Facção. Dos. Perdedores escrita por jonny gat


Capítulo 74
Mario e... Mario e... 1145...




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A história de Mario voltará a cruzar com os alienígenas que o estudaram e o mantiveram em uma simulação.

Dessa vez, o agente que estava cochilando ao lado do transmissor de mensagens de hiperondas era 1145. Sei que você não o conhece ainda, mas terá a chance de conhecê-lo nesse capítulo. Gostava de tomar café frio durante seus expedientes e dormir em cima dos poemas que escrevia. Não levava seus poemas a sério, mas nos últimos quatro anos se tornou um passatempo bastante interessante. Tinha saudades, ou talvez não tinha, não tinha certeza se o que sentia era tédio ou saudades, da época em que tinha trabalhos. Desde o dia que os deuses começaram a batalhar, não houve mais necessidade de operações secretas em outras civilizações extraterrestres ou mesmo dentro do seu próprio sistema. Todos os aspirantes a revolucionários e forças que contrariavam a iminente expansão infinita liderada pelos deuses guerreiros podiam ser encaradas frente a frente, não precisavam mais de espiões ou assassinos sorrateiros.

Depois de muito e muito tempo sem que o aparelho de hiperondas tocasse, ele então tocou. Isso foi o suficiente para que 1145 acordasse com um susto. O telefone tocou por mais alguns segundos enquanto ele averiguava a possibilidade de ser alguém de marketing hiperônico ou alguém que acidentalmente tinha ligado para a Agência Super Secreta de Espionagem Governamental. Não era como se isso fosse possível, até porque ninguém acidentalmente digitaria 19023409328423923=-40239423-0942340-23023 em um mundo onde números hiperônicos tinham geralmente apenas doze algarismos. Gatos talvez. Essa era uma possibilidade.

Atendeu esperando ouvir gatos ronronando, mas era o que ele mais temia: O Quartel General. Uma emergência que apenas ele poderia resolver. O último espião, o único que não tinha se demitido por conta do tédio de todos esses anos sem que aquele telefone tocasse. O único que preferia estar ali do que estar em casa ou em um trabalho em que se faz alguma coisa. A verdade é que 1145 sempre foi um tanto preguiçoso, algo que era criticado bastante, mas ele simplesmente não se importava com isso.

Existiam momentos, entretanto, que sentia como se o açúcar tivesse subido no sangue e a preguiça ia embora. Momentos em que uma grande aventura estaria em sua frente, ou descobriria algum segredo. Por isso que se tornara um espião. Na verdade começou sua carreira nas forças armadas e era bastante tedioso controlar aqueles drones, acabou que foi promovido para o Esquadrão AntiTerrorismo HiperPlanetário, que era bastante emocionante também. Do outro lado da linha, Comandante 333335 disse:

— Temos um trabalho para você, 1145. Como você sabe, o Quartel General está em um difícil processo de reconstrução. E, como você também sabe, isso é mentira. O Quartel General, assim como toda nossa sociedade e todos os planetas em que nossa raça tem domínio, principalmente aqueles onde o domínio foi eventualidade do Alvorecer dos Deuses, está em caos. Não sei se essa mensagem vai chegar a você, mas, se chegar, você tem que seguir minhas ordens. Nossos sensores na Simulação Mario foram ativados, isso significa que alguma forma de vida está presente nessa simulação em especial. E, como você sabe, só existe uma forma de vida cuja mente e sistema neurológico são compatíveis com aquela simulação. Como você sabe, normalmente eu te passaria um relatório sobre essa missão, mas, como você sabe, a situação não é propícia para que possamos esperar por essas formalidades. Você não sabe disso, mas... Esse homem... Esse único homem... É o grande responsável pela Alvorada dos Deuses. Vá lá e descubra o que ele está fazendo lá, descubra por que a Alvorada se tornou a Queda. Essa talvez seja a sua grande missão, 1145. Essa talvez seja a missão que pode restaurar a paz no mundo.

E esse era o fim da mensagem. Óbvio, aparelhos hiperônicos não são aparelhos em que você consegue ter uma conversa ao vivo com a pessoa do outro lado da linha – deixo claro que não existe linha e que essa tecnologia funciona na base de transmissão hipergaláctica de hiperondas. A mensagem do Comandante, do Quartel General, vinha da base geral de operações importantíssimas do planeta geral. Enquanto 1145 estava limpando a baba de seus poemas, agora ilegíveis, no centro de operações secretas do Sistema de Nova Erídia. Eram alguns milhares de anos-luz, mas ainda assim a mensagem chegou em menos de quarenta segundos graças à belíssima tecnologia que todo mundo tinha em casa e nunca pensara que “nossa, quarenta segundos é bom demais”.  Na verdade, todos queriam poder se comunicar ao vivo com seus parentes e companheiros do outro lado da galáxia, mas a tecnologia não tinha se inovado tanto assim.

1145, ao invés de permanecer imerso nos seus pensamentos de do que a missão se tratava, levantou-se porque percebeu que uma hora ou outra teria que fazê-lo. Estava sentindo aquela sensação que sentira quando comia duas colheres cheias de açúcar. Não sabia muito o que fazer, mas precisava fazer certo para poder salvar a galáxia. Pegou seu desmaterializador enferrujado e testou no copo de café frio vazio. Errou. Precisava ajeitar as configurações dele, ou talvez voltar a ter o jeito com a arma.

Mario estava bem, bemzinho, em uma situação bem gostosa.

Era o sentimento quente que entrava nele e o fazia se separar em diversas partes de si mesmo para sentir então o tempo se esgotando e passando bem a frente dos seus olhos. É claro que ele não conseguia entendê-lo bem, o tempo, ainda mais quando conseguia observá-lo claramente no instante em que viajava através dele. Não entendia muito bem o que via, e é o Mario professor de Cronomia que estamos falando.

A sensação enquanto a viagem é feita é diferente para cada um. O Mario parasita, aquele que já tivera seu corpo morto e agora residia misteriosamente dentro da mente do Professor Mario, costumava sentir uma sensação não tão agradável assim. No momento, ele não sentia nada anormal. Não sentia a viagem no tempo, apesar de ter consciência que isso estava acontecendo. Observava com os mesmos milhões de olhos que o Professor tinha a viagem e parecia diferente da sua perspectiva. Finalmente, depois de vários capítulos sem ser mencionado, sua viagem estava acabada.

A viagem que o Professor fizera não era apenas uma viagem pelo tempo, mas também uma viagem através dos incontáveis quadrados que participam da dinâmica do universo. Fizera isso por quê? Não era o seu objetivo, foi um acidente. Apenas tinha calculado da forma mais rápida possível um lugar seguro onde pudesse se teleportar e pudesse fazer cálculos melhores para conseguir salvar o universo seu que fora inconvenientemente destruído. Enquanto pensava sobre como isso seria complicado e talvez não fosse algo que realmente pudesse mudar, apesar de ter as suas esperanças, o parasita observava os pensamentos e as incertezas do professor como um filme. Era engraçado como a mente dele funcionava, talvez todas as mentes são engraçadas assim, pensou Mario, que tinha começado a pensar que talvez ficar ali não era tão ruim assim, mas ainda não conseguia se localizar e tinha tantas incertezas quanto o doutor. O doutor, também, não conseguia se localizar.

Diferente do Mario parasita e de diversas outras versões de Mario que rodeavam o multiverso, Professor Mario não tivera a experiência de viver num mundo falso, numa simulação. Sua vida fora completamente normal. Nascera, tinha pais com quem convivia, estudara, trabalhara, até um dragão destruir seu planeta apenas por diversão. É claro que ele não sabia ainda da parte do dragão.

Quando o hospedeiro conseguiu localizar-se pensou que isso talvez fosse uma grande brincadeira do destino. Esse, que na verdade, não tinha nada a ver com isso. Estava de volta em sua velha e falsa Pinball Wizard, que não parecia ser muito semelhante à Pinball Wizard onde o acadêmico tinha nascido, até porque não conseguia identificar nenhum edifício. É claro que as semelhanças não passaram despercebidas. Tudo estava congelado e bastante frio. Frio até demais. Foi quando percebeu que precisava andar encolhido tentando se esquentar e seu nariz já estava entupido demais para conseguir que alguém ar transitasse por ele.

Sua Pinball Wizard era uma terra fria cujo frio o doutor nunca tivera sentido. Era a terra da tecnologia, as pessoas circulavam tranquilamente sem a necessidade de ter alguma preocupação de morrer de hipotermia. Viviam no luxo das passagens fechadas e aquecidas, como tubos gigantescos.

Professor Mario começou a sentir nostalgia que não fazia muito sentido. Quer dizer, até tinha considerado que aquela pode ser a Pinball Wizard do passado de uma outra Terra, ou qualquer outro lugar congelado de qualquer planeta em que raças humanoides que fazem edifícios similares aos dos humanos em tempos não tão antigos assim. A probabilidade disso era baixa, mas é claro, a variedade do universo é infinita. Então não sentia apegado ao local desconhecido de forma nenhuma, mas seu hóspede estava com todos os sentimentos batendo à porta, e isso estava afetando o seu emocional também. Começou a ficar triste... Chateado... Enfurecido. Antes que pudesse começar a se perguntar o motivo desses sentimentos estarem despertados numa situação em que não normalmente sentiria-os, teve que se perguntar o motivo de não estar conseguindo se mover. Nenhuma parte do seu corpo. Não tinha congelado ainda, mas provavelmente congelaria em trinta minutos ali.

— É aqui que eu entro – disse 1145, sorrateiro e discreto, até o momento que pudesse acertar a sua vítima com seu paralisador neural. Estava gostando da situação, estava até se sentindo um espião de verdade e até pensou “nossa, eu sou um espião de verdade”. Antes que concluísse esse pensamento percebeu que sua situação realmente estava triste por nem ele mesmo se considerar um espião de verdade.

Mario não conseguia mexer seu maxilar. Suas palavras não saíam, apenas sons difíceis de entender. 1145 se apresentou de frente para o alvo.

O Professor não conseguiu identificar quem era ou o que era aquela espécie humanoide, mas pelo menos conseguiu concluir que aquela provavelmente não era realmente a Pinball Wizard, pelo menos não a que conhecia. Mario, o Mario que conhecemos desde o início, percebeu que eles estavam em um problemão. Queria se mexer, mas nem mesmo se o corpo do doutor estivesse apto para manobras poderia ter controle das ações. Ficaria ali, observando como a história daquele seu outro eu rumava. Provavelmente não muito bem.

— Olá – disse. – Sou 1145, prazer em conhecê-lo. Preciso fazer com que você salve o mundo.

Mario não disse nada, e 1145 estranhou. Suas entradas triunfais geralmente faziam com que seus cativos ficassem enfurecidos porque, quando 1145 se apresentava, era porque o plano do seu alvo já tinha sido completamente sabotado pela sabedoria e perspicácia de 1145. Os xingamentos não vieram dessa vez e estranhou até olhar pra arma em sua mão e lembrar “ah, eu esqueci”. Mexeu um pouco na arma e atirou um projétil invisível de ondas neurais que permitiriam que o homem pudesse mexer sua boca. Professor percebeu que agora poderia falar, e pode finalmente voltar a respirar com a boca.

— O que, meu caro? – disse, depois de algumas arfadas.

— Sei o que você sabe. – Não sabia, mas isso costumava funcionar.

— Eu não sei como interpretar... Essa frase... – Voltou a respirar, com dificuldade. – Não sei em que contexto estamos, não sou daqui, meu caro.

— Mas você foi feito para aqui, não é mesmo, Mario? – revelou uma das informações que tinha, com a intenção de fazer com que o professor se surpreendesse. Mesmo sem ter recebido relatório algum sobre a missão, fez seu dever de casa e descobriu que

Mario se surpreendeu, sim, mas não tinha tempo e nem vontade de perguntar o motivo disso tudo porque 1145 não seria muito explícito. Não conhecia o sujeito, mas tinha a impressão que ele era o tipo de jogar joguinhos. E não queria jogar joguinhos, não naquele frio, não enquanto estava mais focado em se lembrar dos seus cálculos necessários para salvar o mundo.

Os joguinhos de 1145 iriam salvar o mundo. Cada aspecto dessa abordagem seria importante para conseguir a informação que salvaria a sua sociedade do completo caos anárquico. Era essa sua opinião honesta.

— Do que está falando, meu caro? – disse Mario, depois de voltar a respirar com dificuldade. Sua garganta teria problemas se continuasse assim, já sentia seus lábios secos de frio. Por outro lado, 1145 estava bem agasalhado e não mostrava nenhum sinal de estar sentindo algum frio.

— O que você sabe sobre os Deuses? – perguntou 1145, que por algum motivo sentiu com pressa e todo o prazer de seu trabalho tinha ido embora. Tinha vindo a parte mais chata: a de tentar tirar informações dos que se negavam a isso.

Professor Mario, obviamente, não entendeu o contexto da pergunta. Mario sim entendeu, mas não era como se pudesse responder por ele. Nem sabia se, caso estivesse controlando o corpo, iria responder essa pergunta. A situação estava estranha demais para o jovem viajante no tempo que tinha dúvidas do que estaria prestes a acontecer.

— Do que você está falando, meu caro? – repetiu o Professor. – Por favor, me solte, preciso... Salvar o meu mundo, meu caro – disse, sincero e com um desespero crescente em seu coração. Não queria ver como essa situação desencadearia. Suas suspeitas eram que seria apenas atrasado, e não queria isso... Qualquer atraso representaria uma dificuldade maior ao refazer os cálculos.

— Precisa salvar o seu mundo? E o que acha que estou fazendo aqui? Estou salvando o meu – disse, tentando acreditar que seria um herói ao completar esse objetivo. Mas não tinha muita certeza. – As informações que eu conseguir de você serão o suficiente para tirar nossas terras e nossa espécie do caos.

Professor Mario se surpreendeu, com dificuldades de compreender o contexto de 1145. Que informações ele teria? Deuses? Do que essa criatura humanoide azul estava tentando retirar dele? Nessas situações, o professor preferia ser sincero. Nunca passara por situações dessas, já que vivera uma vida monótona estudando a dinâmica tempo-espacial. Fortemente pensava que, sendo sincero, as coisas trabalhariam para dar certo para ele.

— Eu não sei que informações você procura, mas temo que não as encontrará comigo, meu caro.

— Não esconda de mim, pois no final, hei de retirá-las de você.

— Não... Não, meu caro. Não precisa de toda essa encenação, eu realmente não sei do que você está falando. Não sou daqui, nunca vi para cá. Não sei em que planeta estamos, não sei em que galáxia estamos, não sei ao certo em que linha do tempo estamos. Posso apenas supor, e de nada vale suposições em quesito de viagens temporais, meu caro. Mesmo tendo sido professor de suas dinâmicas, meu caro, pouco ainda posso ter certeza. Algumas ciências nunca serão completamente entendidas, meu caro, é o que eu acredito – concluiu Mario.

1145 estava com o pressentimento de que isso era um grande mal entendido.

O que Mario provavelmente não esperava, e com certeza não tinha ideia, tanto o professor quanto o viajante no tempo aventureiro que está conosco desde os primeiros capítulos da segunda temporada, era a profundidade do que estava prestes a se meter. Bem, para começar, é complicado até mesmo explicar o contexto da história com os recentes acontecimentos e é de se acreditar que isso não será resolvido no restante dos capítulos, é capaz de a dificuldade em explicar um contexto e consequentemente arrumar um método de conseguir atualizar a sinopse dessa fanfic sem que qualquer pessoa que tenha vontade de lê-la pela primeira vez acabe desistindo de tentar começar e também desistindo de tentar entender. Não vai dar pra entender, infelizmente.

— Tudo que eu sei que é meu mundo explodiu e aqui estou para tentar salvá-lo, meu caro. Para tentar voltar no tempo e fazer aquilo o que eu devo fazer para que aquele não seja o fim de meus amigos e também dos desconhecidos que povoam meu planeta, meu caro. – Mario estava sendo sincero, tentando apelar para o coração daquela criatura humanoide, seja lá como ele seja ou se em sua cultura o coração esteja de alguma forma interligado com as emoções profundas como compaixão e pena.

Enquanto a crise na Terra do Professor acabaria com toda forma de vida, a no mundo de 1145 era um tanto diferente. Várias formas de vida já foram acabadas, e, com a expansão intensa de seu governo e sem a ajuda da força divina, o governo tinha dificuldade de conseguir manter a administração de todas as escalas de sua sociedade. O lucro vinha com base nas guerras que eram feitas sem antes pensar, que agora não eram tão possíveis por conta da forma que estavam abandonados. 1145, apesar de não pensar tanto assim de política e não ter muita ideia de que a crise era só de fator político e social – não de fator físico e místico como a morte de milhares de planetas e de um Universo inteiro por um dragão que na verdade adora quadrados –, estava começando a pensar a respeito disso tudo. Será que trazer os deuses de volta ajudaria com que seu povo voltasse á glória? Será que era necessário? Será que mais guerras eram necessárias? Ele não pensou nisso antes, poucos de sua geração, a geração milagrosa, pensavam nisso. Desde o Auge dos Deuses, a cultura da sua sociedade era a cultura da guerra.

Ele não se importava com a guerra, nem participava dela. Era apenas algo natural, algo que acontecia e, como um esporte qualquer, era anunciado na televisão dia após dia a conquista de certo planeta ou certa lua. Depois do genocídio do povo que vivia naquele local, chamavam os mais jovens para povoar esse novo planeta conquistado. Isso aconteceu por anos, bastantes anos. Ele sabia que algumas pessoas trabalhavam com a guerra, e sabia que sua nação era forte, mas nunca pensou nos outros, os que morriam do outro lado. Os jornais nunca falaram dos outros, nunca falaram dos que simplesmente eram massacrados enquanto bebiam seu café da manhã, passeavam com seus cachorros, acasalavam ou meditavam. Da mesma forma que os do planeta de Mario morreram.

Então foi o que ele pensou... Se os deuses permanecessem, será que poderia estar vendo esse homem hoje? Não que tivesse nenhum laço afetivo com o Professor de Cronomia, mas no fundo ainda sabia que a vida era valorizado. A vida do outro, do outro da sua própria espécie, da sua própria nação. Mas não eram tão diferentes, apesar do genoma e tudo mais. Pensando nos seus objetivos em comum, de zelar pelo bem do seu povo, dos que conheciam e dos que não conheciam, percebeu que harmonia poderia ser uma forma de conviver. Mesmo tendo dificuldade em perceber que a guerra era algo drástico, algo que afetava negativamente uns para que o afetasse positivamente, percebeu que... Talvez os Deuses não foram bons para o mundo. Talvez eles tenham ido embora por perceberem, assim como 1145 percebia agora, que o que tinham feito não tinha sido algo bom. Talvez foram embora de volta para seja lá onde vieram, se sentindo envergonhados pelo que tinham feito. O mundo não precisava mais de deuses que matavam e que destruíam tudo...

Se 1145 soubesse o destino que os deuses tinham levado, provavelmente não se sentiri tão arrependido agora pelo mal que sua civilização e seus deuses tinham feito para os outros.

Em um tempo não tão distante nessa mesma galáxia governada por tiranos que utilizavam os poderes de deuses recém-nascidos criados artificialmente pelos avanços na genética divina graças à contribuição de amostras do DNA semi-divino de Mario muitas pessoas morreram pela mão desses próprios deuses que, como animais recém-nascidos e em um novo hábitat, procuravam descobrir qual era sua posição na cadeia alimentar. Testavam seus dentes e suas garras, testavam o gosto da carne de cada animal diferente. Não sabiam que estavam retirando das pessoas sua parte que lhes dava o movimento e a vida. Hoje, no Alto das Constelações, os deuses azuis olhavam para baixo percebendo que o que fizeram fora algo que deveriam se envergonhar, e se envergonhavam de seu passado. Passaram a criticarem seus próprios comportamentos, não apenas seus atos passados, mas também o presente. Como que os deuses sanguinários tinham se tornado seres pacíficos que apenas buscavam o conhecimento e a filosofia?

Chamavam-se de Romanos porque acharam que de alguma forma serviria para eles, depois de lerem um pouco sobre História Antiga Humana da Dimensão 3822819210-V, livro encontrado na Coleção HiperIônica de Livros escrita pelos deuses humanos antes de serem expulsados de lá pela mão sanguinária azul. Eles também se arrependiam de terem assassinado os outros imortais que ali antes estiveram, mas pelo menos não tinham os extinguido da mesma forma que fizeram durante a Campanha Galáctica durante o Auge dos Deuses.

Élio, vestido como um senador Romano, estava sentado na cadeira que há alguns dias teve que limpar o sangue azul das outras divindades. Parecia chateado, parecia arrependido. Procurava ainda gotas de sangue que estavam por lá. Não entendia o motivo de ainda se sentir triste por um fato já acontecido que não se apresentavam evidências em sua mente. Talvez ainda existissem evidências, pensou, talvez pequenas partículas da matéria divina estivesse por lá.

Quando começava a tecer sua teoria sobre física quântica e os menores estados da matéria, foi interrompido, até porque estamos acostumados com cenas de deuses em que eles são interrompidos por outros deuses ou por deuses assassinos. Dessa vez, era apenas outro Romano, seu nome era Filóstrafo, e se vestia como um aristocrata político com lá suas habilidades filosóficas. Ambos não começaram a conversar, na realidade, a chegada de Filóstrafo não fez com que Élio o cumprimentasse. Apenas permaneceu no mesmo estado de espírito e posição de antes, só que agora sabendo que estava acompanhado.

Filóstrafo meramente observou o quarto celestial em busca de algo para que pudesse refletir e, talvez, argumentar com o outro. Seus argumentos eram infalíveis e gostava de demonstrar sua habilidade com eles durante discussões inúteis que não levariam a progresso nenhum em qualquer assunto que fosse a não ser a conclusão que Filóstrafo era realmente bom demais em discussões e não poderia ser derrotado por qualquer um, provavelmente nenhum outro Romano. Ainda chegaria que Filóstrafo, um sofista, encontraria o seu pior pesadelo. Não seria derrotado por Élio, e sabia disso, por isso andava pelo recinto sem nenhum respeito e formalidades.

No mesmo instante, passaram a se encarar e decidiram que talvez conversar não fosse o melhor a se fazer agora. Élio sabia que isso atrapalharia seus raciocínios recentes e Filóstrafo desistiu de querer mostrar a melhor forma de mostrar sua superioridade em argumentos.

Povoavam aquele plano astral como se deles próprio fosse, como se fossem destinado ali desde o primeiro despertar dos olhos num laboratório militar em uma espaçonave isolada da civilização, povoada apenas por cientistas e seres azuis fardados. Não tiveram problemas em se acostumar com a sua nova casa e muito menos em procurar um novo objetivo. Foram influenciados pelas diversas filosofias dos livros das grandes bibliotecas, trabalhos terminados e interminados, para dedicarem-se completamente à filosofia e à ciência. Escreveram inúmeros trabalhos críticos quanto aos livros escritos pelos seus antecessores e criaram seus próprios, tendo como base muitas vezes a visão dos olhares humanos. Desejavam que não tivessem sido bárbaros no passado, que pudessem ter estudado todas as outras espécies que sentiram-se obrigados a matar pouco após do nascimento e que pudessem discutir hoje com os deuses.

Filóstrafo percebeu que talvez descobrisse alguém que pudesse ter dificuldade numa disputa de argumentos. Não era nenhum dos Romanos, até porque nenhum deles o tinha derrotado. Sabia que os deuses humanos tinham escapado, alguns, até porque eram incontáveis e apesar da incrível força bruta que apresentaram durante os Anos  de Carnificina sabiam que uma porcentagem considerável mas não ameaçadora para a sobrevivência da espécie divina tinha morrido. Procuraria por aquele, aquele cujos livros o inspiraram. Teria que encontrá-lo. Sem dizer uma palavra com Élio, desapareceu no brilhar de corpos celestes distantes que apenas estavam representados em outras dimensões daquele plano astral, não poderiam ser tocados.

Em sua jornada em busca de Platão, entretanto, decepcionou-se ao descobrir depois de milhares de anos de jornada que Platão, assim como a maior parte dos deuses humanos, eram apenas charlatões que viviam sem a menor preocupação com a ciência. Tentara começar uma discussão, apenas para saber se poderia se intitular o maior dos debatedores, mas nenhuma de suas tentativas teve sucesso. Platão estava completamente em seu pior estado. Sem o vinho infinito do Alto das Constelações, sentado num cometa qualquer que seguia a sua órbita em volta de um planeta gasoso e sem graça, lamentava-se do vinho perdido e da carne derramada.

Filóstrafo pensou que matá-lo seria melhor para o homem, mas chegou à conclusão que não seria aquele a fazê-lo. Outros deuses chegariam àquilo, talvez os próprios deuses humanos enlouquecessem e começassem a matar tudo e aos outros. Se estivessem como o que sentava a espera de nada naquele cometa qualquer, isso não estaria longe.

Ao voltar para casa, Filóstrafo começou a se indagar se as divindades necessitavam de se manter ao plano astral do Alto das Constelações para manter a sanidade ou se o fato de terem sido bárbaros no plano planetário enquanto filósofos no plano do Alto das Constelações, assim como os humanos que se perdiam no plano planetário, era tudo uma coincidência. Nunca tinha se interessado tanto assim pela ciência autocrítica divina, mas sabia que havia aqueles que se interessavam e sabiam mais que ele sobre isso. Pela primeira vez em muito tempo, conversara com os outros normalmente, sem tentar mostrar-se o melhor em seu atributo que mais se orgulhava. Foi estranho, mas se sentia melhor, se sentia empolgado e vivo. Estaria com Croizat e Greenfield, companheiros que se vestiam de uma maneira mais contemporânea do que o sofista.

Mario não entendia o que o olhar para o nada de 1145 representava, não fazia ideia de quão complexamente o humanoide estava mudando seu olhar sobre as coisas. Não fazia ideia que pouca empatia que 1145 teve com Mario no momento em que foi sincero e disse sobre seus verdadeiros sentimentos e propósitos, que eram bem similares aos de 1145, fez com que o espião detetive entrasse numa crise existencial.

Não sabia que essa cadeia de pensamentos fez com que todo o contexto da vida de 1145 mudasse para que percebesse que seu objetivo era realmente fútil. Ele não estava ali para trazer os deuses de volta e perceber o que fez com que os abandonasse. O abandono era simples... Tinham desistido dos da sua espécie... Dos que utilizaram de sua força e sabedoria apenas para derramar sangue em busca de recursos. Sua missão estava completa, em parte. Não tinha liberado Mario da paralisia e viajado para fora dali em busca do verdadeiro propósito da vida porque já tinha um propósito ali. Um propósito que não tinha pedido e que tinha chegado até ela. Sentia a urgência de ajudar o professor viajante no tempo em sua jornada em prol da vida.

Depois de tantos pensamentos que concluíram-se em apenas alguns segundos, da forma fantástica que a mente pode ser, o azul desativou o efeito paralisante com outro tiro invisível de sua arma. Olhou para o lado, pensador e envergonhado com sua visão de tudo até então, olhou para Mario de volta e disse que o ajudaria.

Mario não conseguia compreender o motivo dessa mudança de eventos, mas não perguntaria. Olhou para o homem, desentendido. Queria perguntar o motivo, mas pensou duas vezes e percebeu que não deveria. Era melhor que as coisas permanecessem assim e pudesse voltar ao trabalho do que ter que ficar paralisado respondendo perguntas que não tinha a resposta.

Mario checou seus bolsos em busca da máquina do tempo especial que tinha utilizado para sair do seu mundo nos seus últimos instantes, mas curiosamente não a encontrou. E começou a se sentir desesperado da mesma forma que você se sentiria caso não encontrasse seu celular ao chegar ao destino. Checou seu outro bolso e... Curiosamente encontrou uma máquina do tempo.

Reconhecia aquele modelo. Um dos mais antigos e menos funcionais, os que eram em parte bastante aleatórios e que não conseguiria colocar corretamente a data e o local em que precisaria estar, nem a versão da realidade ao qual precisaria. Não usaria aquilo, usar aquele modelo de viajador portátil poderia resultar num destino pior do que viajar para dentro de uma hiperventilação não-ventricular atemporal. Não conhecia nenhuma pessoa, mesmo nos relatórios dos primeiros testes temporais que estudara em História das Viagens no Tempo, que tinha conseguido retornar após essa viagem. Tudo bem que dificilmente as pessoas conseguiam voltar para a sua própria linha do tempo após sair dela porque voltar a ela faria com que ela se partisse entre duas, a sem o seu retorno e a com o seu retorno. Talvez alguém tinha conseguido e só estava na versão em que ninguém tinha. Era complicado pensar nisso, mas sendo um Professor de Cronomia era necessário supor tudo.

 Não foi o único Mario em sua mente a reconhecer o modelo, o nosso conhecido Mario também o reconhecia. E tinha lá seus momentos nostálgicos com aquele modelo... Era o mesmo modelo vagabundo e chato que esteve utilizando desde o dia que saíra da simulação. Tinha que ser uma coincidência, tudo bem que essas pareciam coincidências demais para aquele dia... Seu instinto de detetive, que descobrira agora, estava apitando e dizendo que algo estava errado e com cheiro de fumaça.

— É isso que você usa para viajar no tempo? – perguntou 1145, o que fez com que o hospedeiro se surpreendesse. Pensara que todos daquela espécie reconheceriam a máquina do tempo que eles mesmos cederam para que Mario viajasse. Talvez fosse algo que só os cientistas soubessem sobre, já que fora um que o dera, e 1145 não era nada cientista.

— Não, meu caro – disse, - isso só está aqui. Por algum motivo que eu não sei, meu caro. Até poderíamos tentar utilizar isso para viajar no tempo, meu caro, mas seria pior que suicídio. – Pensou em dizer que seria pior que uma hiperventilação não-ventricular atemporal, mas também tinha percebido que 1145 não era um cientista e isso para ele seria o mesmo que bananas.

— Mas funciona? – perguntou, impaciente.

— Sim, meu caro, mas é muito arriscado. Pode nos deixar numa situação horrível, meu caro. Ou numa mais propícia para que eu possa salvar meu mundo, meu caro. Mas não vale a pena, meu caro, que tentemos um método tão anticonvencional.

— Mas existe a chance, né? – Estava bastante curioso com essa coisa de viagem no tempo.

— Existe, meu caro, mas também a chance de perdemos a cabeça, cairmos num mar de ácido, cairmos num buraco negro, morrermos... Existem situações boas e ruins, meu caro, e acho que a chance de cairmos numa boa é bem menor que uma ruim... Eu acho... – Estava reflexivo.

Mario sabia que existiam infinitas realidades que podiam sair do toque naquele botão. Poderiam morrer, poderiam sair dali vivos, mas em um lugar completamente aleatórios, poderiam parar no esgoto de Paris, poderia salvar seu mundo com apenas um clique, poderia acabar num mundo feito de espinafre... Ele começou a pensar que não fazia muito sentido ficar ali no frio ou simplesmente entrar numa daquelas cabanas até que seus dias chegassem ao fim, porque esse seria o seu destino se simplesmente ficasse ali. Algum Mario deve ter feito isso, mas ele não queria ser esse Mario. Ele queria ser o Mario que vivesse lecionando na universidade e tomaria seus riscos pela sua paixão.

Seria engraçado quando estivesse dando aulas e dissesse para seus alunos “Meus caros, não usem um modelo como esses quando estiverem fazendo seus trabalhos e pesquisas acadêmicas. Nem se tiverem drogados de Levodopa, sério, meus caros.” Riu um pouco enquanto fazia os cálculos mentalmente e selecionava as coordenadas na pequena interface do dispositivo. 1145 apenas observava o homem, que parecia ter mudado de ideia quanto ao fato de adotar medidas anticonvencionais.

— Nós vamos, então? – perguntou, inocente.

— Vamos, meu caro – disse Mario, após terminar os cálculos e colocar as coordenadas. – Tem certeza que pretende vir comigo, meu caro?

Não pensou duas vezes, disse: Sim.

Apertou o botão.

Mario morreu. E ao mesmo tempo, salvou seu planeta. Em diferentes realidades, é claro. Mas esse não é o Mario que nos interessa. Sua morte foi triste e o seu retorno à vida de todos que preza foi belíssima, mas essa história não contará essa parte, por mais rude que isso seja. Pelo efeito aleatório que aquele modelo antigo dava a essa situação, Mario percebeu que... Não tinha viajado no tempo. Tinha apenas viajado no espaço, e talvez tivesse viajado no tempo, mas não era como se pudesse saber. Parecia estar apenas vendo o cenário de uma outra perspectiva. E agora, a máquina estava sem bateria suficiente para outra viagem. 1145 estava junto com ele, também, tinha percebido a mudança na percepção e queria perguntar o que tinha acontecido, mas acabou concluindo o mesmo que seu amigo.

— Não foi o pior dos destinos, pelo menos.

— É... – disse Mario. Estava triste de não poder voltar a fazer o que amava e decepcionado, mas feliz que alguma outra versão alternativa de si mesmo a fazia naquele exato instante. –, meu caro...

— O que fazemos agora? Podemos viajar de novo?

— Não, meu caro. Estamos numa situação complicada, meu caro. É o que eu temia, terei que viver aqui para sempre, congelado, meu caro... Que horror... – E começou a se sentir deprimido.

O hospedeiro queria dizer ao dono daquela mente que não era bem assim. Poderiam arrumar mais máquinas do tempo por ali, talvez, era só sair daquela simulação ali da mesma forma que fez quando ainda tinha seu próprio corpo para controlar. Mas não sabia de uma maneira que podia fazer isso. O professor estava bastante pra baixo.

Para tirá-lo do desespero e tristeza que preenchiam o doutor, seu novo companheiro de aventuras decidiu dizer uma verdade para animá-lo.

— Não é verdade, podemos simplesmente sair da simulação e voltarmos à nave-laboratório. Foi dela que cheguei aqui. Talvez possamos usar o mesmo caminho para sairmos. – E conseguiu levantar as esperanças do acadêmico.

Infelizmente, a porta não os levou para onde era esperado. Estavam em um universo completamente vazio agora. Com a tonalidade branca toda ao seu redor e apenas um caminho em que algo existia, viam uma porta. Uma porta que reluzia mais do que o branco ao redor daquele mundo. Naquela porta, leram “Mario, venha por aqui”. Não era como se tivessem outra opção, já que a porta pela qual entraram naquele vazio parecia estar fechada.

— Seria essa outra simulação criada para você? – perguntou 1145, que diferentemente de Mario não conseguiu manter suas suposições apenas na sua mente.

— Não sei, meu caro – disse, enquanto considerava. Ambos os Marios concordavam em achar essa situação bastante inusitada e sem saber o que os esperaria atrás da porta. Começou a pensar que essa situação toda possa ter sido armada para que chegassem nessa mesma sala e atravessasse essa porta. Mas para que? Para alguém matá-lo? O Mario hospedeiro tinha seus inimigos, mas ele já estava morto, quer dizer, seu corpo já estava sem vida há alguns capítulos. Essa placa não era para ele, era para o Mario em que estava o hospedando. O que poderia ser?

Mario deu uns passos e 1145 o seguiu. Entretanto, não pôde entrar. O portal continuava em sua frente, mas simplesmente não conseguia atravessar, enquanto Mario já tinha o atravessado. Era como parede. Era isso? Estaria preso ali para sempre enquanto aquele que visava ajudar continuava em sua jornada? Sentiu-se atônito e confuso, perdido, triste... Mas em menos de um minuto Mario retornou do mesmo portal. Tinha outro perfil, emanava uma aura diferente.

1145 surpreendeu-se e, antes que pudesse dizer qualquer coisa, Mario disse:

— Conseguiu outra, meu caro, vamos.

— O que aconteceu lá dentro?

— Eu... Eu...

Mario procurou uma maneira de tentar dizer o que tinha acontecido. Percebeu que não existiam maneiras de fazer isso. Procurou palavras aproximadas para explicar a experiência que teve além daquele portal, e também não conseguiu.

— Eu vi... Coisas, meu caro. – Foi o melhor que conseguiu.

O que Mario viu?

Após entrar determinado, Mario sentiu um friozinho na barriga. Nada tinha acontecido para que sentisse esse friozinho na barriga. Começou a se sentir com bastante dificuldade de perceber o que estava ao redor. Era como se ouvisse vozes que não estava ouvindo, visse vários cenários ao mesmo tempo, sentisse temperaturas e toques diferentes em cada parte do seu ser. Depois de alguns minutos, perplexo, quase desmaiado no chão com tamanho choque que seu cérebro estava passando por, foi aos poucos se recompondo e parou de suar. O hospedeiro também sentiu isso, apesar de não ter um corpo para se sentir tocado e não ter orelhas para não ouvir coisas, sentiu a mensagem que seus neurônios passariam para o seu cérebro. Nunca tinha sentido isso, não conseguia raciocinar.

Levantou-se com cuidado para não cair no gramado do solo, suas pernas estavam tremendo e via ele mesmo de frente para ele. Atrás, um vale com vegetação gramínea se estendia. Seus olhos pareciam desacostumados com essa frequência de luz, estava sonolento. Os efeitos de seja lá o que tinha nesse lugar parecia estar passando, e esperava até que pudesse ter certeza se o que estava vendo era real. A figura de seu outro eu continuou lá pelo tempo em que a encarava, enquanto outros Marios pareciam estar brincando próximo da única árvore que conseguia ver.

O seu reflexo disse algo, mas não conseguiu ouvir, seu ouvido parecia zumbido. Não importava muito, até porque era uma ilusão. Poucos segundos depois, conseguiu ouvir:

— Bem vindo, meu caro. Espero que esteja se sentindo melhor, meu caro.

O professor pensou em ignorar a ilusão, mas e se não fosse uma? E se...

— É meio complicado perceber isso a primeira vez que pisamos no nosso Santuário sagrado, eu sei, meu caro, mas espero que consigamos nos dar bem. Meu nome é Mario, meu caro. E eu suponho que o seu também, gostaria de te apresentar o mundo, se estiver se sentindo bem, é claro meu caro... É difícil conseguir processar esse novo mundo. É muita interferência – riu – como alguns de nós diriam, meu caro.

— O que você disse, meu caro? – O professor estava com dificuldade de entender o que estava acontecendo. Realmente estava vendo um outro Mario? Mas segundo a Teoria Geral de Vensein-Geiser isso não...

— A teoria de Vensein-Geiser não é completamente verdade – disse o que o cumprimentou. – Você não é o primeiro a vir aqui que pensa nessa Teoria, mais de uma versão nossa deve ter ouvido falar dela. – Riu o Mario risonho.

O professor percebeu que não era uma ilusão. A faculdade de seus sentidos estava perfeita e, como um professor de Cronomia, começou a perceber que estava presenciando um efeito Cronosocionômico bastante bizarro e sinistro. Uma parte dele estava com medo e não queria saber de mais nada, enquanto o hospedeiro se perguntava em como tinha se envolvido em algo tão................... Não sabia como descrever.

— Percebo que já está melhor, meu caro, levá-lo-ei por todos os cantos da Nossa Casa para que você possa se acostumar com aqui. Digo, levá-los-ei, meus caros. Essa é a Nossa Casa, afinal, meus caros. Espero que se deem bem com seus outros caros e com cada canto desse lugar maravilhoso.

A alguns quilômetros do Doutor e do Risonho, um homem idoso barbudo e velho que vestia sua túnica branca sentado em uma pedra ao redor de um cenário coberto por mármore. Estava aproveitando a belíssima melodia que os outros Marios proporcionavam com seus instrumentos. Flores douradas e rosadas cresciam ao redor do sábio idoso enquanto a música se espalhava pelo local. Sentia-se alegre, sua mente conseguia ir a todos os lugares e ainda permanecer ali. Fazia parte da sua rotina, depois de tomar algumas doses de vinho e discutir com todos os outros daquela terra que se encontrava naquele dia. Chamavam-no de Meu Amo e como odiava isso.

Ainda curtindo o som e balançando sua cabeça para os lados lentamente, acariciava o gato que acabara de subir no seu colo. Já tinha tomado bastantes medidas importantes naquele dia, mas sabia que uma nova teria que ser tomada em breve, e sentia que a cada passo do Doutor ela estava mais próxima.


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