro, encolheu os ombros.

- Eu sou muito sortudo! – murmurou, aliviado.

- É mesmo, Kai! A okaasan é um doce de pessoa! E ama tanto a gente quanto a banda, mas anda meio esquecida,  não mandou nosso dorayaki! – Reita comentou, de repente.

Os músicos se entreolharam e de repente, caíram na risada. Aoi percebeu com alívio que Uruha não tirou a mão da dele e sorriu, pela primeira vez de verdade em semanas.

- Vou dar o recado, Reita. – o líder garantiu, ainda rindo. Parou e colocou uma mecha de cabelo atrás da orelha – Desculpe, Aoi. Sua situação é crítica e eu sinto muito.

O moreno deu um sorriso cansado.

- Eu sei e me desculpo com todos. – disse, olhando um por um dos músicos – Eu não soube lidar com tanta coisa acontecendo e acabei indo para o lado errado.

Educado, se ergueu e inclinou-se, fazendo Kai se enternecer.

- Eu entendo e aceito suas desculpas.

O moreno se curvou para os outros músicos, desculpando-se. Ruki sorriu e Reita aceitou também. Depois houve um momento de silêncio e Uruha se ergueu, mas antes que pudesse falar alguma coisa, Nadao-san e algumas pessoas do staff entraram no camarim. Aoi lamentou a interrupção, mas achou melhor não forçar nada ao perceber o alívio nos olhos escuros do outro guitarrista.

A troca do pessoal do staff se mostrou a melhor decisão, e mesmo que estranhassem um pouco, os músicos se adaptaram rapidamente. Kai chegou a comparar quando trocaram de gravadora pela segunda vez, quando tiveram que trabalhar com pessoas novas e incorporar novas direções para a banda. Apesar do sentimento de culpa, Aoi não deixou que o desconforto aumentasse e se esforçou para desfazer a impressão ruim que suas palavras causaram.

Durante todo o dia, trabalharam de forma quase frenética. Fotos ainda pela manhã e entrevistas em locais separados durante a tarde. Reita e Aoi na produção e finalização de alguns arranjos, Ruki e Uruha numa rádio no centro. Kai compareceu a outro programa de rádio, sozinho.

Quando Uruha chegou ao apartamento, exausto pela correria, não estranhou quando percebeu que não estava sozinho. Por diversas vezes durante a tarde teve que se disciplinar para prestar atenção ao trabalho e não se perder em lembranças da conversa pela manhã.

A sala estava à meia luz quando ele abriu a porta, e depois de uma rápida olhada, o músico entrou e fechou a porta. Colocou a chave sobre a bancada e atravessou a sala, deixou a bolsa sobre o sofá, sentou-se e encarou o outro, sentado de frente quase no escuro.

Por longos momentos, nenhum dos dois disse nada e então, o silêncio pesou. Pela primeira vez entre ambos.

- Desculpe, Uruha. – o moreno pediu, sem saber como se explicar.

O loiro o encarou por algum tempo, a ponto de deixar o mais velho sem jeito.

- Porque não conversou comigo? – a pergunta veio baixa e doída.

- Eu não sabia como explicar! Estava cansado, irritado... eu expliquei porque... – balançando a cabeça, Aoi apoiou os antebraços nas coxas – Sinceramente, não queria ter que encarar a diferença entre a minha vida e a sua. Se acontecesse com você, seu pai arrasaria a pessoa e estaria tudo bem. – ele parou, respirando fundo – Desde o começo desconfiei que meus pais pudessem ter algo a ver com isso e quando me ofereceu ajuda, pensei que apesar de tudo, não podia simplesmente arrasar com meus próprios pais. Fiquei com mais raiva ainda....

O mais velho fez um gesto de exasperação e passou a mão pelo cabelo. Uruha encarou o outro homem, sem saber o que dizer.

- Sempre machuco você, não é? – o guitarrista moreno perguntou, baixo.

- Meu pai diz que isso é prova de vida. Se dá para sentir dor, é porque está vivo. – o jovem rebateu.

Aoi ergueu a cabeça e o encarou, surpreso. Uruha deu um pequeno sorriso, encolhendo os ombros.

- Sinto muito... – o mais velho murmurou, sem tirar os olhos do namorado.

- Não vou mentir que está tudo bem, mas entendo o que passou. – o músico admitiu, suspirando – E como terminou?

- Minha família não aceitou minha decisão. – o moreno olhou em volta procurando o cigarro, mas desistiu.

- E Akaya?

A pergunta de Uruha fez Aoi erguer a cabeça e o encarar. O rosto do loiro não demonstrou nenhuma emoção, mas o mais velho sabia que era só aparência. Podia sentir a tensão do corpo bonito e lamentou, desejando ter sido mais coerente e ponderado.

- Eu não entendi nada... de repente, veio com essa idéia maluca de me fazer reconhecer o filho de outra pessoa... – o guitarrista moreno se levantou, nervoso – Não sei... eu acho loucura ela ter pensado que eu poderia aceitar. Quero dizer, - parou no meio da sala, abrindo os braços – Quem em sã consciência aceitaria isso?

- De repente, ela achou que você podia resolver o problema dela e ela, o seu. – o jovem ofereceu, puxando as pernas para cima e encarando o amante.

- O quê? – o mais velho perguntou, surpreso.

- Ela precisa de um pai para o filho, já que o oficial pelo jeito não vai assumir. E você precisa de uma vida respeitável. – o loiro encolheu os ombros.

- Eu não preciso de uma vida respeitável! – Aoi rebateu, indignado – Eu tenho uma vida respeitável!

- Não do ponto de vista dos seus pais.

A frase, dita claramente, fez o mais velho parar e respirar fundo, encarando o outro homem com exasperação no olhar.

- Eles estão errados. Eu não preciso de uma mentira para ser um homem melhor. – sentenciou, seco – Posso ter me confundido e ficado meio perdido com tanta pressão, mas isso sempre foi uma certeza para mim. Sou um homem decente, Uruha, e não é com quem eu vou para a cama que define isso. É quem eu sou.

- Meu pai diz que as pessoas ao nosso redor demonstram nossa personalidade. – o loiro comentou, sustentando o olhar intenso – Ele diz que pessoas boas se cercam de pessoas boas, e se pensar assim, quem você leva para a cama acaba definindo sim quem você é.

- Você é um homem bom e decente. Tem defeitos, como todo mundo e tem qualidades, como todo mundo. É discreto e talentoso, confiável... eu não podia querer alguém melhor do meu lado. – Aoi sorriu, um pouco envergonhado – E também tem uma qualidade incrível, que eu sempre acabo abusando... você sempre perdoa... se doa e acaba se machucando mais... Eu até podia dizer que isso é ruim, mas seria hipocrisia minha, já que é nisso que eu coloco a minha esperança.

Uruha inclinou a cabeça e desviou os olhos, subitamente embaraçado. O moreno se sentou perto dele e se inclinou, sentindo o leve perfume do outro.

- Estou te devendo muito, Uruha... – ergueu a mão e tirou uma mecha de cabelo do rosto do namorado, aliviado por ele não ter se afastado.

- Não faz mais isso... – o jovem murmurou – Não tem idéia de como foi difícil...

Aoi segurou o rosto delicado, passando o polegar de leve na pele macia.

- Desculpe... eu tive vontade de me chutar muitas vezes... eu quis desfazer... – o moreno murmurou, sentido – Depois que você se machucou, eu me senti horrível... culpado...

Ainda segurando o rosto do jovem, encostou a testa na dele, enfiando os dedos no cabelo macio. Estava louco para beijar Uruha e levá-lo para a cama, mas sabia também que não podia. Com suas atitudes, acabou magoando o loiro e sabia que não bastava um simples pedido de desculpas. Já tinha se desculpado por uma vida inteira, mas isso não significava muito diante do estrago que causou.

- Vai dormir aqui? – Uruha perguntou, afastando-se um pouco.

O moreno relutou claramente em soltá-lo, mas aceitou e ergueu os olhos.

- Eu quero. E quero muito, mas não vou fazer nada que incomode você. Se precisar de um tempo, eu entendo.

Uruha se levantou e o mais velho o acompanhou com o olhar, apreensivo.

- Tudo bem... mas não quero fazer amor. – o loiro respondeu, respirando fundo.

- Ok. – o moreno concordou, aliviado apesar da sensação horrível de perda. Na verdade, queria muito o namorado, mas conversar com ele era melhor do que nada.

- Pede alguma coisa para a gente enquanto eu tomo banho. – o jovem disse, encaminhando-se para o quarto.

“Sem nem um beijo?” o moreno se perguntou, agoniado. “Isso vai ser complicado”.

Lamentando-se internamente por ser tão idiota, Aoi se levantou e atravessou a sala, contornando o pequeno balcão da cozinha. Quando tirou o telefone do suporte para ligar, foi imprensado na parede com força e ao sentir o corpo quente atrás de si, gemeu, excitado.

- Mudei de idéia. – Uruha sussurrou em seu ouvido, provocante.

Aoi ia responder quando sentiu as mãos do namorado em seu corpo, puxando-o contra si. O moreno estremeceu ao sentir a língua do outro em seu pescoço e sem que pudesse se conter, riu baixinho.

- Vampiro!- provocou, ofegante.

- O que posso fazer? – a voz de Uruha saiu com um tom tão malicioso que o estômago do mais velho se afundou.

O moreno virou a cabeça, ganhando o beijo tão esperado. Aoi quis se virar, mas Uruha o apertou e o manteve assim até que o ar faltou. O mais velho recostou a cabeça no ombro do outro, totalmente sem ar, e demorou um pouco para perceber o que o amante estava fazendo. Arfando, o mais velho abaixou a cabeça e observou Uruha desabotoar sua camisa lentamente. Nunca pensou que um gesto tão simples pudesse ser tão erótico, ainda mais com a respiração ofegante dele em seu pescoço e o corpo incendiado atrás de si. Podia sentir o quanto o namorado estava excitado e isso o fez gemer baixinho.

Tentando simplesmente ficar em pé, Aoi observou Uruha terminar de abrir sua camisa e então, abrir o cinto e o botão do seu jeans. Apesar de antecipar e esperar a caricia, quando os dedos do amante afastaram o tecido e se fecharam sobre sua ereção, as pernas do moreno vacilaram.

- Uruha.... – chamou, sem conseguir completar o pensamento.

Aoi abriu a boca e puxou o ar, segurando-se nos braços do namorado. Uruha esfregou o corpo no do amante, incendiando os dois, mas franziu a testa quando a força do moreno vacilou e ele estremeceu. Apertou-o e recorreu a todo o seu controle para continuar segurando o amante, mordendo o lábio com força para simplesmente ignorar a própria excitação. O guitarrista mais velho estava tão entregue ao próprio prazer que fez o loiro sorrir, ainda que um pouco desesperado por causa dos gemidos e ofegos do outro, que estavam minando sua força de vontade.

- Você geme gostoso... – murmurou, lambendo a nuca do moreno – Você inteiro é gostoso...

O loiro apertou um pouco mais o outro e acelerou os movimentos, tão ofegante quanto Aoi e já sentindo as forças faltarem. O moreno não era pesado, mas estava totalmente apoiado nele e por mais que estivesse deliciado com o prazer do namorado, não ia aguentar muito tempo.

E pelos gemidos mais altos e mais descontrolados de Aoi, nem ele.

O mais velho estremeceu quando o prazer explodiu em seu corpo e mais do que antes, Uruha precisou segurá-lo. Com cuidado, segurou-o quando recuou e apoiou o corpo na bancada. O coração do loiro estava batendo na cabeça e o sangue fluindo muito mais rápido pelas veias. Nunca pensou que ver o prazer de Aoi pudesse ser tão erótico, nem deixá-lo tão faminto e com dificuldade, tentou controlar o próprio corpo. Por alguns minutos, o único som ouvido foi o das respirações entrecortadas.

- Isso... isso foi... – Aoi tentou dizer, respirando fundo.

- Delicioso de se ver e ouvir. – o loiro respondeu, ignorando o desconforto.

Aoi riu baixinho, exausto.

- Eu precisava disso... não assim, mas.. Ah! Você me entendeu! – disse, olhando para si mesmo – Que bagunça!

- Imagino. – o jovem respondeu, colocando o queixo sobre o ombro do moreno, que corou absurdamente.

- Desculpe por isso...eu... – o mais velho começou, constrangido.

- Não começa! – Uruha o interrompeu, dando-lhe um beijo no pescoço – Acho melhor trocarmos. Você vai tomar um banho e eu limpo a bagunça.

- Mas e você? Não precisa... – Aoi parou, sem saber como perguntar.

- Também estou excitado, mas eu disse que não queria fazer amor. – com um suspiro, empurrou levemente o amante, desencostando-o de seu corpo. – Eu ajeito suas roupas ou você faz... na verdade...

- Eu arrumo! Pode deixar! – o moreno afirmou, apressado.

Uruha riu baixinho, afastando-se um pouco mais do corpo do outro. Quase voltou atrás e o segurou de novo, quando sentiu frio, mas não o fez. Aoi olhou rapidamente por sobre o ombro, terminando de se ajeitar.

- Eu limpo a bagunça. – murmurou, estremecendo de leve.

- Esquece isso, que coisa! Se for logo, eu posso limpar mais rápido e aproveito o banho com você.

Por um momento, Aoi esqueceu a vergonha e encarou o loiro, que devolveu o olhar intenso. Com um sorriso malicioso se insinuando, o moreno cedeu.

- Ok.

O jovem o observou dar a volta e sair do espaço da cozinha. Com um sorriso, Uruha suspirou e esticou o corpo sobre a bancada, pegando algumas toalhas de papel. A bagunça não foi tanta quanto Aoi tinha dito, mas mesmo assim o loiro foi meticuloso com a limpeza. Assim que terminou, se ergueu do chão e jogou as toalhas no cesto de lixo que ficava no canto da cozinha, dando uma última olhada na parede e no chão. Apagou a luz e se dirigiu ao quarto, torcendo para que Aoi ainda estivesse no banho.

****

Semanas depois Kai só podia agradecer. O clima entre os membros da banda estava bem melhor e isso se refletiu no trabalho. Ruki fez letras incríveis e todos se empenharam em transformar as palavras dele em sons. O resultado foi semanas no topo do Oricon e ótimos índices de vendas. Os itens da banda também eram um dos mais procurados do estúdio, e cada vez mais revistas os procuravam para estamparem matérias sobre música ou sobre o visual. Revistas especializadas em instrumentos logo procuraram os guitarristas para matérias e entrevistas. Reita foi eleito, a contra gosto, o ícone masculino da banda e Ruki teve um ataque de ciúme. Ninguém podia tocar no assunto perto dele, se não queria ser fulminado com um olhar mortal. Algum tempo depois, o vocalista surtou de novo ao ser chamado de “fofo”.

- Eu não sou fofo! Isso é um insulto! – ele esbravejou, indignado.

- Pensa pelo lado bom, elas gostam de você. – Uruha tentou ajudar, solícito.

- Elas pensam que eu sou um bichinho de pelúcia? Isso é fofo, eu não! – disse, apontando a revista feminina cheia de bichinhos e corações.

O bico do vocalista durou um tempo e Reita simplesmente encolhia os ombros, resignado, quando alguém perguntava sobre o assunto. Uruha foi surpreendido com o comentário que se tornava mais bonito do que a maioria das mulheres, apenas vestido como uma. O loiro elevou uma sobrancelha ao ler o comentário, e então se virou para os músicos.

- Quando eu me vesti como uma mulher? – perguntou, confuso.

Aoi teve que sair de perto do namorado, para não explodir em riso. Ruki não foi tão sutil e gargalhou abertamente. Kai também riu, mas se controlou.

- Acho que eles estão falando das fotos com as correntes. – o líder ofereceu, sorrindo.

- E com aquele quimono. – Reita completou, também com um sorriso.

Uruha franziu a testa, pensativo.

- Mas não era essa a intenção. – murmurou, concentrado – Quero dizer, não era realmente para eu me parecer com uma mulher, não é?

O moreno deu a volta na mesa e o abraçou por trás.

- Não se preocupe tanto. Também já ouvi que pareço mulher em algumas fotos e não é nada estranho.

O jovem não se deu por vencido. – Mas porque ninguém disse nada? – perguntou, encarando os outros músicos.

Kai sorriu mais abertamente, mostrando as já famosas covinhas.

- Não se preocupe com isso, Uruha. É só o visual da banda.

****

- E então, Kai, é verdade mesmo? – Reita perguntou, sentando-se ao lado do líder.

O baterista corou absurdamente, e depois de um tempo respondeu, quase num sussurro.

- É

- Sabe que Ruki e Aoi vão transformar sua vida num inferno, não é? – Uruha perguntou, do outro lado da mesa.

Kai o encarou com resignação no olhar e Reita riu baixinho.

- Eu não vou deixar Ruki ultrapassar o limite, fique calmo. – garantiu, compreensivo.

- E eu ameaço greve, se Aoi te irritar demais, ok? – o sorriso de Uruha fez Kai sorrir também – Qualquer coisa, é só gritar.

- Nunca pensei... eu ainda estou meio... Acho que entendem, não é? – o líder olhou de um para o outro, em busca de compreensão.

Reita lhe lançou um olhar compreensivo, mas pararam de falar quando os outros dois músicos entraram. Ruki e Aoi olharam os amigos e então, trocaram um olhar malicioso.

- Devo cumprimentar a feliz noiva? – Aoi perguntou, sério.

- Vou compor alguma coisa para o casamento. – o vocalista acrescentou, ignorando o rosto absurdamente corado do líder. O pequeno parou no meio da sala e se virou – Espera um pouco! Miyavi não veio pedir nosso amado líder em namoro! Pelo menos não que eu tenha visto!

Ergueu as mãos, encarando os outros músicos.

- Pega leve, Ruki. – Reita comentou, se erguendo – Não atormenta o Kai!

- Mas eu... – o ruivo começou, sendo fulminado por um olhar do namorado – Ok, parei. Aoi...

Mas antes que o guitarrista pudesse falar alguma coisa, Uruha pigarreou. O moreno lançou um olhar para Ruki e encolheu os ombros.

- Estamos sendo reprimidos... – Ruki lamentou, exagerando – Vão nos sufocar até que nossas personalidades sejam destruídas...

Aoi não arriscou entrar na brincadeira do vocalista, diante do olhar estreito do namorado.

- Estou inocente. – garantiu, sentando-se ao lado do guitarrista loiro.

Kai olhou de um para o outro, e apesar de sentir o rosto ainda quente de constrangimento, sorriu de leve.

- Eu ainda não sei como vai ser... estava dizendo que... – parou, inseguro – Quero dizer, eu...

O baterista nunca pareceu tão vulnerável quanto aquele momento, o que fez com que os músicos se unissem para ajudá-lo. Ruki se sentou perto dele e colocou uma mão em sua perna, compreensivo.

- Estamos aqui com você e não vamos deixar ele se aproveitar, ok? Eu defendo você. – o pequeno garantiu, solene.

Apesar da vontade de rir, os outros não o fizeram. Uruha e Aoi se limitaram a trocar um olhar divertido e Reita elevou uma sobrancelha.

- É isso aí, Kai. Se não estiver se sentindo confortável, não precisa aceitar nada. – o baixista parou perto dele, encarando-o com gravidade.

- Eu ainda não sei direito como me sinto... – o moreninho murmurou, colocando uma mecha de cabelo atrás da orelha – Mas obrigado pela força.

- Você ficou do nosso lado quando foi com a gente, não dá para agir diferente agora. – Uruha comentou, tragando o cigarro – Mas concordo com o Reita, se não estiver tudo bem, nem comece. Algo assim é grande demais só para experimentar.

Kai o encarou, confuso.

- Como assim? – perguntou, baixo.

- Se você ficar com ele, mesmo que seja apenas para definir o que sente, algumas pessoas provavelmente vão ficar sabendo. Isso é inevitável, por mais discreto que vocês sejam. Alguém sempre acaba sabendo e comentando, como se não fosse nada. – balançou a mão, ilustrando o pouco caso – O problema não é a gente, ou o nosso meio, mas em como as pessoas vão passar a ver você.

O líder empalideceu, engolindo seco. – Não tinha pensado nisso. – confirmou, sombrio.

- Todo mundo sabe que ele é excêntrico, que beija os músicos dele nos shows, que abraça todo mundo e é todo tatuado. Você é sério, tímido... e eu não quero que comecem a falar de você. – o guitarrista loiro afirmou, despretensioso.

- Se ele gostar realmente de você, vai te proteger dessas fofocas. – o baixista ofereceu, ao ver o quanto o outro estava abalado.

- Uruha está certo, eu preciso ver se tenho coragem o suficiente para enfrentar isso. – Kai afirmou, dando um sorriso triste.

- E principalmente, se quer enfrentar. – Aoi completou, sério. – Apesar de achar que Uruha está sendo pessimista, concordo com a parte de ser discreto e pensar bastante antes de se envolver.

- Obrigado. – o líder falou, olhando os amigos.

- E se precisar, sabe nossos telefones. Qualquer dia, qualquer hora. – Ruki comentou, com um sorriso.

Kai se levantou e organizou a agenda de compromissos. No meio da manhã, o celular dele tocou e, quando o viram corar e começar a gaguejar, os músicos se entreolharam e riram baixinho. O líder corou ainda mais e se afastou, para falar mais livremente.

- Temos que conversar com aquele mapa rascunhado. – o baixista murmurou, sério.

- Eu vou junto. Não vou deixar que ele brinque com os sentimentos do Kai. – Ruki garantiu, olhando o amigo no outro lado da sala.

*****

O guitarrista moreno pegou a bolsa e colocou no ombro e sem perceber, se recostou à parede e continuou a fumar calmamente, esperando pelo loiro. Seu olhar parou no namorado, conversando com Reita sobre alguma coisa no caderno de notas. Nos últimos meses, as coisas pareceram entrar nos eixos. Felizmente, as sombras foram deixadas para trás. No último telefonema recebido da família, o irmão o informou que Akaya e seus pais desistiram de tentar fazê-lo assumir a criança e que a moça se comprometeu a parar com as fofocas on-line. Kanako ainda estava magoada, mas também admitiu ter interferido e se desculpou, um tanto secamente. Até podia lamentar a situação toda, mas não estava arrependido.

Não quando estava vivendo o melhor momento da sua vida. A banda estava emplacando um sucesso atrás do outro, com shows sempre lotados e cada vez mais, visibilidade nas revistas especializadas. Esse era o motivo pelo qual trabalhou tanto, mas sabia perfeitamente que não teria tanto sentido se Uruha não estivesse a seu lado, para dividir com ele a felicidade por ter acontecido. Na verdade já tinha tentado pensar em como seria se fossem apenas amigos, mas simplesmente não conseguiu.

- Tudo pronto?

A pergunta o tirou dos pensamentos e encarando o namorado, Aoi sorriu. Só então percebeu que fumou o cigarro todo.

- Estava a quilômetros... – a voz rouca e profunda soou de novo.

- É. – o mais velho concordou, encolhendo os ombros um pouco sem jeito.

Os dois se despediram dos outros músicos com um aceno e saíram. No carro, Uruha tomou a direção e depois que saíram, sorriu de leve.

- No que estava pensando com tanta concentração? – perguntou, atento ao trânsito.

- Em tudo e em nada. – o moreno respondeu, encolhendo os ombros.

Uruha lhe lançou um rápido olhar.

- Uma resposta esclarecedora. – definiu, calmo.

Aoi o olhou por um momento, por um momento temendo que ele não tivesse entendido sua resposta.

- Eu estava pensando sobre a gente, sobre a banda, sobre nossas contas bancárias... – esclareceu, recostando-se e puxando uma perna para cima do banco.

- Mercenário! – Uruha acusou, sorrindo.

- Não sou! Eu apenas estou feliz com o sucesso da banda e agora, posso finalmente comprar meu apartamento. Por falar nisso, estava pensando se no seu prédio tem algum... – comentou, olhando para fora.

- Quer um apartamento no meu prédio ou o meu apartamento? – Uruha perguntou, tentando ignorar a pontada de ansiedade que sentiu.

- Isso é um convite? – o moreno perguntou, virando-se para o namorado.

- Não era essa a intenção? – Uruha devolveu a pergunta, aliviado por estarem chegando ao seu apartamento.

- Eu quero morar com você, mas acho que não podemos. – Aoi explicou, sério, tentando escolher as palavras para não dar uma idéia errada para o namorado – Então quero um apartamento no seu prédio porque assim, ninguém vai estranhar estarmos sempre juntos.

Uruha não respondeu, concentrando-se em entrar na garagem subterrânea e estacionar. No elevador, franziu a testa e se virou para o moreno, que o observava em expectativa.

- Eu entendi o que disse. No começo não, mas agora pensando bem, eu entendo. Vou conversar com o recepcionista.

O sorriso que ganhou do moreno, aliviado e feliz, o fez sorrir também.

- Estou aliviado por que consegui que entendesse. – Aoi assumiu, respirando fundo – Estava começando a achar que não expliquei direito.... Quero dizer... – parou, ao sentir o elevador parar. As portas se abriram e os dois se dirigiram ao apartamento do loiro.

Depois que entraram no apartamento, Uruha jogou a bolsa sobre o sofá e se sentou.

- Você dizia... – incentivou, inclinando levemente a cabeça.

Aoi se sentou perto dele, fazendo-o puxar as pernas para cima e encará-lo.

- Eu dizia que seria muito bom que pudéssemos morar junto, mas acho que não dá, por mais que eu queira. Não quero que comentem sobre nós... – parou, sem saber como se explicar.

- Mais do que já fazem. – o loiro acrescentou, com um meio sorriso. – Não se preocupe, entendi que quer proteger o que temos. Eu também quero.

- Que bom. Não quero que nada atrapalhe o clima entre a gente. – o moreno garantiu, segurando os dedos do namorado.

Uruha observou os dedos entrelaçados por alguns minutos e então, sorriu mais abertamente.

- Banho ou jantar? – perguntou, baixo.

- Quero você. – Aoi respondeu, com um sorriso.

O moreno se inclinou, segurando o pescoço do loiro. O beijo começou calmo, como sempre entre eles, mas ambos sabiam que em breve ia ser pouco demais.

Sempre se tornava.

Aoi se debruçou sobre Uruha, fazendo-o se deitar sobre o sofá macio. O loiro riu baixinho, no beijo, mas não resistiu.

- E o banho? – perguntou, assim que teve os lábios liberados.

Apesar da voz soar divertida, o jovem gemeu baixinho ao sentir os beijos leves no pescoço.

- Daqui a pouco. – o moreno murmurou, sem sequer erguer a cabeça.

O loiro segurou em seus braços, sentindo a firmeza dos músculos embaixo do tecido da camisa e então abriu as pernas, sentindo todo o calor e excitação do amante. De repente, o mais velho ergueu a cabeça e se afastou, puxando o guitarrista loiro pela mão.

- Vem... – com um sorriso malicioso, guiou o outro para o quarto.

- Banho primeiro? – o loiro perguntou, provocante.

- Nem pensar! Não quero esperar!

Uruha gargalhou ao ser agarrado de novo, e não resistiu ao ser levado. Aoi encarou o outro com um sorriso, divertido e apaixonado. A risada do loiro ecoou no quarto ao ser jogado na cama, com o moreno em cima dele.

- Eu já disse que te amo hoje? – o mais velho perguntou, sentando-se displicentemente sobre o namorado.

- Ainda não. – o guitarrista loiro respondeu.

De repente, Uruha ergueu um joelho e empurrou o amante. Pego de surpresa, Aoi foi jogado para  frente e o loiro o segurou, passando os braços pela cintura dele. O mais velho não teve tempo de reclamar, ganhando um beijo que o fez esquecer qualquer protesto que tivesse.

Não que tivesse algum.

Aoi correspondeu ao beijo, de novo faminto. Ainda se surpreendia com a capacidade de Uruha em despertar todos os seus instintos apenas ficando a seu lado. O beijo terminou, mas como sempre entre eles, pouco demais. O moreno escorregou o corpo, gemendo com o contato e erguendo um pouco a cabeça, lambeu o pescoço esguio.

Uruha gemeu, excitado e se entregou, apaixonado. As roupas se tornaram desnecessárias e logo, os gemidos de prazer e as respirações entrecortadas eram os únicos sons no quarto.

Depois do prazer, Aoi não conseguiu segurar o próprio corpo e se deixou cair sobre o peito de Uruha, tão arfante e exausto quanto ele. O loiro o ajeitou, franzindo a testa tanto pelo esforço quanto pelo frio que sentiu ao sair do amante. O moreno resmungou, protestando e Uruha riu, divertido.

Apesar de suados e sujos, ficaram abraçados, aproveitando o calor um do outro.

- Não estou muito pesado? – Aoi perguntou, depois de um tempo.

Na verdade, o moreno não queria sair dali, sentindo o calor da pele do namorado e o coração dele batendo forte, mas sabia também que o outro estava tão cansado quanto ele.

- Amo você.

Aoi congelou. Já tinha perdido a esperança de ouvir Uruha repetir as palavras ditas há tantos anos e agora, quase não podia acreditar e teve medo de se mexer e descobrir que estava sonhando. Devia saber que o homem a quem aprendeu a amar com tanto abandono não o deixaria se sentir tão perdido quando se sentia. Uruha se mexeu e o fez erguer a cabeça e encará-lo.

- Amo você, Yuu. – ele repetiu, sério.

O moreno tentou responder, mas não conseguiu. Encarou os olhos mais claros que os seus e não pode deixar de acreditar. Não havia sombra ou dúvida naquele olhar e por um momento louco, achou que não merecia. Não depois de tudo. Mas mesmo assim, sorriu.

- Também te amo, Kouyou. – Aoi respondeu, sem tirar os olhos do amante.

Ambos sorriram e então, o moreno se inclinou, contornando com a língua os lábios entreabertos do loiro. O beijo foi calmo, saciado, mas nem por isso menos intenso e ambos gemeram quando Uruha apertou os braços em torno do corpo nu do amante. A fome voltou, como sempre entre eles, mas não tão avassaladora quanto antes. Quando a respiração faltou e o beijo foi forçosamente encerrado, Aoi se deitou de novo no peito de Uruha, ajeitando-se. Fechou os olhos e sem perceber, acompanhou a respiração do loiro até se acalmar, mas não dormiu. Sorriu de leve ao sentir a carícia suave em seu cabelo e de repente, se lembrou das “coisas rosas” que Ruki tanto detestava e se fossem momentos assim, sabia porque Uruha defendia tanto. Era incrível simplesmente ficar junto, ser acariciado e mimado.

Tentou ignorar a vozinha que o lembrou que não foi o único homem que dividiu momentos assim com Uruha. Engoliu o ciúme e respirou fundo.

- O que foi? – Uruha perguntou, baixinho.

- São momentos assim que chama de “coisas rosas”? – o moreno perguntou, tentando disfarçar.

- São. – o loiro respondeu, calmo.

- Posso me acostumar com isso. – o moreno murmurou, baixinho.

Uruha riu, divertido.

- Isso faz tanto tempo. Porque se lembrou agora? – perguntou, parando o carinho no cabelo do guitarrista moreno.

Aoi ergueu a cabeça e o encarou.

- Achei importante. – respondeu, simples.

O loiro o olhou e o moreno engoliu seco diante da intensidade.

- Só isso? – perguntou, sagaz.

- O resto deixa para lá, não é importante. – Aoi acrescentou, tentado a voltar a se aninhar.

- Aoi.

O som do apelido naquela voz rouca fez o moreno parar e tentar pensar rápido numa saída, mas descobriu que não podia. Não queria trazer Kovu para a cama com eles, não depois de ouvir Uruha dizer que o amava de novo.

- Estou pedindo, deixa para lá. – Aoi respondeu, sincero.

Uruha o encarou por algum tempo e então, levantou-se, obrigando o mais velho a se afastar. Os guitarristas se olharam e o loiro sorriu.

- Vai reclamar se eu falar em banho? – perguntou, divertido.

Aoi rolou os olhos.

- Você é um caso de polícia! – reclamou, aliviado.

O moreno não reclamou muito. No box, Uruha se deixou ensaboar e Aoi descobriu que “coisas rosas” também podiam ser excitantes. Na verdade, riram mais do que namoraram. Essa mania de Uruha já tinha causado estranheza no início, mas teve que admitir que o banho deixava o resto da noite mais íntima e gostosa e a manhã seguinte, sem tantos constrangimentos. Depois do banho, o moreno vestiu suas próprias roupas para dormir, agradecendo ter tido a idéia de trazer algumas de suas coisas para o apartamento de Uruha. Também tinha coisas do loiro no seu apartamento, para facilitar.

Aoi juntou as roupas e Uruha trocou os lençóis da cama e depois de tudo organizado, se deitaram. O moreno não quis saber e reivindicou o mesmo lugar para dormir, arrancando uma risada do amante.

- Acho que criei um monstro. – o loiro comentou, resignado.

Foi a vez do moreno rir, divertido. – Quem mandou ser quentinho e macio? – perguntou, puxando o edredon para cobrir os dois.

Depois de mais algumas risadas, eles se ajeitaram para dormir e Aoi ficou em silêncio, sentindo o abraço de Uruha e as batidas do coração do guitarrista. Depois de alguns minutos, a respiração dele se tornou mais pesada e o mais velho ergueu a cabeça, sorrindo ao constatar que o outro dormiu. Voltou a deitar a cabeça, escorregando um pouco para aliviar o peso sobre o peito do amante, mas em reflexo Uruha o segurou com um pouco mais de força. O guitarrista moreno ficou imóvel, tentando não acordar o outro e só relaxou quando percebeu que não o tinha feito.

Ficou observando o rosto delicado adormecido, deslizando os olhos pelos traços finos e bem desenhados. Sorriu, ao perceber a situação.

“Devo parecer uma garota apaixonada.” Pensou, divertido.

Deitou novamente a cabeça, afastando-se lentamente para não pesar sobre o braço do guitarrista adormecido. Aoi lamentou ter que fazê-lo, mas não ia deixar o amante desconfortável. Quando se viu livre, sentou-se e ficou observando o outro homem. O corpo reclamou do esforço e ele suspirou, deitando-se de novo. O moreno sentiu Uruha se mexer e inconscientemente, se encostou a ele e fechou os olhos.

Não sabia quantos dias tinham se passado desde a primeira declaração de Uruha. Não sabia dizer quantos altos e baixos tinham passado até que chegassem até ali. Ambos viveram outros relacionamentos, e Uruha passou pela dor de perder quem amava.

O coração do moreno falhou uma batida e ele se encolheu contra o corpo maior, buscando apoio. Talvez tocado pela necessidade do amante mesmo no sono, Uruha passou o braço pela cintura dele.

Aoi apertou o edredon, respirando fundo. Em momentos como aquele, tinha que ser muito mais do que jamais pensou que seria para não se sentir feliz com a morte de Kovu. Sabia que o loiro nunca os comparou, como nunca comparou os sentimentos, mas não podia evitar se sentir inseguro. Respirou fundo de novo e se virou no abraço de Uruha, fechando os olhos com força.

- Quase consigo ouvir seus pensamentos. – o loiro murmurou, colando o corpo ao de Aoi – Porque está tão tenso?

Aoi abriu os olhos imediatamente, sentindo-se totalmente vulnerável ao ouvir a voz rouca e profunda do namorado. Não soube o que dizer.

- Eu... estava pensando... desculpe se te acordei. – o moreno respondeu, sem se virar.

- Está muito pensativo... – Uruha tornou, soando preocupado.

- Não consigo evitar. – Aoi tentou sorrir e parecer despreocupado, mas sabia que falhou.

- O que está acontecendo? – o loiro perguntou, incisivo.

O silêncio demorou tanto que Uruha começou a se levantar, alarmado. Aoi se sentou na cama, sem se virar. O loiro também se sentou e colocou a mão no ombro do namorado.

- Aoi... – chamou, preocupado.

- Pode repetir, por favor? – a voz do moreno saiu num murmúrio – É só que...

Uruha sacudiu levemente a cabeça e encarou a nuca de Aoi com um olhar indecifrável.

- Então vire-se. – pediu, soltando-o.

Aoi respirou fundo e se virou, encarando o loiro. Uruha quase gritou de frustração ao ver a insegurança no olhar do amante, mas se conteve.

- Eu amo você, Aoi. – repetiu, sério.

O mais velho se encolheu, sem tirar os olhos do namorado.

- Eu... precisava ouvir... esperei tanto... – murmurou, sem desviar os olhos.

- Você sempre soube. – o loiro comentou, ainda sério.

- Mas não agora... quero dizer... – o moreno hesitou, finalmente desviando os olhos e passando a língua pelos lábios subitamente ressecados – Você me amava antes... e depois eu magoei você e... – fez um gesto vago, respirando fundo.

- Porque está pensando nisso agora? – Uruha perguntou, curioso.

- Eu não sei. – o mais velho respondeu, sincero. Passou a mão pelo cabelo, parecendo envergonhado – Nem sei porque desenterrei tudo isso... não sei explicar...

Uruha o observou por algum tempo, fazendo Aoi se sentir ainda mais vulnerável. Depois de algum tempo, o loiro respirou fundo e se deitou, puxando o amante com ele. Aoi não disse nada e o acompanhou, deitando-se ao lado dele.

Por um longo tempo, nenhum dos dois disse nada e então, o moreno quebrou o silêncio.

- Eu te amo. – disse, entrelaçando os dedos nos do guitarrista loiro.

- Eu sei.

Aoi não evitou o sorriso diante da resposta curta e segura do namorado. Cansado, se ajeitou e fechou os olhos. Dessa vez não houve um tropel de pensamentos perturbadores, nem lembranças incômodas. O guitarrista moreno simplesmente adormeceu.

Uruha ainda ficou acordado um tempo mais, mas as lembranças para ele foram diferentes. Com uma expressão serena, o loiro encarou o teto por algum tempo até sentir Aoi adormecer e então sorriu de leve.

Não podiam dizer que não tinham um passado pesado, mas passado era passado e ele se recusou a permitir que tivesse uma importância maior que uma lição valiosa e uma lembrança terna de um grande amor. Kovu estava lá, era seu passado, junto com muitas lembranças e nem todas boas.

Ajeitou Aoi no abraço e fechou os olhos, cansado. Entendia como as lembranças podiam afetar Aoi e deixá-lo inseguro, mas não podia enfrentar aquilo no lugar do namorado. Ele teria que enfrentar seus fantasmas sozinho, como todo mundo. Uruha também os tinha, mas sabia lidar com eles. Aprendeu antes que enlouquecesse, e também porque não queira esquecer. Se esquecesse, poderia perder coisas importantes. Houve dor e lágrimas, mas também houve amor.

Podia dizer que ambos eram pessoas melhores, com mais experiência. Estavam melhores como músicos e como compositores. Ambos aprenderam a exercitar a paciência e a não esperarem demais um do outro. Ambos eram humanos, sensíveis e complicados como a maioria dos músicos, pessoas diferentes e complexas, que viam o mundo de maneira diferente um do outro e ambos, do resto do mundo. Qualquer sentimento ou ação podia se transformar em uma letra interessante, ou inspirar uma sequência perfeita.

Aprenderam a valorizar os momentos perfeitos, mas isso não significava que não existissem brigas, ou momentos tensos. A vida era assim.

Nesses momentos, todos eles, todos os cinco músicos aprenderam a parar e respirar fundo. Tinham conseguido muito, mas queriam mais. E sabiam que conseguiriam.

Uruha sorriu e se repreendeu. Estava fazendo como Aoi, se deixando levar por pensamentos. Ajeitou o namorado nos braços de novo e se concentrou em dormir.

Amanhã era outro dia.

Kayako – personagem que assombrou o filme “O grito”.

Dorayaki é um tipo de panquequinha recheado com doce de feijão (anko) ou com creme.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Bem, aí está! Com um atraso enorme, mas enfim terminada. Peço desculpas por todo esse tempo, mas acabei tendo que enfrentar um bloqueio. Não sei se já superei, mas tenho feito o possível para conseguir fazer o melhor, ainda que não o ideal.
Não para mim.
Eu não esperava metade do que tive que enfrentar quando criei minha vida virtual. Quando comecei a escrever, não achei que me exporia tanto. Na verdade, nunca quis essa exposição.
Mas aconteceu, e eu tive que enfrentar meus demônios, alguns que eu nem sabia que existiam.
Não sei dizer se foi bom ou ruim. Na hora, com certeza foi péssimo, mas depois pude ver que talvez, não houvesse realmente tons de cinza.
Afinal, não pode chover todo dia, não é?