O M A K E !!

O dia em que Silver e Kotone fizeram as pazes.

Kotone respirou fundo.

Por quê? Era o que ela estava pensando enquanto voltava da casa de sua amiga, Crystal, a qual quase a matara de tanta preocupação quando descobriu que estava doente.

Não, sério.

A garota, quando recebeu a notícia, teve que ser segurada por Gold e Silver para que não saísse correndo da sala e matasse aula só para ver como a amiga estava. Depois de alguns berros, algumas broncas e do professor finalmente intervindo na situação, Kotone finalmente sentou a bunda na carteira e ficou batendo os dedos na mesa enquanto esperava pelo final das aulas.

Não é preciso nem dizer que quando o sinal bateu, ela já estava no final do corredor, certo?

Bem, de qualquer forma, a garota estava feliz pela sua amiga estar se sentindo melhor, mesmo que ainda estivesse com febre. A morena teve um pouco de receio em deixar seu amigo de infância cuidando dela, mas concordou assim mesmo. Afinal, ela sabia que Gold cuidaria bem dela.

Ele pode ser meio idiota ás vezes, mas se preocupa bastante com seus amigos.

–Heh. – A menina riu em pensamento. – Sorte para você, Crys!

Ora, por favor! Não era preciso ser advinho para saber o que raios se passava na cabe- Não, melhor dizendo, no coraçãozinho da sua amiga de olhos cristalinos. E ela tinha quase – mais para o lado de sim – que o outro jovem sentia o mesmo.

Que sortudos. Ela não pôde evitar de sorrir levemente, feliz por aqueles dois.

Ela, por outro lado...

–Urg...

Tinha de voltar para casa com o cabeça-vermelha-esquentadinho-e/ou-apático-demais-que-brigara-com-ela-e-se-recusava-a-pedir-desculpas.

Também conhecido como Silver.

A morena olhou para o jovem em questão pelo canto do olho, percebendo a distância a que estavam e como ele não resolvera falar nem um “ah” que fosse com ela desde que saíram da casa de Crystal.

–Idiota. –Ela pensou, estufando as bochechas. – Pelo menos assuma a responsabilidade e peça desculpas!

As brigas entre eles não eram novidade. Sinceramente falando, os dois brigavam desde o dia que se conheceram pela primeira vez aos 9 anos de idade.

Mas o que acharam que seria uma forte rivalidade, aos poucos acabou se tornando uma amizade plena. Eles brigavam, mas eram amigos e não queriam negar isso.

Ela gostava dele, gostava de tê-lo por perto. Por mais que Silver gostasse de negar, Kotone sabia que ele era uma boa pessoa, de verdade.

Por causa das poucas coisas que fazia. Como ajudar um bicho que subiu na árvore e não conseguia descer, como tirá-la do sufoco quando precisava estudar ou como sempre – apesar de negar que era esse o caso – estar sempre ao lado deles e ajudando se precisassem.

Ele não era sociável, muito menos simpático e parecia ter um pavio absurdamente curto às vezes.

Mas ele era verdadeiro. Não havia como negar.

Quando a garota se deu conta disso, foi no mesmo momento que se deu conta de que começara a olhá-lo com outros olhos. Silver não era mais só o amigo de Gold que ela conhecera e se tornara amigo dela também.

Ele era o garoto que fazia seu coração palpitar.

E o mesmo garoto que a fizera conhecer a sensação chamada: se apaixonar.

Ah, que estranho, não? A maneira como as coisas acontecem. Quem imaginaria que aquele com quem ela sempre briga seria a pessoa mais importante para ela?

Bem, nesse aspecto, ela e Crystal eram iguais.

–Você tá parecendo um balão. – Uma voz a chamou. Kotone estufou ainda mais as bochechas e encarou o jovem ao seu lado.

–Isso é tudo que você tem a dizer?!

–Lógico. Por causa dessas suas bochechas absurdamente grandes.

A garota sentiu uma veia saltar em sua testa.

–É muito rude dizer isso para uma garota, sabia?

–Hm.

Maldita apatia! A morena agarrou o tecido da sua saia e respirou fundo. Mas que coisa, por que tinha que ser assim? Além de ser frustrante brigar com ele, doía. Por que ela gostava dele, de verdade.

–Já não acha que tá na hora de pedir desculpas, não?

–Quem tem que pedir desculpas e você, não eu.

–Como é? Quem foi que rasgou o meu chapéu favorito ao meio mesmo?

–Já falei que aquilo foi um acidente. – Ele finalmente a olhou. – E não é como se você fosse sentir falta daquele chapéu idiota.

–Era o meu favorito! – Ela bateu o pé.

Ah, nada bom. Está certo que ela queria que ele pedisse desculpas para que pudessem fazer as pazes o mais rápido possível, mas por que tinha que ser tão difícil?!

–Se você não tivesse tentado subir naquela árvore depois que eu finalmente peguei aquele seu chapéu estúpido, isso não teria acontecido.

–Ah! Agora a culpa é minha?!

–É claro!

A garota bufou, ignorando completamente uma vozinha no fundo da mente dela pedindo que parasse. Tudo bem, talvez metade da culpa tenha sido dela e Kotone não era uma pessoa orgulhosa, mas ela estava chateada. Não conseguia pensar nisso direito.

Antes que a garota pudesse falar alguma coisa – o que provavelmente pioraria a briga – Silver foi mais rápido e tampou a sua boca.

–Não, chega. – O ruivo falou e começou a remexer em sua bolsa, tirando algo branco de dentro dela logo depois. – Toma.

A garota piscou e segurou o objeto. Era o seu chapéu, remendado.

–Mas hein...?

–Eu já estou cansado dessa briga. – Ele olhou para o lado. – Então... É.

A morena ainda olhava incrédula para o chapéu, ela passou os dedos pelos remendos. Estavam mal feitos, muito mal feitos. E por causa disso, ela não conseguiu conter o sorriso que tomou conta de seus lábios.

–Foi você que..?

–L- Lógico que não.

O garoto pedira ajuda à Crystal, mas ele com certeza não iria admitir que a mesma o obrigara a costurar tudo sozinho.

Kotone soltou um riso abafado. Ele já foi melhor mentiroso que isso.

–Sinceramente, você é uma dor de cabeça.

A garota piscou e o sorriso sumiu de seus lábios.

Ora, muito obrigada, seu estraga-prazeres!

–Ei, o q-

–Mas... – Ela notou um leve tom de rosa nas bochechas do garoto a sua frente e isso só fez com que ela prestasse ainda mais atenção no murmúrio que ele soltou pouco depois. – Você é a minha dor de cabeça, então tudo bem.

Ela o encarou. Qualquer um não perceberia o verdadeiro sentido daquela frase e provavelmente encararia como uma espécie de insulto.

Mas não ela.

Kotone escondeu o rosto por trás do seu chapéu, sentindo as bochechas arderem enquanto outro sorriso, ainda maior que o ultimo, tomava conta de seu rosto.

–Kotone?

Ela levantou a mão e esticou o dedo mindinho.

–Ah, não.

Ela esticou ainda mais a mão, ainda com o rosto escondido.

–Não somos mais crianças e- Ah! Tá bom, tá bom. – Silver exclamou para o dedo mindinho que estava praticamente encostado no seu rosto. – Já entendi.

Quando Kotone finalmente sentiu o mindinho dele envolvendo o seu próprio, ela deixou seus olhos à mostra.

–Isso é constrangedor. – O tom de rosa ficou ainda mais visível no seu rosto.

–Ora, vamos. – Ela riu. – Não tem ninguém vendo mesmo.

Silver suspirou. Depois dos poucos minutos que ficaram conectados pelos seus mindinhos, ambos se soltaram e voltaram a andar em direção a estação. Conversando sobre uma coisa ou outra normalmente, como se a briga de antes nunca tivesse existido.

Kotone nunca mais usou aquele chapéu, até porque o remendo mal-feito dificultava isso. Toda às vezes que sua mãe dava a ideia de jogá-lo fora, a menina recusava firmemente.

Afinal, ele era seu chapéu favorito. O seu pequeno tesouro... Ainda mais agora, por um outro certo motivo.